É o mais alto monumento da cidade. Mas apesar de seus 72 metros de altura, em meio ao trânsito e aos grandes edifícios de São Paulo, nem sempre é notado pelas milhares de pessoas que passam diariamente pela avenida 23 de Maio ou pelo lado norte do Parque do Ibirapuera.
Inaugurado em 9 de julho de 1955, o Obelisco do Ibirapuera, oficialmente Obelisco Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932, mais que um adorno é um monumento repleto de simbologia e parte importante da identidade histórica e cultural de São Paulo. É também o monumento funerário dos mortos num dos episódios mais dramáticos da história paulista: a Revolução Constitucionalista de 1932, o maior conflito militar brasileiro do século 20.
Ao longo dos anos o monumento foi fotografado por diferentes fotógrafos do Estadão. Uma pequena amostra possível está aqui destacada, priorizando imagens mais antigas e de alguns dos mais premiados profissionais do jornal.
O nome da avenida 23 de Maio, um dos pontos onde pode ser melhor avistado, também é diretamente ligado à Revolução de 1932. É a data em que cinco pessoas morreram numa manifestação que se transformou no estopim da revolução.
Quatro deles entrariam para a História como um dos símbolos do movimento com as letras iniciais de seus nomes, M.M.D.C: Miragaia, Martins, Drausio e Camargo. Seus restos mortais e os de Paulo Virginio estão sepultados no Obelisco junto a vários outros que morreram no conflito em que o movimento paulista terminou derrotado.
A obra, apesar de mausóleu, não representa apenas os heróis, os nomes, ou uma façanha, mas a união da população paulista como força coletiva. Essa ideia foi traduzida em 9 de julho de 1957 pelo poeta Guilherme de Almeida num poema publicado no Estadão na comemoração dos 25 anos da revolução. Autor do brasão e do lema da cidade de São Paulo, o poeta expoente do modernismo paulista e ex-combatente de 1932 chamou o monumento de A Trincheira Vertical.
Trecho de "A Trincheira Vertical", de Guilherme de Almeida, Estadão 9/7/1957
A Trincheira Vertical
FIRMADO em chão Paulista, um marco marmóreo de gigantesca altivez ora se eleva em plena planura do Ibirapuera. Dir-se-á que hoje, 9 de Julho, é esse imenso fuste poliédrico a ponta de um compasso naquele ponto fixado para circunscrever toda a nossa realidade geográfica, étnica, social, histórico, econômica, política, heróica, espiritual. São Paulo todo — de corpo e alma — ali se resume nêste nosso dia. Porque...
Porque ali se vão empilhando as urnas nas quais depositamos os votos de confiança no nosso Passado para o nosso Futuro. E em cada 9 de Julho, quando, para a legítima defesa de ideais que estatuimos, do fundo da nossa consciência de povo livre gritamos o nosso patético ‘De pé os mortos’, são êsses restos mortais que estremecem, reencarnam-se, aprumam-se e miraculosamente sobem da terra, hieráticos e vigilantes, talhados em colossos nêsse geométrico jacto de pedra.
É isso, pois, uma trincheira. Erecta, invulnerável, inamovivel, batalhante, eterna, é a TRINCHEIRA VERTICAL.
Ei-la, entre o zenite e o nadir, na insofísmavel estabilidade do fio-de-prumo, a nossa TRINCHEIRA VERTICAL!
Plantada na terra de São Paulo, é ela a espada da Lei e a espada do Apostolo-Soldado.
Agulha prismática de quatro facetas, nelas reletindo os quatro séculos da nossa civilização e os quatro setores — Norte, Sul, Este, Oeste — do nosso mapa guerreiro de 1932, é ela um padrão-de-posse de nós mesmos por nos mesmos está apenas na fidelidade.
Perpendicular à nossa atualidade, pelas letras da sua legenda ela ensina aos posteros o santo segredo da sobrevivência: segredo que está apenas na fidelidade.
‘AOS EPICOS DE 32, QUE, FEIS CUMPRIDORES DE SAGRADA PROMESSA FEITA AOS SEUS MAIORES — OS QUE HOUVERAM AS TERRAS E A GENTE POR SUA FORÇA E FÉ —, NA LEI PUSERAM SUA FORÇA E EM SÃO PAULO SUA FÉ’.
