Astrud Gilberto virou garota de Ipanema, sem ser uma garota de Ipanema


Veja fotos e reportagens da cantora quando esteve no Brasil em 1965

Por Rose Saconi
Atualização:
Astrud Gilberto Foto: Autoria desconhecida/Estadão

Após tornar-se um sucesso no mundo todo com a versão em inglês da música Garota de Ipanema, Astrud Gilberto [1940-2023] , chegou no Brasil no dia 23 de julho de 1965 para uma curta temporada de shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em entrevista à imprensa disse que “o principal fator de aceitação da bossa nova na América do Norte é a sua grande identificação com o jazz”. Clique aqui e leia a matéria completa.

Voz doce

continua após a publicidade

No Suplemento Feminino do Estadão de 6 de agosto de 1965, o jornalista Thomaz Souto Corrêa chamava a atenção para o fato da cantora ter virado garota de Ipanema, sem se sentir como tal. “Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garota mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima no ouvido da gente”.

Estadão - Suplemento Feminino, 6/8/1965 Foto: Acervo/Estadão

Estadão - Suplemento Feninino - 6/8/1965

continua após a publicidade

De garôta, a voz; de Ipanema, nada

É difícil analisar o caso de Astrud Gilberto. De uma hora para outra, lá longe, uma moça de quem a gente tinha ouvido falar vagamente estoura no maior sucesso. Todo mundo acha ótimo, porque a nossa música moderna tem mesmo coisas que o mundo inteiro precisa conhecer, e “Garôta de Ipanema” é um exemplo típico, não só porque é uma música que o mundo inteiro deve ouvir, como também é um tipo de garôta que o mundo inteiro deve ver. Quem não conhecia a moça, logo imaginou uma garôta de Ipanema. Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garôta mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima, no ouvido da gente.

Vai daí logo Astrud fica sendo a “girl from Ipanema”, chegando o pessoal a dizer que ela vai até fazer um filme como a supracitada garôta, embora ela tenha dito a este cronista que, sôbre êste filme e o suposto convite que lhe fizeram, ela só sabe o que leu nos jornais. Então, um belo dia avisam a gente de que “Astrud vem aí”. Oba, a gente pensa. E vai lá conhecê-la. E conhece uma moça tímda, clara, vestida com roupinha azul-celeste, que fala baixinho, olhando um pouco desconfiada, sem nada a ver com Ipanema, mas com muito de garôta. Para ver como são as coisas: Astrud virou garôta de Ipanema sem ser uma garôta de Ipanema, sem se sentir como tal, segundo ela mesma confessou aos coleguinhas que estavam ávidos por declarações comprometedoras, que ela evitou com um garbo nunca visto.

continua após a publicidade

Eu, por exemplo, quis saber quem era o melhor amigo dela nos Estados Unidos, e ela não respondeu, alegando que era uma pergunta pessoal. E como as perguntas impessoais são muito chatas, ficamos por ali. Seja como fôr, garôta de Ipanema ou de Nova York, Astrud conquistou o pessoal, que a achou muito simpática, “bastante diferente das fotografias”, que gosta de contar casos do filho de quatro anos e meio (“Mamãe”, perguntou êle ‘antes de vir para o Brasil, “todo mundo lá fala português?”), que gosta de média com pão e manteiga, que gosta de bala e que gosta de cantar.

No palco, porém, Astrud vem confirmar uma teoria que anda muito discutida por aí, que é aquela de que tem artista que é uma coisa no disco e outra no palco. Ouvir Astrud e ver Astrud cantar são duas coisas muito diferentes: eu prefiro ouvir Astrud, porque ver Astrud no palco tira um pouco aquela imagem que a gente fez de uma voz cantando baixinho, só para a gente. Depois, a Astrud do palco é meio tímida, quase inibida, e isso pode ser muito bonitinho, mas dá um pouco de aflição na gente.

