Walk Machine, o patinete motorizado dos anos 80

Tentativa de emplacar brinquedo como opção de transporte aconteceu em São Paulo há 30 anos

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Foto do author Edmundo Leite
Por Edmundo Leite e Liz Batista
Teste do Walk Machine na Avenida Paulista em 1988. Foto: André Douek/ Estadão

Da mistura de um brinquedo infantil com um pulverizador a motor contra mosquitos nascia em 1988 um novo veículo de transporte: o Walk Machine, a máquina de andar. Criado a partir de uma ideia de funcionários da fábrica de equipamentos agrícolas Hatsuta e vendido em lojas como o Mappin por cerca de cinco mil reais, o Walk Machine não chegou a ser uma febre como a dos atuais patinetes elétricos. Mas causou um certo alvoroço em São Paulo na época por ser uma novidade, e também porque o prefeito Jânio Quadros decidiu testar o patinete motorizado como veículo dos guardas civis no Parque do Ibirapuera, apesar de ter proibido os frequentadores de usarem bicicletas no mesmo local.

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Sob o título de 'A máquina de andar', a capa do caderno MOTO do Jornal do Carro de 3 de fevereiro de 1988 apresentou em primeira mão a seus leitores a novidade que ainda seria lançada comercialmente. A dualidade de servir como um item de lazer e uma alternativa séria de locomoção dava o tom do texto escrito pelo repórter Sílvio A. Nascimento: "Crescer sem perder a inocência. Criar soluções para os problemas urbanos. Foi com essa filosofia que a Hatsuta, fabricante paulista de equipamentos agrícolas, desenvolveu um patinete motorizado batizado de walk-machine", dizia a abertura do texto, que depois trazia detalhes técnicos do patinete, como guidão dobrável, peso de 20 quilos, motor estacionário de 37 cm cúbicos e 1 cavalo de potência.

A reportagem testou três patinetes motorizados, levados no bagageiro de um Monza, na Avenida Paulista e despertou a curiosidade de pedestres e motoristas. "Não houve quem não olhasse e no mínimo soltasse uma exclamação. Alguns mais desinibidos perguntavam quando estaria à disposição no mercado e o apelo maio ficou por conta das crianças..."

Caderno MOTO do Jornal do Carro de 3/2/1988 Foto: Acervo/Estadão

" O que é isso? Tão grande e parece criança?", reclamaram duas senhoras que passaram apressadamente perto da aglomeração de pessoas em torno dos patinetes.

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"A molecada vai ficar louca com este patinete", fala um vendedor de bilhetes, também querendo saber onde pode comprar um modelo."

A mesma dificuldade atual de integrar os patinetes com pedestres e veículos já podia ser vista no teste de trinta anos atrás, quando o repórter narra que dá um pouco de medo de atropelar as pessoas pelas calçadas e que a sensação de andar pela rua não é muito agradável, com a proximidade de carros e ônibus mais velozes. 

"Em outra área da Paulista, arborizada e bem mais tranquila que as calçadas, o esquema muda. Com menos pessoas circulando, fica-se à vontade para acelerar - nunca no máximo - e fazer pequenas evoluções."

Homem testa Walk Machine na Avenida Paulista em 1988. Foto: André Douek/ Estdão
Garoto anda depatinete motorizadona Avenida Paulista em 1988. Foto: André Douek/ Estdão

Apesar dos problemas narrados pelo repórter, o presidente da empresa fabricante, Takeshi Imai, diz na reportagem de trinta anos atrás acreditar que o patinete possa ser uma alternativa no trânsito urbano para percorrer pequenas distâncias. "Ele chega a sonhar com compartimentos no Metrô, onde o usuário guaradiaria seu patinete e pegasse o trem ao seu destino. Sonho ou não, a verdade é que no trânsito de grandes centros a situação é um tanto ameaçadora ao patinete."

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Anúncio de Walk Machineno Mappin em31/7/1988. Foto: Acervo/Estadão

Cinco meses depois da reportagem, quando o Walk Machine era vendido por Cr$ 83.500,00 no Mappin [R$ 5.218,75 atualizados pelo índice jornal], o prefeito de São Paulo Jânio Quadros conheceu os patinetes, apresentados pessoalmente pelo empresário no Parque do Ibirapuera, onde ficava a sede da Prefeitura naquela época. Takeshi aproveitou uma cerimônia de entrega de novos ônibus de dois andares para tentar convencer o ex-presidente conhecido por suas excentrecidades a fazer um teste no policiamento do parque. Como sempre acontecia com Jânio, a cena foi folclórica, como descreveu o Jornal da Tarde:

- Procure o diretor do parque, disse o prefeito, e se a experiência der certo será adotado em todos. Ao mesmo tempo em que dava a ordem, o prefeito pedia para que um guarda do parque fizesse uma demosntração. Disse, depois, que gostou do aparelho e autorizou o teste de cinco unidades por dois fins de semana, já a partir de hoje. "Mas o senhor proibiu o uso de biclicletas no parque nos fins de semana", alguém lhe lembrou. "Eu ainda não liberei o patinete", respondeu. "Ele primeiro será experimentado por dois sábados e dois domingos". "É uma máquina segura?", perguntaram os jornalistas. "Não sei se é seguro, mas é baixinho e dá para pular". 

O prefeito Jânio Quadros assiste aoteste de patinetes motorizadasno policiamento do Parque Ibirapuera, 01/7/1988. Foto: César Diniz/ Estadão

A situação deixou o chefe da assessoria militar de Jânio, Aristides Trevisan, numa saia justa por ter dito pouco antes da cerimônia que o patinete motorizado não era conveniente no parque por causa da proibição do uso de bicicletas. "Talvez o prefeito tenha se confundido. Mais tarde terei uma reunião com ele. O prefeito deve ter esquecido que amanhã é sábado."

Informado que Jânio autorizara o experimento, o assessor respondeu que "é proibido andar de bicicleta no parque nos sábados e domingos, mas, por outro lado, o policiamento é obrigação da guarda, dando a entender que, para tal fim, o patinete motorizado poderia ser usado."

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Jornal da Tarde - 02/7/1988 Foto: Acervo/Estadão

E assim foi. Na segunda-feira, o Jornal da Tarde mostrava as reações das pessoas ao teste: "Parece piada"."Não sei se é possível alcançar um trombadinha a 30 quilômetros por hora. Pode até acontecer. Mas o que fazer com o patinete na hora de agarrar o sujeito?", queria saber outra pessoa. Inviável também para Jorge Nogueira, que acredita que a solução é contratar mais policiais e motocicletas, em vez de deixá-los "brincando".   

Brincadeira. Era assim que as reportagens anteriores ao lançamento do Walk Machine sempre tratavam o patinete. 

Dois anos antes, em 1986, os patinetes ganharam a capa da edição do Estadão de 5 de outubro. Numa página interna, a reportagem contava como os garotos do condomínio Portal do Morumbi estavam “redescobrindo o patinete”. O grupo de adeptos contava com 20 membros de idades entre 9 e 14 anos e havia trocado o skate pelo novo brinquedo radical. 

Garotoscom patinetes no Portal do Morumbi em1986. Foto: César Diniz/ Estadão Foto: César Diniz/ Estadão

O caráter lúdico dos patinetes também podia ser visto nos anúncios publicitários de época passadas, sempre os associando a atividades de lazer infantil ou juvenil.  

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Anúncio do ciclo-patpublicado em 12/9/1954. Foto: Acervo Estadão
Anúncio de patinetepublicao em 7/9/1956. Foto: Acervo Estadão
Anúncio da TV Record commenção a patineteem 1973. Foto: Acervo Estadão

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