Conheça a história da fundação do Estadão


Jornal começou a circular com o nome 'A Província de São Paulo' em 4 de janeiro de 1875

Por Acervo

Uma novidade surgiu em São Paulo na segunda-feira de 4 de janeiro de 1875. Com quatro páginas, saía a primeira tiragem do jornal A Província de São Paulo, nome com que este Estadão começou a circular no século 19. Fundado por um grupo de liberais de ideais republicanos quando o Brasil ainda vivia sob um regime imperial e escravocrata, o jornal trazia na capa de sua primeira edição os princícios que fariam da publicação uma das mais longevas do País, tornando-se uma das dez empresas privadas brasileiras mais antigas em atuação.

“Não sendo orgão de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer deles, e por isso mesmo colocando-se em posição de escapar às imposições do governo, às paixões partidárias e às seduções inerentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Província de São Paulo fazer da sua independência o apanagio de sua força e a medida da severa moderação, sisudez, franqueza, lealdade e critério em que fundará o salutar prestígio a que destina-se a imprensa livre e consciente”, dizia o texto publicado junto ao nome dos 21 fundadores. [Leia a íntegra]

Primeira edição da 'A Provincia de São Paulo',publicada em 4/1/1875 Foto: Acervo/Estadão
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Os 2.025 exemplares da primeira edição foram impressos no térreo do sobrado de número 14 da Rua do Palácio (atual Rua do Tesouro), esquina com a Rua do Comércio (hoje Álvares Penteado). A redação funcionava no andar de cima do casarão com sacadas de madeira pintadas de verde. Além do texto de apresentação, as quatro páginas traziam um folhetim literário e as seguintes seções: Instrução Pública, Científica, Econômica, Judiciária, Letras e Artes, Aviso, Noticiário, Províncias e Anúncios. 

Previsto para iniciar sua trajetória no primeiro dia do ano, o jornal teve que esperar mais três dias até que a até que a impressora francesa Azaulet conseguisse funcionar plenamente após vários ajustes técnicos. Com a conclusão da tarefa, a primeira edição foi comemorada com festa, como lembraria anos depois o chefe da oficina e paginador do jornal Hilario Pereira Magro Junior. “Foi uma noite esplêndida, de alegria; as officinas, engalanadas, muitas visitas, muitas felicitações, muitos desejos de victoria e prosperidade, a indefectível lauta mesa de doces, o estourar do champagne.”

A comemoração coroava um esforço que, entre outros feitos, incluiu trazer a rotativa de segunda mão do Rio de Janeiro. A Alauzet - atualmente em exposição no hall de entrada da sede do jornal - ainda era do tipo “retiração”, como se dizia na gíria gráfica. Depois de impressas a primeira e a quarta páginas, retirava-se o papel para virá-lo e colocá-lo novamente para imprimir a segunda e a terceira páginas no verso. Composição e impressão eram feitas à luz de velas de sebo espetadas ao lado das caixas de composição. A rotação da máquina era executada por seis ex-escravos libertos contratados e remunerados para o trabalho.

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Sedes do Estadão: do Centro ao bairro do Limão

1 | 18

1ª sede - 1875/1877

Foto: Acervo/Estadão
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2ª sede - 1877/1881

Foto: Acervo/Estadão
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2ª sede - 1877/1881

Foto: Acervo/Estadão
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A origem modesta de um grande jornal

Foto: Acervo/Estadão
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3ª sede - 1881/1906

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3ª sede - 1881/1906

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4ª sede - 1906/1929

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4ª sede - 1906/1929

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5ª sede - 1929/1947

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7ª sede - 1951/1976

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7ª sede - 1951/1976

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O jornal muda; é o mesmo jornal

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8.ª sede - a partir de 12/6/1976

Foto: Acervo/Estadão
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8ª sede - atual

Foto: Acervo/Estadão
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8ª sede - a partir de 1976

Foto: Paulo Pinto/Estadão
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Galerias do Acervo

Foto: Acervo

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Inovação - Um ano depois da fundação, o jornal lançava uma das muitas inovações que marcariam a sua trajetória. Em 23 de janeiro de 1876, com o distribuidor francês Bernard Gregoire vendendo a publicação montado em um cavalo, o jornal iniciava a pioneira venda avulsa de exemplares pela cidade. A inovação entraria para a história da cidade de São Paulo, então com cerca de 30 mil habitantes, do jornal, do qual o cavaleiro tornaria-se o símbolo, e da imprensa brasileira, pois até então os jornais eram comprados pelos leitores na porta do local onde eram feitos, ou recebido em casa se fosse assinante.

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Bernard Gregoire em foto de Militão Augusto de Azevedo e no ex-libris do Estadão Foto: Reprodução
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Desde a fundação, O Estado de S. Paulo, como o jornal passou a se chamar após a Proclamação da República [ou Estadão, como a sociedade apelidou espontanemente o jornal] noticiou e teve atuação decisiva nos principais fatos da cidade, do País e do mundo. Passadas a abolição da escravidão e a início do regime republicano, causas que defendeu em suas páginas, o jornal, além da sua função elementar de informar, protagonizaria momentos importantes da História.

A abolição da escravidão, 13 anos após a fundação do jornal, foi um dos grandes acontecimentos históricos noticiados naquele fim de século 19. “Já não há mais escravos no Brazil. A lei n.3353 de 13 de maio de 1888 assim o declara no meio de festas que se estendem por todo o paiz, para a honra e glória desta nação da América”, dizia o texto “A Pátria Livre” em 15 de maio de 1888.

