USP 90 anos. Julio de Mesquita Filho e a criação da universidade nas páginas do Estadão


Pesquisa do jornal mostrou urgência da criação de instituições integradas de ensino superior para transformar a educação no Brasil

Por Acervo Estadão
Atualização:

Estadão - 26 de janeiro de 1934

Decreto de criação da Universidade de São Paulo no Estadão de 26/1/1934. Foto: Acervo Estadão

Estrutura de ensino desconexa, onde as poucas universidades formavam apenas para o ofício, falta de preparação de docentes e inexistência da prática da ciência. Esse era parte do panorama da educação do Brasil em meados da década de 1920. O quadro inquietava o jornalista Julio de Mesquita Filho, o educador Fernando de Azevedo, o engenheiro Armando de Salles Oliveira e outros intelectuais. Para eles a mudança sócio-política do País só viria através da educação.

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Para concretizar a mudança que idealizavam era preciso consultar professores, cientistas e escritores. Com esse espírito o jornal O Estado de S. Paulo iniciou em 1926 uma pesquisa sobre a situação da educação em São Paulo. Coube a Fernando de Azevedo, a pedido de Mesquita Filho, que o coordenasse.

“O principal problema com que lutamos, problema número 1, primacial do País, era, sem dúvida alguma, o do seu ensino superior”, advertiu Julio de Mesquita Filho, ao comentar as conclusões da série de entrevistas que o professor Fernando de Azevedo fez em 1926.

O inquérito, como era chamada a pesquisa na época, investigou todos os aspectos do ensino no estado de São Paulo, o primário, secundário, profissionalizante e superior. Para fazê-lo foi enviado um questionário para dezenas de pessoas envolvidas no ensino. Das doze perguntas, três eram sobre o ensino superior. Elas pediam opinião sobre a ‘criação de uma universidade em São Paulo, organizada dentro do espírito universitário moderno’ e de que forma uma universidade poderia se tornar uma “instituição orgânica e viva”'.

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As respostas foram publicadas no jornal logo que eram recebidas sob o título A Instrucção Publica em S.Paulo. Foram 34 colunas publicadas entre os meses de junho e dezembro de 1926 (todas estão organizadas abaixo).

Estadão -14 de dezembro de 1926

 
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Criar, transmitir, divulgar

A partir das respostas, a conclusão a que se chegou era de um ensino totalmente desconectado. No caso das universidades, elas simplesmente formavam profissionais para exercer a profissão. A resposta do escritor Amadeu Amaral sintetiza aquela realidade.

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Para ele nas universidades havia “quase exclusivo domínio dos objetivos imediatos e aparentes: o exame, a formatura, a colocação, a carreira prática ou profissional. Corresponde ainda à concepção mais comum no Brasil acerca das funções da escola; a primazia que se concede ao “saber” (entendendo-se por “saber” aquilo que um escritor estrangeiro definiu: “uma pequena enciclopédia de conhecimentos inúteis”); ao desprezo a que se relega a “cultura”, que é assimilação, conversão do aprendido em substância própria, formação do espírito, aumento de capacidade e de atividade espontânea”.

Nada mais contrário ao projeto idealizado por Azevedo e Mesquita Filho de um sistema orgânico entre todos os níveis de ensino onde a universidade teria que exercer uma ‘tríplice aliança’. Segundo Azevedo, em artigo publicado em 1954 no Estadão, a universidade deveria “elaborar ou criar a ciência, pela pesquisa, de transmiti-la, pelo ensino de alto nível, e de divulgá-la, por tôda a espécie de meios”.

Parceria

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O encontro entre Mesquita Filho (1892 – 1969) e Azevedo (1894 – 1974) começou em 1922 e foi fundamental para a criação da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que completam 90 anos. Azevedo, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, já escrevia na imprensa paulistana desde 1918. Em 1922 foi convidado, também por Mesquita Filho, a escrever sobre o centenário da Independência. Aproveitando o convite, sugeriu ao diretor do jornal uma matéria sobre sobre educação física, tema que ele se dedicava juntamente com o latim. Desde 1916, ensinava literatura e língua latina na Escola Normal de São Paulo.

No ano seguinte, também a convite, entrou definitivamente para a redação do Estadão publicando todos os sábados coluna sobre crítica literária. Foi assim até 1926, quando deixou o posto para assumir o cargo de Diretor-Geral da Instrução Pública na capital federal. Lá fez uma revolução no ensino instituindo, entre outras coisas, o acesso ao magistério somente por concurso, criação de estrutura física destinada à educação e valorização da Escola Normal para reforçar o magistério.

