Há 50 anos, o Estadão começava a publicar poemas de Camões no lugar de notícias censuradas


Versos do livro ‘Os Lusíadas’ foram publicados 655 vezes a partir de 2 de agosto de 1973 no lugar de notícias vetadas pela ditadura militar

Por Liz Batista, Rose Saconi e Edmundo Leite
Atualização:
Notícia censurada do jornal O Estado de S. Paulo de 2 de agosto de 1973 e trecho do livro 'Os Lusíadas', de Luís de Camões, publicado em seu lugar. Foto: Acervo Estadão

O dia 2 de agosto de 1973 é um marco na luta pela liberdade de imprensa. Naquela quinta-feira, o Estadão publicava pela primeira vez trechos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, no lugar de um editorial e de uma notícia censurados pela ditadura militar.

O Canto Primeiro da obra prima do escritor português substituiu o editorial censurado “Uma fórmula esdrúxula”, na página 3, e continuava na notícia, também proibida, CNBB procura quem perdeu Casaldaliga, na página 18.

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Desde agosto de 1972 o Estadão era submetido diariamente à censura prévia, com a presença de censores da ditadura que atuaram na sede do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Com o início da censura presencial, o Estadão se recusou a modificar a diagramação de suas páginas e vinha publicando anúncios publicitários, cartas de leitores, poemas de outros autores e trechos de processos judiciais no lugar das matérias proibidas. Por sugestão do jornalista Antônio Carvalho Mendes, responsável pelas seções de cinefilia e de falecimentos, o Estadão passou a publicar os trechos dos Lusíadas sequencialmente.

Página censurada do jornal O Estado de S. Paulo de 2 de agosto de 1973 e a página publicada com trecho do livro 'Os Lusíadas', de Luís de Camões, no lugar do editorial proibido 'Uma fórmula esdrúxula'. Foto: Acervo Estadão
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À partir daquele dia, os versos do livro épico foram publicados 655 vezes. Foi a forma que o jornal encontrou para denunciar a censura. Não demorou para que o estranhamento dos leitores em ler poemas no meio do noticiário fosse entendido como uma denúncia da arbitrariedade, já que o Estadão não podia noticiar que estava sendo censurado. No Jornal da Tarde, a estratégia foi publicar por um período receitas culinárias no lugar das notícias cortadas pelos censores.

A censura presencial se estendeu até 4 de janeiro de 1975, quando o governo Geisel decidiu interromper a censura no aniversário de 100 anos do jornal. Nesse período, mais de mil textos foram proibidos pelos censores.

Censor da ditadura militar trabalhando no prédio do Estadão em 1973. Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
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Pré impressão em cartolina flan de página censurada do Estadão. Foto: Rafael Arbex/Estadão Foto:

Em agosto de 1974, o diretor do Estadão, Júlio de Mesquita Neto, recebeu o prêmio Pena de Ouro da Liberdade, concedido pela Federação Internacional dos Editores de Jornais como reconhecimento pela atuação do jornal contra censura e sua defesa da liberdade de imprensa.

No Acervo Estadão é possível navegar por todas as páginas censuradas neste período, e bem como ver a página originalmente planejada pela redação.

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>> Veja as páginas originais censuradas e as publicadas

AI-5

A censura ao Estadão e aos outros meios de comunicação do País começou com o AI-5 (Ato Institucional Número 5), de 13 de dezembro de 1968. Na noite de 13 para 14, os censores passaram a madrugada na sede do jornal e retornaram todas as noites até 6 de janeiro do ano seguinte, conforme detalhou o repórter José Maria Mayrink no livro Mordaça no Estadão, que também se transformou no documentário ‘Estranhos da Noite - Mordaça no Estadão em tempos de Censura, com direção do cineasta Camilo Tavares e roteiro do jornalista.

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De 7 janeiro de 1969 à 23 de agosto de 1972 a censura não era presencial, mas exercida e comunicada por meio de telefonemas, telegramas, recados e ofícios.

Estranhos na Noite

Assista ao documentário sobre a censura no Estadão:

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Veja abaixo algumas amostras de notícias proibidas e acesse a seção Páginas Censuradas.

