Censura deixou marcas no noticiário sobre o golpe militar no Chile em 1973


Entrevista com viúva de Salvador Allende e atentado contra a LanChile no Rio foram censurados

Por Liz Batista

O golpe militar que instaurou 17 anos de ditadura no Chile foi capa do Estadão de 12 de setembro de 1973. “Militares depõem governo chileno”, dizia a manchete, logo abaixo vinham fotos do general Augusto Pinochet - que presidiu a junta militar que tomou o poder e depois manteve-se à frente do regime ditatorial chileno até seu término em 1990 - e do presidente deposto, Salvador Allende.

As ações militares coordenadas para minar qualquer resistência, o bombardeios contra o Palacio de la Moneda, sede do governo chileno, o suicídio de Allende e a repercussão internacional do golpe também foram noticiados na capa do jornal.

> Estadão - 12/9/1973

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Capa do Estadão de 12/9/1973 Foto: Acervo Estadão

No período, o Brasil vivia os anos de chumbo da ditadura militar. A imprensa estava sob censura. O Estadão, desde agosto de 1972, era submetido diariamente à censura prévia, com agentes atuando na redação do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Os censores deixaram suas marcas no noticiário sobre o Chile em 1973. Uma pesquisa na seção de páginas censuradas do Acervo Estadão mostram alguns desses casos. Em julho, reportagens críticas ao governo do presidente socialista Salvador Allende eram publicadas sem cortes. Em setembro, porém, declarações sobre a censura imposta pela junta militar chilena foram vetadas.

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A entrevista realizada, dias após o golpe, com Hortensia Allende, a viúva de Salvador Allende, é um exemplo. A matéria foi publicada em 18 de setembro de 1973, mas não integralmente. Entre as declarações cortadas está a parte em que ela fala sobre a existência de apenas “dois jornais, uma emissora de televisão e uma rede de rádio controlada pelas Forças Armadas” no Chile, já comandado pelo general Augusto Pinochet, e outra em que pede a solidariedade de “todo o mundo”.

> Estadão – 18/9/1973 (Entrevista Censurada)

> Estadão – 18/9/1973 (Entrevista Censurada) Foto: Acervo Estadão
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>>Clique aqui para ver página publicada em 18/9/1973

Outro tema vetado pela censura foi a atuação de agentes de segurança brasileiros no país logo após o golpe. Em 29 de setembro de 1973, a informação sobre a existência de pelo menos 50 brasileiros entre as 5 mil pessoas detidas pelos militares chilenos no Estádio Nacional, em Santiago, foi cortada da edição final, juntamente com um trecho que poderia indicar o grau de participação do Brasil no golpe: “Fontes diplomáticas disseram que muitos brasileiros que constavam da lista de presos, desapareceram do estádio, sem que autoridades militares saibam explicar a razão. As mesmas fontes temiam pela sorte de sete brasileiros implicados no sequestro do embaixador da Suíça no Brasil. Acrescentaram que membros da polícia política do Brasil chegaram a Santiago há alguns dias e que se mostraram muito ativos.

> Estadão – 29/9/1973 (Matéria Censurada)

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> Estadão – 29/9/1973 (Matéria Censurada) Foto: Acervo Estadão

>>Clique aqui para ver página publicada em 29/9/1973

O Estádio Nacional de Santiago foi transformado em palco de execuções sumárias pelos militares que o usavam como um centro de detenção provisória, com os vestiários feitos de celas.

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Um soldado chileno monta guarda de prisioneiros nas arquibancadas do Estádio Nacional do Chile, nesta imagem em setembro de 1973. Foto: REUTERS

Outro exemplo é uma chamada de capa sobre o atentado a bomba contra a companhia aérea LanChile, que seria publicada em 2 de outubro, mas foi derrubada pela censura e substituída pelo poema Boca de Forno, de Manuel Bandeira. A reportagem que trazia detalhes sobre a explosão que feriu “15 pessoas” e “causou grande tumulto” no centro do Rio também foi suprimida. Versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, foram publicados em seu lugar. A publicação de poemas, foi o recurso encontrado pelo Estadão para apontar aos leitores a interferência da censura.