Nesse mesmo ano, o nome de Julio Mesquita, que começara a trabalhar na Província três anos antes, aparece pela primeira vez como diretor do jornal do qual se tornaria o único proprietário, e passa a comandar e a transformar a publicação, modernizando processos, formatos e linguagem, alçando o jornal a uma das maiores referências do jornalismo nacional e internacional.

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No ano seguinte, a proclamação da República renderia outra edição histórica. A capa grafada apenas com os dizeres “Viva a República” sobre fundo branco é considerada até hoje uma ousadia do design gráfico.

Capa do jornal A Província de São Paulo de 16/11/1889. Foto: Acervo/Estadão

Canudos - A República ainda dava seus primeiros passos no final do século 19 quando o jornal foi o responsável por enviar Euclides da Cunha como repórter especial para cobrir a Guerra de Canudos no sertão baiano em 1897. A experiência como repórter do Estadão no conflito serviu como base para o escritor conceber o clássico da literatura “Os Sertões”.

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Já no século 20, um outro conflito, a Primeira Guerra Mundial, colocou o jornal na vanguarda do jornalismo – uma edição noturna, apelidada de Estadinho por causa do tamanho em formato menor, atualizava as informações e trazia uma análise contextualizada e apurada. A cobertura analítica de Julio Mesquita em textos publicados durante a Primeira Guerra Mundial é considerada por estudiosos como referência para a compressão do conflito. A inovação da edição extra – desta vez vespertina - se repetiria anos depois com o relançamento do Estadinho na Segunda Guerra Mundial.

Nas páginas do Estadão os mais variados intelectuais e jornalistas escreveram textos que mudariam o curso da história. Monteiro Lobato, outro ícone da literatura nacional, teve os primeiros textos publicados no jornal. O escritor ainda protagonizou um momento histórico, assumindo a direção do jornal por uns dias durante a epidemia da gripe espanhola em 1918 enquanto a todo o comando do jornal estava doente. O poeta Guilherme de Almeida escreveu por vários anos a coluna Cinematographo, noticiando e analisando a exibição dos primeiros filmes mudos até a chegada das vozes, cores e sons que transformaram o cinema. Exemplos como esse se estendem por outras áreas como esporte, cultura, comércio, economia, política e educação.

Poema de Camões publicado no lugar denotícia censurada em 19/11/1974 Foto: Acervo Estadão

Da Revolução Constitucionalista de 1932 à criação da Universidade de São Paulo, o jornal continuou com uma história marcada pela defesa de temas relevantes para a sociedade e o País.

Em períodos diferentes, o jornal resistiu aos arbítrios de regimes ditatoriais, sendo tomado por cinco anos pela ditadura Vargas e sofrendo uma feroz censura nos anos de chumbo da ditadura militar, quando denunciou a violência contra a liberdade de expressão publicando poemas de Camões no lugar das notícias proibidas.

Retomada a liberdade democrática a partir dos anos 1980, o jornal continuaria a publicar reportagens que mudariam o rumo do País, ao mesmo tempo que aprimorava a sua capacidade de explorar as novidades tecnológicas – foi pioneiro no notíciário em tempo real com o Broadcastum dos primeiros veículos jornalísticos na internet e nas redes sociais - para ampliar o alcance de seus conteúdos de interesse público nos mais diferentes formatos, do papel ao digital.

Evolução do ex-libris do Estadão a partir do desenho original de José Wasth Rodrigues Foto: Acervo/Estadão
Algumas dasmudanças no visual doEstadãodesde 1875 Foto: Acervo Estadão

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Uma novidade surgiu em São Paulo na segunda-feira de 4 de janeiro de 1875. Com quatro páginas, saía a primeira tiragem do jornal A Província de São Paulo, nome com que este Estadão começou a circular no século 19. Fundado por um grupo de liberais de ideais republicanos quando o Brasil ainda vivia sob um regime imperial e escravocrata, o jornal trazia na capa de sua primeira edição os princícios que fariam da publicação uma das mais longevas do País, tornando-se uma das dez empresas privadas brasileiras mais antigas em atuação.

“Não sendo orgão de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer deles, e por isso mesmo colocando-se em posição de escapar às imposições do governo, às paixões partidárias e às seduções inerentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Província de São Paulo fazer da sua independência o apanagio de sua força e a medida da severa moderação, sisudez, franqueza, lealdade e critério em que fundará o salutar prestígio a que destina-se a imprensa livre e consciente”, dizia o texto publicado junto ao nome dos 21 fundadores. [Leia a íntegra]

Primeira edição da 'A Provincia de São Paulo',publicada em 4/1/1875 Foto: Acervo/Estadão

Os 2.025 exemplares da primeira edição foram impressos no térreo do sobrado de número 14 da Rua do Palácio (atual Rua do Tesouro), esquina com a Rua do Comércio (hoje Álvares Penteado). A redação funcionava no andar de cima do casarão com sacadas de madeira pintadas de verde. Além do texto de apresentação, as quatro páginas traziam um folhetim literário e as seguintes seções: Instrução Pública, Científica, Econômica, Judiciária, Letras e Artes, Aviso, Noticiário, Províncias e Anúncios. 

