Primeira edição do jornal ‘A Província de São Paulo’


Publicado em 4 de janeiro de 1875, jornal trazia seus princípios e missão na capa

Por Acervo Estadão
Atualização:

Com quatro páginas e tiragem de 2.025 exemplares, o jornal A Província de São Paulo começou a circular em 4 de janeiro de 1875 numa São Paulo de apenas 31 mil habitantes. Fundado por um grupo de liberais republicanos quando o País era ainda uma monarquia, o jornal que após a proclamação da República passaria a se chamar O Estado de S. Paulo, tinha como lema “fazer da independência o apanágio de sua força”.

Leia abaixo os textos publicados na capa de sua primeira edição junto à lista com os nomes de seus 21 sócios fundadores:

Primeira edição da 'A Provincia de São Paulo',publicada em 4/1/1875 Foto: Acervo/Estadão
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A Provincia de São Paulo *

Colunmas franqueadas aos escriptos de utilidade publica | Segunda-feira 4 de janeiro de 1875 | Liberdade de pensamento e responsabilidade do auctor

Esta folha e seu estabelecimento typographico pertencem á uma sociedade em comandita com o capital de 50.000$000, da qual fazem parte os senhores:

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- Capitão Bento Augusto d'Almeida Bicudo, fazendeiro, morador em Campinas.

- Antonio Pompeu de Camargo, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello, advogado, S. Paulo.

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- Dr. João Francisco de Paula Souza, capitalista, S. Paulo.

- João Manoel de Almeida Barboza, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Manoel Ferraza de Campos Salles, advogado, Campinas.

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- Dr. Raphael Paes de Barros, fezendeiro, S. Paulo.

- Major Diogo .... Barros, capitalista, S. Paulo.

- Dr. João Tobias de Aguiar e Castro, fazendeiro, Itú.

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- Manoel Elpidio Pereira de Queiroz, fazendeiro, Campinas.

- João Tebyriçá Piratininga, fazendeiro, Itú.

- José de Vasconcelos Almeida Prado, fazendeiro, Itú.

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- José Pedrozo de Moraes Salles, capitalista, Campinas.

- Antonio Carlos de Salles, capitalista, Campinas.

- Francisco de Salles, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Martinho Prado Junior, fazendeiro, Patrocinio das Araras.

- Dr. José Alves de Cerqueira Cezar, advogado, Rio Claro.

- Candido Valle, negociante, Rio Claro.

- Francisco Clycerio de Cerqueira Leita, advigado, Campinas.

- Francisco Rangel Pestana, advogado, S. Paulo.

- Americo de Campos, jornalista, São Paulo.

Os dois últimos socios entram para a formação do capital com maior quota, e são solidariamente responsáveis pelos actos praticados em nome da sociedade, que girará sob a firma - PESTANA, CAMPOS & C.

--------

Mais uma folha diaria vem offerecer á provincia de S.Paulo campo livre aos debates tão necessários para solução de problemas importantes que interessam a seu desenvolvimento moral e material.

Creada pelo concurso de capitaes fornecidos por agricultores, commerciantes, homens de letras e capitalistas, está ella no caso de satisfazer ás mais legitimas aspirações da rica e briosa província, cujo nome toma para seu titulo; e, isto justifica o seu apparecimento.

Esse motivo faz com que o novo jornal se apresente em condições de poder influir directamente no progresso do paiz e na educação do povo, e habilital-o a ser, como um escriptor distincto já definio s jornal, "o cuidadoso expositor de todos os productos da intelligencia humana, a escola em que entram todos aquelles que sabem soletrar."

Sob taes auspicios a Provincia de São Paulo tomará, na Capital, ao lado dos outros respeitaveis organs de publicidade, um lugar modesto, mas com bons desejos de ser util a causa publica.

Não sendo orgam de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer d´elles, e por isso mesmo collocando-se em posição de escapar ás imposições do governo, ás paixões partidarias e às seducções inherentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Provincia de São Paulo fazer da sua independencia o apanagio de sua força e a medida da severa moderação, sisudez, franqueza, lealdade e criterio em que fundará o salutar prestigio a que destina-se a imprensa livre e consciente.

Sua imparcialidade não será, por isso mesmo, a imparcialidade do silencio. Conscio de si, certa de que não é licicto a qualquer orgam da imprensa contrahir tal compromisso ante as altas questões de publico interesse sem quebra do prestigio que deve adquirir e manter na sociedade, entrará a Provincia de São Paulo, nos devidos termos da opportunidade e commedimento, e com a independencia de uma opinião séria e convencida, na analyse da marcha e governação social, em todas as suas espheras, seja qual fôr o matiz politico dominante.

É quasi escusado dizer que a imprensa assim dirigida guardará nas columnas edictoriaes a harmonia de um pensamento politico, o qual não poderá deixar de ser outro se não o do seculo e particularmente a traducção fiel das tendencias bem pronunciadas da provincia de S.Paulo e mesmo d´esta nação, aonde todos se confessam enthusiastas da democracia e louvam-lhe os intuitos pacificos e civilisadores, versando muitas vezes a disputa palavrosa em saber quem mjelhor a comprehende e pratica.

Seguindo rumo de horisontes tão largos e já tão definidos nas seguras licções da historia, e vindo pleitear pela causa nacional em taes condicções e n´esta épocha, em que até mesmo a palavra republica já não assusta, a Provincia de São Paulo, certamente encontrará terreno firme para consolidar-se e dar ao paiz resultados proficuos.

Assim promette na medida progressiva de suas forças auxiliar ao commercio, á lavoura, ás artes, industrias, sciencias, e litteratura, tratando os assumptos que lhes digam respeito, e abrindo espaço a todos os talentos e aptidões que em suas paginas queiram apparecer.

Os extranhos á redacção nenhum outro compromisso tomarão, a não ser o de responder individualmente perante a opinião publica pela verdade ou pelo erro professado.

Em nosso paiz aonde a imprensa é tão cara e o jornal difficil de sustentar-se, ha um erro que acanha a existencia das folhas politicas: quem não pertence, em nenhuma d´ellas apparece, nem mesmo como litterato ou escriptor de sciencias; todos julgam-se compromettidos, responsaveis pelas opiniões politicas da redacção, imprimindo em qualquer secção de taes folhas o cunho de sua individualidade litteraria ou scientifica.

Na Provincia de São Paulo os responsaveis pelas opiniões edictoriaes são exclusivamente os seus redactores, que devem de si conta a seus consocios e ao publico.

