Desde seu primeiro ano de existência (1875) o Estadão noticia os festejos do Dia da Independência do Brasil. Através das décadas, o jornal registrou em suas páginas os diferentes momentos históricos que acompanharam a celebração do 7 de Setembro, mostrando como cada comemoração assumia um tom e forma particular, sendo utilizada com propósitos diferentes.
Exaltando o ufanismo e a unidade nacional, governantes em diferentes períodos buscaram atrelar à data visões favoráveis aos seus governos. Mas a data cívica também movimentava a publicidade no jornal em períodos de menor tensão, com anúncios comerciais personalizados para o Sete de Setembro.
Em 1933, por exemplo, produtos que iam de xarope a aparelho de rádio aproveitavam a data para anunciar na capa do jornal:
7 de setembro de 1933
7 de de setembro de 1933
7 de setembro de 1933
Independência ou Morte, o grito em publicidades
D. Pedro I garoto propaganda
Veja as capas alusivas ao 7 setembro em 1933, 1935, 1936 e 1937.
Relembre outras situações do 7 de setembro:
Centenário
No centenário da data, em 1922, o presidente Epitácio Pessoa promoveu a Exposição Internacional do Centenário da Independência no Rio de Janeiro. O Evento deveria servir como uma vitrine do progresso brasileiro para o mundo. A partir de 1964, com a ditadura militar, o Sete de Setembro adquiriu inegáveis ares de ato político e de exaltação ao militarismo.
As celebrações se estendiam pela chamada Semana da Pátria, e não se davam apenas na capital, aconteciam também nas cidades País a fora. Nas grandes capitais eram eventos de grandeza que chegavam a reunir centenas de milhares de pessoas, era um programa de lazer popular no feriado. Arquibancadas eram erguidas em importantes avenidas para que o público pudesse acompanhar as paradas militares com desfiles de tropas e de blindados, muitas vezes encerrados com exibições da Forças Aérea Brasileira.
Sesquicentenário
O aniversário de 150 anos da Independência foi o maior evento promovido em torno da data até hoje. O governo Médici conseguiu negociar com o governo militar português que os restos mortais de D. Pedro I fossem transladados para o Brasil. Antes de serem abrigados na cripta do Monumento à Independência, local onde o príncipe regente proclamou a Independência em São Paulo, os despojos passaram em peregrinação por todas as capitais num programa de comemorações que tomaram o País.
> Estadão - 7/9/1972 e 8/9/1972
Com a redemocratização, a tradição do desfile que reúne o Chefe de Estado e a população seguiu, agora com um tom que celebrava a harmonia entre os Poderes sob a égide de um governo democrático. Atos civis e manifestações de crítica aos governantes também passaram a ser realizados na data e políticos viram-se precisando montar estratégias para escapar das vaias nessas ocasiões.
Os despojos de D. Pedro I
“Brasileiros, não posso esconder minha emoção. Fala por si mesmo este fato que nenhuma eloquência poderia superar: no ano em que celebramos o sesquicentenário da nossa Independência, regressará ao Brasil o corpo daquele que, em sete de setembro, às margens do Ipiranga, com a bravura, o arroubo e a paixão que eram a marca de sua personalidade, proclamou livres estas terras.” Com essas palavras o presidente Emílio Garrastazu Médici anunciou em cadeia nacional de rádio e televisão o ponto alto das celebrações dos 1950 da Independência do Brasil, comemorados em 7 de setembro de 1972, a vinda dos restos mortais de D. Pedro I para o Brasil.
> Estadão - 13/8/1971, 19/3/1972 e 23/4/1972
Figura central da proclamação, o príncipe que se tornou o primeiro imperador do Brasil, divide com José Bonifácio de Andrada e Silva, o topo do panteão dos heróis da Independência. No imaginário nacional, enquanto Bonifácio - o Patriarca da Independência - é tido como o articulador político da ruptura com Portugal, a figura de D. Pedro I era promovida pela política cultural da ditadura militar como a de um corajoso homem das armas, que por amor à Pátria proclamou sua soberania.
No discurso de Médici, publicado na íntegra na edição do Estadão de 13 de agosto de 1971, a exaltação dos laços históricos que uniam Brasil e Portugal deram a tônica da fala, que mostrava como um feito diplomático do seu governo a cessão dos despojos de Pedro I por Portugal.
A série de programas comemorativos entre os dois países serviram a ambas as ditaduras, que por meio de eventos abertos, que reuniam Chefes de Estado e um público de milhares de pessoas, buscavam mostrar a pretensa unidade nacional e popularidade de seus governos e promover a ideia de harmonia e normalidade institucional, algo à margem da realidade dos regimes autoritários em vigência nos dois países.
Os eventos que marcaram a vinda dos despojos ao Brasil seguiram um itinerário focado nas grandes datas históricas. Após percorreram a mesma rota marítima de 4.500 milhas percorridas por Pedro Álvares Cabral em 1500, os despojos de Pedro I chegaram à Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, em 22 de abril de 1972.
Depois de três dias expostos à visitação na sua antiga residência na Quinta da Boa Vista, os despojos deixaram o Rio e seguiram em peregrinação por todas as capitais brasileiras. Até que em 7 de setembro de 1972, vindo de Pindamonhangaba e seguindo o mesmo caminho feito por D. Pedro I quando proclamou a Independência, seu esquife chegou à sua última morada, a Capela Imperial no Monumento à Independência.
Exposição internacional
As atenções do mundo se voltaram para o Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1922, com a inauguração da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil. Expressões culturais de sua época, as Exposições Universais, ou Feiras Mundiais serviam para fomentar a integração, o intercâmbio cultural, as relações comerciais entre as nações e apresentar os avanços tecnológicos do período; além de ajudar a promover a imagem internacional dos países que as sediavam.
Com essa ideia em mente o governo do presidente Epitácio Pessoa não poupou esforços para realização no Rio a primeira Exposição Universal do pós-guerra, casando a data da sua inauguração com as comemorações dos 100 anos de Independência do Brasil, o governo conseguiu transformar um evento de caráter nacional num acontecimento internacional.
Enquanto os festejos do centenário se espalharam pelo Brasil, no Rio de Janeiro uma enorme parada militar abriu o dia que teve à tarde a abertura da Exposição Universal, o grande e aguardado evento do ano. Situada ao final da Avenida Rio Branco, com um pórtico monumental na sua entrada, a feira ocupou mais de 2 mil metros de área e contou com pavilhões de mais de seis mil expositores e a participação de 14 países, entre eles, Estados Unidos, França, Itália, Portugal, Inglaterra, Bélgica, Japão e Argentina.
> Estadão - 7/9/1922 e 8/9/1922
Desfile militar e vaias
A tradição da parada militar no Dia da Independência do Brasil foi mantidas pelos governos após a retomada da democracia. Seguindo o protocolo dos desfiles militares e do discurso do presidente da República enaltecendo os valores históricos da data, uma oportunidade de reunir povo e Chefe de Estado. Com as liberdades cívicas e institucionais restabelecidas, a data também passou a oferecer a oportunidade para manifestações críticas aos governantes ocuparem as ruas. Desde então presidentes, governadores, prefeitos e outras autoridades de Estado tornaram-se alvo de vaias nos eventos. Para criar um clima favorável, governantes tentam engrossar as fileiras do público convocando apoiadores para os desfiles.