Por que existem 30 saídas de ar na parede ao invés de 32? A pergunta do engenheiro Hélio Sasaki causou silêncio digno de mausoléu entre aqueles que visitavam o Monumento do Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932, na semana passada. O Obelisco do Ibirapuera, como é conhecido, está fechado há mais de uma década à espera de restauro, e desde 2006 é administrado pela Polícia Militar (PM).
No grupo estavam Fiametta e Paolo, filha e neto do idealizador do monumento, Galileo Emendabili; o engenheiro que participou da construção na década de 1950, Antonio Diez e a equipe da arquiteta Helena Ayoub, do escritório responsável pelo projeto de restauração. A visita tinha o objetivo de colher informações para o projeto de restauro.
A pergunta é coerente, porque tudo ali tem um sentido. Emendabili quando idealizou o "32" - nome original -, construiu uma 'métrica imutável' que remete na maioria das vezes à data da Revolução de 32. Nas outras, à maçonaria (leia abaixo). Mesmo que não tivesse significado, a ausência das saídas quebraria a simetria do mausoléu. Sasaki, percebeu o detalhe elaborando o projeto de restauração da ventilação, instalado em 1954 e nunca utilizado. Cópias das plantas mostram que as saídas estão no projeto (ver galeria). Não se sabe quando foram encobertas e motivo. Mas se houve modificação sem notificação e autorização dos órgãos de preservação história, foi feita ilegalmente, porque o mausoléu é tombado.
De onde vem a água?
Outro mistério que intriga é a água. De proveniência desconhecida ela inunda o subsolo. Água da chuva está descartada, porque a cidade passou por uma estiagem de dois meses. Segundo Ayoub, ela pode vir de lençol freático ou do lago do Ibirapuera. Outros prédios na região, ainda segundo a arquiteta, também têm o subsolo inundado. É o caso do Museu de Arte Contemporânea (MAC) e da Prodam - Processamento de Dados do Município de São Paulo. Em 1970, as águas da chuva já haviam inundado o monumento depois de transbordar do subsolo. No ano seguinte foi colocada uma bomba para evitar um novo alagamento, lembra Paolo Emendabili. Anos depois foi feita impermeabilização da parte externa do Obelisco.
Em nota, a Polícia Militar do Estado de São Paulo, responsável pelo monumento, afirmou que está esgotando a água para estudar o meio ideal de contenção e/ou captação e drenagem dessa água para evitar que o subsolo permaneça inundado. Com o subsolo seco, está prevista sondagem para descobrir a origem da infiltração.
Antonio Diez, 89 anos, viu o monumento ser erguido na década de 1950. A empresa de seu pai, a J. Diez, foi a encarregada da obra. Com olhos de quem conhece a cria, Diez inspecionou com cuidado o chão, paredes e o teto em busca de sinais de abalos na estrutura. Uma das hipóteses da infiltração é que a estrutura teria sido abalada pela construção do túnel que passa na região. Diez, não detectou nada que sustentasse a tese e, segundo ele, o maior problema é mesmo o da infiltração. Basta entrar no mausoléu para entender o que fala Diez. As marcas de infiltração estão por todos os cantos e o cheiro de umidade aumenta conforme se aproxima da capela, localizada no fundo do mausoléu. O projeto de restauro será entregue nos primeiros meses do ano que vem. E o inícios das obras está previsto para o segundo semestre. Se tudo correr bem, o Mausoléu e Obelisco estarão abertos ao público em 2014.Algumas das ‘métricas imutáveis’ do “32” de Galileo Emendabili- 1932 m² é a área do “32”. - A base do mausoléu tem 9 metros de largura, a base externa tem 7, e a altura do piso até a abóbada central, onde está o herói jacente, é de 32 metros, ou seja, 9 de julho de 1932, a data da revolução. - Dentro do Obelisco existe uma ogiva de 32 metros carregados de símbolos vigiadas pelo herói jacente. - Do piso externo ao topo do Obelisco é de 72 metros, cuja soma é 9. - Os 33 arcos do mausoléu representam os 33 graus da maçonaria. - No sarcófago, estão 365 restos mortais, ou seja, a cada dia do ano um soldado deve ser velado e cultuado.# Siga: twitter@estadaoacervo | facebook/arquivoestadao | Instagram | # Assine