Capa publicada e a censurada em 19/11/1974, um dos dias de maior rigor da censura. Foto: Acervo Estadão
>> Pagina censurada no Estadão de 19/11/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão - 19/11/1974 Foto: Acervo/Estadão
Censor trabalhando nas oficinas do jornal. Por quase três anos, os censores cortavam notícias que consideravam ser contrárias ao governo Foto: Domício Pinheiro/Estadão

Os censores, instalados num canto da gráfica após os jornalistas recusarem sua presença na redação, liam uma prova de todo o noticiário diário antes de o material ser impresso e definiam quais notícias poderiam ser publicadas e quais seriam eliminadas das páginas dos jornais.

Outra medida de resistência do jornal foi preservar e arquivar secretamente os originais censurados, que não puderam ser levados à público na época. Indexadas pelo chefe do Arquivo do jornal, Armando Augusto Bordallo, as páginas censuradas eram enviadas para a agência de anúncios classificados do jornal na Lapa.

Hoje, a maior parte das milhares de notícias censuradas podem ser lidas em sua íntegra original no site do Acervo Estadão. O leitor pode ver a página que foi proibida e clicar para visualizar a página publicada com poemas em seu lugar.

Índices e volumes encadernados com as notícias censuradas.  Foto:
>> Pagina censurada do Estadão de 11/05/1973 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 11/05/1973 Foto: Acervo/Estadão
Na seçãoPáginas Censuradasé possível navegar pelas páginas proibidas pelos censores da ditadura militar Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 26/7/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 26/7/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 04/9/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 04/9/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 04/4/1973 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 04/4/1973 Foto: Acervo/Estadão
O censor Francisco Braga revisa textos na sede do jornal em 1973. Foto: Claudine Petrolli/Estadão

Leia também:

>> Encontradas páginas inéditas da censura ao Estadão

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> Veja o jornal do dia que você nasceu

> Capas históricas

Notícia censurada do jornal O Estado de S. Paulo de 2 de agosto de 1973 e trecho do livro 'Os Lusíadas', de Luís de Camões, publicado em seu lugar. Foto: Acervo Estadão

O dia 2 de agosto de 1973 é um marco na luta pela liberdade de imprensa. Naquela quinta-feira, o Estadão publicava pela primeira vez trechos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, no lugar de um editorial e de uma notícia censurados pela ditadura militar.

O Canto Primeiro da obra prima do escritor português substituiu o editorial censurado “Uma fórmula esdrúxula”, na página 3, e continuava na notícia, também proibida, CNBB procura quem perdeu Casaldaliga, na página 18.

Desde agosto de 1972 o Estadão era submetido diariamente à censura prévia, com a presença de censores da ditadura que atuaram na sede do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Com o início da censura presencial, o Estadão se recusou a modificar a diagramação de suas páginas e vinha publicando anúncios publicitários, cartas de leitores, poemas de outros autores e trechos de processos judiciais no lugar das matérias proibidas. Por sugestão do jornalista Antônio Carvalho Mendes, responsável pelas seções de cinefilia e de falecimentos, o Estadão passou a publicar os trechos dos Lusíadas sequencialmente.

Página censurada do jornal O Estado de S. Paulo de 2 de agosto de 1973 e a página publicada com trecho do livro 'Os Lusíadas', de Luís de Camões, no lugar do editorial proibido 'Uma fórmula esdrúxula'. Foto: Acervo Estadão

À partir daquele dia, os versos do livro épico foram publicados 655 vezes. Foi a forma que o jornal encontrou para denunciar a censura. Não demorou para que o estranhamento dos leitores em ler poemas no meio do noticiário fosse entendido como uma denúncia da arbitrariedade, já que o Estadão não podia noticiar que estava sendo censurado. No Jornal da Tarde, a estratégia foi publicar por um período receitas culinárias no lugar das notícias cortadas pelos censores.

A censura presencial se estendeu até 4 de janeiro de 1975, quando o governo Geisel decidiu interromper a censura no aniversário de 100 anos do jornal. Nesse período, mais de mil textos foram proibidos pelos censores.

Censor da ditadura militar trabalhando no prédio do Estadão em 1973. Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
Pré impressão em cartolina flan de página censurada do Estadão. Foto: Rafael Arbex/Estadão Foto:

Em agosto de 1974, o diretor do Estadão, Júlio de Mesquita Neto, recebeu o prêmio Pena de Ouro da Liberdade, concedido pela Federação Internacional dos Editores de Jornais como reconhecimento pela atuação do jornal contra censura e sua defesa da liberdade de imprensa.

