Com o polêmico disco ‘Erotica’ lançado no ano anterior, Madonna chegou com a turnê ‘The Girlie Show’ para a sua primeira passagem pelo Brasil em novembro de 1993. O frisson em torno da artista foi gigantesco, com apresentações concorridas em São Paulo [Morumbi] e Rio de Janeiro [Maracanã]. O Estadão fotografou a diva acompanhada na suíte do hotel Caesar Park na rua Augusta e o entourage dela não gostou.
Relembre como foi a passagem da estrela pelo país e veja fotos exclusivas.
Madonna no Brasil em 1993
Estadão - 3 de novembro de 1993
Estadão - 4 de novembro de 1993
Madonna magnetiza 86 mil pessoas no Morumbi
Uma multidão de 86 mil pessoas acompanhou o primeiro show da cantora no País, que encantou o público ao cantar Garota de Ipanema, imitar a Xuxa e vestir camisa da Seleção Brasileira
Nove da noite. As luzes do cabaré se acendem rigorosamente no horário, apesar do anúncio da assessoria de Madonna de que o show deveria atrasar 15 minutos. Começou na hora, mas cerca de 2 mil pessoas que tinham ingresso para as arquibancadas ficaram de fora. Depois, o policiamento liberou a abertura dos portões.
No palco as cortinas são escandalotamente vermelhas. Contrastam com o azul da roupa do pierrô, que é a primeira figura a aparecer no palco. Por um tubo metálico desce Carrie Ann, a dançarina oriental que fornece ao público sua primeira emoção forte. Está de seios de fora. Desce voluptuosamente pela haste. As câmeras a pegam de trás, em ângulos ousados.
E enquanto ela desce, Madonna sobe. Vem com tudo a que tem direito. Máscara, chicote colete e short. Tudo preto. Canta Erotica. Madonna é recebida com frisson. Sabe magnetizar a multidão. Coloca o chicote no meio das pernas, faz um vai-vém que não deixa margem a dúvidas do que ela está simulando.
Logo em seguida vem Fever, o segundo número. Madonna ocupa o palco com dois de seus bailarinos. A coreografia sugere cópulas a dois e a três. Ela enfia a cabeça de um dos bailarinos no meio das pernas. Fica de quatro para que o outro avance por trás. A platéia delira. Os 86 mil fãs urram no estádio.
Madonna aumenta a temperatura tirando a roupa Tira o colete e fica de bustiê. O strip tem um final apoteótico. Termina com o palco pegando fogo. O número seguinte é Vogue. Madonna com todo o elenco. Segue-se Rain, a euforia vai num crescendo: Uma prévia dessa excitação aconteceu horas antes no ensaio, quando Madonna quase repetiu o escândalo de Porto Rico. Lá ela esfregou a bandeira nacional nos órgãos genitais. Aqui, durante o ensaio, enrolada na bandeira, a falsa loira apenas perguntou ao público o que significava “ordem e progresso”. Madonna realmente se mostrou perplexa com o positivismo da mensagem, embora tenha aprendido palavrões em português com maior facilidade, especialmente “bunda” e outro “b” abaixo do umbigo. Ela usou as palavras com freqüência durante o espetáculo.
A iluminação psicodélica evoca os anos 70. In This World é dedicada a dois amigos que morreram de Aids. O que poderia ser uma quebra no ritmo não chega a acontecer. Perto do fim do show, Madonna começa a fazer referências ao Brasil: canta Garota de Ipanema, imita Xuxa. Uma fã consegue subir ao palco e beijar Madonna, que veste a camisa da Seleção Brasileira para apresentar Everybody, a última canção.
O clima dentro do estádio foi relativamente calmo. Os 11 postos médicos montados no Morombi pela Unicor registraram 300 ocorrências, a maioria por excesso de calor e consumo de álcool. Nenhuma ocorrência com drogas foi registrada. Um segurança sofreu uma forte torção e uma adolescente quebrou o cotovelo.
MADONNA NO ACERVO
Liz Batista
Um dos maiores sucessos da extensa carreira de Madonna, a música Vogue foi lançada em março de 1990, como single do álbum I’m Breathless (1990). A canção liderou as paradas de sucesso em mais de 30 países, vendeu mais de 6 milhões de cópias e se tornou o single mais vendido do mundo naquele ano. Até hoje, a música é hit obrigatório no set list dos shows da artista.
Se você era fã da cantora nos anos 1990, ou melhor, se você é ou foi fã da rainha do Pop em algum momento da sua vida, com certeza você se esmerou para dominar o movimento de mãos da icônica coreografia de Vogue.
O vídeoclipe da música, também é um clássico da música pop. Gravado em preto e branco em estilo Art Déco, ele começa com imagens de bailarinos imóveis num cenário composto por estátuas nuas. Então, um estalar de dedos simultâneo aos primeiros acordes, começa a ditar o ritmo da música. Era o sinal. Em seguida, vinha a ordem da diva platinada: “Strike a pose! Strike a pose!” (Faça uma pose! Faça uma pose!) e um sussurro ecoado “Vogue, vogue, vogue”.
Pronto, o feitiço estava lançado. Os bailarinos começavam a se mover, enquanto a letra abria de forma melancólica, falando de como a vida é cheia de mágoas e dor, mas logo Madonna oferecia uma promessa de refúgio, um bálsamo, o local onde você poderia escapar de tudo, a pista de dança.
A canção foi inspirada no estilo de dança vogue, criado no Harlem no final dos anos 1980, e era parte de um projeto maior, a trilha sonora do filme Dick Tracy (1990). No longa metragem, que estreou em junho daquele ano, Madonna interpreta a femme fatale Breathless Mahoney, uma personagem inspirada na sedutora bombshell Jean Harlow.
Não foi seu debute no cinema - ela já havia estrelado Procura-se Susan Desesperadamente de 1985 - mas foi a primeira vez que a artista dividiu a telona com grandes nomes, como Warren Beatty - com quem teve um relacionamento durante as filmagens - e Al Pacino.
Talvez por isso a composição de Vogue, escrita em parceria com o produtor musical Shep Pettibone, traga um trecho falado, no qual Madonna recita nomes de grandes astros de Hollywood, como Greta Garbo, Marilyn Monroe, Marlon Brando, Grace Kelly e Fred Astaire, quase como se contemplasse o próximo passo de seu estrelato.
Estadão - 11 de outubro de 1987
Jornal da Tarde - 11 de setembro de 1987