> Estadão - 02/10/1973 (Capa Censurada)

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> Estadão - 02/10/1973 (Capa Censurada) Foto: Acervo Estadão

> Estadão – 02/10/1973 (Capa Publicada)

> Estadão – 02/10/1973 (Capa Publicada) Foto: Acervo Estadão

A ditadura chilena suprimiu direitos constitucionais no país, perseguiu, torturou e assassinou opositores. Os números oficiais estimam que 3 mil pessoas morreram ou desapareceram nas mãos do Estado chileno. O regime repressivo no Chile contou com apoio de outros regimes militares do Cone Sul, entre eles o do Brasil.

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O golpe militar que instaurou 17 anos de ditadura no Chile foi capa do Estadão de 12 de setembro de 1973. “Militares depõem governo chileno”, dizia a manchete, logo abaixo vinham fotos do general Augusto Pinochet - que presidiu a junta militar que tomou o poder e depois manteve-se à frente do regime ditatorial chileno até seu término em 1990 - e do presidente deposto, Salvador Allende.

As ações militares coordenadas para minar qualquer resistência, o bombardeios contra o Palacio de la Moneda, sede do governo chileno, o suicídio de Allende e a repercussão internacional do golpe também foram noticiados na capa do jornal.

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Capa do Estadão de 12/9/1973 Foto: Acervo Estadão

No período, o Brasil vivia os anos de chumbo da ditadura militar. A imprensa estava sob censura. O Estadão, desde agosto de 1972, era submetido diariamente à censura prévia, com agentes atuando na redação do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Os censores deixaram suas marcas no noticiário sobre o Chile em 1973. Uma pesquisa na seção de páginas censuradas do Acervo Estadão mostram alguns desses casos. Em julho, reportagens críticas ao governo do presidente socialista Salvador Allende eram publicadas sem cortes. Em setembro, porém, declarações sobre a censura imposta pela junta militar chilena foram vetadas.

A entrevista realizada, dias após o golpe, com Hortensia Allende, a viúva de Salvador Allende, é um exemplo. A matéria foi publicada em 18 de setembro de 1973, mas não integralmente. Entre as declarações cortadas está a parte em que ela fala sobre a existência de apenas “dois jornais, uma emissora de televisão e uma rede de rádio controlada pelas Forças Armadas” no Chile, já comandado pelo general Augusto Pinochet, e outra em que pede a solidariedade de “todo o mundo”.

> Estadão – 18/9/1973 (Entrevista Censurada)

> Estadão – 18/9/1973 (Entrevista Censurada) Foto: Acervo Estadão

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Outro tema vetado pela censura foi a atuação de agentes de segurança brasileiros no país logo após o golpe. Em 29 de setembro de 1973, a informação sobre a existência de pelo menos 50 brasileiros entre as 5 mil pessoas detidas pelos militares chilenos no Estádio Nacional, em Santiago, foi cortada da edição final, juntamente com um trecho que poderia indicar o grau de participação do Brasil no golpe: “Fontes diplomáticas disseram que muitos brasileiros que constavam da lista de presos, desapareceram do estádio, sem que autoridades militares saibam explicar a razão. As mesmas fontes temiam pela sorte de sete brasileiros implicados no sequestro do embaixador da Suíça no Brasil. Acrescentaram que membros da polícia política do Brasil chegaram a Santiago há alguns dias e que se mostraram muito ativos.

> Estadão – 29/9/1973 (Matéria Censurada)

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O Estádio Nacional de Santiago foi transformado em palco de execuções sumárias pelos militares que o usavam como um centro de detenção provisória, com os vestiários feitos de celas.

