A existência de uma sede de clube de banco numas das áreas em crescente valorização na cidade de São Paulo ia muito além do privilégio de funcionários de um banco público do começo do século passado. Para entender a criação de um clube naquela época, numa zona então rural de São Paulo, devemos fechar os olhos e imaginar uma cidade onde a vida social e esportiva era organizada através de associações esportivas de empresas, de classe profissional e de imigrantes.
E também visualizar as várzeas dos rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros e outras áreas da cidade distantes do centro lotadas de praticantes de esportes. Muitas vezes representando a organização da qual fazia parte em campos e quadras com pouca estrutura, disputando diversos torneios organizados por ligas amadoras. E junto com os esportistas, centenas de pessoas que aproveitavam o tempo livre durante os finais de semana e feriados para passear pelos bosques existentes naqueles clubes e para organizar um piquenique.
É nesse contexto que se encaixa a criação do Esporte Clube Banespa quando adquiriu a sede campestre onde havia uma chácara na então longínqua estrada de Santo Amaro, em 1930.
Na época da compra do terreno, o clube participava do torneio de futebol organizado pela Liga Bancária, formada por diversos times de bancos existentes na cidade. Com a inauguração da sede na avenida Santo Amaro, o clube começa a criar estruturas para outros esportes praticados na cidade além do futebol, como o tênis, a pelota basca, natação, voleibol e bola ao cesto. Com o passar dos anos, a expansão urbana da cidade chegou ao local e o clube ficou de um dos bairros mais movimentados e habitados da cidade.
Foi com essa estrutura ampliada durante décadas que o clube alcançou o auge no esportes nas décadas de 1980 e 1990. Foi naquela época em que o time de vôlei do Banespa ganhou as quadras do Brasil. E, mais do que isso, o time foi base para diversas vitórias da seleção masculina de vôlei, como a medalha de prata na olimpíada de Los Angeles (1984), a campeã olímpica de Barcelona em 1992 - onde metade dos jogadores vieram do clube - e de Atenas em 2004. O time foi um dos celeiros da geração de ouro do vôlei brasileiro.
A fama alcançada pelo clube na modalidade fez surgir nas suas portas grandes filas para as peneiras, como noticiou o Estadão (9/2/93), ‘o sucesso do time, tetracampeão brasileiro, mais os nome de Negrão e Giovane, que passaram pelas categorias inferiores do clube e de Tande, que veio ainda juvenil para o time adulto, motivam os meninos de Cuiabá, Dourados, Catanduva, Botucatu, Mogi-Mirim, Ourinhos, entre outras cidades’. Estima-se que 40 mil garotos passaram pelo processo de escolha para treinarem no clube.
A potência do vôlei desenvolvida no Clube Banespa teve fim com a privatização do banco paulista em 2000. Três anos depois o time sem mudou para São Bernardo. Em 2009, o Santander, que assumiu o Banespa, decidiu não apoiar mais o projeto, então o time se passou a chamar-se Brasil Vôlei Clube. Porém, o novo clube não durou muito, acabou no ano seguinte.
ACERVO ESTADÃO