“Os personagens criados sob o nome de “Peanuts” nos Estados Unidos são considerados o maior acontecimento das histórias em quadrinhos desde 1940. Charlie Brown será, para nós, Minduim”. Foi assim que o Jornal da Tarde anunciou que ia começar a publicar a tira da turma de Charlie Brown e Snoopy em sua seção de quadrinhos no início de 1966.
Naqueles dias, o cachorro era chamado com o nome traduzido, “Xêreta”, e ainda não era o protagonista das tiras, apesar de ser um dos principais personagens, como mostra o texto de apresentação. Veja algumas das tiras e leia o texto.
Minduim & Cia.
Crianças pressionadas e cachorro hedonista
“Os personagens criados sob o nome de “Peanuts” nos Estados Unidos são considerados o maior acontecimento das histórias em quadrinhos desde 1940. Charlie Brown será, para nós, Minduim”. E seus amigos: Lucy (Lucinha), Schroeder (Amadeus), Pig-Pen (Sujão), Snoopy (Xerêta), Linus, Patty (Patrícia), Violet (Carlota), Sally Brown (Silvinha), Shermy (Jeremias) e Frieda (Manuela).
Sobre “Peanuts” já foi publicado até um livro por um estudante de teologia: “O Evangelho Segundo Peanuts”, de Robert Short. Mas Al CApp, o criador do Ferdinando, diz que quem vê teologia nêles adora o diabo”.
Charles M. Schultz diz que, ao criar os personagens de “Peanuts” queria “lembrar aos adultos as pressões a que estão sendo submetidas as crianças”. E elas falam de tudo, desde psiquiatria e frustração até do valor que um sorvete tem para um menino.
Minduim, o Charlie Brown, é um menino em luta perplexa contra o mundo. Está convencido de que não gostam dele, e quer ser reconhecido pelos outros. Mas falha sempre. Quando êle pede desculpas por ter chegado tarde a uma festa, o dono da festa diz: “Eu nem sabia que você não estava aqui”. Noutra tira, êle está fazendo um castelo de areia e começa a chover. A chuva derrete seu castelo e êle diz: “Há aqui uma lição, mas eu não sei que lição é essa”.
Lucinha é uma caricatura da mulher agressiva de hoje. Só quer sucesso na vida. E gosta de Amadeus, que só tem tempo para sua música e não lhe dá bolas. Linus é o intelectual da turma, mas precisa do apoio moral de um cobertorzinho que nunca abandona e do dedo que não pára de chupar. A frase é dele: “Chupar o polegar sem um cobertor é o mesmo que comer uma casquinha sem sorvete”.
Xerêta é um cachorro hedonista: gosta é dos prazeres desta vida. Gostaria de ser uma pessoa, ou um leão feroz, um crocodilo, uma serpente. Diz Schultz que “Snoopy” não é um cachorro de verdade, “é o que as pessoas queriam que fôsse um cachorro”. Ele gosta mesmo é de ficar deitado de barriga prá cima no teto de sua casinha.
Sujão é um menino capaz de levantar uma nuvem de poeira numa rua asfaltada. Amadeus é um amante da música clássica, convicto de que Beethoven é o maior homem que já existiu. E toca qualquer música que Beethoven compôs. Os outros personagens são secundários, mas também importantes.
Charles M. Schulz
Minduim no Estadão
Em outubro de 2004 as tirinhas com as aventuras de Charlie Brown, Snoopy e toda sua turma passaram a ser publicadas no Estadão, primeiro no caderno TV& Lazer que circulava aos domingos. Em 2012, as tirinhas, agora em cores, passaram a ser publicadas no Caderno 2, onde tem lugar cativo até hoje.
>> Estadão – 17/10/2004 e Estadão – 24/10/2004
>> Estadão – 22/02/2012 e Estadão - 14/02/2024
Snoopy x Emília
Na década de 1970, a briga pelas bilheterias nos cinemas brasileiros e pela popularidade com público infantil gerou uma disputa entre o cãozinho criado por Schulz e a boneca de pano de Monteiro Lobato. Snoopy derrotou Emília. A esperta boneca de cabelos vermelhos, chegou aos cinemas na produção O Picapau Amarelo de 1974, mas não foi páreo para o simpático e criativo beagle que liderou as bilheterias nacionais, junto com as produção da Disney, nesse período.
As aventuras de Minduim estrearam nos cinemas nacionais em 1972, com o primeiro filme da turma de Charlie Brown, A Boy Named Chralie Brown (1969), que recebeu o título Charlie e Snoopy no Brasil. Aqui, repetiu o bom desempenho que teve no exterior.
A crítica de estreia, publicada no Estadão de maio de 1972, descrevia Snoopy como “o cão filósofo que anda sobre duas patas, o otimista incorrigível que, com sua poderosa fantasia, é capaz de materializar aventuras nas quais sempre se sai como herói incontestável.”
Snoopy Volte ao Lar, o segundo filme de Peanuts, estreou no País no ano seguinte e repetiu o êxito. O primeiro filme, mais centrado em Charlie, levou o menino angustiado ao divã, apresentou aos fãs das tirinhas seus personagens, já queridos, na telona.
A segunda produção trouxe Snoopy como a grande estrela. Categorizado como uma comédia-drama musical, o filme marcou a estreia do personagem Woodstock, o passarinho amarelo companheiro de Snoopy, no cinema.
Desenho animado para adultos
Em reportagem especial sobre desenhos animados publicada em 12 de agosto de 1973, o Estadão pediu que especialistas analisassem as principais produções do período. Sobre o sucesso de Minduim, o professor da USP e pesquisador de histórias em quadrinhos e de desenho animado, Alvaro de Moya, apontou o que se destacava no universo criado por Schulz: ”é mais uma história em quadrinhos, com poucos movimentos, do que propriamente um desenho animado, pois este já exige muito movimento. Mesmo assim, a profundidade psicológica e o alto nível literário de Charles Schulz, o criador desses personagens levam seu filme a um nível adulto.”
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