Quer louvando, quer censurando, se exforçará sempre a Provincia de São Paulo por ser justa: é este um dever que ella se impõe em virtude de suas condições de folha diaria e que deseja satisfazer os interesses mais geraes de seus assignantes.

Por mais radicaes que sejam as opiniões politicas dos redactores, nada obsta a que elles sejam calmos e leaes julgando os acontecimentos e os homens.

O jornalismo é um sacerdocio, e tanto mais nobre e difficil, quanto é certo que aquelles que o exercem devem muitas vezes esquecer sua individualidade e abafar suas paixões pessoaes, para se lembrarem constantemente de que representam uma força - sociedade ou partido, ou o que quer que ella seja - subjeita a variar em sua intensidade e em suas manifestações.

D´ahi vêm que a philosophia do jornalismo consiste no modo de pôr de accordo certas convicções firmes e vontades energicas, prezas a um ideal, com as tendencias que pronunciam-se no seio da sociedade que se procura servir, moderando, ás vezes, algumas tempestades que se traduzem pelas exigencias das minorias, e impellindo á acção, ao movimento, á vida real, as maiorias, de ordinario impotentes sob o jugo dos interesses arraigados, dos privilegios e da ignorancia.

Depende d´este justo e nobre equilibrio a influencia benefica que o jornal deve exercer em uma sociedade cujos elementos de civilisação mal começam a concretisar-se.

Eis a missão da Provincia de São Paulo nas lutas do jornalismo.

Contando em diversos municipios importantes da provincia cavalheiros interessados na sua existencia, e em quasi todos amigos dedicados, muitos dos quaes se compromettem a collaborar activamente nos trabalhos da redacção, esta folha espera corresponder no apoio que lhe fôr dispensado.

Escriptores amestrados e talentosos, competentissimos alguns para tratarem de assumptos referentes á agricultura e outros de interesse publico, se incumbem de offerecer aos leitores do novo jornal os conselhos que a pratica e a sciencia consorciadas lhes tenham suggerido em beneficio da vida nacional.

A importancia da nova empreza nasce em grande parte do capital associado, que, como é sabido, em muitos casos permitte mais arrojados emprehendimentos do que o individual; e é este um dos casos. Mas o capital associado, para produzir bons resultados, para que se preste aos commettimentos a que raro a fortuna individual se abalança, precisa ser acompanhado de certos elementos de força, que são as bases unicas das emprezas da natureza d´esta: credito em relação a terceiro, e a confiança dos fornecedores dos capitaes n´aquelles que os devem gerir.

N´este genero de emprezas, poucas terão como esta reunido todas as condições para, desassombrada, affrontando os obstaculos que entre nós costumam pear-lhes o desinvolvimento.

--------

A PROVINCIA DE SÃO PAULO

4 de Janeiro de 1875

Duplo motivo - o novo anno e o inicio de nossa carreira - convida-nos a não deixar passar o momento sem algumas reflexões, genericas embora, sobre a actualidade do paiz.

Em escripto de maior folego seria isso a liquidação philosophica e politica do passado e a denuncia previdente do porvir. Nestas rapidas linhas só pode ser opportuno esboço para que melhores espiritos, na calma da consciencia e no remanso do gabinete, completem a obra, aliás patriotica e capaz de fecundo ensinamento e urgentissimos conselhos à sociedade em geral e aos proprios Palinuros do Estado.

Discutir como philosopho os principios fundamentaes que devem entrar na organisação, governo e progresso dos povos, é trabalho relativamente facil e agradavel; mas fazer a critica justa e sensata das evoluções sociaes, instituições e reformas applicaveis à indole, educação, interesses e destinos de uma nação determinada, julgam os espiritos rectos e reflectivos ser tarefa dificilima, cujo desempenho depende de certa disposição de animo que nem sempre as paixões pessoaes e politicas permittem de modo perduravel ao escriptor.

Quando elle tem a faculdade de achar-se na posição de mero observador dos acontecimentos, póde melhor acompanhar a marcha social, o fio emmaranhado e muita vez escuso de sua evolução historica, as fraquezas ou heroismos do povo e do poder e os symptomas característicos das enfermidades politicas que mais desvellos e mais accurado exame sollicitam expondo com verdade o que deve ser claro e demonstrado, e assim realizando a maxima patriotica de que - descobrir e diagnosticar o mal já é vencel-o em metade.

Esta é a posição que desejamos manter na imprensa.

A missão que nos impuzemos é escabrosa, bem o sabemos; tanto mais quando o nosso objectivo de estudos - a siciedade brazieira actual em seu conjuncto - conta elevadissimo deficit no balanço de minimas e isoladas prosperidades com que confronta o grosso peculio de calamidades a avultar por todos os lados do horisonte e nos mais importantes centros de vitalidade nacional.

É isso hoje reconhecido por aquelles mesmos que não são os mais enthusiastas em procurar a felicidade e grandeza da patria no caminho da liberdade e da demoracia.

De facto, não annuncia o anno de 1875 dias de paz e contentamento geral ao paiz.

O Brazil tambem já está envolvido na ...obra de agitação que n´esta ultima quadra do seculo desenove vae attestando um trabalho reaccionario, ousado, constante e terrivel, a estender-se por todas as nações como vasta e caliginosa penumbra, cujo fito é estreitar limites ao pensamento a tolher a natural expansão da autonomia humana.

Não ha aqui declamação. Estudando-se com criterio e sinceridade o presente estado do paiz, não ha desconhecer os perigos e tropeços da carreira incerta, vacillante e tortuosa que levamos.

Ao passo que as paixões se desencadeiam e a sedicção levanta o collo em varias provincias, occultando seus misteriosos intuitos sob a capa de erros e males levados à conta do governo, aproveitando todos os desgostos populares e até os mais repugnantes instinctos que a cegueira e a ignorancia costumam erguer, as verdadeiras dedicações á causa publica rareiam e a confiança nos homens quasi que ha desapparecido.

Reunam a isto os males já bem conhecidos e enraizados no passado - o insoffrivel e malefico unitarismo das instituições, a impotencia ciumenta e fallaz do poder centralizado - o descallabro dos partidos politicos, reduzidos a entidades apenas nominaes sem que possam representar o grande elemento da força popular no proprio regimen estatuido e dado como vigente; accrescentem o abatimento do espirito publico, o máo estar e a descrença creados por mil circunstancias passadas e augmentadas por mil outras recentes e actuaes, e digam-nos o que na sociedade brasileira se póde chamar prosperidade, segurança, vigor, enthusiasmo e virilidade ?!