Julio de Mesquita Filho e Armando de Sales Oliveira.  Foto: Acervo/Estadão
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Universidade

Júlio de Mesquita Filho pensava no projeto das universidades desde 1925, quando publicou o livro A Crise Nacional, no qual abordava as deficiências do ensino em todos os níveis. Sugeria uma reforma total do ensino superior. Em meio às turbulências da Revolução de 1932, prisão e exílio, o jornalista fazia parte de uma comissão, formada pelo governo estadual, para preparar o projeto da futura universidade, trabalhando ao lado de Fernando de Azevedo, Raul Briquet e Lúcio Rodrigues.

Quando Armando de Salles Oliveira, seu cunhado e também diretor do Estadão, foi nomeado interventor do Estado [governador indicado], Julio de Mesquita Filho voltou a integrar a comissão para a criação da USP, ao lado de Fernando de Azevedo, Almeida Júnior, Fonseca Telles, Raul Briquet, André Dreyfus, Rocha Lima, Agelisan Bittencourt e Vicente Rao. Armando de Salles Oliveira publicou o decreto da criação da Universidade de São Paulo em 25 de janeiro de 1934.

Missão estrangeira

Escolhido coordenador da comissão de fundação da USP, Julio de Mesquita Filho, que não era professor nem funcionário do governo, encarregou o professor Teodoro Ramos de buscar jovens talentos na Europa. E assim vieram Georges Dumas, contato de Teodoro Ramos na Europa, Claude Lévi-Strauss, Fernand Paul Braudel, Roger Bastide e Pierre Monbeig, numa equipe internacional que, além de franceses, incluía alemães, italianos e portugueses. Que ainda não eram grandes nomes ao desembarcar em São Paulo.

Julio de Mesquita Filho ajudou Teodoro Ramos a escolher os professores e lhe indicou Georges Dumas, da Sorbonne, seu conhecido havia muitos anos, para coordenar a seleção. Ficou amigo dos europeus quando chegaram a São Paulo. Convidava-os a se reunir em sua casa e discutiam juntos os rumos da recém-criada universidade.

Início. Julio de Mesquita Filho (quarto, de pé, da direita para a esquerda) com parte dos docentes contratados Foto: ACERVO/ESTADÃO

O jornalista conversava principalmente com Georges Dumas, de quem ouviu o conselho de que, em vez de contratar medalhões, a USP fazia bem em trazer jovens de talento que pudessem também se beneficiar de sua experiência no Brasil. Seria o caso de Lévi-Strauss, que se tornaria um dos antropólogos mais influentes do mundo.

A ênfase na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras tinha uma justificativa: os fundadores sabiam que ali seriam formados os professores para a execução da reforma do ensino. Dessa unidade sairiam os formadores ideais para um modelo de educação exemplar.

O trabalho começaria pelo aperfeiçoamento do ensino médio. “É de capital importância para as nacionalidades a organização de um ensino secundário capaz de suscitar valores e capacidades em condições de constituir uma sólida elite dirigente”, afirmou o jornalista no discurso de paraninfo da primeira turma da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 25 de janeiro de 1937.

Júlio de Mesquita Filho voltaria a discursar como paraninfo de formandos da USP em 1945. Desta vez, substituindo Armando de Salles Oliveira, que havia morrido em maio daquele ano, fez um histórico das diretrizes que nortearam a criação da universidade. Leia a íntegra.

1937. Forma-se a primeira turma da Faculdade de Filosofia. O paraninfo é Julio de Mesquita Filho (no centro), um dos fundadores da universidade. Foto: Acervo/Estadão

O inquérito “A instrucção publica em S. Paulo”

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Estadão - 26 de janeiro de 1934

Decreto de criação da Universidade de São Paulo no Estadão de 26/1/1934. Foto: Acervo Estadão

Estrutura de ensino desconexa, onde as poucas universidades formavam apenas para o ofício, falta de preparação de docentes e inexistência da prática da ciência. Esse era parte do panorama da educação do Brasil em meados da década de 1920. O quadro inquietava o jornalista Julio de Mesquita Filho, o educador Fernando de Azevedo, o engenheiro Armando de Salles Oliveira e outros intelectuais. Para eles a mudança sócio-política do País só viria através da educação.