No Acervo Estadão é possível navegar por todas as páginas censuradas neste período, e bem como ver a página originalmente planejada pela redação.

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AI-5

A censura ao Estadão e aos outros meios de comunicação do País começou com o AI-5 (Ato Institucional Número 5), de 13 de dezembro de 1968. Na noite de 13 para 14, os censores passaram a madrugada na sede do jornal e retornaram todas as noites até 6 de janeiro do ano seguinte, conforme detalhou o repórter José Maria Mayrink no livro Mordaça no Estadão, que também se transformou no documentário ‘Estranhos da Noite - Mordaça no Estadão em tempos de Censura, com direção do cineasta Camilo Tavares e roteiro do jornalista.

De 7 janeiro de 1969 à 23 de agosto de 1972 a censura não era presencial, mas exercida e comunicada por meio de telefonemas, telegramas, recados e ofícios.

Estranhos na Noite

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Capa publicada e a censurada em 19/11/1974, um dos dias de maior rigor da censura. Foto: Acervo Estadão
>> Pagina censurada no Estadão de 19/11/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão - 19/11/1974 Foto: Acervo/Estadão
Censor trabalhando nas oficinas do jornal. Por quase três anos, os censores cortavam notícias que consideravam ser contrárias ao governo Foto: Domício Pinheiro/Estadão

Os censores, instalados num canto da gráfica após os jornalistas recusarem sua presença na redação, liam uma prova de todo o noticiário diário antes de o material ser impresso e definiam quais notícias poderiam ser publicadas e quais seriam eliminadas das páginas dos jornais.

Outra medida de resistência do jornal foi preservar e arquivar secretamente os originais censurados, que não puderam ser levados à público na época. Indexadas pelo chefe do Arquivo do jornal, Armando Augusto Bordallo, as páginas censuradas eram enviadas para a agência de anúncios classificados do jornal na Lapa.

Hoje, a maior parte das milhares de notícias censuradas podem ser lidas em sua íntegra original no site do Acervo Estadão. O leitor pode ver a página que foi proibida e clicar para visualizar a página publicada com poemas em seu lugar.

Índices e volumes encadernados com as notícias censuradas.  Foto:
>> Pagina censurada do Estadão de 11/05/1973 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 11/05/1973 Foto: Acervo/Estadão
Na seçãoPáginas Censuradasé possível navegar pelas páginas proibidas pelos censores da ditadura militar Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 26/7/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 26/7/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 04/9/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 04/9/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 04/4/1973 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 04/4/1973 Foto: Acervo/Estadão
O censor Francisco Braga revisa textos na sede do jornal em 1973. Foto: Claudine Petrolli/Estadão

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Notícia censurada do jornal O Estado de S. Paulo de 2 de agosto de 1973 e trecho do livro 'Os Lusíadas', de Luís de Camões, publicado em seu lugar. Foto: Acervo Estadão

O dia 2 de agosto de 1973 é um marco na luta pela liberdade de imprensa. Naquela quinta-feira, o Estadão publicava pela primeira vez trechos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, no lugar de um editorial e de uma notícia censurados pela ditadura militar.

O Canto Primeiro da obra prima do escritor português substituiu o editorial censurado “Uma fórmula esdrúxula”, na página 3, e continuava na notícia, também proibida, CNBB procura quem perdeu Casaldaliga, na página 18.

Desde agosto de 1972 o Estadão era submetido diariamente à censura prévia, com a presença de censores da ditadura que atuaram na sede do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Com o início da censura presencial, o Estadão se recusou a modificar a diagramação de suas páginas e vinha publicando anúncios publicitários, cartas de leitores, poemas de outros autores e trechos de processos judiciais no lugar das matérias proibidas. Por sugestão do jornalista Antônio Carvalho Mendes, responsável pelas seções de cinefilia e de falecimentos, o Estadão passou a publicar os trechos dos Lusíadas sequencialmente.

Página censurada do jornal O Estado de S. Paulo de 2 de agosto de 1973 e a página publicada com trecho do livro 'Os Lusíadas', de Luís de Camões, no lugar do editorial proibido 'Uma fórmula esdrúxula'. Foto: Acervo Estadão

À partir daquele dia, os versos do livro épico foram publicados 655 vezes. Foi a forma que o jornal encontrou para denunciar a censura. Não demorou para que o estranhamento dos leitores em ler poemas no meio do noticiário fosse entendido como uma denúncia da arbitrariedade, já que o Estadão não podia noticiar que estava sendo censurado. No Jornal da Tarde, a estratégia foi publicar por um período receitas culinárias no lugar das notícias cortadas pelos censores.