Previsto para iniciar sua trajetória no primeiro dia do ano, o jornal teve que esperar mais três dias até que a até que a impressora francesa Azaulet conseguisse funcionar plenamente após vários ajustes técnicos. Com a conclusão da tarefa, a primeira edição foi comemorada com festa, como lembraria anos depois o chefe da oficina e paginador do jornal Hilario Pereira Magro Junior. “Foi uma noite esplêndida, de alegria; as officinas, engalanadas, muitas visitas, muitas felicitações, muitos desejos de victoria e prosperidade, a indefectível lauta mesa de doces, o estourar do champagne.”

A comemoração coroava um esforço que, entre outros feitos, incluiu trazer a rotativa de segunda mão do Rio de Janeiro. A Alauzet - atualmente em exposição no hall de entrada da sede do jornal - ainda era do tipo “retiração”, como se dizia na gíria gráfica. Depois de impressas a primeira e a quarta páginas, retirava-se o papel para virá-lo e colocá-lo novamente para imprimir a segunda e a terceira páginas no verso. Composição e impressão eram feitas à luz de velas de sebo espetadas ao lado das caixas de composição. A rotação da máquina era executada por seis ex-escravos libertos contratados e remunerados para o trabalho.

Sedes do Estadão: do Centro ao bairro do Limão

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1ª sede - 1875/1877

Foto: Acervo/Estadão
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2ª sede - 1877/1881

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A origem modesta de um grande jornal

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O jornal muda; é o mesmo jornal

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8ª sede - atual

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8ª sede - a partir de 1976

Foto: Paulo Pinto/Estadão
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Galerias do Acervo

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Inovação - Um ano depois da fundação, o jornal lançava uma das muitas inovações que marcariam a sua trajetória. Em 23 de janeiro de 1876, com o distribuidor francês Bernard Gregoire vendendo a publicação montado em um cavalo, o jornal iniciava a pioneira venda avulsa de exemplares pela cidade. A inovação entraria para a história da cidade de São Paulo, então com cerca de 30 mil habitantes, do jornal, do qual o cavaleiro tornaria-se o símbolo, e da imprensa brasileira, pois até então os jornais eram comprados pelos leitores na porta do local onde eram feitos, ou recebido em casa se fosse assinante.

Bernard Gregoire em foto de Militão Augusto de Azevedo e no ex-libris do Estadão Foto: Reprodução

Desde a fundação, O Estado de S. Paulo, como o jornal passou a se chamar após a Proclamação da República [ou Estadão, como a sociedade apelidou espontanemente o jornal] noticiou e teve atuação decisiva nos principais fatos da cidade, do País e do mundo. Passadas a abolição da escravidão e a início do regime republicano, causas que defendeu em suas páginas, o jornal, além da sua função elementar de informar, protagonizaria momentos importantes da História.

A abolição da escravidão, 13 anos após a fundação do jornal, foi um dos grandes acontecimentos históricos noticiados naquele fim de século 19. “Já não há mais escravos no Brazil. A lei n.3353 de 13 de maio de 1888 assim o declara no meio de festas que se estendem por todo o paiz, para a honra e glória desta nação da América”, dizia o texto “A Pátria Livre” em 15 de maio de 1888.

Nesse mesmo ano, o nome de Julio Mesquita, que começara a trabalhar na Província três anos antes, aparece pela primeira vez como diretor do jornal do qual se tornaria o único proprietário, e passa a comandar e a transformar a publicação, modernizando processos, formatos e linguagem, alçando o jornal a uma das maiores referências do jornalismo nacional e internacional.

No ano seguinte, a proclamação da República renderia outra edição histórica. A capa grafada apenas com os dizeres “Viva a República” sobre fundo branco é considerada até hoje uma ousadia do design gráfico.

Capa do jornal A Província de São Paulo de 16/11/1889. Foto: Acervo/Estadão

Canudos - A República ainda dava seus primeiros passos no final do século 19 quando o jornal foi o responsável por enviar Euclides da Cunha como repórter especial para cobrir a Guerra de Canudos no sertão baiano em 1897. A experiência como repórter do Estadão no conflito serviu como base para o escritor conceber o clássico da literatura “Os Sertões”.

Já no século 20, um outro conflito, a Primeira Guerra Mundial, colocou o jornal na vanguarda do jornalismo – uma edição noturna, apelidada de Estadinho por causa do tamanho em formato menor, atualizava as informações e trazia uma análise contextualizada e apurada. A cobertura analítica de Julio Mesquita em textos publicados durante a Primeira Guerra Mundial é considerada por estudiosos como referência para a compressão do conflito. A inovação da edição extra – desta vez vespertina - se repetiria anos depois com o relançamento do Estadinho na Segunda Guerra Mundial.

Nas páginas do Estadão os mais variados intelectuais e jornalistas escreveram textos que mudariam o curso da história. Monteiro Lobato, outro ícone da literatura nacional, teve os primeiros textos publicados no jornal. O escritor ainda protagonizou um momento histórico, assumindo a direção do jornal por uns dias durante a epidemia da gripe espanhola em 1918 enquanto a todo o comando do jornal estava doente. O poeta Guilherme de Almeida escreveu por vários anos a coluna Cinematographo, noticiando e analisando a exibição dos primeiros filmes mudos até a chegada das vozes, cores e sons que transformaram o cinema. Exemplos como esse se estendem por outras áreas como esporte, cultura, comércio, economia, política e educação.

Poema de Camões publicado no lugar denotícia censurada em 19/11/1974 Foto: Acervo Estadão

Da Revolução Constitucionalista de 1932 à criação da Universidade de São Paulo, o jornal continuou com uma história marcada pela defesa de temas relevantes para a sociedade e o País.

