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Há 40 anos, o arrombamento e invasão à sede Comitê Nacional Democrata e a captura dos cinco infratores, no edifício Watergate, em Washington parecia um crime banal e muito mal executado. Mas a investigação iniciada por dois repórteres do Washington Post ,Bob Woodward e Carl Bernstein, acabou por revelar uma rede de espionagem, conspiração e sabotagem política comandada por assessores estreitamente ligados ao presidente Nixon e financiada por fundos da campanha eleitoral de reeleição do Partido Republicano.
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Katerine Graham, editora chefe do Washington Pots, entre Carl Bernstein e Bob Woodward, a dupla de repórteres que investigou Watergate / Foto: Reprodução
O governo Nixon, vitorioso nas eleições presidenciais de 1972, esperava que após a disputa eleitoral o caso fosse esquecido pela mídia e se esvanecesse da memória do público. Mas a insistente busca dos jornais por esclarecimentos parecia a reedição de um embate que marcou a administração Nixon, a disputa entre imprensa e Poder Executivo. No primeiro mandato do republicano o vazamento e publicação de documentos secretos que envolviam assuntos de Segurança Nacional,conhecidos como Documentos do Pentágono, abalou o prestígio e a credibilidade da Presidência junto à opinião pública e teve danosas implicações diplomáticas.
Novos fatos e depoimentos trazidos à tona por investigações jornalísticas mostravam que a ação no QG democrata era apenas uma pequena parte de um esquema de monumentais proporções que implicava o próprio presidente. O pessoal de Nixon passou a temer o potencial destrutivo do escândalo Watergate.
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Na mesma medida em que a Casa Branca negava o envolvimento de seu pessoal, empregava esforços subsequentes para encobrir o caso , silenciar a imprensa e impedir que a Justiça seguisse seu curso normal. O presidente perdia credibilidade junto ao público e apoio político no Congresso. Em 1973, a investigação conduzida no Senado revelou que o presidente Nixon mantinha um sistema secreto e legalmente questionável de gravação de conversas. Foram elas as provas de sua interferência direta no rumo das investigações.
Nixon foi formalmente acusado de abuso de poder, desacato às ordens judiciais e obstrução da Justiça. Sob a ameaça de impeachment, renunciou em 9 de agosto de 1974.
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Watergate no Estadão
O caso watergate sucitou embate entre a imprensa e o Executivo na maior democracia do mundo e a discussão sobre os limites dos poderes presidenciais, eram temas presentes nos jornais do mundo todo. Watergate ao mesmo tempo que dilacerou a credibilidade do governo Nixon e levantou questões sobre a estrutura formal e informal do poder da Presidência e testou os princípios democráticos e constitucionais da América.
No Brasil, o Estadão sob a censura do governo militar (com censores instalados nas Redações), a cobertura do escândalo Watergate e as medidas tomadas para abafá-lo possibilitaram a discussão em torno de temas vetados pelos censores. Liberdade de imprensa, tema proibido às editorias nacionais, se tornou uma pauta constante na editoria internacional.
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Através do noticiário da crise político institucional americana, o jornal encontrou meios de reafirmar sua defesa da liberdade de imprensa e expressão.Em seu editorial de 04/5/1973 enumerou “lições eloquentes para todos os países que se acham na fase de convalescença democrática”. Tratando da importância de uma imprensa livre de “peias e de coações", expressou uma preocupação nacional ao perguntar “o regime em que vivemos estaria a exigi-lo com a premência das necessidades inadiáveis. Saberemos nós assimilar?”
Gozando de uma das poucas prerrogativas concedidas pelos censores do regime, a de criticargovernos de esquerda, em 12/5/1973, ao comparar a imprensa dos EUA e da URSS disse que “enquanto os jornais norte-americanos transmitem a opinião pública, os jornais soviéticos ensinam a verdade do regime.” Ampliando a questão para além das duas nações em pauta, talvez para aqueles leitores que viam anúncios e poemas onde deveria haver uma informação ou a opinião do jornal, sua posição sobre o jornalismo praticado numa Nação livre “a essencial diferença entre a democracia e o regime totalitário é exatamente esta: na democracia, a sociedade, a política e a diplomacia do regime são abertas e publicas, ao passo no regime totalitário são fechadas e secretas.”