Para concretizar a mudança que idealizavam era preciso consultar professores, cientistas e escritores. Com esse espírito o jornal O Estado de S. Paulo iniciou em 1926 uma pesquisa sobre a situação da educação em São Paulo. Coube a Fernando de Azevedo, a pedido de Mesquita Filho, que o coordenasse.

“O principal problema com que lutamos, problema número 1, primacial do País, era, sem dúvida alguma, o do seu ensino superior”, advertiu Julio de Mesquita Filho, ao comentar as conclusões da série de entrevistas que o professor Fernando de Azevedo fez em 1926.

O inquérito, como era chamada a pesquisa na época, investigou todos os aspectos do ensino no estado de São Paulo, o primário, secundário, profissionalizante e superior. Para fazê-lo foi enviado um questionário para dezenas de pessoas envolvidas no ensino. Das doze perguntas, três eram sobre o ensino superior. Elas pediam opinião sobre a ‘criação de uma universidade em São Paulo, organizada dentro do espírito universitário moderno’ e de que forma uma universidade poderia se tornar uma “instituição orgânica e viva”'.

As respostas foram publicadas no jornal logo que eram recebidas sob o título A Instrucção Publica em S.Paulo. Foram 34 colunas publicadas entre os meses de junho e dezembro de 1926 (todas estão organizadas abaixo).

Estadão -14 de dezembro de 1926

 

Criar, transmitir, divulgar

A partir das respostas, a conclusão a que se chegou era de um ensino totalmente desconectado. No caso das universidades, elas simplesmente formavam profissionais para exercer a profissão. A resposta do escritor Amadeu Amaral sintetiza aquela realidade.

Para ele nas universidades havia “quase exclusivo domínio dos objetivos imediatos e aparentes: o exame, a formatura, a colocação, a carreira prática ou profissional. Corresponde ainda à concepção mais comum no Brasil acerca das funções da escola; a primazia que se concede ao “saber” (entendendo-se por “saber” aquilo que um escritor estrangeiro definiu: “uma pequena enciclopédia de conhecimentos inúteis”); ao desprezo a que se relega a “cultura”, que é assimilação, conversão do aprendido em substância própria, formação do espírito, aumento de capacidade e de atividade espontânea”.

Nada mais contrário ao projeto idealizado por Azevedo e Mesquita Filho de um sistema orgânico entre todos os níveis de ensino onde a universidade teria que exercer uma ‘tríplice aliança’. Segundo Azevedo, em artigo publicado em 1954 no Estadão, a universidade deveria “elaborar ou criar a ciência, pela pesquisa, de transmiti-la, pelo ensino de alto nível, e de divulgá-la, por tôda a espécie de meios”.

Parceria

O encontro entre Mesquita Filho (1892 – 1969) e Azevedo (1894 – 1974) começou em 1922 e foi fundamental para a criação da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que completam 90 anos. Azevedo, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, já escrevia na imprensa paulistana desde 1918. Em 1922 foi convidado, também por Mesquita Filho, a escrever sobre o centenário da Independência. Aproveitando o convite, sugeriu ao diretor do jornal uma matéria sobre sobre educação física, tema que ele se dedicava juntamente com o latim. Desde 1916, ensinava literatura e língua latina na Escola Normal de São Paulo.

No ano seguinte, também a convite, entrou definitivamente para a redação do Estadão publicando todos os sábados coluna sobre crítica literária. Foi assim até 1926, quando deixou o posto para assumir o cargo de Diretor-Geral da Instrução Pública na capital federal. Lá fez uma revolução no ensino instituindo, entre outras coisas, o acesso ao magistério somente por concurso, criação de estrutura física destinada à educação e valorização da Escola Normal para reforçar o magistério.

Julio de Mesquita Filho e Armando de Sales Oliveira.  Foto: Acervo/Estadão

Universidade

Júlio de Mesquita Filho pensava no projeto das universidades desde 1925, quando publicou o livro A Crise Nacional, no qual abordava as deficiências do ensino em todos os níveis. Sugeria uma reforma total do ensino superior. Em meio às turbulências da Revolução de 1932, prisão e exílio, o jornalista fazia parte de uma comissão, formada pelo governo estadual, para preparar o projeto da futura universidade, trabalhando ao lado de Fernando de Azevedo, Raul Briquet e Lúcio Rodrigues.