Agora, não vá ninguém ficar pensando que o fato de a gente não gostar de ver Astrud no palco tem alguma coisa a ver com o fato de a gente não gostar de ver Astrud, porque a gente gosta muito, e até acha-a muito bonitinha, muito engraçadinha, muito simpatiquinha. E a gente acha que ela deve continuar encantando os norte-americanos, porque é uma representante muito típica da maneira de ser da nossa, bossa-nova, não é mesmo? Por falar em bossa-nova, quando será que o João Gilberto vem cantar para a gente?

continua após a publicidade

THOMAZ SOUTO CORREA

+ ACERVO

> Veja o jornal do dia que você nasceu

continua após a publicidade

> Capas históricas

> Todas as edições desde 1875

Astrud Gilberto Foto: Autoria desconhecida/Estadão

Após tornar-se um sucesso no mundo todo com a versão em inglês da música Garota de Ipanema, Astrud Gilberto [1940-2023] , chegou no Brasil no dia 23 de julho de 1965 para uma curta temporada de shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em entrevista à imprensa disse que “o principal fator de aceitação da bossa nova na América do Norte é a sua grande identificação com o jazz”. Clique aqui e leia a matéria completa.

Voz doce

No Suplemento Feminino do Estadão de 6 de agosto de 1965, o jornalista Thomaz Souto Corrêa chamava a atenção para o fato da cantora ter virado garota de Ipanema, sem se sentir como tal. “Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garota mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima no ouvido da gente”.

Estadão - Suplemento Feminino, 6/8/1965 Foto: Acervo/Estadão

Estadão - Suplemento Feninino - 6/8/1965

De garôta, a voz; de Ipanema, nada

É difícil analisar o caso de Astrud Gilberto. De uma hora para outra, lá longe, uma moça de quem a gente tinha ouvido falar vagamente estoura no maior sucesso. Todo mundo acha ótimo, porque a nossa música moderna tem mesmo coisas que o mundo inteiro precisa conhecer, e “Garôta de Ipanema” é um exemplo típico, não só porque é uma música que o mundo inteiro deve ouvir, como também é um tipo de garôta que o mundo inteiro deve ver. Quem não conhecia a moça, logo imaginou uma garôta de Ipanema. Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garôta mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima, no ouvido da gente.

Vai daí logo Astrud fica sendo a “girl from Ipanema”, chegando o pessoal a dizer que ela vai até fazer um filme como a supracitada garôta, embora ela tenha dito a este cronista que, sôbre êste filme e o suposto convite que lhe fizeram, ela só sabe o que leu nos jornais. Então, um belo dia avisam a gente de que “Astrud vem aí”. Oba, a gente pensa. E vai lá conhecê-la. E conhece uma moça tímda, clara, vestida com roupinha azul-celeste, que fala baixinho, olhando um pouco desconfiada, sem nada a ver com Ipanema, mas com muito de garôta. Para ver como são as coisas: Astrud virou garôta de Ipanema sem ser uma garôta de Ipanema, sem se sentir como tal, segundo ela mesma confessou aos coleguinhas que estavam ávidos por declarações comprometedoras, que ela evitou com um garbo nunca visto.

Eu, por exemplo, quis saber quem era o melhor amigo dela nos Estados Unidos, e ela não respondeu, alegando que era uma pergunta pessoal. E como as perguntas impessoais são muito chatas, ficamos por ali. Seja como fôr, garôta de Ipanema ou de Nova York, Astrud conquistou o pessoal, que a achou muito simpática, “bastante diferente das fotografias”, que gosta de contar casos do filho de quatro anos e meio (“Mamãe”, perguntou êle ‘antes de vir para o Brasil, “todo mundo lá fala português?”), que gosta de média com pão e manteiga, que gosta de bala e que gosta de cantar.

No palco, porém, Astrud vem confirmar uma teoria que anda muito discutida por aí, que é aquela de que tem artista que é uma coisa no disco e outra no palco. Ouvir Astrud e ver Astrud cantar são duas coisas muito diferentes: eu prefiro ouvir Astrud, porque ver Astrud no palco tira um pouco aquela imagem que a gente fez de uma voz cantando baixinho, só para a gente. Depois, a Astrud do palco é meio tímida, quase inibida, e isso pode ser muito bonitinho, mas dá um pouco de aflição na gente.

Agora, não vá ninguém ficar pensando que o fato de a gente não gostar de ver Astrud no palco tem alguma coisa a ver com o fato de a gente não gostar de ver Astrud, porque a gente gosta muito, e até acha-a muito bonitinha, muito engraçadinha, muito simpatiquinha. E a gente acha que ela deve continuar encantando os norte-americanos, porque é uma representante muito típica da maneira de ser da nossa, bossa-nova, não é mesmo? Por falar em bossa-nova, quando será que o João Gilberto vem cantar para a gente?

