Um drácula com sobrenome de cineasta numa praia tropical repleta de crianças e adolescentes. A improvável mistura de um dos mais famosos personagens da literatura e do cinema estreou como novela das 7 horas em meados de 1991, meses antes do gigante “Drácula, de Bram Strocker”.
Se o vampiro de Gary Oldman na releitura de Francis Ford Copolla levava o conde Drácula ao extremo do soturno, aqui no Brasil, o imortal Vlad de Ney Latorraca em “Vamp” era um fanfarrão desbocado e anárquico. Não demorou para se tornar um ídolo infantil. Mas o público adolescente e adulto também foi enfeitiçado por Latorraca, que deu uma entrevista para a repórter Vera Moreira: “Hoje fazer uma pessoa sorrir é um ato político. O Brasil se encarregou de matar a nossa gargalhada.”
Estadão - 4 de novembro de 1991
Maldade de Vlad Polanski conquista público infantil
Vera Moreira
Ney Latorraca está delirante com o sucesso do mestre vampiro Vladimir Polanski, na novela das 7. Assumiu que, definitivamente, sua praia é o humor e seu público o infantil. Vestido a caráter para uma participação especialíssima no Halloween da Limelight, em São Paulo, Latorraca tirou os caninos pontiagudos para falar ao Caderno 2.
Caderno 2 — Por que o maléfico Vlad faz sucesso especialmente com o público infantil?
Ney Latorraca — As crianças têm a cabeça limpa, sem preconceitos. Por isso são o melhor termômetro para avaliar nosso desempenho. Só aprovam o que realmente lhes agrada. A minha maneira de representar as atinge. Isso não é de agora. Comecei a sentir a receptividade em 88, quando fazia o TV Pirata. Vi que não havia razão para representar só vilões.
Caderno 2 — A partir de agora só humorismo?
Latorraca — Hoje fazer uma pessoa sorrir é um ato político. O Brasil se encarregou de matar a nossa gargalhada.
Caderno 2 — Em Anarquistas Graças a Deus, Rabo de Saia e agora na Vamp você tem convivido com crianças. Como é a relação nos bastidores?
Latorraca — Estranhamente no arquivo eletrônico de currículos de atores da Globo, entre informações como, não sabe nadar, não gosta de dirigir, está registrado que Antônio Ney Latorraca não lida bem com crianças. Não posso imaginar de onde eles tiraram isso, pois a minha relação com as crianças sempre foi ótima. Faço de tudo nas gravações, brinco, dou caldo, fico de cabeça pra baixo, rasgo o texto delas. Por isso nos damos muito bem.
Caderno 2 — A novela virou mania no Rio de Janeiro.
Latorraca — É mesmo. Outro dia vi uma garotinha de dois anos, com maiô vermelho e faixa preta na cabeça. A mãe dela disse que iam a urna festa na escola pública e achei que tinha a ver com Vamp. Fui conferir e, quando cheguei, um menino perguntou se eu estava ali para matá-lo. Eles levam tudo a sério e adoram as histórias de vampiros.
Caderno 2 — Vlad é um vampiro normal?
Latorraca — Ele é muito mau, mas também é divertido. Acho engraçadíssimo quando sapateia , simbolicamente em cima das pessoas. O melhor desta novela é participar de um elenco em que todos fazem sucesso. E não brilhar sozinho.
Caderno 2 — Quando o Vlad volta a aprontar na Baia dos Anjos?
Latorraca — Não vejo a hora. Mas sei que voltarei aos poucos, aos pedaços, e adorei a idéia. Sugeri ao Antônio Calmon que fizesse a minha volta igual a uma cena do filme ET, quando o extraterrestre é descoberto no armário entre várias máscaras. A Joana Fomm vai levar o maior susto quando, ao abrir o guarda-roupa, encontrar a minha cabeça. A cena vai ao ar no dia 25 de novembro, uma segunda-feira.
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