A novela de época das 18h da Globo, Éramos Seis entra em sua fase final. Nela, a família da protagonista Dona Lola, vivida pela atriz Glória Pires, vive um dos períodos mais conturbados da história de São Paulo e do País. A trama, baseada no livro homônimo de Maria José Dupré tem sua 5ª versão produzida para a televisão, agora sob autoria de Angela Chaves, e nos capítulos atuais encontra-se em plena década de 1930. Nela, a família Lemos, assim como tantas outras famílias paulistas se vê marcada pela Revolução Constitucionalista.
Para Dona Lola e seus filhos os eventos são definidores em sua sua saga. O primogênito da família, Carlos (Danilo Mesquita), morre após tomar um tiro da polícia durante as manifestações que antecederam o levante em São Paulo. Revoltado com a morte do irmão e motivado pelos ideais do movimento, o filho do meio, Alfredo (Nicolas Prattes), se alista e parte para a guerra. Inês, a personagem vivida por Carol Macedo, que sente-se dividida pelo amor de ambos os irmãos, após perder Carlos, também participa do esforço de guerra paulista contra o Governo Provisório encabeçado por Getúlio Vargas. Ela parte para o fronte para cuidar dos combatentes feridos como enfermeira.
O Estadão não só cobriu como participou ativamente da Revolução Constitucionalista em 1932. Naquele ano, enquanto as forças políticas e econômicas de São Paulo exigiam uma nova Assembleia Constituinte, novas eleições e o fim do governo provisório, o descontentamento com os interventores nomeados pelo governo provisório se espalhou também pelas classes populares. Em meio ao clima de tensão, a morte de cinco estudantes, que tomaram parte na manifestação contra os interventores, se transformou no estopim da revolução, o maior conflito militar da história brasileira no século 20.
Os paulistas perderam o conflito contra as tropas federais. No entanto, muitas das bandeiras defendidas pelo movimento viram-se concretizadas após a batalha. Em 1933, Getúlio Vargas nomeou um paulista, Armando de Sales Oliveira, interventor de São Paulo. Em 1934 uma nova Constituição foi promulgada.
Na cobertura do jornal é possível encontrar os eventos narrados pela novela, o desenrolar da situação sociopolítica do período, além de diferentes relatos e imagens do levante que mobilizou São Paulo. No jornal, estão documentadas tanto as decisões políticas, como o envolvimento da população naquele que foi o maior conflito militar da história brasileira no século 20.
Revolução Constitucionalista
O Suplemento em Rotogravura guarda registros fotográficos raros, como a mobilização dos batalhões na capital e no interior, a partida dos soldados para o combate e até momentos de descontração dos combatentes, como o registrado num Chafariz na cidade de Rio Claro.
As fotos também mostram o apoio e participação feminina, no suplemento é possível ver imagens de moças reunidas em associações costurando as fardas para os soldados constitucionalistas.
O Estadão e a Revolução Constitucionalista de 1932. Leia o texto publicado no Estadão em 2012 sobre o conflito:
"O relato do front em um clique 'Acervo Estadão' leva à internet cobertura completa do conflito feita pelo jornalAutor: Liz Batista/ Acervo Estadão
No maior conflito militar da história brasileira no século 20, os combatentes que perderam no campo de batalha venceram no campo político. Essa foi a vitória obtida pelos paulistas na Revolução de 32.
Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio de Camargo Andrade foram os primeiros a morrer pela causa - o total de mortos, porém, ainda é controverso, variando de 634 até 1.050 -, e foram transformados em mártires. Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, cujos nomes inspiraram a sigla MMDC, inflamaram a crescente mobilização no Estado em prol da retomada do regime democrático constitucional e da realização de eleições.
Defensor do movimento constitucionalista, o Estado cobriu todo o desenrolar do conflito, as manifestações que tomaram as ruas pedindo autonomia e defendendo a Constituição, a morte dos quatro jovens, a organização da guerra civil, a sublevação armada e os 87 dias de batalha sob o comando de Isidoro Dias Lopes, Bertoldo Klinger e Euclides Figueiredo.
O Estado, crítico da posição do Governo Provisório e de seu chefe, transformou-se num grande difusor dos ideais revolucionários e objetivos. Nos meses de batalha, relembrou leitores - muitos deles combatentes e colaboradores - por quais princípios liberais e democráticos lutavam. Em seus editoriais, o termo "Governo Provisório" passou a não figurar. Para que não houvesse dúvida contra o que lutavam, o governo central era a "ditadura", termo que mais adiante passou a ser grafado com "D" maiúsculo.
Publicou comunicados conclamando a nação, Estado por Estado, a apoiar o movimento paulista. Falando para grupos, escreveu a todos, aos "médicos do Brasil", aos "engenheiros do Brasil", aos "industriais do Brasil", aos "estrangeiros". Manteve em suas colunas o "Diário de um soldado voluntário", no qual um combatente contava o dia a dia no front, entre agruras da guerra, difíceis combates e calorosas acolhidas em cidades interioranas. Abraçou a campanha de doações, agradeceu às senhoras paulistas - "alma do movimento libertador", que, "de tudo, dos tesouros do coração, das joias materiais mais valiosas, se tem despojado para alimentar a guerra."
Com leitores espalhados por todo o território nacional, desempenhou papel importante na comunicação e na organização do esforço de guerra. Catalisou apoio para a causa, para infortúnio dos adversários, que, em agosto de 1932, chegaram a distribuir no Rio edições falsificadas do Estado para manobrar a opinião pública da capital. Analisando o trabalho do jornal durante e após a Revolução, não é difícil compreender por que Getúlio Vargas, em 1940, no Estado Novo, não apenas manteve o Estado sob censura, mas o confiscou e designou um interventor para o jornal. Mais que lhe infligir o silêncio, valia manufaturar suas palavras."
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