THOMAZ SOUTO CORREA

+ ACERVO

> Veja o jornal do dia que você nasceu

> Capas históricas

> Todas as edições desde 1875

Astrud Gilberto Foto: Autoria desconhecida/Estadão

Após tornar-se um sucesso no mundo todo com a versão em inglês da música Garota de Ipanema, Astrud Gilberto [1940-2023] , chegou no Brasil no dia 23 de julho de 1965 para uma curta temporada de shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em entrevista à imprensa disse que “o principal fator de aceitação da bossa nova na América do Norte é a sua grande identificação com o jazz”. Clique aqui e leia a matéria completa.

Voz doce

No Suplemento Feminino do Estadão de 6 de agosto de 1965, o jornalista Thomaz Souto Corrêa chamava a atenção para o fato da cantora ter virado garota de Ipanema, sem se sentir como tal. “Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garota mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima no ouvido da gente”.

Estadão - Suplemento Feminino, 6/8/1965 Foto: Acervo/Estadão

Estadão - Suplemento Feninino - 6/8/1965

De garôta, a voz; de Ipanema, nada

É difícil analisar o caso de Astrud Gilberto. De uma hora para outra, lá longe, uma moça de quem a gente tinha ouvido falar vagamente estoura no maior sucesso. Todo mundo acha ótimo, porque a nossa música moderna tem mesmo coisas que o mundo inteiro precisa conhecer, e “Garôta de Ipanema” é um exemplo típico, não só porque é uma música que o mundo inteiro deve ouvir, como também é um tipo de garôta que o mundo inteiro deve ver. Quem não conhecia a moça, logo imaginou uma garôta de Ipanema. Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garôta mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima, no ouvido da gente.

Vai daí logo Astrud fica sendo a “girl from Ipanema”, chegando o pessoal a dizer que ela vai até fazer um filme como a supracitada garôta, embora ela tenha dito a este cronista que, sôbre êste filme e o suposto convite que lhe fizeram, ela só sabe o que leu nos jornais. Então, um belo dia avisam a gente de que “Astrud vem aí”. Oba, a gente pensa. E vai lá conhecê-la. E conhece uma moça tímda, clara, vestida com roupinha azul-celeste, que fala baixinho, olhando um pouco desconfiada, sem nada a ver com Ipanema, mas com muito de garôta. Para ver como são as coisas: Astrud virou garôta de Ipanema sem ser uma garôta de Ipanema, sem se sentir como tal, segundo ela mesma confessou aos coleguinhas que estavam ávidos por declarações comprometedoras, que ela evitou com um garbo nunca visto.

Eu, por exemplo, quis saber quem era o melhor amigo dela nos Estados Unidos, e ela não respondeu, alegando que era uma pergunta pessoal. E como as perguntas impessoais são muito chatas, ficamos por ali. Seja como fôr, garôta de Ipanema ou de Nova York, Astrud conquistou o pessoal, que a achou muito simpática, “bastante diferente das fotografias”, que gosta de contar casos do filho de quatro anos e meio (“Mamãe”, perguntou êle ‘antes de vir para o Brasil, “todo mundo lá fala português?”), que gosta de média com pão e manteiga, que gosta de bala e que gosta de cantar.

No palco, porém, Astrud vem confirmar uma teoria que anda muito discutida por aí, que é aquela de que tem artista que é uma coisa no disco e outra no palco. Ouvir Astrud e ver Astrud cantar são duas coisas muito diferentes: eu prefiro ouvir Astrud, porque ver Astrud no palco tira um pouco aquela imagem que a gente fez de uma voz cantando baixinho, só para a gente. Depois, a Astrud do palco é meio tímida, quase inibida, e isso pode ser muito bonitinho, mas dá um pouco de aflição na gente.

Agora, não vá ninguém ficar pensando que o fato de a gente não gostar de ver Astrud no palco tem alguma coisa a ver com o fato de a gente não gostar de ver Astrud, porque a gente gosta muito, e até acha-a muito bonitinha, muito engraçadinha, muito simpatiquinha. E a gente acha que ela deve continuar encantando os norte-americanos, porque é uma representante muito típica da maneira de ser da nossa, bossa-nova, não é mesmo? Por falar em bossa-nova, quando será que o João Gilberto vem cantar para a gente?

