Já nas primeiras vezes que o nome de Joe Biden apareceu no Estadão ele veio relacionado à disputa pela presidência dos Estados Unidos. Em 1986, seu nome começa a aparecer no jornal entre os de outros medalhões do partido democrata com chances de se tornarem um presidenciável. E, se nesta eleição de 2020 sua idade foi um ponto sensível na sua campanha (de todos os presidentes americanos, Biden será o mais velho a tomar posse no país, com 78 anos), naquela ano época ela era um trunfo. Eleito pelo Estado de Delaware em 1972, Joseph Biden era então um jovem senador de 45 anos de idade em plena ascensão no Congresso americano. A seu favor estavam seu porte atlético e jovial, sua postura moderada e mais de uma década de sólida atuação na Casa, desempenho que lhe rendeu a presidência da Comissão de Justiça em 1987. Porém, uma denúncia de plágio acabou com as pretensões presidenciais do democrata.>> Estadão 10/7/1987
Foi naquele ano, quando o xadrez político americano se organizava para as eleições presidenciais de 1988, que Biden oficializou sua intenção de concorrer nas primárias do partido em busca da candidatura para presidente. O Estadão de 10 de junho de 1987 publicou a notícia: "o senador Joseph Biden anunciou ontem sua intenção de disputar a indicação do Partido Democrata para as eleições presidenciais do ano que vem".
A notícia seguia falando sobre os demais concorrentes na disputa. Entre eles estavam, o então senador pelo Tennessee, Albert “Al” Gore - que disputou a presidência de 2000 e perdeu par George W. Bush - e o governador de Massachusetts, Michael Dukakis, que venceu as primarias e foi oficializado como candidato para aquelas eleições. Na convenção democrata de julho de 1988, Dukakis derrotou o pastor negro e ativista dos direitos civis Jesse Jackson.
Biden deixou a disputa em setembro de 1987, antes mesmo das primárias, quando um escândalo de plágio envolveu sua campanha. Ele foi acusado de usar trechos de um discurso do dirigente do Partido Trabalhista da Inglaterra, Neil Kinnock, em suas falas, sem dar o devido crédito. E enfrentou, também, acusações de plágio nos seus trabalhos na faculdade de Direito, mas dessas acusações ele foi inocentado. O caso levou Biden a desistir de sua candidatura. No discurso em que comunicou que deixaria a corrida eleitoral, disse que sua candidatura tinha sido obscurecida pela "sombra exagerada" de erros passados.
Em 8 de novembro de 1988, Michael Dukakis disputou a presidência com o sucessor do republicano Ronald Reagan, George H. W. Bush. Perdeu, tanto no colégio eleitoral quanto no voto popular. O resultado foi 426 votos no colégio eleitoral e 53,4% no voto popular para Bush, contra 111 no colégio elitoral e 45,6% no voto popular para Dukakis. Naquele pleito os republicanos conseguiram um feito que desde o início do século 20 não alcançavam, se manter na presidência por 12 anos em três mandatos consecutivos (eleição e reeleição de Reagan em 1980 e 1984 e eleição de Bush em 1988).
51ª Eleição presidencial dos EUA: 8/11/1988 |
Biden, naquele mesmo ano de 1988, enfrentou um dos maiores desafios de sua vida. Após sofrer severas dores no pescoço, teve que ser internado, um aneurisma cerebral foi descoberto e ele foi operado às pressas. Apesar do sucesso da cirurgia, ele sofrei sérias complicações durante a recuperação, foi tratado de uma embolia pulmonar e precisou passar por um novo procedimento após a identificação de um segundo aneurisma.>> Estadão - 04/5/1988
Restabelecido, Joe Biden voltou ao Congresso onde construiu uma bem sucedida carreira política que pavimentou seu caminho até a vitória nessa eleição presidencial de 03 de novembro de 2020. É curioso notar como, em dois tempos históricos diferentes, o senador democrata e 46º presidente americano eleito foi considerado uma figura capaz de deter uma onda conservadora na América, nos anos seguintes à Era Reagan na década de 1980 e hoje após 4 anos da presidência de Donald Trump.
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