Um soldado chileno monta guarda de prisioneiros nas arquibancadas do Estádio Nacional do Chile, nesta imagem em setembro de 1973. Foto: REUTERS

Outro exemplo é uma chamada de capa sobre o atentado a bomba contra a companhia aérea LanChile, que seria publicada em 2 de outubro, mas foi derrubada pela censura e substituída pelo poema Boca de Forno, de Manuel Bandeira. A reportagem que trazia detalhes sobre a explosão que feriu “15 pessoas” e “causou grande tumulto” no centro do Rio também foi suprimida. Versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, foram publicados em seu lugar. A publicação de poemas, foi o recurso encontrado pelo Estadão para apontar aos leitores a interferência da censura.

> Estadão - 02/10/1973 (Capa Censurada)

> Estadão - 02/10/1973 (Capa Censurada) Foto: Acervo Estadão

> Estadão – 02/10/1973 (Capa Publicada)

> Estadão – 02/10/1973 (Capa Publicada) Foto: Acervo Estadão

A ditadura chilena suprimiu direitos constitucionais no país, perseguiu, torturou e assassinou opositores. Os números oficiais estimam que 3 mil pessoas morreram ou desapareceram nas mãos do Estado chileno. O regime repressivo no Chile contou com apoio de outros regimes militares do Cone Sul, entre eles o do Brasil.

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As ações militares coordenadas para minar qualquer resistência, o bombardeios contra o Palacio de la Moneda, sede do governo chileno, o suicídio de Allende e a repercussão internacional do golpe também foram noticiados na capa do jornal.

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Capa do Estadão de 12/9/1973 Foto: Acervo Estadão

No período, o Brasil vivia os anos de chumbo da ditadura militar. A imprensa estava sob censura. O Estadão, desde agosto de 1972, era submetido diariamente à censura prévia, com agentes atuando na redação do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Os censores deixaram suas marcas no noticiário sobre o Chile em 1973. Uma pesquisa na seção de páginas censuradas do Acervo Estadão mostram alguns desses casos. Em julho, reportagens críticas ao governo do presidente socialista Salvador Allende eram publicadas sem cortes. Em setembro, porém, declarações sobre a censura imposta pela junta militar chilena foram vetadas.

A entrevista realizada, dias após o golpe, com Hortensia Allende, a viúva de Salvador Allende, é um exemplo. A matéria foi publicada em 18 de setembro de 1973, mas não integralmente. Entre as declarações cortadas está a parte em que ela fala sobre a existência de apenas “dois jornais, uma emissora de televisão e uma rede de rádio controlada pelas Forças Armadas” no Chile, já comandado pelo general Augusto Pinochet, e outra em que pede a solidariedade de “todo o mundo”.

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> Estadão – 29/9/1973 (Matéria Censurada)

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Outro exemplo é uma chamada de capa sobre o atentado a bomba contra a companhia aérea LanChile, que seria publicada em 2 de outubro, mas foi derrubada pela censura e substituída pelo poema Boca de Forno, de Manuel Bandeira. A reportagem que trazia detalhes sobre a explosão que feriu “15 pessoas” e “causou grande tumulto” no centro do Rio também foi suprimida. Versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, foram publicados em seu lugar. A publicação de poemas, foi o recurso encontrado pelo Estadão para apontar aos leitores a interferência da censura.

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A ditadura chilena suprimiu direitos constitucionais no país, perseguiu, torturou e assassinou opositores. Os números oficiais estimam que 3 mil pessoas morreram ou desapareceram nas mãos do Estado chileno. O regime repressivo no Chile contou com apoio de outros regimes militares do Cone Sul, entre eles o do Brasil.

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As ações militares coordenadas para minar qualquer resistência, o bombardeios contra o Palacio de la Moneda, sede do governo chileno, o suicídio de Allende e a repercussão internacional do golpe também foram noticiados na capa do jornal.

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No período, o Brasil vivia os anos de chumbo da ditadura militar. A imprensa estava sob censura. O Estadão, desde agosto de 1972, era submetido diariamente à censura prévia, com agentes atuando na redação do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Os censores deixaram suas marcas no noticiário sobre o Chile em 1973. Uma pesquisa na seção de páginas censuradas do Acervo Estadão mostram alguns desses casos. Em julho, reportagens críticas ao governo do presidente socialista Salvador Allende eram publicadas sem cortes. Em setembro, porém, declarações sobre a censura imposta pela junta militar chilena foram vetadas.

