Semana de Arte Moderna

Marco do movimento modernista no Brasil

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Por Redação

Theatro Municipal, São Paulo  (13 a 17/2/1922)

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A série de eventos que culminaria na Semana de Arte Moderna tem início alguns anos antes, com os modernistas brasileiros  influenciados pelas vanguardas artísticas europeias, tais como Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo e o Surrealismo. A mimese – arte como imitação da realidade, da natureza, do homem, proposta por Aristóteles – é combatida por essas vanguardas, que propõem a deformação, a expressão e a constituição de objetos autônomos desvinculados da realidade como novas formas de manifestação artística. Os artistas daquele período acreditavam que a arte concebida anteriormente não tinha condições de representar a modernidade, caracterizada pela transformação brutal da sociedade em decorrência da industrialização, com uma consequente mudança de pensamento. Os elementos definidores que compõem essa modernidade são a crescente aceleração dos acontecimentos, a fragmentação, inclusive no campo do conhecimento, com a especialização, e no campo da produção, com as linhas de montagem. Passa-se então a um questionamento da ideia de totalidade, de absoluto, predominando a relatividade, a simultaneidade e a pluriperspectiva. A noção de primitivismo na integração entre arte e vida também é uma proposta das vanguardas, e pode ser observada em obras como Macunaíma, de Mário de Andrade e Martim Cererê, de Cassiano Ricardo. A influência de tais vanguardas pôde ser identificada especialmente nas pinturas de artistas do período, como no caso do lituano Lasar Segall, que realizou um exposição em São Paulo, em 1913, com quadros marcadamente expressionistas, e de Anita Malfatti, que expôs seus quadros numa galeria paulista em 1917. Estudiosos atribuem uma relação direta entre essa exposição de Anita Malfatti e a Semana de Arte Moderna, ocorrida cinco anos depois. Quando Monteiro Lobato publica em 20 de dezembro de 1917, no jornal "O Estado de S. Paulo", o seu artigo “A propósito da exposição Malfatti” (posteriormente recolhido no livro Ideias de Jeca Tatu, sob o título “Paranoia ou Mistificação?”), criticando Anita, artistas reúnem-se num movimento de apoio moral a ela. É em torno desse grupo de jovens solidários à artista, preocupados em divulgar coletivamente o movimento modernista, e reunidos periodicamente nos salões da aristocracia paulista, especialmente nas mansões de Olívia Guedes Penteado e de Paulo Prado, que se realiza a Semana de Arte Moderna.Nesse período, formam-se dois grandes núcleos artísticos no país. No Rio de Janeiro, são artistas como Heitor Villa-Lobos, Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho e Graça Aranha. Em São Paulo, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Antônio de Alcântara Machado, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Menotti del Pichia, Hélio Seelinger, Paulo Prado e Cassiano Ricardo. Está aí formado o grupo de intelectuais que se tornará o expoente do movimento modernista no país.Concebida por Di Cavalcanti e Menotti del Pichia, a Semana de Arte Moderna ocorrida em fevereiro de 1922 levou ao Teatro Municipal de São Paulo instalações de arquitetura, esculturas e exposições de telas. O evento contou também com uma programação específica de palestras, recitais, conferências e apresentações musicais. Na programação do primeiro dia do festival, Graça Aranha, autor de "Canaã", apresenta a conferência “A emoção estética na arte moderna”, ilustrada com músicas executadas pelo maestro Ernani Braga e por poesias de Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho. Este é também o dia em que Heitor Villa-Lobos executa números de música de câmara, e o trio Paulina d'Ambrosio, Alfredo Gomes e Fructuoso de Lima Vianna toca violino, violoncelo e piano. Neste dia também, Ronald de Carvalho fala sobre “A pintura e escultura modernas no Brasil”, e os músicos George Marinuzzi, Orlando Frederico, Alfredo Gomes, Alfredo Corazza, Pedro Vieira e Antão Soares, além dos já citados, executam composições de Villa Lobos.No segundo dia do festival, Menotti del Pichia profere palestra intercalada com poesias e trechos de prosa de Oswald de Andrade, Luiz Aranha, Sergio Milliet, Tacito de Almeida, Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Agenor Barbosa, além de dança com a bailarina Yvonne Daumerie. Há também presença da aclamada pianista Guiomar Novaes, que executa peças de Blanchet, Villa-Lobos e Debussy. Mário de Andrade também profere palestra, no saguão do Municipal, e Renato de Almeida declama poesias. O segundo dia do evento se encerra com apresentações de canto e piano por Frederico Nascimento Filho e Lucilia Villa-Lobos, além de músicas executadas pelo quarteto composto por  Paulina d'Ambrosio, George Marinuzzi,  Orlando Frederico e Alfredo Gomes. No terceiro dia, em 17 de fevereiro de 1922, um espetáculo de variadas peças compostas por Heitor Villa-Lobos e executadas pelos talentosos artistas presentes no festival encerra a Semana de Arte Moderna.

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