O Plano Real não nasceu com a substituição da moeda, em julho de 1994. Ele veio ao mundo há 20 anos, em 28 de fevereiro de 1994, com o lançamento da Unidade Real de Valor (URV). A nova 'moeda', na verdade um indexador, funcionou como "dólar sintético", como definiu o colunista do Estado, Joelmir Betting. Fazia-se o preço em URV como então se fazia em dólar nos mercados e nos contratos informalmente dolarizados. E utilizava-se a taxa de variação diária da URV para indexar preços e contratos.

Salários, aposentadorias e pensões foram convertidos em URV logo no seu lançamento. Contas bancárias, contratos, preços e aplicações financeiras foram convertidos voluntariamente até 30 de junho. "Aumentam os mistérios em torno do cálculo e uso de uma moeda que não paga nada", dizia o editorial do Estado, sobre a tentativa do governo de explicar a metodologia do cálculo da URV, mas que na verdade "nada esclarece".Como era de se esperar, dúvidas e confusões para entender como seria a vida dos brasileiros com a URV pipocaram de toda a parte. Como conviver com a existência de duas 'moedas' ao mesmo tempo? O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, tentava tranquilizar a população afirmando que 'o programa não é para dar choque nem assustar o País", justificava ele, com a promessa de não fazer qualquer coisa que "tumultue a vida do cidadão".O Estado publicou, no dia do anúncio do novo indexador, um Guia de oito páginas explicando como negociar nos tempos da URV, como ficariam os salários, a poupança, as tarifas, os fundos de investimento, mensalidades escolares, entre outros.

Como o valor do indexador era diário e tinha uma paridade fixa, de 1 para 1, em relação ao dólar, o jornal passou a estampar todos os dias na capa o valor da URV do dia. No dia 1.º de março era CR$ 647,50; no dia 2, R$ 657,50; dia 3 R$ 667,65 e assim sucessivamente até ser, finalmente, substituída e rebatizada de Real em 1.º de julho.
