O jornal O Estado de S. Paulo é conhecido, entre outras razões, pela força e coerência de seus editoriais. Esses atributos são corolários da independência do jornal para defender os valores nos quais acredita e dizer à sociedade, com respeito à verdade factual e absoluta transparência, aquilo que pensa ser o certo. Fiel a seus princípios ao longo dos últimos 150 anos, o Estadão fez da seção Notas & Informações a consciência crítica de seu tempo, um dos pilares sobre os quais se sustenta a opinião pública brasileira.
A seguir, o leitor encontrará uma seleção de 50 editoriais que marcaram a posição do Estadão em momentos históricos, no Brasil e no mundo. Muitos eventos cruciais ocorridos entre janeiro de 1875 e dezembro de 2024, naturalmente, ficaram fora dessa lista, seja porque o jornal optou por não se manifestar sobre eles, seja porque foram tratados não como editoriais propriamente ditos, mas como análises ou artigos assinados por seus fundadores e/ou proprietários. É o caso, por exemplo, da 1.ª Guerra (1914-1918).
A cobertura da chamada “Grande Guerra” foi um verdadeiro tour de force para o Estadão. Júlio Mesquita, então proprietário e principal redator do jornal, tomou para si a responsabilidade de reportar e, principalmente, explicar para os leitores o que acontecia nos fronts da Europa. Durante os quatro anos do conflito, Mesquita publicou n’O Estado de S. Paulo boletins semanais e crônicas sobre os rumos da guerra. E sem jamais tirar os pés do Brasil. Essa portentosa cobertura foi reunida por seu bisneto, Ruy Mesquita Filho, em A Guerra, uma obra de quatro volumes lançada em 2002 pela Editora Terceiro Nome.
As reportagens de Júlio Mesquita sobre a 1.ª Guerra não raro refletiam a própria opinião de seu jornal, servindo, na prática, como editoriais sobre o tema. Foi por meio das reportagens e crônicas assinadas por ele que ficou claro para os leitores que o jornal nutria franca simpatia pelos aliados (França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Rússia, entre outros), mas sem que essa posição significasse uma afirmação de antipatia pelas nações lideradas pela Alemanha e a Áustria no conflito. “O Estado simpatiza com os aliados, não porque antipatize com os alemães, mas porque diverge visceralmente da política autoritária e militarista que desviou a Alemanha da sua luminosa missão e produziu esta guerra odiosa”, escreveu Mesquita.
Outro exemplo de aparente omissão na seção de Notas & Informações é a 2.ª Guerra (1939-1945). Ao longo de praticamente todo o conflito, o Estadão esteve sob intervenção da ditadura de Getúlio Vargas, razão pela qual o jornal não reconhece as publicações no período sob o jugo varguista como parte de sua história.
Os editoriais que aqui vão reunidos, contudo, transmitem ao leitor de hoje, de forma linear e coerente, uma boa ideia de como O Estado de S. Paulo se mantém fiel a seus princípios fundadores, em particular a defesa irrenunciável das liberdades democráticas e dos valores republicanos. Os textos refletem, ainda, a visão que o Estadão tem do jornalismo profissional, concebido por este jornal como uma causa a serviço do melhor interesse público – e, exatamente por isso, imune ao tempo.