Em períodos diferentes, o jornal resistiu aos arbítrios de regimes ditatoriais, sendo tomado por cinco anos pela ditadura Vargas e sofrendo uma feroz censura nos anos de chumbo da ditadura militar, quando denunciou a violência contra a liberdade de expressão publicando poemas de Camões no lugar das notícias proibidas.

Retomada a liberdade democrática a partir dos anos 1980, o jornal continuaria a publicar reportagens que mudariam o rumo do País, ao mesmo tempo que aprimorava a sua capacidade de explorar as novidades tecnológicas – foi pioneiro no notíciário em tempo real com o Broadcastum dos primeiros veículos jornalísticos na internet e nas redes sociais - para ampliar o alcance de seus conteúdos de interesse público nos mais diferentes formatos, do papel ao digital.

Evolução do ex-libris do Estadão a partir do desenho original de José Wasth Rodrigues Foto: Acervo/Estadão
Algumas dasmudanças no visual doEstadãodesde 1875 Foto: Acervo Estadão

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Uma novidade surgiu em São Paulo na segunda-feira de 4 de janeiro de 1875. Com quatro páginas, saía a primeira tiragem do jornal A Província de São Paulo, nome com que este Estadão começou a circular no século 19. Fundado por um grupo de liberais de ideais republicanos quando o Brasil ainda vivia sob um regime imperial e escravocrata, o jornal trazia na capa de sua primeira edição os princícios que fariam da publicação uma das mais longevas do País, tornando-se uma das dez empresas privadas brasileiras mais antigas em atuação.

“Não sendo orgão de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer deles, e por isso mesmo colocando-se em posição de escapar às imposições do governo, às paixões partidárias e às seduções inerentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Província de São Paulo fazer da sua independência o apanagio de sua força e a medida da severa moderação, sisudez, franqueza, lealdade e critério em que fundará o salutar prestígio a que destina-se a imprensa livre e consciente”, dizia o texto publicado junto ao nome dos 21 fundadores. [Leia a íntegra]

Primeira edição da 'A Provincia de São Paulo',publicada em 4/1/1875 Foto: Acervo/Estadão

Os 2.025 exemplares da primeira edição foram impressos no térreo do sobrado de número 14 da Rua do Palácio (atual Rua do Tesouro), esquina com a Rua do Comércio (hoje Álvares Penteado). A redação funcionava no andar de cima do casarão com sacadas de madeira pintadas de verde. Além do texto de apresentação, as quatro páginas traziam um folhetim literário e as seguintes seções: Instrução Pública, Científica, Econômica, Judiciária, Letras e Artes, Aviso, Noticiário, Províncias e Anúncios. 

Previsto para iniciar sua trajetória no primeiro dia do ano, o jornal teve que esperar mais três dias até que a até que a impressora francesa Azaulet conseguisse funcionar plenamente após vários ajustes técnicos. Com a conclusão da tarefa, a primeira edição foi comemorada com festa, como lembraria anos depois o chefe da oficina e paginador do jornal Hilario Pereira Magro Junior. “Foi uma noite esplêndida, de alegria; as officinas, engalanadas, muitas visitas, muitas felicitações, muitos desejos de victoria e prosperidade, a indefectível lauta mesa de doces, o estourar do champagne.”

A comemoração coroava um esforço que, entre outros feitos, incluiu trazer a rotativa de segunda mão do Rio de Janeiro. A Alauzet - atualmente em exposição no hall de entrada da sede do jornal - ainda era do tipo “retiração”, como se dizia na gíria gráfica. Depois de impressas a primeira e a quarta páginas, retirava-se o papel para virá-lo e colocá-lo novamente para imprimir a segunda e a terceira páginas no verso. Composição e impressão eram feitas à luz de velas de sebo espetadas ao lado das caixas de composição. A rotação da máquina era executada por seis ex-escravos libertos contratados e remunerados para o trabalho.

Sedes do Estadão: do Centro ao bairro do Limão

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1ª sede - 1875/1877

Foto: Acervo/Estadão
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2ª sede - 1877/1881

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2ª sede - 1877/1881

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A origem modesta de um grande jornal

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O jornal muda; é o mesmo jornal

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Foto: Acervo/Estadão
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8ª sede - atual

Foto: Acervo/Estadão
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Foto: Paulo Pinto/Estadão
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Galerias do Acervo

Foto: Acervo

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Inovação - Um ano depois da fundação, o jornal lançava uma das muitas inovações que marcariam a sua trajetória. Em 23 de janeiro de 1876, com o distribuidor francês Bernard Gregoire vendendo a publicação montado em um cavalo, o jornal iniciava a pioneira venda avulsa de exemplares pela cidade. A inovação entraria para a história da cidade de São Paulo, então com cerca de 30 mil habitantes, do jornal, do qual o cavaleiro tornaria-se o símbolo, e da imprensa brasileira, pois até então os jornais eram comprados pelos leitores na porta do local onde eram feitos, ou recebido em casa se fosse assinante.

Bernard Gregoire em foto de Militão Augusto de Azevedo e no ex-libris do Estadão Foto: Reprodução

Desde a fundação, O Estado de S. Paulo, como o jornal passou a se chamar após a Proclamação da República [ou Estadão, como a sociedade apelidou espontanemente o jornal] noticiou e teve atuação decisiva nos principais fatos da cidade, do País e do mundo. Passadas a abolição da escravidão e a início do regime republicano, causas que defendeu em suas páginas, o jornal, além da sua função elementar de informar, protagonizaria momentos importantes da História.

