O Titãs faz em 2023 uma série de shows no Allianz Parque na turnê de comemoração aos seus 40 anos. A carreira da banda foi acompanhada desde o seu início pelo Estadão e alguns momentos são aqui relembrados em fotos, textos e páginas originais arquivados no Acervo Estadão ao longo dessas quatro décadas. A primeira formação do Titãs, como “Titãs do Iê Iê” no início dos anos 80, era composta por nove membros. Antes do octeto que se consagraria no panteão do rock brasileiro, o grupo contava com o cantor e compositor Ciro Pessoa, um dos autores do hit ‘Sonífera Ilha’, e André Jung na bateria.
Com a saída de Ciro e a substituição de Jung, que assumiria as baquetas do Ira!, os Titãs se estabilizaram por anos com a formação clássica: Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Marcelo Fromer, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto. Veja todas as formações na galeria.
Titãs: todas as formações e integrantes
Cabeça Dinossauro
Para quem era fã dos Titãs em 1986 foi necessário abrir a porta e descer a escada do porão escuro para encontrar os oito músicos fazendo um som nervoso: era o disco ‘Cabeça Dinossauro’ chegando nas ondas sonoras do rock brasileiro. Embora tenha provocado um primeiro susto pela da guinada musical do grupo, o disco foi recebido como uma boa surpresa:
“Cabeça Dinossauro é um soco na cara daqueles que criticam o rock água-com-açúcar. Cabeça Dinossauro é um disco de rock-veneno, um grito” escreveu o crítico Alberto Villas, que ainda completou: “um disco chocante, punk, nervoso e muito curioso. ...É, antes de mais nada, a grande surpresa do ano. A gente ouve a primeira música, a segunda, a terceira, e não consegue achar os Titãs.”
Esse disco de rock-veneno tornaria-se o mais famoso do grupo e de repente, depois de uma porção de músicas simpáticas nos primeiros anos de new-brega-wave, os Titãs entram na vida das pessoas chutando as portas com 13 violentas faixas em Cabeça Dinossauro. A agressividade sonora não vista nos discos anteriores causou certo estranhamento de início, mas não chegou a ser antipatia. Rapidinho estava na boca do povo.
Em junho de 1986 a repórter Rosângela Petta conversou com os músicos para entender o que estava passando pela cabeça deles. A conversa rendeu a capa do Caderno 2, onde os oito integrantes comentaram vários aspectos do disco recém-lançado.
O ano anterior havia sido um ano bastante conturbado para a banda em razão da prisão de Arnaldo Antunes e Tony Bellotto por porte de drogas. A raiva contra o sistema transformou-se em letra de música. Mas não foi só isso que deu uma guinada musical ao grupo. Arnaldo Antunes resumiu o novo trabalho dizendo “É mais invocado esse disco. A gente sempre foi mais agressivo em show, mas os dois primeiros LPs não registram isso.”
O baterista Charles Gavin definiu bem o cenário do rock naquele período e que ajuda a compreender o estranhamento ao disco pesado:
“Logo que o rock se estabeleceu no mercado, as letras eram bem simples, tinha muita gente falando bobagem e a imprensa caiu de pau dizendo que o rock brasileiro era banal, que todo mundo era garotinho de praia. Antes, só Caetano falava a verdade, só os caras da MPB eram conscientes politicamente. E existem grupos que vêm vindo com algo a dizer: Titãs, Inocentes, Legião Urbana, Capital Inicial. Mas, se você faz um trabalho mais pesado , os caras de rádio dizem que é “estranho”. Contradição”.
Abrindo com as primais ‘Cabeça Dinossauro’ e ‘AA-UU’, o disco trazia uma sequência de músicas contra tudo e contra todos: igreja, polícia, estado, sistema financeiro, família, rotina e seres-humanos em geral. E se alguém não estava contemplado num desses grupos, podia estar entre os que “não fazem nada” agraciados com a faixa ‘Porrada’.
A punk ‘Bichos Escrotos’ funcionou como uma catarse nacional, com um sonoro “vão se fuder” que estava entalado na garganta por anos de censura gritado a plenos pulmões pelo grupo e pelo público.
Em fevereiro, meses antes da capa do Caderno 2, com o disco ainda em gestação, o jornal noticiou o show grupo no Projeto SP e Branco Mello antecipava a guinada no estilo da banda, falando em um “rock mais seco, mais cru” e num som “mais primitivo, mais visceral”. Em dezembro, os Titãs voltariam ao local para comemorar o disco de Ouro recebido pelas 100 mil cópias vendidas.
Era 1986 terminando. O ano-maravilha do rock brasileiro, que ainda teria Lulu Santos, RPM, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana lançando discos fundamentais que virariam símbolos de uma década inteira.
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