O anno de 1875 abre-se, pois, conservando, se não augmentando, em muitos espíritos justas e sérias apprehensões quanto á felicidade d´esta grande nação. Justas sobretudo, quando attentam os observadores para as correntes reaccionarias da Europa a ganhar curso n´este rico e immenso paiz, aonde o terreno offecece-lhes larga margem, aonde a ignorancia e a passividade social tornan-lhes commodo e facil accesso.

E quaes as barreiras com que contamos para repellir o impeto de taes correntes?

Os factos parecem apontar apenas um desvio, - o poder pessoal. D´elle e só d´elle espera-se que partam, e de facto partem, os actos com que a credulidade e o desespero de causa pretendem que se ha de vencer a impetuosidade da onda invasora.

Sem apoio real na opinião, sem apoio no equilibrio normal dos partidos politicos, sem o prestigio das instituições que lhe deram o ser e por elle proprio desdenhadas, o poder pessoal só conta com a energia do arbitrio, reduzido assim ao triste expediente de mystificar a todos começando por mystificar-se a si.

Enfraquecido pela propria amplitude dictatorial das attribuições que exerce; fugindo à responsabilidade directa, que é entretanto a unica virtude das dictaduras; receando com infantil timidez o influxo da effectiva liberdade; conservador por indole, por educação e interesse; cioso das tradições, das quaes tenta tirar consequencias que já não tem razão de ser e antes offendeu a consciencia dos povos livres; com razão todas as reformas assustam-no, e só as concede deffici8entes, particularisadas a um ou outro ponto, mas contrarias em regra ao desenvolvimento moral e liberal do paiz. Cede pouco, e incompleto. somente para não perder tudo.

É n´este mesmo terreno estreito e de convenção que os partidos applaudem ou reprovam a marcha governamental, receando comprometter seu futuro com a indicação e discussão de reformas sérias, radicaes, dictadas entretanto pelo simples bom senso e sobretudo pelos interesses nacionaes.

Esta é a causa real de nossos males; ella está tanto em baixo, como em cima; influe pujante e generalisada sobre todos os pontos da esphera social.

Soffremos todos, no presente e no futuro, e com as gerações que levantam-se tambem soffre a liberdade, cujo elevado intuito é organizar-se como ideal na consciencia dos povos e como elemento practico de progresso e força nas formas de governo.

Ninguem dirá que a situação actual do Brazil seja o meio mais proprio para a fecundação das grandes conicções e idéas generosas que podem garantir a prosperidade nacional.

As lições da Historia plenamente confirmam estas tristes consequencias e o atrazo geral que acarretam para a educação dos povos, sua emancipação estavel e harmonica e sua prosperidade.

Não são palavras sonoras, nem actos de expediente, nem medidas de occasião, os meios que hão de salvar a patria commum, confiada a todos nós, responsáveis pelo futuro como nossos paes foram responsaveis pelo presente.

Necessitamos de uma politica practica, é certo, mas cujos actos sejam inspirados por um ideal determinado, claro e concludente.

O passado e o presente affirmam em tal sentido uma verdade irrecusavel:

A politica brazileira nas suas resoluções mais notorias não revela doctrina assentada e não manifesta rumo certo, não parece visar objectivo conhecido e determinado.

Governo, partidos, e a mesma sociedade, no quanto póde ser esta comprehendida, vacillam, agitam-se no vacuo quando não dormem o somno da atonia, o que tudo revela ausencia de convicções, de observação, de tirocinio, experiencia e estudo de principios.

Se todos estes factos explicam o retrahimento egoísta, a indifferença, e ao par desta o exclusivo predominio das más paixões, e o geral abatimento da sociedade brasileira, é certo que tambem a disculpam e em boa parte absolvem-na de taes males.

Como nacionalidade nós somos um producto, - uma resultante de elementos e causas anteriors.

Os que pretendem com patriotismo e boa vontade abrir nova era e novo caminho ao paiz, procurem antes de tudo sanear as fontes d´onde o maleficio deriva.

É escusado observar que estas causas e effeitos aqui enfeixados como esboço da actualidade geral do paiz egualmente influem e explicam o máo estar e a marcha lenta e doentia das provincias.

Será esta idéa, com particular referencia à nossa provincia, uma das theses que mais aturado estudo nos ha de merecer em ulteriores escriptos.

É digna do empenho, ella, que, apezar dos obstaculos, campeia entre as irmãs como o vivo e melhor exemplo de energia e civismo.

--------

Capa

A Província de S.Paulo - 04/01/1875 Foto: Acervo/Estadão

* a partir de 1 de janeiro de 1890 o jornal passa a se chamar O Estado de S. Paulo.

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Com quatro páginas e tiragem de 2.025 exemplares, o jornal A Província de São Paulo começou a circular em 4 de janeiro de 1875 numa São Paulo de apenas 31 mil habitantes. Fundado por um grupo de liberais republicanos quando o País era ainda uma monarquia, o jornal que após a proclamação da República passaria a se chamar O Estado de S. Paulo, tinha como lema “fazer da independência o apanágio de sua força”.

Leia abaixo os textos publicados na capa de sua primeira edição junto à lista com os nomes de seus 21 sócios fundadores:

Primeira edição da 'A Provincia de São Paulo',publicada em 4/1/1875 Foto: Acervo/Estadão

A Provincia de São Paulo *

Colunmas franqueadas aos escriptos de utilidade publica | Segunda-feira 4 de janeiro de 1875 | Liberdade de pensamento e responsabilidade do auctor

Esta folha e seu estabelecimento typographico pertencem á uma sociedade em comandita com o capital de 50.000$000, da qual fazem parte os senhores:

- Capitão Bento Augusto d'Almeida Bicudo, fazendeiro, morador em Campinas.

- Antonio Pompeu de Camargo, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello, advogado, S. Paulo.

- Dr. João Francisco de Paula Souza, capitalista, S. Paulo.

- João Manoel de Almeida Barboza, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Manoel Ferraza de Campos Salles, advogado, Campinas.

- Dr. Raphael Paes de Barros, fezendeiro, S. Paulo.

- Major Diogo .... Barros, capitalista, S. Paulo.

- Dr. João Tobias de Aguiar e Castro, fazendeiro, Itú.

- Manoel Elpidio Pereira de Queiroz, fazendeiro, Campinas.

- João Tebyriçá Piratininga, fazendeiro, Itú.

- José de Vasconcelos Almeida Prado, fazendeiro, Itú.

- José Pedrozo de Moraes Salles, capitalista, Campinas.

- Antonio Carlos de Salles, capitalista, Campinas.

- Francisco de Salles, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Martinho Prado Junior, fazendeiro, Patrocinio das Araras.