A abolição da escravidão, 13 anos após a fundação do jornal, foi um dos grandes acontecimentos históricos noticiados naquele fim de século 19. “Já não há mais escravos no Brazil. A lei n.3353 de 13 de maio de 1888 assim o declara no meio de festas que se estendem por todo o paiz, para a honra e glória desta nação da América”, dizia o texto “A Pátria Livre” em 15 de maio de 1888.

Nesse mesmo ano, o nome de Julio Mesquita, que começara a trabalhar na Província três anos antes, aparece pela primeira vez como diretor do jornal do qual se tornaria o único proprietário, e passa a comandar e a transformar a publicação, modernizando processos, formatos e linguagem, alçando o jornal a uma das maiores referências do jornalismo nacional e internacional.

No ano seguinte, a proclamação da República renderia outra edição histórica. A capa grafada apenas com os dizeres “Viva a República” sobre fundo branco é considerada até hoje uma ousadia do design gráfico.

Capa do jornal A Província de São Paulo de 16/11/1889. Foto: Acervo/Estadão

Canudos - A República ainda dava seus primeiros passos no final do século 19 quando o jornal foi o responsável por enviar Euclides da Cunha como repórter especial para cobrir a Guerra de Canudos no sertão baiano em 1897. A experiência como repórter do Estadão no conflito serviu como base para o escritor conceber o clássico da literatura “Os Sertões”.

Já no século 20, um outro conflito, a Primeira Guerra Mundial, colocou o jornal na vanguarda do jornalismo – uma edição noturna, apelidada de Estadinho por causa do tamanho em formato menor, atualizava as informações e trazia uma análise contextualizada e apurada. A cobertura analítica de Julio Mesquita em textos publicados durante a Primeira Guerra Mundial é considerada por estudiosos como referência para a compressão do conflito. A inovação da edição extra – desta vez vespertina - se repetiria anos depois com o relançamento do Estadinho na Segunda Guerra Mundial.

Nas páginas do Estadão os mais variados intelectuais e jornalistas escreveram textos que mudariam o curso da história. Monteiro Lobato, outro ícone da literatura nacional, teve os primeiros textos publicados no jornal. O escritor ainda protagonizou um momento histórico, assumindo a direção do jornal por uns dias durante a epidemia da gripe espanhola em 1918 enquanto a todo o comando do jornal estava doente. O poeta Guilherme de Almeida escreveu por vários anos a coluna Cinematographo, noticiando e analisando a exibição dos primeiros filmes mudos até a chegada das vozes, cores e sons que transformaram o cinema. Exemplos como esse se estendem por outras áreas como esporte, cultura, comércio, economia, política e educação.

Poema de Camões publicado no lugar denotícia censurada em 19/11/1974 Foto: Acervo Estadão

Da Revolução Constitucionalista de 1932 à criação da Universidade de São Paulo, o jornal continuou com uma história marcada pela defesa de temas relevantes para a sociedade e o País.

Em períodos diferentes, o jornal resistiu aos arbítrios de regimes ditatoriais, sendo tomado por cinco anos pela ditadura Vargas e sofrendo uma feroz censura nos anos de chumbo da ditadura militar, quando denunciou a violência contra a liberdade de expressão publicando poemas de Camões no lugar das notícias proibidas.

Retomada a liberdade democrática a partir dos anos 1980, o jornal continuaria a publicar reportagens que mudariam o rumo do País, ao mesmo tempo que aprimorava a sua capacidade de explorar as novidades tecnológicas – foi pioneiro no notíciário em tempo real com o Broadcastum dos primeiros veículos jornalísticos na internet e nas redes sociais - para ampliar o alcance de seus conteúdos de interesse público nos mais diferentes formatos, do papel ao digital.

Evolução do ex-libris do Estadão a partir do desenho original de José Wasth Rodrigues Foto: Acervo/Estadão
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Uma novidade surgiu em São Paulo na segunda-feira de 4 de janeiro de 1875. Com quatro páginas, saía a primeira tiragem do jornal A Província de São Paulo, nome com que este Estadão começou a circular no século 19. Fundado por um grupo de liberais de ideais republicanos quando o Brasil ainda vivia sob um regime imperial e escravocrata, o jornal trazia na capa de sua primeira edição os princícios que fariam da publicação uma das mais longevas do País, tornando-se uma das dez empresas privadas brasileiras mais antigas em atuação.

“Não sendo orgão de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer deles, e por isso mesmo colocando-se em posição de escapar às imposições do governo, às paixões partidárias e às seduções inerentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Província de São Paulo fazer da sua independência o apanagio de sua força e a medida da severa moderação, sisudez, franqueza, lealdade e critério em que fundará o salutar prestígio a que destina-se a imprensa livre e consciente”, dizia o texto publicado junto ao nome dos 21 fundadores. [Leia a íntegra]

Primeira edição da 'A Provincia de São Paulo',publicada em 4/1/1875 Foto: Acervo/Estadão

Os 2.025 exemplares da primeira edição foram impressos no térreo do sobrado de número 14 da Rua do Palácio (atual Rua do Tesouro), esquina com a Rua do Comércio (hoje Álvares Penteado). A redação funcionava no andar de cima do casarão com sacadas de madeira pintadas de verde. Além do texto de apresentação, as quatro páginas traziam um folhetim literário e as seguintes seções: Instrução Pública, Científica, Econômica, Judiciária, Letras e Artes, Aviso, Noticiário, Províncias e Anúncios. 

