Em mais um atentado em defesa do voto feminino na Inglaterra, a sufragista Mary Richardson retalhou com uma faca o quadro
(1647-1651) do pintor barroco espanhol Diego Velázquez (1599-1660), pertencente à Galeria Nacional de Londres (
).
“O facto, divulgado pelos jornaes, causou viva impressão, nas rodas artisticas e literarias
”, informou o
Estado
na edição de
. O caso se tornou emblemático e somou-se aos audaciosos atos de desobediência civil cometidos pelas sufragistas na Inglaterra.
Enquanto a maior parte da opinião pública revoltava-se contra o ato, e especulava sobre os danos infringidos a rara obra de Velázquez, um dos pouquíssimos nus realizados no período da Inquisição espanhola, a feminista Richardson explicava em depoimento que tentara “
(...) destruir a imagem da mulher mais bonita na história mitológica como um protesto contra o governo que estava destruindo a Sra. Pankhurst (líder sufragista presa), que é o personagem mais bonita da história moderna
(...)
”
As declaração dadas à polícia de Londres foram publicadas na reportagem do
. A matéria também trazia detalhes sobre o ato, um histórico da obra e a análise de um especialista sobre os prejuízos materiais do atentado. Calculava-se que o quadro, estimado em 45 mil libras esterlinas, perdera entre 10 a 15 mil libras esterlinas de seu valor. No entanto, a faca usada pela sufragista estava afiada e acabou por produzir cortes limpos e rentes, o que facilitava a restauração da obra. Um trabalho que custaria em torno de 100 libras esterlinas.
Atos Sufragistas.
As ações sufragistas se intensificaram nos sete primeiros meses de 1914. Por volta de cento e cinquenta atentados sufragistas foram noticiados pela imprensa inglesa naquele ano. Na Escócia, castelos foram destruídos por incêndios creditados às militantes. A Biblioteca Carnegie, em Birmingham, a Abadia de Westminster, a
, na praça Hannover e várias casas vazias pertencentes a parlamentares também sofreram atentados. Os próprios membros do governo eram alvos. Em fevereiro daquele ano Lord Weardale, o presidente da Liga Anti-Sufragista, foi “
” por uma feminista na estação de Euston, em Londres.
Alguns anos antes, em 1909, Winston Churchill
,
então Ministro do Comércio da Inglaterra, foi recebido de “
” por uma militante que desferiu-lhe algumas chicotadas antes de ser desarmada. Em 1913, o famoso Derby de Epsom, foi palco da trágica morte da
. A moça foi atropelada e morta pelo cavalo do rei da Inglaterra ao tentar colocar no animal um broche do movimento feminista, durante a corrida.
Durante todo aquele ano museus e galerias de arte, mantiveram-se alertas contra os ataques sufragistas. Em junho, Bertha Ryland foi presa por danificar uma obra de Romney Mestre Thornhill, exposta na Galeria de Arte de Birmingham. Dois meses antes, foram “
quebrados diversos mostradores da secção asiática
”, no Museu Britânico, no que parecia se tratar de “
um novo attentado suffragista
”, segundo a nota publicada pelo
Estado
em
. O ataque deixou objetos preciosos “
inutilizados
”.