THOMAZ SOUTO CORREA

+ ACERVO

> Veja o jornal do dia que você nasceu

> Capas históricas

> Todas as edições desde 1875

Astrud Gilberto Foto: Autoria desconhecida/Estadão

Após tornar-se um sucesso no mundo todo com a versão em inglês da música Garota de Ipanema, Astrud Gilberto [1940-2023] , chegou no Brasil no dia 23 de julho de 1965 para uma curta temporada de shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em entrevista à imprensa disse que “o principal fator de aceitação da bossa nova na América do Norte é a sua grande identificação com o jazz”. Clique aqui e leia a matéria completa.

Voz doce

No Suplemento Feminino do Estadão de 6 de agosto de 1965, o jornalista Thomaz Souto Corrêa chamava a atenção para o fato da cantora ter virado garota de Ipanema, sem se sentir como tal. “Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garota mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima no ouvido da gente”.

Estadão - Suplemento Feminino, 6/8/1965 Foto: Acervo/Estadão

Estadão - Suplemento Feninino - 6/8/1965

De garôta, a voz; de Ipanema, nada

É difícil analisar o caso de Astrud Gilberto. De uma hora para outra, lá longe, uma moça de quem a gente tinha ouvido falar vagamente estoura no maior sucesso. Todo mundo acha ótimo, porque a nossa música moderna tem mesmo coisas que o mundo inteiro precisa conhecer, e “Garôta de Ipanema” é um exemplo típico, não só porque é uma música que o mundo inteiro deve ouvir, como também é um tipo de garôta que o mundo inteiro deve ver. Quem não conhecia a moça, logo imaginou uma garôta de Ipanema. Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garôta mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima, no ouvido da gente.

Vai daí logo Astrud fica sendo a “girl from Ipanema”, chegando o pessoal a dizer que ela vai até fazer um filme como a supracitada garôta, embora ela tenha dito a este cronista que, sôbre êste filme e o suposto convite que lhe fizeram, ela só sabe o que leu nos jornais. Então, um belo dia avisam a gente de que “Astrud vem aí”. Oba, a gente pensa. E vai lá conhecê-la. E conhece uma moça tímda, clara, vestida com roupinha azul-celeste, que fala baixinho, olhando um pouco desconfiada, sem nada a ver com Ipanema, mas com muito de garôta. Para ver como são as coisas: Astrud virou garôta de Ipanema sem ser uma garôta de Ipanema, sem se sentir como tal, segundo ela mesma confessou aos coleguinhas que estavam ávidos por declarações comprometedoras, que ela evitou com um garbo nunca visto.

Eu, por exemplo, quis saber quem era o melhor amigo dela nos Estados Unidos, e ela não respondeu, alegando que era uma pergunta pessoal. E como as perguntas impessoais são muito chatas, ficamos por ali. Seja como fôr, garôta de Ipanema ou de Nova York, Astrud conquistou o pessoal, que a achou muito simpática, “bastante diferente das fotografias”, que gosta de contar casos do filho de quatro anos e meio (“Mamãe”, perguntou êle ‘antes de vir para o Brasil, “todo mundo lá fala português?”), que gosta de média com pão e manteiga, que gosta de bala e que gosta de cantar.

No palco, porém, Astrud vem confirmar uma teoria que anda muito discutida por aí, que é aquela de que tem artista que é uma coisa no disco e outra no palco. Ouvir Astrud e ver Astrud cantar são duas coisas muito diferentes: eu prefiro ouvir Astrud, porque ver Astrud no palco tira um pouco aquela imagem que a gente fez de uma voz cantando baixinho, só para a gente. Depois, a Astrud do palco é meio tímida, quase inibida, e isso pode ser muito bonitinho, mas dá um pouco de aflição na gente.

Agora, não vá ninguém ficar pensando que o fato de a gente não gostar de ver Astrud no palco tem alguma coisa a ver com o fato de a gente não gostar de ver Astrud, porque a gente gosta muito, e até acha-a muito bonitinha, muito engraçadinha, muito simpatiquinha. E a gente acha que ela deve continuar encantando os norte-americanos, porque é uma representante muito típica da maneira de ser da nossa, bossa-nova, não é mesmo? Por falar em bossa-nova, quando será que o João Gilberto vem cantar para a gente?

