O anúncio de que o McDonald's fechará temporariamente 850 restaurantes na Rússia, em represália à invasão da Ucrânia, trouxe à memória a inauguração de sua primeira loja em Moscou, um evento que marcou os anos finais de existência da União Soviética e sinalizou as mudanças em curso no início da década de 1990 em todo o bloco soviético. Em 31 de janeiro de 1990, a rede ícone do capitalismo abriu as portas aos consumidores soviéticos. Após 14 anos de negociações, a marca iniciou sua operação em Moscou, em grande estilo. Instalada no centro da capital russa, na Praça Pushkin, a loja - um investimento calculado em cerca de 50 milhões de dólares - era a maior filial da marca, com 630 funcionários, 27 balcões, 900 lugares e tinha capacidade de servir 15 mil pessoas por dia.
Sob os arcos durados da maior marca de fast-food do mundo, uma multidão aguardou, por horas, na fila, em meio às baixas temperaturas do inverno russo, para provar um Big Mac.
“Três horas antes da inauguração da maior filial mundial da Mc Donald's ontem em Moscou, centenas de moscovitas já aguardavam ansiosamente o momento de saborear o famoso Big Mac ( apelidado pela imprensa soviética de hambúrguer de vários andares) e matar também o que parecia ser uma espécie de fome cultural”, assim a matéria publicada no Estadão de 1 de fevereiro de 1990 descrevia a sensação que foi a inauguração.
Entre os depoimentos dos primeiros consumidores, a matéria trazia a declaração de uma senhora que apontava a diferença da experiência em comparação com as stocolovaya (lanchonetes estatais): “Além da limpeza do serviço, as garçonetes tratam a gente com muita cortesia e sorrindo sempre”.
Responsável pela chegada da gigante da alimentação à Rússia, George Kohon, então presidente do McDonald's canadense, mostrava-se animado com o que chamou de “delírio dos moscovitas”. O sucesso da primeira loja mostrava-se auspicioso para a ampliação da operação, no mesmo ano a empresa pretendia instalar outras 20 lojas em diferentes pontos de Moscou e da União Soviética.
Aos jornalistas, ele explicou que a séria crise de desabastecimentos no país não seria um problema: “Não dependemos de ninguém. Dispomos de fontes próprias de abastecimento, silos, padarias, leiteria e uma fábrica de processamento de carne.”
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