Previsto para iniciar sua trajetória no primeiro dia do ano, o jornal teve que esperar mais três dias até que a até que a impressora francesa Azaulet conseguisse funcionar plenamente após vários ajustes técnicos. Com a conclusão da tarefa, a primeira edição foi comemorada com festa, como lembraria anos depois o chefe da oficina e paginador do jornal Hilario Pereira Magro Junior. “Foi uma noite esplêndida, de alegria; as officinas, engalanadas, muitas visitas, muitas felicitações, muitos desejos de victoria e prosperidade, a indefectível lauta mesa de doces, o estourar do champagne.”

A comemoração coroava um esforço que, entre outros feitos, incluiu trazer a rotativa de segunda mão do Rio de Janeiro. A Alauzet - atualmente em exposição no hall de entrada da sede do jornal - ainda era do tipo “retiração”, como se dizia na gíria gráfica. Depois de impressas a primeira e a quarta páginas, retirava-se o papel para virá-lo e colocá-lo novamente para imprimir a segunda e a terceira páginas no verso. Composição e impressão eram feitas à luz de velas de sebo espetadas ao lado das caixas de composição. A rotação da máquina era executada por seis ex-escravos libertos contratados e remunerados para o trabalho.

Sedes do Estadão: do Centro ao bairro do Limão

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1ª sede - 1875/1877

Foto: Acervo/Estadão
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2ª sede - 1877/1881

Foto: Acervo/Estadão
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2ª sede - 1877/1881

Foto: Acervo/Estadão
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A origem modesta de um grande jornal

Foto: Acervo/Estadão
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3ª sede - 1881/1906

Foto: Acervo/Estadão
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3ª sede - 1881/1906

Foto: Acervo/Estadão
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4ª sede - 1906/1929

Foto: Acervo/Estadão
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4ª sede - 1906/1929

Foto: Acervo/Estadão
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4ª sede - 1906/1929

Foto: Acervo/Estadão
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5ª sede - 1929/1947

Foto: Acervo/Estadão
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6ª sede - 1947/1951

Foto: Acervo/Estadão
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7ª sede - 1951/1976

Foto: Acervo/Estadão
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7ª sede - 1951/1976

Foto: Acervo/Estadão
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O jornal muda; é o mesmo jornal

Foto: Acervo/Estadão
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8.ª sede - a partir de 12/6/1976

Foto: Acervo/Estadão
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8ª sede - atual

Foto: Acervo/Estadão
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8ª sede - a partir de 1976

Foto: Paulo Pinto/Estadão
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Galerias do Acervo

Foto: Acervo

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Inovação - Um ano depois da fundação, o jornal lançava uma das muitas inovações que marcariam a sua trajetória. Em 23 de janeiro de 1876, com o distribuidor francês Bernard Gregoire vendendo a publicação montado em um cavalo, o jornal iniciava a pioneira venda avulsa de exemplares pela cidade. A inovação entraria para a história da cidade de São Paulo, então com cerca de 30 mil habitantes, do jornal, do qual o cavaleiro tornaria-se o símbolo, e da imprensa brasileira, pois até então os jornais eram comprados pelos leitores na porta do local onde eram feitos, ou recebido em casa se fosse assinante.

Bernard Gregoire em foto de Militão Augusto de Azevedo e no ex-libris do Estadão Foto: Reprodução

Desde a fundação, O Estado de S. Paulo, como o jornal passou a se chamar após a Proclamação da República [ou Estadão, como a sociedade apelidou espontanemente o jornal] noticiou e teve atuação decisiva nos principais fatos da cidade, do País e do mundo. Passadas a abolição da escravidão e a início do regime republicano, causas que defendeu em suas páginas, o jornal, além da sua função elementar de informar, protagonizaria momentos importantes da História.

A abolição da escravidão, 13 anos após a fundação do jornal, foi um dos grandes acontecimentos históricos noticiados naquele fim de século 19. “Já não há mais escravos no Brazil. A lei n.3353 de 13 de maio de 1888 assim o declara no meio de festas que se estendem por todo o paiz, para a honra e glória desta nação da América”, dizia o texto “A Pátria Livre” em 15 de maio de 1888.

Nesse mesmo ano, o nome de Julio Mesquita, que começara a trabalhar na Província três anos antes, aparece pela primeira vez como diretor do jornal do qual se tornaria o único proprietário, e passa a comandar e a transformar a publicação, modernizando processos, formatos e linguagem, alçando o jornal a uma das maiores referências do jornalismo nacional e internacional.

No ano seguinte, a proclamação da República renderia outra edição histórica. A capa grafada apenas com os dizeres “Viva a República” sobre fundo branco é considerada até hoje uma ousadia do design gráfico.

Capa do jornal A Província de São Paulo de 16/11/1889. Foto: Acervo/Estadão

Canudos - A República ainda dava seus primeiros passos no final do século 19 quando o jornal foi o responsável por enviar Euclides da Cunha como repórter especial para cobrir a Guerra de Canudos no sertão baiano em 1897. A experiência como repórter do Estadão no conflito serviu como base para o escritor conceber o clássico da literatura “Os Sertões”.

Já no século 20, um outro conflito, a Primeira Guerra Mundial, colocou o jornal na vanguarda do jornalismo – uma edição noturna, apelidada de Estadinho por causa do tamanho em formato menor, atualizava as informações e trazia uma análise contextualizada e apurada. A cobertura analítica de Julio Mesquita em textos publicados durante a Primeira Guerra Mundial é considerada por estudiosos como referência para a compressão do conflito. A inovação da edição extra – desta vez vespertina - se repetiria anos depois com o relançamento do Estadinho na Segunda Guerra Mundial.

