Após anos tumultuados ao lado ex-marido Ike, Tina Turner [1989-2023] ressurgiu nos anos 80 com um sucesso avassalador. Suas músicas estavam nos rádios, toca-discos, toca-fitas, TVs, videocassetes e no cinema, assim como ela. Aos 46 anos, em 1986 Tina era a maior estrela feminina da música, com Madonna ainda começando a despontar. Em outubro daquele ano, o Caderno 2 republicou uma tocante e dura entrevista da cantora à repórter Nancy Collins, da revista americana Rolling Stone.
Tina falou do abandono dos pais, da relação conturbada com o músico Ike Turner, dos filhos adultos, de racismo e de homens. Em determinado momento, a repórter pergunta: “Você queria ser branca?” e Tina responde:
“Lembro de uma vez que vi uma menina loira, na escola, que usava meia e sapatilhas de bailarina e pensei: “Ah, eu queria ser assim”. Acho que a foi a primeira vez que pensei em raça. Doía muito ser minoria ser olhada por cima, já que sou negra e isso é para sempre. Posso suportar agora, mas as marcas estão lá, no fundo da memória. E eu gostaria que nós, negros, tivéssemos tido as mesmas chances de sermos fantásticos, como éramos antes de ser aprisionados e feitos escravos.”
No fim da entrevista, à pergunta “Quem é você, agora, Tina?”, responde assim:
Sou Tina Turner, sou obscena, mas sei que tenho uma pontinha de classe. Não fingi a vida inteira: eu vivi: e consegui ser respeitada por isso, depois de ter sido uma garota escrava. Talvez exatamente esse seja a minha missão e lição...”
Clique na data para ler a íntegra na página ampliada do jornal:
Elza Soares deles
A página ainda trazia um texto do escritor Caio Fernando de Abreu sobre o novo disco da cantora:
“Sim, Tina Turner é mesmo a Elza Soares deles. Com uma diferença significativa: lançado há pouco mais de um mês, Breck Every Rule (Quebre Todas as Regras) já chegou às lojas com um milhão de discos vendidos (ou seja, um suculento disco de platina) -, enquanto Elza, consagrada aqui pela marginalidade chique, vende muito pouco e corre o risco de tornar-se uma cantora para poucos.
Entre as semelhanças, além das óbvias, uma delas é marcante: Tanto Tina quanto Elza têm uma dificuldade enorme para encontrar repertório à altura de suas vozes densas, ranscantes, sexuais. [Leia a íntegra]
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