A censura presencial se estendeu até 4 de janeiro de 1975, quando o governo Geisel decidiu interromper a censura no aniversário de 100 anos do jornal. Nesse período, mais de mil textos foram proibidos pelos censores.

Censor da ditadura militar trabalhando no prédio do Estadão em 1973. Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
Pré impressão em cartolina flan de página censurada do Estadão. Foto: Rafael Arbex/Estadão Foto:

Em agosto de 1974, o diretor do Estadão, Júlio de Mesquita Neto, recebeu o prêmio Pena de Ouro da Liberdade, concedido pela Federação Internacional dos Editores de Jornais como reconhecimento pela atuação do jornal contra censura e sua defesa da liberdade de imprensa.

No Acervo Estadão é possível navegar por todas as páginas censuradas neste período, e bem como ver a página originalmente planejada pela redação.

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AI-5

A censura ao Estadão e aos outros meios de comunicação do País começou com o AI-5 (Ato Institucional Número 5), de 13 de dezembro de 1968. Na noite de 13 para 14, os censores passaram a madrugada na sede do jornal e retornaram todas as noites até 6 de janeiro do ano seguinte, conforme detalhou o repórter José Maria Mayrink no livro Mordaça no Estadão, que também se transformou no documentário ‘Estranhos da Noite - Mordaça no Estadão em tempos de Censura, com direção do cineasta Camilo Tavares e roteiro do jornalista.

De 7 janeiro de 1969 à 23 de agosto de 1972 a censura não era presencial, mas exercida e comunicada por meio de telefonemas, telegramas, recados e ofícios.

Estranhos na Noite

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Capa publicada e a censurada em 19/11/1974, um dos dias de maior rigor da censura. Foto: Acervo Estadão
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Censor trabalhando nas oficinas do jornal. Por quase três anos, os censores cortavam notícias que consideravam ser contrárias ao governo Foto: Domício Pinheiro/Estadão

Os censores, instalados num canto da gráfica após os jornalistas recusarem sua presença na redação, liam uma prova de todo o noticiário diário antes de o material ser impresso e definiam quais notícias poderiam ser publicadas e quais seriam eliminadas das páginas dos jornais.

Outra medida de resistência do jornal foi preservar e arquivar secretamente os originais censurados, que não puderam ser levados à público na época. Indexadas pelo chefe do Arquivo do jornal, Armando Augusto Bordallo, as páginas censuradas eram enviadas para a agência de anúncios classificados do jornal na Lapa.

Hoje, a maior parte das milhares de notícias censuradas podem ser lidas em sua íntegra original no site do Acervo Estadão. O leitor pode ver a página que foi proibida e clicar para visualizar a página publicada com poemas em seu lugar.

Índices e volumes encadernados com as notícias censuradas.  Foto:
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>> Estadão de 11/05/1973 Foto: Acervo/Estadão
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>> Pagina censurada do Estadão de 26/7/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 26/7/1974 Foto: Acervo/Estadão
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>> Estadão de 04/9/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 04/4/1973 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 04/4/1973 Foto: Acervo/Estadão
O censor Francisco Braga revisa textos na sede do jornal em 1973. Foto: Claudine Petrolli/Estadão

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Notícia censurada do jornal O Estado de S. Paulo de 2 de agosto de 1973 e trecho do livro 'Os Lusíadas', de Luís de Camões, publicado em seu lugar. Foto: Acervo Estadão

O dia 2 de agosto de 1973 é um marco na luta pela liberdade de imprensa. Naquela quinta-feira, o Estadão publicava pela primeira vez trechos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, no lugar de um editorial e de uma notícia censurados pela ditadura militar.

O Canto Primeiro da obra prima do escritor português substituiu o editorial censurado “Uma fórmula esdrúxula”, na página 3, e continuava na notícia, também proibida, CNBB procura quem perdeu Casaldaliga, na página 18.

Desde agosto de 1972 o Estadão era submetido diariamente à censura prévia, com a presença de censores da ditadura que atuaram na sede do jornal, lendo e avaliando todo o conteúdo que seria publicado na edição impressa do dia seguinte para proibir textos que desagradassem ao regime.