Nas páginas do Estadão os mais variados intelectuais e jornalistas escreveram textos que mudariam o curso da história. Monteiro Lobato, outro ícone da literatura nacional, teve os primeiros textos publicados no jornal. O escritor ainda protagonizou um momento histórico, assumindo a direção do jornal por uns dias durante a epidemia da gripe espanhola em 1918 enquanto a todo o comando do jornal estava doente. O poeta Guilherme de Almeida escreveu por vários anos a coluna Cinematographo, noticiando e analisando a exibição dos primeiros filmes mudos até a chegada das vozes, cores e sons que transformaram o cinema. Exemplos como esse se estendem por outras áreas como esporte, cultura, comércio, economia, política e educação.

Poema de Camões publicado no lugar denotícia censurada em 19/11/1974 Foto: Acervo Estadão

Da Revolução Constitucionalista de 1932 à criação da Universidade de São Paulo, o jornal continuou com uma história marcada pela defesa de temas relevantes para a sociedade e o País.

Em períodos diferentes, o jornal resistiu aos arbítrios de regimes ditatoriais, sendo tomado por cinco anos pela ditadura Vargas e sofrendo uma feroz censura nos anos de chumbo da ditadura militar, quando denunciou a violência contra a liberdade de expressão publicando poemas de Camões no lugar das notícias proibidas.

Retomada a liberdade democrática a partir dos anos 1980, o jornal continuaria a publicar reportagens que mudariam o rumo do País, ao mesmo tempo que aprimorava a sua capacidade de explorar as novidades tecnológicas – foi pioneiro no notíciário em tempo real com o Broadcastum dos primeiros veículos jornalísticos na internet e nas redes sociais - para ampliar o alcance de seus conteúdos de interesse público nos mais diferentes formatos, do papel ao digital.

Evolução do ex-libris do Estadão a partir do desenho original de José Wasth Rodrigues Foto: Acervo/Estadão
Algumas dasmudanças no visual doEstadãodesde 1875 Foto: Acervo Estadão

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Uma novidade surgiu em São Paulo na segunda-feira de 4 de janeiro de 1875. Com quatro páginas, saía a primeira tiragem do jornal A Província de São Paulo, nome com que este Estadão começou a circular no século 19. Fundado por um grupo de liberais de ideais republicanos quando o Brasil ainda vivia sob um regime imperial e escravocrata, o jornal trazia na capa de sua primeira edição os princícios que fariam da publicação uma das mais longevas do País, tornando-se uma das dez empresas privadas brasileiras mais antigas em atuação.

“Não sendo orgão de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer deles, e por isso mesmo colocando-se em posição de escapar às imposições do governo, às paixões partidárias e às seduções inerentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Província de São Paulo fazer da sua independência o apanagio de sua força e a medida da severa moderação, sisudez, franqueza, lealdade e critério em que fundará o salutar prestígio a que destina-se a imprensa livre e consciente”, dizia o texto publicado junto ao nome dos 21 fundadores. [Leia a íntegra]

Primeira edição da 'A Provincia de São Paulo',publicada em 4/1/1875 Foto: Acervo/Estadão

Os 2.025 exemplares da primeira edição foram impressos no térreo do sobrado de número 14 da Rua do Palácio (atual Rua do Tesouro), esquina com a Rua do Comércio (hoje Álvares Penteado). A redação funcionava no andar de cima do casarão com sacadas de madeira pintadas de verde. Além do texto de apresentação, as quatro páginas traziam um folhetim literário e as seguintes seções: Instrução Pública, Científica, Econômica, Judiciária, Letras e Artes, Aviso, Noticiário, Províncias e Anúncios. 

Previsto para iniciar sua trajetória no primeiro dia do ano, o jornal teve que esperar mais três dias até que a até que a impressora francesa Azaulet conseguisse funcionar plenamente após vários ajustes técnicos. Com a conclusão da tarefa, a primeira edição foi comemorada com festa, como lembraria anos depois o chefe da oficina e paginador do jornal Hilario Pereira Magro Junior. “Foi uma noite esplêndida, de alegria; as officinas, engalanadas, muitas visitas, muitas felicitações, muitos desejos de victoria e prosperidade, a indefectível lauta mesa de doces, o estourar do champagne.”

A comemoração coroava um esforço que, entre outros feitos, incluiu trazer a rotativa de segunda mão do Rio de Janeiro. A Alauzet - atualmente em exposição no hall de entrada da sede do jornal - ainda era do tipo “retiração”, como se dizia na gíria gráfica. Depois de impressas a primeira e a quarta páginas, retirava-se o papel para virá-lo e colocá-lo novamente para imprimir a segunda e a terceira páginas no verso. Composição e impressão eram feitas à luz de velas de sebo espetadas ao lado das caixas de composição. A rotação da máquina era executada por seis ex-escravos libertos contratados e remunerados para o trabalho.

