Ícone do telejornalismo, Cid Moreira [1927-2024] é parte da história da TV brasileira. Para diferentes gerações, importantes fatos históricos do Brasil e do mundo estarão para sempre associados à voz e à imagem do apresentador.
Tão famoso quanto a vinheta de abertura do Jornal Nacional que apresentou por 27 anos, Cid Moreira era uma figura quase onipresente naquele horário da noite, após o jantar, quando milhões de brasileiros paravam para assistir o noticiário da Rede Globo.
Seu estilo de locução denotava sua origem radiofônica. Mas o sucesso veio com a migração para a televisão, onde se tornou “a cara e a voz do Jornal Nacional”, como definiu matéria do Jornal da Tarde publicada em 2 de setembro de 1989.
Na bancada do telejornal de maior audiência do País, ao lado de Sérgio Chapelin, apresentou notícias que marcaram nossos tempos. Estreou no programa em setembro de 1969, três meses antes da instalação do AI-5, passou pelos anos da censura da ditadura militar, da retomada da democracia, noticiou a morte de Tancredo Neves e o impeachment de Fernando Collor, primeiro presidente eleito pelo voto direto depois da redemocratização do País. Cultivou um público fiel ao longo das mais de duas décadas em que foi âncora do programa.
Cid Moreira [1927-2024] em seu último dia de Jornal Nacional
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Pouco antes de sua saída do jornal, falou ao Estadão, sobre sua vida, carreira, vaidade, cuidados com a voz e projetos futuros. Na entrevista, concedida à repórter Sônia Apolinário, e publicada na edição de 17 de março de 1996, disse sempre ter sido “um fiel servidor”, que acreditava ter “cumprido sua função” e garantiu que não se emocionaria ao dar seu último,e célebre, “Boa noite”, aos milhões de brasileiros que acompanharam seu trabalho à frente do Jornal Nacional.
Após sua despedida, em 29 de março de 1996, Cid seguiu na Rede Globo como apresentador dos editoriais no telejornal. Chapelin também deixou o Jornal Nacional para apresentar o Globo Repórter. Com as mudanças realizadas no jornalismo da emissora, Willian Bonner e Lilian Witte Fibe assumiram a bancada do noticiário. A Era D.C. (Depois de Cid) se iniciava.
Estadão - 24/3/1996 e Estadão - 28/4/1996
Segredos revelados
Uma pergunta se instalou na mente dos telespectadores do Jornal Nacional, Cid Moreira vestia terno completo ao apresentar o programa? Uma reportagem sobre o programa, publicada no Estadão de 24 de outubro de 1993, esclarecia a questão: sobre a bancada terno, camisa social e gravata, sob ela calça com elástico e tênis Reebok branco.
Sobre a pressão do seu trabalho, Cid confessou que haviam momentos onde ainda ficava nervoso durante a apresentação do telejornal. O segredo para manter sua face de esfinge e não perder a postura diante de um erro ou de um imprevisto? A regra de ouro, nas palavras Cid: “Quando se está ao vivo tudo pode acontecer, só não pode parar.”
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Irreverência e gaiatice com Mister M
A imagem solene e séria que tinha por causa do Jornal Nacional, dos plantões da Globo e das locuções bíblicas ganhou um contraponto divertido na carreira de Cid, quando foi a voz que interagia com os telespectadores e com Mister M no quadro do ilusionista no Fantástico.
Com um tom debochado e gaiato nunca ouvido antes em sua carreira, Cid Moreira narrava as revelações dos truques com um toque peculiar e virou praticamente um parceiro do mágico para o público brasileiro. Quem teve a oportunidade de assistir a versão original do quadro sem a sua narração sabe o quanto ele melhorou algo que já era bom. “Qual o segredo do mascarado? Conte para nós, Mister M”.
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