Um juiz rigoroso nas investigações contra corrupção numa operação de nome popular torna-se uma espécie de herói nacional depois de indiciar, condenar e prender um grande número de acusados de corrupção. Com a fama, é alçado à política, convidado pelo novo governo eleito do país para assumir um ministério chave no combate aos corruptos.
Antonio Di Pietro, o juiz que comandou a Operação Mãos Limpas, nos anos 1990, na Itália, foi nomeado ministro das Obras Públicas pelo primeiro-ministro Romano Prodi, em maio de 1996, dois anos depois de abandonar a magistratura. O trabalho de Di Pietro na Itália foi uma das referências de Sérgio Moro, o juiz brasileiro da operação Lava Jato, e que agora aceitou o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para assumir o ministério da Justiça.
Di Pietro ficaria apenas seis meses no cargo de ministro, até novembro de 1996, quando renunciou por causa de investigações contra ele, acusado de extorsão contra um banqueiro, e outras denúncias de irregularidades na atuação como juiz. Nada foi provado e no ano seguinte Antonio Di Pietro elege-se senador, vencendo por esmagadora maioria pela coalização do governo.
Em 2016, o ex-magistrado italiano deu uma entrevista ao repórter Andrei Netto, do Estadão:A Mãos Limpas inspirou a operação Lava Jato no Brasil. Quais são as suas impressões sobre a investigação brasileira?
"Vejo muita semelhança entre a Operação Mãos Limpas e a Lava Jato, não só na atividade investigativa, mas sobretudo na realidade factual do que está acontecendo no Brasil, que é o que aconteceu na Itália. Com a onda de democracia liberal-socialista, de um lado houve ganhos sociais, mas de outro criou-se uma Nomenklatura. Também vejo muita semelhança entre o Brasil e a Itália na tentativa de transformar em luta política o que é uma investigação judiciária.
Por isso faço um apelo à opinião pública brasileira: quem lhes faz crer que a investigação é um golpe está tentando se livrar. Se alguém é investigado, mas é inocente, que corra lutar por sua inocência, mas não ataque a magistratura. Ajudem a magistratura, não a criminalizem. Já se está fomentando na opinião pública uma divisão no Brasil. Aconteceu conosco, é uma fotografia que eu já vi. Mas atenção: a Itália de 1992 e a Itália de 2016 são a mesma. O país não mudou. Há poucas horas, 12 pessoas foram presas, entre elas um magistrado, políticos e empresários, acusados de cometer o mesmo crime que se cometia em 1992."Leia a íntegra da entrevista:
> Em 2016, Moro disse que jamais entraria para a política
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