O desfecho da Revolução de 1932
A revolução terminou com a capitulação dos paulistas. Numa relação de forças de mais de 300 mil soldados dos destacamentos federais contra um contingente de cerca de 200 mil voluntários rebeldes, os números oficiais falam em 634 mortos nas fileiras constitucionalistas, as estimativas em 2 mil combatentes.
No entanto, a derrota nas trincheiras não eliminou a pressão por mudanças e muitas das bandeiras defendidas pelo movimento viram-se concretizadas. Em 1933, Getúlio Vargas nomeou um paulista, Armando de Sales Oliveira, interventor de São Paulo. Em 1934, uma nova Constituição foi promulgada.
Tudo isso aconteceu com ainda com a recente memória da guerra que tomou as ruas de São Paulo. Oito anos após o levante tenentista de 1924, São Paulo voltava a ser palco de um levante contra o governo central. O general Isidoro Dias Lopes, comandante da Revolução de 1924, quando os paulistas enfrentaram o presidente Artur Bernardes, assumiu o Comando Geral em 1932.
Forças políticas que convergiram na Revolução de 1930, para a derrubada da República Velha, voltaram a convergir em 1932, na pressão pela convocação de uma Constituinte e de novas eleições, compromissos assumidos pelo governo provisório.
9 de Julho
Data cívica mais importante do Estado de São Paulo, 9 de julho é celebrado em São Paulo por ser o dia do início da Revolução Constitucionalista de 1932, contra o governo de Getúlio Vargas (1930-1945). Motivada pelos desfechos da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência e significou perda de poder e autonomia política para a elite de São Paulo, o levante Constitucionalista fez os paulistas pegarem em armas para defender a criação de uma nova Assembleia Constituinte, novas eleições e o fim do governo provisório.
M.M.D.C. e 23 de maio
A morte de cinco pessoas em 23 de maio durante uma manifestação contra os interventores se transformou no estopim da revolução. Quatro deles entrariam para a História como um dos símbolos do movimento com as letras iniciais de seus nomes: Miragaia, Martins, Drausio e Camargo. O movimento constitucionalista deveria ser iniciado no dia 14 de julho, a data da Revolução Francesa, mas foi antecipado para o dia 9, por causa do risco de traição entre os conspiradores.
Naquele 9 de julho, as forças paulistas lideradas pelo General Isidoro Dias Lopes tomaram o estado e iniciaram a marcha para o Rio de Janeiro. Acreditava-se que Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul ajudariam enviando forças para retirar Getúlio Vargas do poder. Não aconteceu. Houve movimentos isolados no Rio Grande e no Mato Grosso facilmente destruídos. Em pouco tempo São Paulo, que planejava uma ofensiva rápida contra a capital, se viu cercado por numerosas tropas federais.
Armistício e rendição - Inferior em número e em recursos bélicos, os paulistas capitularam em 2 de outubro de 1932, após 84 dias de combates Calcula-se que cerca de mil vidas foram perdidas na batalha.
Embora vencido militarmente, o levante paulista aumentou a pressão sobre o governo Vargas e importantes demandas do movimento foram concretizadas. Em 1933, Getúlio Vargas nomeou um paulista, Armando de Sales Oliveira, interventor de São Paulo. Em 1934 uma nova Constituição foi promulgada.
Supplemento em Rotogravura - 14 de setembro de 1932
Revolução Constitucionalista
O jornal na Revolução
Um vasto conjunto documental sobre o conflito compõe a coleção do Acervo Estadão. Fotografias, charges, cartazes, imagens em rotogravuras e uma vasta cobertura jornalística da época - O Estadão não só cobriu, mas participou ativamente do levante - fazem parte desse material. Uma parte deste conteúdo está aqui selecionado.
Entre elas, dez capaz com os primeiros dias da revolução e outras sobre o momento da rendição, em outubro. Numa delas, é possível ler o descontentamento do General Isidoro Dias Lopes com a capitulação decidida por outros líderes do movimento.
Clique nos links indicados nas páginas do jornal da época e navegue por edições inteiras que narram o dia a dia da revolução que marcou a história de São Paulo e do País.
Leia mais sobre a Revolução Constitucionalista:
REVOLUÇÃO DE 32 NAS CAPAS DO JORNAL
Estadão - 10/7/1932 [primeira edição]
Estadão - 10/7/1932 [segunda edição]
Supplemento em Rotogravura - 25 de agosto de 1932
Fotos da Revolução Constitucionalista de 1932
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