- Dr. José Alves de Cerqueira Cezar, advogado, Rio Claro.

- Candido Valle, negociante, Rio Claro.

- Francisco Clycerio de Cerqueira Leita, advigado, Campinas.

- Francisco Rangel Pestana, advogado, S. Paulo.

- Americo de Campos, jornalista, São Paulo.

Os dois últimos socios entram para a formação do capital com maior quota, e são solidariamente responsáveis pelos actos praticados em nome da sociedade, que girará sob a firma - PESTANA, CAMPOS & C.

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Mais uma folha diaria vem offerecer á provincia de S.Paulo campo livre aos debates tão necessários para solução de problemas importantes que interessam a seu desenvolvimento moral e material.

Creada pelo concurso de capitaes fornecidos por agricultores, commerciantes, homens de letras e capitalistas, está ella no caso de satisfazer ás mais legitimas aspirações da rica e briosa província, cujo nome toma para seu titulo; e, isto justifica o seu apparecimento.

Esse motivo faz com que o novo jornal se apresente em condições de poder influir directamente no progresso do paiz e na educação do povo, e habilital-o a ser, como um escriptor distincto já definio s jornal, "o cuidadoso expositor de todos os productos da intelligencia humana, a escola em que entram todos aquelles que sabem soletrar."

Sob taes auspicios a Provincia de São Paulo tomará, na Capital, ao lado dos outros respeitaveis organs de publicidade, um lugar modesto, mas com bons desejos de ser util a causa publica.

Não sendo orgam de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer d´elles, e por isso mesmo collocando-se em posição de escapar ás imposições do governo, ás paixões partidarias e às seducções inherentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Provincia de São Paulo fazer da sua independencia o apanagio de sua força e a medida da severa moderação, sisudez, franqueza, lealdade e criterio em que fundará o salutar prestigio a que destina-se a imprensa livre e consciente.

Sua imparcialidade não será, por isso mesmo, a imparcialidade do silencio. Conscio de si, certa de que não é licicto a qualquer orgam da imprensa contrahir tal compromisso ante as altas questões de publico interesse sem quebra do prestigio que deve adquirir e manter na sociedade, entrará a Provincia de São Paulo, nos devidos termos da opportunidade e commedimento, e com a independencia de uma opinião séria e convencida, na analyse da marcha e governação social, em todas as suas espheras, seja qual fôr o matiz politico dominante.

É quasi escusado dizer que a imprensa assim dirigida guardará nas columnas edictoriaes a harmonia de um pensamento politico, o qual não poderá deixar de ser outro se não o do seculo e particularmente a traducção fiel das tendencias bem pronunciadas da provincia de S.Paulo e mesmo d´esta nação, aonde todos se confessam enthusiastas da democracia e louvam-lhe os intuitos pacificos e civilisadores, versando muitas vezes a disputa palavrosa em saber quem mjelhor a comprehende e pratica.

Seguindo rumo de horisontes tão largos e já tão definidos nas seguras licções da historia, e vindo pleitear pela causa nacional em taes condicções e n´esta épocha, em que até mesmo a palavra republica já não assusta, a Provincia de São Paulo, certamente encontrará terreno firme para consolidar-se e dar ao paiz resultados proficuos.

Assim promette na medida progressiva de suas forças auxiliar ao commercio, á lavoura, ás artes, industrias, sciencias, e litteratura, tratando os assumptos que lhes digam respeito, e abrindo espaço a todos os talentos e aptidões que em suas paginas queiram apparecer.

Os extranhos á redacção nenhum outro compromisso tomarão, a não ser o de responder individualmente perante a opinião publica pela verdade ou pelo erro professado.

Em nosso paiz aonde a imprensa é tão cara e o jornal difficil de sustentar-se, ha um erro que acanha a existencia das folhas politicas: quem não pertence, em nenhuma d´ellas apparece, nem mesmo como litterato ou escriptor de sciencias; todos julgam-se compromettidos, responsaveis pelas opiniões politicas da redacção, imprimindo em qualquer secção de taes folhas o cunho de sua individualidade litteraria ou scientifica.

Na Provincia de São Paulo os responsaveis pelas opiniões edictoriaes são exclusivamente os seus redactores, que devem de si conta a seus consocios e ao publico.

Quer louvando, quer censurando, se exforçará sempre a Provincia de São Paulo por ser justa: é este um dever que ella se impõe em virtude de suas condições de folha diaria e que deseja satisfazer os interesses mais geraes de seus assignantes.

Por mais radicaes que sejam as opiniões politicas dos redactores, nada obsta a que elles sejam calmos e leaes julgando os acontecimentos e os homens.

O jornalismo é um sacerdocio, e tanto mais nobre e difficil, quanto é certo que aquelles que o exercem devem muitas vezes esquecer sua individualidade e abafar suas paixões pessoaes, para se lembrarem constantemente de que representam uma força - sociedade ou partido, ou o que quer que ella seja - subjeita a variar em sua intensidade e em suas manifestações.

D´ahi vêm que a philosophia do jornalismo consiste no modo de pôr de accordo certas convicções firmes e vontades energicas, prezas a um ideal, com as tendencias que pronunciam-se no seio da sociedade que se procura servir, moderando, ás vezes, algumas tempestades que se traduzem pelas exigencias das minorias, e impellindo á acção, ao movimento, á vida real, as maiorias, de ordinario impotentes sob o jugo dos interesses arraigados, dos privilegios e da ignorancia.

Depende d´este justo e nobre equilibrio a influencia benefica que o jornal deve exercer em uma sociedade cujos elementos de civilisação mal começam a concretisar-se.

Eis a missão da Provincia de São Paulo nas lutas do jornalismo.

Contando em diversos municipios importantes da provincia cavalheiros interessados na sua existencia, e em quasi todos amigos dedicados, muitos dos quaes se compromettem a collaborar activamente nos trabalhos da redacção, esta folha espera corresponder no apoio que lhe fôr dispensado.

Escriptores amestrados e talentosos, competentissimos alguns para tratarem de assumptos referentes á agricultura e outros de interesse publico, se incumbem de offerecer aos leitores do novo jornal os conselhos que a pratica e a sciencia consorciadas lhes tenham suggerido em beneficio da vida nacional.

A importancia da nova empreza nasce em grande parte do capital associado, que, como é sabido, em muitos casos permitte mais arrojados emprehendimentos do que o individual; e é este um dos casos. Mas o capital associado, para produzir bons resultados, para que se preste aos commettimentos a que raro a fortuna individual se abalança, precisa ser acompanhado de certos elementos de força, que são as bases unicas das emprezas da natureza d´esta: credito em relação a terceiro, e a confiança dos fornecedores dos capitaes n´aquelles que os devem gerir.