Com o início da censura presencial, o Estadão se recusou a modificar a diagramação de suas páginas e vinha publicando anúncios publicitários, cartas de leitores, poemas de outros autores e trechos de processos judiciais no lugar das matérias proibidas. Por sugestão do jornalista Antônio Carvalho Mendes, responsável pelas seções de cinefilia e de falecimentos, o Estadão passou a publicar os trechos dos Lusíadas sequencialmente.

Página censurada do jornal O Estado de S. Paulo de 2 de agosto de 1973 e a página publicada com trecho do livro 'Os Lusíadas', de Luís de Camões, no lugar do editorial proibido 'Uma fórmula esdrúxula'. Foto: Acervo Estadão

À partir daquele dia, os versos do livro épico foram publicados 655 vezes. Foi a forma que o jornal encontrou para denunciar a censura. Não demorou para que o estranhamento dos leitores em ler poemas no meio do noticiário fosse entendido como uma denúncia da arbitrariedade, já que o Estadão não podia noticiar que estava sendo censurado. No Jornal da Tarde, a estratégia foi publicar por um período receitas culinárias no lugar das notícias cortadas pelos censores.

A censura presencial se estendeu até 4 de janeiro de 1975, quando o governo Geisel decidiu interromper a censura no aniversário de 100 anos do jornal. Nesse período, mais de mil textos foram proibidos pelos censores.

Censor da ditadura militar trabalhando no prédio do Estadão em 1973. Foto: Domício Pinheiro/ Estadão
Pré impressão em cartolina flan de página censurada do Estadão. Foto: Rafael Arbex/Estadão Foto:

Em agosto de 1974, o diretor do Estadão, Júlio de Mesquita Neto, recebeu o prêmio Pena de Ouro da Liberdade, concedido pela Federação Internacional dos Editores de Jornais como reconhecimento pela atuação do jornal contra censura e sua defesa da liberdade de imprensa.

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AI-5

A censura ao Estadão e aos outros meios de comunicação do País começou com o AI-5 (Ato Institucional Número 5), de 13 de dezembro de 1968. Na noite de 13 para 14, os censores passaram a madrugada na sede do jornal e retornaram todas as noites até 6 de janeiro do ano seguinte, conforme detalhou o repórter José Maria Mayrink no livro Mordaça no Estadão, que também se transformou no documentário ‘Estranhos da Noite - Mordaça no Estadão em tempos de Censura, com direção do cineasta Camilo Tavares e roteiro do jornalista.

De 7 janeiro de 1969 à 23 de agosto de 1972 a censura não era presencial, mas exercida e comunicada por meio de telefonemas, telegramas, recados e ofícios.

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Capa publicada e a censurada em 19/11/1974, um dos dias de maior rigor da censura. Foto: Acervo Estadão
>> Pagina censurada no Estadão de 19/11/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão - 19/11/1974 Foto: Acervo/Estadão
Censor trabalhando nas oficinas do jornal. Por quase três anos, os censores cortavam notícias que consideravam ser contrárias ao governo Foto: Domício Pinheiro/Estadão

Os censores, instalados num canto da gráfica após os jornalistas recusarem sua presença na redação, liam uma prova de todo o noticiário diário antes de o material ser impresso e definiam quais notícias poderiam ser publicadas e quais seriam eliminadas das páginas dos jornais.

Outra medida de resistência do jornal foi preservar e arquivar secretamente os originais censurados, que não puderam ser levados à público na época. Indexadas pelo chefe do Arquivo do jornal, Armando Augusto Bordallo, as páginas censuradas eram enviadas para a agência de anúncios classificados do jornal na Lapa.

Hoje, a maior parte das milhares de notícias censuradas podem ser lidas em sua íntegra original no site do Acervo Estadão. O leitor pode ver a página que foi proibida e clicar para visualizar a página publicada com poemas em seu lugar.

Índices e volumes encadernados com as notícias censuradas.  Foto:
>> Pagina censurada do Estadão de 11/05/1973 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 11/05/1973 Foto: Acervo/Estadão
Na seçãoPáginas Censuradasé possível navegar pelas páginas proibidas pelos censores da ditadura militar Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 26/7/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 26/7/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Pagina censurada do Estadão de 04/9/1974 Foto: Acervo/Estadão
>> Estadão de 04/9/1974 Foto: Acervo/Estadão
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O censor Francisco Braga revisa textos na sede do jornal em 1973. Foto: Claudine Petrolli/Estadão

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