THOMAZ SOUTO CORREA

+ ACERVO

> Veja o jornal do dia que você nasceu

> Capas históricas

> Todas as edições desde 1875

Astrud Gilberto Foto: Autoria desconhecida/Estadão

Após tornar-se um sucesso no mundo todo com a versão em inglês da música Garota de Ipanema, Astrud Gilberto [1940-2023] , chegou no Brasil no dia 23 de julho de 1965 para uma curta temporada de shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em entrevista à imprensa disse que “o principal fator de aceitação da bossa nova na América do Norte é a sua grande identificação com o jazz”. Clique aqui e leia a matéria completa.

Voz doce

No Suplemento Feminino do Estadão de 6 de agosto de 1965, o jornalista Thomaz Souto Corrêa chamava a atenção para o fato da cantora ter virado garota de Ipanema, sem se sentir como tal. “Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garota mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima no ouvido da gente”.

Estadão - Suplemento Feminino, 6/8/1965 Foto: Acervo/Estadão

Estadão - Suplemento Feninino - 6/8/1965

De garôta, a voz; de Ipanema, nada

É difícil analisar o caso de Astrud Gilberto. De uma hora para outra, lá longe, uma moça de quem a gente tinha ouvido falar vagamente estoura no maior sucesso. Todo mundo acha ótimo, porque a nossa música moderna tem mesmo coisas que o mundo inteiro precisa conhecer, e “Garôta de Ipanema” é um exemplo típico, não só porque é uma música que o mundo inteiro deve ouvir, como também é um tipo de garôta que o mundo inteiro deve ver. Quem não conhecia a moça, logo imaginou uma garôta de Ipanema. Quem ouvia o disco da moça, ouvia uma voz de garôta mesmo, já que Ipanema, em matéria de som, é uma coisa difícil de reconhecer. E ouvia uma voz doce, suave, sem grandes nuances, mas íntima, no ouvido da gente.

Vai daí logo Astrud fica sendo a “girl from Ipanema”, chegando o pessoal a dizer que ela vai até fazer um filme como a supracitada garôta, embora ela tenha dito a este cronista que, sôbre êste filme e o suposto convite que lhe fizeram, ela só sabe o que leu nos jornais. Então, um belo dia avisam a gente de que “Astrud vem aí”. Oba, a gente pensa. E vai lá conhecê-la. E conhece uma moça tímda, clara, vestida com roupinha azul-celeste, que fala baixinho, olhando um pouco desconfiada, sem nada a ver com Ipanema, mas com muito de garôta. Para ver como são as coisas: Astrud virou garôta de Ipanema sem ser uma garôta de Ipanema, sem se sentir como tal, segundo ela mesma confessou aos coleguinhas que estavam ávidos por declarações comprometedoras, que ela evitou com um garbo nunca visto.

Eu, por exemplo, quis saber quem era o melhor amigo dela nos Estados Unidos, e ela não respondeu, alegando que era uma pergunta pessoal. E como as perguntas impessoais são muito chatas, ficamos por ali. Seja como fôr, garôta de Ipanema ou de Nova York, Astrud conquistou o pessoal, que a achou muito simpática, “bastante diferente das fotografias”, que gosta de contar casos do filho de quatro anos e meio (“Mamãe”, perguntou êle ‘antes de vir para o Brasil, “todo mundo lá fala português?”), que gosta de média com pão e manteiga, que gosta de bala e que gosta de cantar.

No palco, porém, Astrud vem confirmar uma teoria que anda muito discutida por aí, que é aquela de que tem artista que é uma coisa no disco e outra no palco. Ouvir Astrud e ver Astrud cantar são duas coisas muito diferentes: eu prefiro ouvir Astrud, porque ver Astrud no palco tira um pouco aquela imagem que a gente fez de uma voz cantando baixinho, só para a gente. Depois, a Astrud do palco é meio tímida, quase inibida, e isso pode ser muito bonitinho, mas dá um pouco de aflição na gente.

Agora, não vá ninguém ficar pensando que o fato de a gente não gostar de ver Astrud no palco tem alguma coisa a ver com o fato de a gente não gostar de ver Astrud, porque a gente gosta muito, e até acha-a muito bonitinha, muito engraçadinha, muito simpatiquinha. E a gente acha que ela deve continuar encantando os norte-americanos, porque é uma representante muito típica da maneira de ser da nossa, bossa-nova, não é mesmo? Por falar em bossa-nova, quando será que o João Gilberto vem cantar para a gente?

THOMAZ SOUTO CORREA

+ ACERVO

> Veja o jornal do dia que você nasceu

> Capas históricas

> Todas as edições desde 1875

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.