N´este genero de emprezas, poucas terão como esta reunido todas as condições para, desassombrada, affrontando os obstaculos que entre nós costumam pear-lhes o desinvolvimento.

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A PROVINCIA DE SÃO PAULO

4 de Janeiro de 1875

Duplo motivo - o novo anno e o inicio de nossa carreira - convida-nos a não deixar passar o momento sem algumas reflexões, genericas embora, sobre a actualidade do paiz.

Em escripto de maior folego seria isso a liquidação philosophica e politica do passado e a denuncia previdente do porvir. Nestas rapidas linhas só pode ser opportuno esboço para que melhores espiritos, na calma da consciencia e no remanso do gabinete, completem a obra, aliás patriotica e capaz de fecundo ensinamento e urgentissimos conselhos à sociedade em geral e aos proprios Palinuros do Estado.

Discutir como philosopho os principios fundamentaes que devem entrar na organisação, governo e progresso dos povos, é trabalho relativamente facil e agradavel; mas fazer a critica justa e sensata das evoluções sociaes, instituições e reformas applicaveis à indole, educação, interesses e destinos de uma nação determinada, julgam os espiritos rectos e reflectivos ser tarefa dificilima, cujo desempenho depende de certa disposição de animo que nem sempre as paixões pessoaes e politicas permittem de modo perduravel ao escriptor.

Quando elle tem a faculdade de achar-se na posição de mero observador dos acontecimentos, póde melhor acompanhar a marcha social, o fio emmaranhado e muita vez escuso de sua evolução historica, as fraquezas ou heroismos do povo e do poder e os symptomas característicos das enfermidades politicas que mais desvellos e mais accurado exame sollicitam expondo com verdade o que deve ser claro e demonstrado, e assim realizando a maxima patriotica de que - descobrir e diagnosticar o mal já é vencel-o em metade.

Esta é a posição que desejamos manter na imprensa.

A missão que nos impuzemos é escabrosa, bem o sabemos; tanto mais quando o nosso objectivo de estudos - a siciedade brazieira actual em seu conjuncto - conta elevadissimo deficit no balanço de minimas e isoladas prosperidades com que confronta o grosso peculio de calamidades a avultar por todos os lados do horisonte e nos mais importantes centros de vitalidade nacional.

É isso hoje reconhecido por aquelles mesmos que não são os mais enthusiastas em procurar a felicidade e grandeza da patria no caminho da liberdade e da demoracia.

De facto, não annuncia o anno de 1875 dias de paz e contentamento geral ao paiz.

O Brazil tambem já está envolvido na ...obra de agitação que n´esta ultima quadra do seculo desenove vae attestando um trabalho reaccionario, ousado, constante e terrivel, a estender-se por todas as nações como vasta e caliginosa penumbra, cujo fito é estreitar limites ao pensamento a tolher a natural expansão da autonomia humana.

Não ha aqui declamação. Estudando-se com criterio e sinceridade o presente estado do paiz, não ha desconhecer os perigos e tropeços da carreira incerta, vacillante e tortuosa que levamos.

Ao passo que as paixões se desencadeiam e a sedicção levanta o collo em varias provincias, occultando seus misteriosos intuitos sob a capa de erros e males levados à conta do governo, aproveitando todos os desgostos populares e até os mais repugnantes instinctos que a cegueira e a ignorancia costumam erguer, as verdadeiras dedicações á causa publica rareiam e a confiança nos homens quasi que ha desapparecido.

Reunam a isto os males já bem conhecidos e enraizados no passado - o insoffrivel e malefico unitarismo das instituições, a impotencia ciumenta e fallaz do poder centralizado - o descallabro dos partidos politicos, reduzidos a entidades apenas nominaes sem que possam representar o grande elemento da força popular no proprio regimen estatuido e dado como vigente; accrescentem o abatimento do espirito publico, o máo estar e a descrença creados por mil circunstancias passadas e augmentadas por mil outras recentes e actuaes, e digam-nos o que na sociedade brasileira se póde chamar prosperidade, segurança, vigor, enthusiasmo e virilidade ?!

O anno de 1875 abre-se, pois, conservando, se não augmentando, em muitos espíritos justas e sérias apprehensões quanto á felicidade d´esta grande nação. Justas sobretudo, quando attentam os observadores para as correntes reaccionarias da Europa a ganhar curso n´este rico e immenso paiz, aonde o terreno offecece-lhes larga margem, aonde a ignorancia e a passividade social tornan-lhes commodo e facil accesso.

E quaes as barreiras com que contamos para repellir o impeto de taes correntes?

Os factos parecem apontar apenas um desvio, - o poder pessoal. D´elle e só d´elle espera-se que partam, e de facto partem, os actos com que a credulidade e o desespero de causa pretendem que se ha de vencer a impetuosidade da onda invasora.

Sem apoio real na opinião, sem apoio no equilibrio normal dos partidos politicos, sem o prestigio das instituições que lhe deram o ser e por elle proprio desdenhadas, o poder pessoal só conta com a energia do arbitrio, reduzido assim ao triste expediente de mystificar a todos começando por mystificar-se a si.

Enfraquecido pela propria amplitude dictatorial das attribuições que exerce; fugindo à responsabilidade directa, que é entretanto a unica virtude das dictaduras; receando com infantil timidez o influxo da effectiva liberdade; conservador por indole, por educação e interesse; cioso das tradições, das quaes tenta tirar consequencias que já não tem razão de ser e antes offendeu a consciencia dos povos livres; com razão todas as reformas assustam-no, e só as concede deffici8entes, particularisadas a um ou outro ponto, mas contrarias em regra ao desenvolvimento moral e liberal do paiz. Cede pouco, e incompleto. somente para não perder tudo.

É n´este mesmo terreno estreito e de convenção que os partidos applaudem ou reprovam a marcha governamental, receando comprometter seu futuro com a indicação e discussão de reformas sérias, radicaes, dictadas entretanto pelo simples bom senso e sobretudo pelos interesses nacionaes.

Esta é a causa real de nossos males; ella está tanto em baixo, como em cima; influe pujante e generalisada sobre todos os pontos da esphera social.

Soffremos todos, no presente e no futuro, e com as gerações que levantam-se tambem soffre a liberdade, cujo elevado intuito é organizar-se como ideal na consciencia dos povos e como elemento practico de progresso e força nas formas de governo.