A entrevista realizada, dias após o golpe, com Hortensia Allende, a viúva de Salvador Allende, é um exemplo. A matéria foi publicada em 18 de setembro de 1973, mas não integralmente. Entre as declarações cortadas está a parte em que ela fala sobre a existência de apenas “dois jornais, uma emissora de televisão e uma rede de rádio controlada pelas Forças Armadas” no Chile, já comandado pelo general Augusto Pinochet, e outra em que pede a solidariedade de “todo o mundo”.

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A ditadura chilena suprimiu direitos constitucionais no país, perseguiu, torturou e assassinou opositores. Os números oficiais estimam que 3 mil pessoas morreram ou desapareceram nas mãos do Estado chileno. O regime repressivo no Chile contou com apoio de outros regimes militares do Cone Sul, entre eles o do Brasil.

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O golpe militar que instaurou 17 anos de ditadura no Chile foi capa do Estadão de 12 de setembro de 1973. “Militares depõem governo chileno”, dizia a manchete, logo abaixo vinham fotos do general Augusto Pinochet - que presidiu a junta militar que tomou o poder e depois manteve-se à frente do regime ditatorial chileno até seu término em 1990 - e do presidente deposto, Salvador Allende.

As ações militares coordenadas para minar qualquer resistência, o bombardeios contra o Palacio de la Moneda, sede do governo chileno, o suicídio de Allende e a repercussão internacional do golpe também foram noticiados na capa do jornal.

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Capa do Estadão de 12/9/1973 Foto: Acervo Estadão

No período, o Brasil vivia os anos de chumbo da ditadura militar. A imprensa estava sob censura. O Estadão, desde agosto de 1972, era submetido diariamente à censura prévia, com agentes atuando na redação do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Os censores deixaram suas marcas no noticiário sobre o Chile em 1973. Uma pesquisa na seção de páginas censuradas do Acervo Estadão mostram alguns desses casos. Em julho, reportagens críticas ao governo do presidente socialista Salvador Allende eram publicadas sem cortes. Em setembro, porém, declarações sobre a censura imposta pela junta militar chilena foram vetadas.

A entrevista realizada, dias após o golpe, com Hortensia Allende, a viúva de Salvador Allende, é um exemplo. A matéria foi publicada em 18 de setembro de 1973, mas não integralmente. Entre as declarações cortadas está a parte em que ela fala sobre a existência de apenas “dois jornais, uma emissora de televisão e uma rede de rádio controlada pelas Forças Armadas” no Chile, já comandado pelo general Augusto Pinochet, e outra em que pede a solidariedade de “todo o mundo”.

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Outro tema vetado pela censura foi a atuação de agentes de segurança brasileiros no país logo após o golpe. Em 29 de setembro de 1973, a informação sobre a existência de pelo menos 50 brasileiros entre as 5 mil pessoas detidas pelos militares chilenos no Estádio Nacional, em Santiago, foi cortada da edição final, juntamente com um trecho que poderia indicar o grau de participação do Brasil no golpe: “Fontes diplomáticas disseram que muitos brasileiros que constavam da lista de presos, desapareceram do estádio, sem que autoridades militares saibam explicar a razão. As mesmas fontes temiam pela sorte de sete brasileiros implicados no sequestro do embaixador da Suíça no Brasil. Acrescentaram que membros da polícia política do Brasil chegaram a Santiago há alguns dias e que se mostraram muito ativos.

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Outro exemplo é uma chamada de capa sobre o atentado a bomba contra a companhia aérea LanChile, que seria publicada em 2 de outubro, mas foi derrubada pela censura e substituída pelo poema Boca de Forno, de Manuel Bandeira. A reportagem que trazia detalhes sobre a explosão que feriu “15 pessoas” e “causou grande tumulto” no centro do Rio também foi suprimida. Versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, foram publicados em seu lugar. A publicação de poemas, foi o recurso encontrado pelo Estadão para apontar aos leitores a interferência da censura.

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