A destruição dos documentos sobre a escravidão


Em 1890, ministro Ruy Barbosa mandou queimar todos documentos que tratassem do tema

Por Carlos Eduardo Entini
Atualização:

Estadão - 19 de dezembro de 1890

Notícia sobre a destruição oficial de documentos da escravidão.  Foto: Acervo Estadão

Em 14 de dezembro de 1890, o ministro da Fazenda, Ruy Barbosa assinou um despacho ordenando a destruição de documentos referentes à escravidão. O Estadão de 19 de dezembro de 1890 publicou trechos da ordem, que pedia que os registros sobre servidão fossem enviados para a capital, onde se procederia a “queima e destruição imediata deles”.

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No documento, o político chamava a escravidão de “instituição funestíssima que por tantos anos paralisou o desenvolvimento da sociedade e infeccionou-lhe a atmosfera moral “. E dizia que a república era “obrigada a destruir esses vestígios por honra da pátria e em homenagem aos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grande massa de cidadãos que a abolição do elemento servil entraram na comunhão brasileira.

Estadão - 23 de dezembro de 1980

Notícia sobre a destruição oficial dos documentos da escravidão.  Foto: Acervo Estadão
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Oposição à destruição

Em 20 de dezembro de 1890, uma moção de apoio ao despacho de Ruy Barbosa foi votada e aprovada no Congresso Nacional. Mas, não sem oposição. Representantes de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul se colocaram contra o despacho. A edição de 23 de dezembro do Estado trouxe mais detalhes sobre a sessão. A nota contava que o deputado Francisco Coelho Duarte Badaró (MG) registrou seu protesto contra a queima de todo arquivo da escravidão no Brasil.

Após colocar a ressalva que não se pronunciava contra a “obra meritória da abolição” mas contra a destruição dos documentos, disse: “não devemos fazer o papel de iconoclastas, devemos ter um arquivo”. “A nossa vida é nova, mas precisamos ter a nossa história escrita com provas verdadeiras. Pelo fato de mandar queimar grande número de documentos para a história do Brasil, a vergonha nunca desaparecerá, nunca se poderão apagar da nossa história os vestígios da escravidão”, continuou o deputado.

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Na edição de 21 de dezembro de 1890 o Estadão publicou na sua capa uma crítica à ordem de Ruy Barbosa. Assinado por Filindal, pseudônimo do jornalista Filinto de Almeida, o texto questionava o direito de um ministro sobre o destino dos documentos que “mais do que aos arquivos das repartições, pertecem à história”:

“... tão absurdo que, se não fora feito pelo sr. Ruy Barbosa, um dos mais pujantes talentos que o Brasil tem tido, eu acreditaria que o auctor da idéa não seria capaz de furar nem uma parede de ripas! Confesso-me espantado com o decreto e admirado de que o sr. Clapp acceitasse a direcção do auto de fé - porque com elle se esvahirão em fumo todas as glórias do abolicionismo.

Eu não chego mesmo a comprehender o direito que tenha um ministro de destruir documentos que, mais do que aos archivos das repartições, pertendem à história. Se ao menos com isso se apagasse a memória da escravidão! Mas as peneiras não tapam o sol, nem as lamparinas iluminam abysmos.”

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A escravidão no Brasil começou no século 16 e durou até 13 de maio de 1888 quando a Lei Áurea foi assinada.

ACERVO

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Estadão - 19 de dezembro de 1890

Notícia sobre a destruição oficial de documentos da escravidão.  Foto: Acervo Estadão

Em 14 de dezembro de 1890, o ministro da Fazenda, Ruy Barbosa assinou um despacho ordenando a destruição de documentos referentes à escravidão. O Estadão de 19 de dezembro de 1890 publicou trechos da ordem, que pedia que os registros sobre servidão fossem enviados para a capital, onde se procederia a “queima e destruição imediata deles”.

No documento, o político chamava a escravidão de “instituição funestíssima que por tantos anos paralisou o desenvolvimento da sociedade e infeccionou-lhe a atmosfera moral “. E dizia que a república era “obrigada a destruir esses vestígios por honra da pátria e em homenagem aos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grande massa de cidadãos que a abolição do elemento servil entraram na comunhão brasileira.

Estadão - 23 de dezembro de 1980

Notícia sobre a destruição oficial dos documentos da escravidão.  Foto: Acervo Estadão

Oposição à destruição

Em 20 de dezembro de 1890, uma moção de apoio ao despacho de Ruy Barbosa foi votada e aprovada no Congresso Nacional. Mas, não sem oposição. Representantes de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul se colocaram contra o despacho. A edição de 23 de dezembro do Estado trouxe mais detalhes sobre a sessão. A nota contava que o deputado Francisco Coelho Duarte Badaró (MG) registrou seu protesto contra a queima de todo arquivo da escravidão no Brasil.