Ninguem dirá que a situação actual do Brazil seja o meio mais proprio para a fecundação das grandes conicções e idéas generosas que podem garantir a prosperidade nacional.

As lições da Historia plenamente confirmam estas tristes consequencias e o atrazo geral que acarretam para a educação dos povos, sua emancipação estavel e harmonica e sua prosperidade.

Não são palavras sonoras, nem actos de expediente, nem medidas de occasião, os meios que hão de salvar a patria commum, confiada a todos nós, responsáveis pelo futuro como nossos paes foram responsaveis pelo presente.

Necessitamos de uma politica practica, é certo, mas cujos actos sejam inspirados por um ideal determinado, claro e concludente.

O passado e o presente affirmam em tal sentido uma verdade irrecusavel:

A politica brazileira nas suas resoluções mais notorias não revela doctrina assentada e não manifesta rumo certo, não parece visar objectivo conhecido e determinado.

Governo, partidos, e a mesma sociedade, no quanto póde ser esta comprehendida, vacillam, agitam-se no vacuo quando não dormem o somno da atonia, o que tudo revela ausencia de convicções, de observação, de tirocinio, experiencia e estudo de principios.

Se todos estes factos explicam o retrahimento egoísta, a indifferença, e ao par desta o exclusivo predominio das más paixões, e o geral abatimento da sociedade brasileira, é certo que tambem a disculpam e em boa parte absolvem-na de taes males.

Como nacionalidade nós somos um producto, - uma resultante de elementos e causas anteriors.

Os que pretendem com patriotismo e boa vontade abrir nova era e novo caminho ao paiz, procurem antes de tudo sanear as fontes d´onde o maleficio deriva.

É escusado observar que estas causas e effeitos aqui enfeixados como esboço da actualidade geral do paiz egualmente influem e explicam o máo estar e a marcha lenta e doentia das provincias.

Será esta idéa, com particular referencia à nossa provincia, uma das theses que mais aturado estudo nos ha de merecer em ulteriores escriptos.

É digna do empenho, ella, que, apezar dos obstaculos, campeia entre as irmãs como o vivo e melhor exemplo de energia e civismo.

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Capa

A Província de S.Paulo - 04/01/1875 Foto: Acervo/Estadão

* a partir de 1 de janeiro de 1890 o jornal passa a se chamar O Estado de S. Paulo.

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Com quatro páginas e tiragem de 2.025 exemplares, o jornal A Província de São Paulo começou a circular em 4 de janeiro de 1875 numa São Paulo de apenas 31 mil habitantes. Fundado por um grupo de liberais republicanos quando o País era ainda uma monarquia, o jornal que após a proclamação da República passaria a se chamar O Estado de S. Paulo, tinha como lema “fazer da independência o apanágio de sua força”.

Leia abaixo os textos publicados na capa de sua primeira edição junto à lista com os nomes de seus 21 sócios fundadores:

Primeira edição da 'A Provincia de São Paulo',publicada em 4/1/1875 Foto: Acervo/Estadão

A Provincia de São Paulo *

Colunmas franqueadas aos escriptos de utilidade publica | Segunda-feira 4 de janeiro de 1875 | Liberdade de pensamento e responsabilidade do auctor

Esta folha e seu estabelecimento typographico pertencem á uma sociedade em comandita com o capital de 50.000$000, da qual fazem parte os senhores:

- Capitão Bento Augusto d'Almeida Bicudo, fazendeiro, morador em Campinas.

- Antonio Pompeu de Camargo, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello, advogado, S. Paulo.

- Dr. João Francisco de Paula Souza, capitalista, S. Paulo.

- João Manoel de Almeida Barboza, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Manoel Ferraza de Campos Salles, advogado, Campinas.

- Dr. Raphael Paes de Barros, fezendeiro, S. Paulo.

- Major Diogo .... Barros, capitalista, S. Paulo.

- Dr. João Tobias de Aguiar e Castro, fazendeiro, Itú.

- Manoel Elpidio Pereira de Queiroz, fazendeiro, Campinas.

- João Tebyriçá Piratininga, fazendeiro, Itú.

- José de Vasconcelos Almeida Prado, fazendeiro, Itú.

- José Pedrozo de Moraes Salles, capitalista, Campinas.

- Antonio Carlos de Salles, capitalista, Campinas.

- Francisco de Salles, fazendeiro, Campinas.

- Dr. Martinho Prado Junior, fazendeiro, Patrocinio das Araras.

- Dr. José Alves de Cerqueira Cezar, advogado, Rio Claro.

- Candido Valle, negociante, Rio Claro.

- Francisco Clycerio de Cerqueira Leita, advigado, Campinas.

- Francisco Rangel Pestana, advogado, S. Paulo.

- Americo de Campos, jornalista, São Paulo.

Os dois últimos socios entram para a formação do capital com maior quota, e são solidariamente responsáveis pelos actos praticados em nome da sociedade, que girará sob a firma - PESTANA, CAMPOS & C.

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Mais uma folha diaria vem offerecer á provincia de S.Paulo campo livre aos debates tão necessários para solução de problemas importantes que interessam a seu desenvolvimento moral e material.

Creada pelo concurso de capitaes fornecidos por agricultores, commerciantes, homens de letras e capitalistas, está ella no caso de satisfazer ás mais legitimas aspirações da rica e briosa província, cujo nome toma para seu titulo; e, isto justifica o seu apparecimento.

Esse motivo faz com que o novo jornal se apresente em condições de poder influir directamente no progresso do paiz e na educação do povo, e habilital-o a ser, como um escriptor distincto já definio s jornal, "o cuidadoso expositor de todos os productos da intelligencia humana, a escola em que entram todos aquelles que sabem soletrar."

Sob taes auspicios a Provincia de São Paulo tomará, na Capital, ao lado dos outros respeitaveis organs de publicidade, um lugar modesto, mas com bons desejos de ser util a causa publica.

Não sendo orgam de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer d´elles, e por isso mesmo collocando-se em posição de escapar ás imposições do governo, ás paixões partidarias e às seducções inherentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Provincia de São Paulo fazer da sua independencia o apanagio de sua força e a medida da severa moderação, sisudez, franqueza, lealdade e criterio em que fundará o salutar prestigio a que destina-se a imprensa livre e consciente.

Sua imparcialidade não será, por isso mesmo, a imparcialidade do silencio. Conscio de si, certa de que não é licicto a qualquer orgam da imprensa contrahir tal compromisso ante as altas questões de publico interesse sem quebra do prestigio que deve adquirir e manter na sociedade, entrará a Provincia de São Paulo, nos devidos termos da opportunidade e commedimento, e com a independencia de uma opinião séria e convencida, na analyse da marcha e governação social, em todas as suas espheras, seja qual fôr o matiz politico dominante.