Sedes do Estadão: do Centro ao bairro do Limão

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1ª sede - 1875/1877

Foto: Acervo/Estadão
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2ª sede - 1877/1881

Foto: Acervo/Estadão
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2ª sede - 1877/1881

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A origem modesta de um grande jornal

Foto: Acervo/Estadão
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3ª sede - 1881/1906

Foto: Acervo/Estadão
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3ª sede - 1881/1906

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4ª sede - 1906/1929

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4ª sede - 1906/1929

Foto: Acervo/Estadão
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4ª sede - 1906/1929

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5ª sede - 1929/1947

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7ª sede - 1951/1976

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7ª sede - 1951/1976

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O jornal muda; é o mesmo jornal

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8.ª sede - a partir de 12/6/1976

Foto: Acervo/Estadão
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8ª sede - atual

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8ª sede - a partir de 1976

Foto: Paulo Pinto/Estadão
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Galerias do Acervo

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Inovação - Um ano depois da fundação, o jornal lançava uma das muitas inovações que marcariam a sua trajetória. Em 23 de janeiro de 1876, com o distribuidor francês Bernard Gregoire vendendo a publicação montado em um cavalo, o jornal iniciava a pioneira venda avulsa de exemplares pela cidade. A inovação entraria para a história da cidade de São Paulo, então com cerca de 30 mil habitantes, do jornal, do qual o cavaleiro tornaria-se o símbolo, e da imprensa brasileira, pois até então os jornais eram comprados pelos leitores na porta do local onde eram feitos, ou recebido em casa se fosse assinante.

Bernard Gregoire em foto de Militão Augusto de Azevedo e no ex-libris do Estadão Foto: Reprodução

Desde a fundação, O Estado de S. Paulo, como o jornal passou a se chamar após a Proclamação da República [ou Estadão, como a sociedade apelidou espontanemente o jornal] noticiou e teve atuação decisiva nos principais fatos da cidade, do País e do mundo. Passadas a abolição da escravidão e a início do regime republicano, causas que defendeu em suas páginas, o jornal, além da sua função elementar de informar, protagonizaria momentos importantes da História.

A abolição da escravidão, 13 anos após a fundação do jornal, foi um dos grandes acontecimentos históricos noticiados naquele fim de século 19. “Já não há mais escravos no Brazil. A lei n.3353 de 13 de maio de 1888 assim o declara no meio de festas que se estendem por todo o paiz, para a honra e glória desta nação da América”, dizia o texto “A Pátria Livre” em 15 de maio de 1888.

Nesse mesmo ano, o nome de Julio Mesquita, que começara a trabalhar na Província três anos antes, aparece pela primeira vez como diretor do jornal do qual se tornaria o único proprietário, e passa a comandar e a transformar a publicação, modernizando processos, formatos e linguagem, alçando o jornal a uma das maiores referências do jornalismo nacional e internacional.

No ano seguinte, a proclamação da República renderia outra edição histórica. A capa grafada apenas com os dizeres “Viva a República” sobre fundo branco é considerada até hoje uma ousadia do design gráfico.

Capa do jornal A Província de São Paulo de 16/11/1889. Foto: Acervo/Estadão

Canudos - A República ainda dava seus primeiros passos no final do século 19 quando o jornal foi o responsável por enviar Euclides da Cunha como repórter especial para cobrir a Guerra de Canudos no sertão baiano em 1897. A experiência como repórter do Estadão no conflito serviu como base para o escritor conceber o clássico da literatura “Os Sertões”.

Já no século 20, um outro conflito, a Primeira Guerra Mundial, colocou o jornal na vanguarda do jornalismo – uma edição noturna, apelidada de Estadinho por causa do tamanho em formato menor, atualizava as informações e trazia uma análise contextualizada e apurada. A cobertura analítica de Julio Mesquita em textos publicados durante a Primeira Guerra Mundial é considerada por estudiosos como referência para a compressão do conflito. A inovação da edição extra – desta vez vespertina - se repetiria anos depois com o relançamento do Estadinho na Segunda Guerra Mundial.

Nas páginas do Estadão os mais variados intelectuais e jornalistas escreveram textos que mudariam o curso da história. Monteiro Lobato, outro ícone da literatura nacional, teve os primeiros textos publicados no jornal. O escritor ainda protagonizou um momento histórico, assumindo a direção do jornal por uns dias durante a epidemia da gripe espanhola em 1918 enquanto a todo o comando do jornal estava doente. O poeta Guilherme de Almeida escreveu por vários anos a coluna Cinematographo, noticiando e analisando a exibição dos primeiros filmes mudos até a chegada das vozes, cores e sons que transformaram o cinema. Exemplos como esse se estendem por outras áreas como esporte, cultura, comércio, economia, política e educação.

Poema de Camões publicado no lugar denotícia censurada em 19/11/1974 Foto: Acervo Estadão

Da Revolução Constitucionalista de 1932 à criação da Universidade de São Paulo, o jornal continuou com uma história marcada pela defesa de temas relevantes para a sociedade e o País.

Em períodos diferentes, o jornal resistiu aos arbítrios de regimes ditatoriais, sendo tomado por cinco anos pela ditadura Vargas e sofrendo uma feroz censura nos anos de chumbo da ditadura militar, quando denunciou a violência contra a liberdade de expressão publicando poemas de Camões no lugar das notícias proibidas.

Retomada a liberdade democrática a partir dos anos 1980, o jornal continuaria a publicar reportagens que mudariam o rumo do País, ao mesmo tempo que aprimorava a sua capacidade de explorar as novidades tecnológicas – foi pioneiro no notíciário em tempo real com o Broadcastum dos primeiros veículos jornalísticos na internet e nas redes sociais - para ampliar o alcance de seus conteúdos de interesse público nos mais diferentes formatos, do papel ao digital.

Evolução do ex-libris do Estadão a partir do desenho original de José Wasth Rodrigues Foto: Acervo/Estadão
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