Após colocar a ressalva que não se pronunciava contra a “obra meritória da abolição” mas contra a destruição dos documentos, disse: “não devemos fazer o papel de iconoclastas, devemos ter um arquivo”. “A nossa vida é nova, mas precisamos ter a nossa história escrita com provas verdadeiras. Pelo fato de mandar queimar grande número de documentos para a história do Brasil, a vergonha nunca desaparecerá, nunca se poderão apagar da nossa história os vestígios da escravidão”, continuou o deputado.

Na edição de 21 de dezembro de 1890 o Estadão publicou na sua capa uma crítica à ordem de Ruy Barbosa. Assinado por Filindal, pseudônimo do jornalista Filinto de Almeida, o texto questionava o direito de um ministro sobre o destino dos documentos que “mais do que aos arquivos das repartições, pertecem à história”:

“... tão absurdo que, se não fora feito pelo sr. Ruy Barbosa, um dos mais pujantes talentos que o Brasil tem tido, eu acreditaria que o auctor da idéa não seria capaz de furar nem uma parede de ripas! Confesso-me espantado com o decreto e admirado de que o sr. Clapp acceitasse a direcção do auto de fé - porque com elle se esvahirão em fumo todas as glórias do abolicionismo.

Eu não chego mesmo a comprehender o direito que tenha um ministro de destruir documentos que, mais do que aos archivos das repartições, pertendem à história. Se ao menos com isso se apagasse a memória da escravidão! Mas as peneiras não tapam o sol, nem as lamparinas iluminam abysmos.”

A escravidão no Brasil começou no século 16 e durou até 13 de maio de 1888 quando a Lei Áurea foi assinada.

ACERVO

Estadão - 19 de dezembro de 1890

Notícia sobre a destruição oficial de documentos da escravidão.  Foto: Acervo Estadão

Em 14 de dezembro de 1890, o ministro da Fazenda, Ruy Barbosa assinou um despacho ordenando a destruição de documentos referentes à escravidão. O Estadão de 19 de dezembro de 1890 publicou trechos da ordem, que pedia que os registros sobre servidão fossem enviados para a capital, onde se procederia a “queima e destruição imediata deles”.

No documento, o político chamava a escravidão de “instituição funestíssima que por tantos anos paralisou o desenvolvimento da sociedade e infeccionou-lhe a atmosfera moral “. E dizia que a república era “obrigada a destruir esses vestígios por honra da pátria e em homenagem aos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grande massa de cidadãos que a abolição do elemento servil entraram na comunhão brasileira.

Estadão - 23 de dezembro de 1980

Notícia sobre a destruição oficial dos documentos da escravidão.  Foto: Acervo Estadão

Oposição à destruição

Em 20 de dezembro de 1890, uma moção de apoio ao despacho de Ruy Barbosa foi votada e aprovada no Congresso Nacional. Mas, não sem oposição. Representantes de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul se colocaram contra o despacho. A edição de 23 de dezembro do Estado trouxe mais detalhes sobre a sessão. A nota contava que o deputado Francisco Coelho Duarte Badaró (MG) registrou seu protesto contra a queima de todo arquivo da escravidão no Brasil.

Após colocar a ressalva que não se pronunciava contra a “obra meritória da abolição” mas contra a destruição dos documentos, disse: “não devemos fazer o papel de iconoclastas, devemos ter um arquivo”. “A nossa vida é nova, mas precisamos ter a nossa história escrita com provas verdadeiras. Pelo fato de mandar queimar grande número de documentos para a história do Brasil, a vergonha nunca desaparecerá, nunca se poderão apagar da nossa história os vestígios da escravidão”, continuou o deputado.

Na edição de 21 de dezembro de 1890 o Estadão publicou na sua capa uma crítica à ordem de Ruy Barbosa. Assinado por Filindal, pseudônimo do jornalista Filinto de Almeida, o texto questionava o direito de um ministro sobre o destino dos documentos que “mais do que aos arquivos das repartições, pertecem à história”:

“... tão absurdo que, se não fora feito pelo sr. Ruy Barbosa, um dos mais pujantes talentos que o Brasil tem tido, eu acreditaria que o auctor da idéa não seria capaz de furar nem uma parede de ripas! Confesso-me espantado com o decreto e admirado de que o sr. Clapp acceitasse a direcção do auto de fé - porque com elle se esvahirão em fumo todas as glórias do abolicionismo.

Eu não chego mesmo a comprehender o direito que tenha um ministro de destruir documentos que, mais do que aos archivos das repartições, pertendem à história. Se ao menos com isso se apagasse a memória da escravidão! Mas as peneiras não tapam o sol, nem as lamparinas iluminam abysmos.”

A escravidão no Brasil começou no século 16 e durou até 13 de maio de 1888 quando a Lei Áurea foi assinada.

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