É quasi escusado dizer que a imprensa assim dirigida guardará nas columnas edictoriaes a harmonia de um pensamento politico, o qual não poderá deixar de ser outro se não o do seculo e particularmente a traducção fiel das tendencias bem pronunciadas da provincia de S.Paulo e mesmo d´esta nação, aonde todos se confessam enthusiastas da democracia e louvam-lhe os intuitos pacificos e civilisadores, versando muitas vezes a disputa palavrosa em saber quem mjelhor a comprehende e pratica.

Seguindo rumo de horisontes tão largos e já tão definidos nas seguras licções da historia, e vindo pleitear pela causa nacional em taes condicções e n´esta épocha, em que até mesmo a palavra republica já não assusta, a Provincia de São Paulo, certamente encontrará terreno firme para consolidar-se e dar ao paiz resultados proficuos.

Assim promette na medida progressiva de suas forças auxiliar ao commercio, á lavoura, ás artes, industrias, sciencias, e litteratura, tratando os assumptos que lhes digam respeito, e abrindo espaço a todos os talentos e aptidões que em suas paginas queiram apparecer.

Os extranhos á redacção nenhum outro compromisso tomarão, a não ser o de responder individualmente perante a opinião publica pela verdade ou pelo erro professado.

Em nosso paiz aonde a imprensa é tão cara e o jornal difficil de sustentar-se, ha um erro que acanha a existencia das folhas politicas: quem não pertence, em nenhuma d´ellas apparece, nem mesmo como litterato ou escriptor de sciencias; todos julgam-se compromettidos, responsaveis pelas opiniões politicas da redacção, imprimindo em qualquer secção de taes folhas o cunho de sua individualidade litteraria ou scientifica.

Na Provincia de São Paulo os responsaveis pelas opiniões edictoriaes são exclusivamente os seus redactores, que devem de si conta a seus consocios e ao publico.

Quer louvando, quer censurando, se exforçará sempre a Provincia de São Paulo por ser justa: é este um dever que ella se impõe em virtude de suas condições de folha diaria e que deseja satisfazer os interesses mais geraes de seus assignantes.

Por mais radicaes que sejam as opiniões politicas dos redactores, nada obsta a que elles sejam calmos e leaes julgando os acontecimentos e os homens.

O jornalismo é um sacerdocio, e tanto mais nobre e difficil, quanto é certo que aquelles que o exercem devem muitas vezes esquecer sua individualidade e abafar suas paixões pessoaes, para se lembrarem constantemente de que representam uma força - sociedade ou partido, ou o que quer que ella seja - subjeita a variar em sua intensidade e em suas manifestações.

D´ahi vêm que a philosophia do jornalismo consiste no modo de pôr de accordo certas convicções firmes e vontades energicas, prezas a um ideal, com as tendencias que pronunciam-se no seio da sociedade que se procura servir, moderando, ás vezes, algumas tempestades que se traduzem pelas exigencias das minorias, e impellindo á acção, ao movimento, á vida real, as maiorias, de ordinario impotentes sob o jugo dos interesses arraigados, dos privilegios e da ignorancia.

Depende d´este justo e nobre equilibrio a influencia benefica que o jornal deve exercer em uma sociedade cujos elementos de civilisação mal começam a concretisar-se.

Eis a missão da Provincia de São Paulo nas lutas do jornalismo.

Contando em diversos municipios importantes da provincia cavalheiros interessados na sua existencia, e em quasi todos amigos dedicados, muitos dos quaes se compromettem a collaborar activamente nos trabalhos da redacção, esta folha espera corresponder no apoio que lhe fôr dispensado.

Escriptores amestrados e talentosos, competentissimos alguns para tratarem de assumptos referentes á agricultura e outros de interesse publico, se incumbem de offerecer aos leitores do novo jornal os conselhos que a pratica e a sciencia consorciadas lhes tenham suggerido em beneficio da vida nacional.

A importancia da nova empreza nasce em grande parte do capital associado, que, como é sabido, em muitos casos permitte mais arrojados emprehendimentos do que o individual; e é este um dos casos. Mas o capital associado, para produzir bons resultados, para que se preste aos commettimentos a que raro a fortuna individual se abalança, precisa ser acompanhado de certos elementos de força, que são as bases unicas das emprezas da natureza d´esta: credito em relação a terceiro, e a confiança dos fornecedores dos capitaes n´aquelles que os devem gerir.

N´este genero de emprezas, poucas terão como esta reunido todas as condições para, desassombrada, affrontando os obstaculos que entre nós costumam pear-lhes o desinvolvimento.

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A PROVINCIA DE SÃO PAULO

4 de Janeiro de 1875

Duplo motivo - o novo anno e o inicio de nossa carreira - convida-nos a não deixar passar o momento sem algumas reflexões, genericas embora, sobre a actualidade do paiz.

Em escripto de maior folego seria isso a liquidação philosophica e politica do passado e a denuncia previdente do porvir. Nestas rapidas linhas só pode ser opportuno esboço para que melhores espiritos, na calma da consciencia e no remanso do gabinete, completem a obra, aliás patriotica e capaz de fecundo ensinamento e urgentissimos conselhos à sociedade em geral e aos proprios Palinuros do Estado.

Discutir como philosopho os principios fundamentaes que devem entrar na organisação, governo e progresso dos povos, é trabalho relativamente facil e agradavel; mas fazer a critica justa e sensata das evoluções sociaes, instituições e reformas applicaveis à indole, educação, interesses e destinos de uma nação determinada, julgam os espiritos rectos e reflectivos ser tarefa dificilima, cujo desempenho depende de certa disposição de animo que nem sempre as paixões pessoaes e politicas permittem de modo perduravel ao escriptor.

Quando elle tem a faculdade de achar-se na posição de mero observador dos acontecimentos, póde melhor acompanhar a marcha social, o fio emmaranhado e muita vez escuso de sua evolução historica, as fraquezas ou heroismos do povo e do poder e os symptomas característicos das enfermidades politicas que mais desvellos e mais accurado exame sollicitam expondo com verdade o que deve ser claro e demonstrado, e assim realizando a maxima patriotica de que - descobrir e diagnosticar o mal já é vencel-o em metade.

Esta é a posição que desejamos manter na imprensa.

A missão que nos impuzemos é escabrosa, bem o sabemos; tanto mais quando o nosso objectivo de estudos - a siciedade brazieira actual em seu conjuncto - conta elevadissimo deficit no balanço de minimas e isoladas prosperidades com que confronta o grosso peculio de calamidades a avultar por todos os lados do horisonte e nos mais importantes centros de vitalidade nacional.

É isso hoje reconhecido por aquelles mesmos que não são os mais enthusiastas em procurar a felicidade e grandeza da patria no caminho da liberdade e da demoracia.

De facto, não annuncia o anno de 1875 dias de paz e contentamento geral ao paiz.

O Brazil tambem já está envolvido na ...obra de agitação que n´esta ultima quadra do seculo desenove vae attestando um trabalho reaccionario, ousado, constante e terrivel, a estender-se por todas as nações como vasta e caliginosa penumbra, cujo fito é estreitar limites ao pensamento a tolher a natural expansão da autonomia humana.

Não ha aqui declamação. Estudando-se com criterio e sinceridade o presente estado do paiz, não ha desconhecer os perigos e tropeços da carreira incerta, vacillante e tortuosa que levamos.

Ao passo que as paixões se desencadeiam e a sedicção levanta o collo em varias provincias, occultando seus misteriosos intuitos sob a capa de erros e males levados à conta do governo, aproveitando todos os desgostos populares e até os mais repugnantes instinctos que a cegueira e a ignorancia costumam erguer, as verdadeiras dedicações á causa publica rareiam e a confiança nos homens quasi que ha desapparecido.

Reunam a isto os males já bem conhecidos e enraizados no passado - o insoffrivel e malefico unitarismo das instituições, a impotencia ciumenta e fallaz do poder centralizado - o descallabro dos partidos politicos, reduzidos a entidades apenas nominaes sem que possam representar o grande elemento da força popular no proprio regimen estatuido e dado como vigente; accrescentem o abatimento do espirito publico, o máo estar e a descrença creados por mil circunstancias passadas e augmentadas por mil outras recentes e actuaes, e digam-nos o que na sociedade brasileira se póde chamar prosperidade, segurança, vigor, enthusiasmo e virilidade ?!

O anno de 1875 abre-se, pois, conservando, se não augmentando, em muitos espíritos justas e sérias apprehensões quanto á felicidade d´esta grande nação. Justas sobretudo, quando attentam os observadores para as correntes reaccionarias da Europa a ganhar curso n´este rico e immenso paiz, aonde o terreno offecece-lhes larga margem, aonde a ignorancia e a passividade social tornan-lhes commodo e facil accesso.

E quaes as barreiras com que contamos para repellir o impeto de taes correntes?

Os factos parecem apontar apenas um desvio, - o poder pessoal. D´elle e só d´elle espera-se que partam, e de facto partem, os actos com que a credulidade e o desespero de causa pretendem que se ha de vencer a impetuosidade da onda invasora.

Sem apoio real na opinião, sem apoio no equilibrio normal dos partidos politicos, sem o prestigio das instituições que lhe deram o ser e por elle proprio desdenhadas, o poder pessoal só conta com a energia do arbitrio, reduzido assim ao triste expediente de mystificar a todos começando por mystificar-se a si.

Enfraquecido pela propria amplitude dictatorial das attribuições que exerce; fugindo à responsabilidade directa, que é entretanto a unica virtude das dictaduras; receando com infantil timidez o influxo da effectiva liberdade; conservador por indole, por educação e interesse; cioso das tradições, das quaes tenta tirar consequencias que já não tem razão de ser e antes offendeu a consciencia dos povos livres; com razão todas as reformas assustam-no, e só as concede deffici8entes, particularisadas a um ou outro ponto, mas contrarias em regra ao desenvolvimento moral e liberal do paiz. Cede pouco, e incompleto. somente para não perder tudo.

É n´este mesmo terreno estreito e de convenção que os partidos applaudem ou reprovam a marcha governamental, receando comprometter seu futuro com a indicação e discussão de reformas sérias, radicaes, dictadas entretanto pelo simples bom senso e sobretudo pelos interesses nacionaes.

Esta é a causa real de nossos males; ella está tanto em baixo, como em cima; influe pujante e generalisada sobre todos os pontos da esphera social.

Soffremos todos, no presente e no futuro, e com as gerações que levantam-se tambem soffre a liberdade, cujo elevado intuito é organizar-se como ideal na consciencia dos povos e como elemento practico de progresso e força nas formas de governo.

Ninguem dirá que a situação actual do Brazil seja o meio mais proprio para a fecundação das grandes conicções e idéas generosas que podem garantir a prosperidade nacional.

As lições da Historia plenamente confirmam estas tristes consequencias e o atrazo geral que acarretam para a educação dos povos, sua emancipação estavel e harmonica e sua prosperidade.

Não são palavras sonoras, nem actos de expediente, nem medidas de occasião, os meios que hão de salvar a patria commum, confiada a todos nós, responsáveis pelo futuro como nossos paes foram responsaveis pelo presente.

Necessitamos de uma politica practica, é certo, mas cujos actos sejam inspirados por um ideal determinado, claro e concludente.

O passado e o presente affirmam em tal sentido uma verdade irrecusavel:

A politica brazileira nas suas resoluções mais notorias não revela doctrina assentada e não manifesta rumo certo, não parece visar objectivo conhecido e determinado.

Governo, partidos, e a mesma sociedade, no quanto póde ser esta comprehendida, vacillam, agitam-se no vacuo quando não dormem o somno da atonia, o que tudo revela ausencia de convicções, de observação, de tirocinio, experiencia e estudo de principios.

Se todos estes factos explicam o retrahimento egoísta, a indifferença, e ao par desta o exclusivo predominio das más paixões, e o geral abatimento da sociedade brasileira, é certo que tambem a disculpam e em boa parte absolvem-na de taes males.

Como nacionalidade nós somos um producto, - uma resultante de elementos e causas anteriors.

Os que pretendem com patriotismo e boa vontade abrir nova era e novo caminho ao paiz, procurem antes de tudo sanear as fontes d´onde o maleficio deriva.

É escusado observar que estas causas e effeitos aqui enfeixados como esboço da actualidade geral do paiz egualmente influem e explicam o máo estar e a marcha lenta e doentia das provincias.

Será esta idéa, com particular referencia à nossa provincia, uma das theses que mais aturado estudo nos ha de merecer em ulteriores escriptos.

É digna do empenho, ella, que, apezar dos obstaculos, campeia entre as irmãs como o vivo e melhor exemplo de energia e civismo.

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Capa

A Província de S.Paulo - 04/01/1875 Foto: Acervo/Estadão

* a partir de 1 de janeiro de 1890 o jornal passa a se chamar O Estado de S. Paulo.

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