Quando Armando de Salles Oliveira, seu cunhado e também diretor do Estadão, foi nomeado interventor do Estado [governador indicado], Julio de Mesquita Filho voltou a integrar a comissão para a criação da USP, ao lado de Fernando de Azevedo, Almeida Júnior, Fonseca Telles, Raul Briquet, André Dreyfus, Rocha Lima, Agelisan Bittencourt e Vicente Rao. Armando de Salles Oliveira publicou o decreto da criação da Universidade de São Paulo em 25 de janeiro de 1934.

Missão estrangeira

Escolhido coordenador da comissão de fundação da USP, Julio de Mesquita Filho, que não era professor nem funcionário do governo, encarregou o professor Teodoro Ramos de buscar jovens talentos na Europa. E assim vieram Georges Dumas, contato de Teodoro Ramos na Europa, Claude Lévi-Strauss, Fernand Paul Braudel, Roger Bastide e Pierre Monbeig, numa equipe internacional que, além de franceses, incluía alemães, italianos e portugueses. Que ainda não eram grandes nomes ao desembarcar em São Paulo.

Julio de Mesquita Filho ajudou Teodoro Ramos a escolher os professores e lhe indicou Georges Dumas, da Sorbonne, seu conhecido havia muitos anos, para coordenar a seleção. Ficou amigo dos europeus quando chegaram a São Paulo. Convidava-os a se reunir em sua casa e discutiam juntos os rumos da recém-criada universidade.

Início. Julio de Mesquita Filho (quarto, de pé, da direita para a esquerda) com parte dos docentes contratados Foto: ACERVO/ESTADÃO

O jornalista conversava principalmente com Georges Dumas, de quem ouviu o conselho de que, em vez de contratar medalhões, a USP fazia bem em trazer jovens de talento que pudessem também se beneficiar de sua experiência no Brasil. Seria o caso de Lévi-Strauss, que se tornaria um dos antropólogos mais influentes do mundo.

A ênfase na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras tinha uma justificativa: os fundadores sabiam que ali seriam formados os professores para a execução da reforma do ensino. Dessa unidade sairiam os formadores ideais para um modelo de educação exemplar.

O trabalho começaria pelo aperfeiçoamento do ensino médio. “É de capital importância para as nacionalidades a organização de um ensino secundário capaz de suscitar valores e capacidades em condições de constituir uma sólida elite dirigente”, afirmou o jornalista no discurso de paraninfo da primeira turma da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 25 de janeiro de 1937.

Júlio de Mesquita Filho voltaria a discursar como paraninfo de formandos da USP em 1945. Desta vez, substituindo Armando de Salles Oliveira, que havia morrido em maio daquele ano, fez um histórico das diretrizes que nortearam a criação da universidade. Leia a íntegra.

1937. Forma-se a primeira turma da Faculdade de Filosofia. O paraninfo é Julio de Mesquita Filho (no centro), um dos fundadores da universidade. Foto: Acervo/Estadão

O inquérito “A instrucção publica em S. Paulo”

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Decreto de criação da Universidade de São Paulo no Estadão de 26/1/1934. Foto: Acervo Estadão

Estrutura de ensino desconexa, onde as poucas universidades formavam apenas para o ofício, falta de preparação de docentes e inexistência da prática da ciência. Esse era parte do panorama da educação do Brasil em meados da década de 1920. O quadro inquietava o jornalista Julio de Mesquita Filho, o educador Fernando de Azevedo, o engenheiro Armando de Salles Oliveira e outros intelectuais. Para eles a mudança sócio-política do País só viria através da educação.

Para concretizar a mudança que idealizavam era preciso consultar professores, cientistas e escritores. Com esse espírito o jornal O Estado de S. Paulo iniciou em 1926 uma pesquisa sobre a situação da educação em São Paulo. Coube a Fernando de Azevedo, a pedido de Mesquita Filho, que o coordenasse.

“O principal problema com que lutamos, problema número 1, primacial do País, era, sem dúvida alguma, o do seu ensino superior”, advertiu Julio de Mesquita Filho, ao comentar as conclusões da série de entrevistas que o professor Fernando de Azevedo fez em 1926.

O inquérito, como era chamada a pesquisa na época, investigou todos os aspectos do ensino no estado de São Paulo, o primário, secundário, profissionalizante e superior. Para fazê-lo foi enviado um questionário para dezenas de pessoas envolvidas no ensino. Das doze perguntas, três eram sobre o ensino superior. Elas pediam opinião sobre a ‘criação de uma universidade em São Paulo, organizada dentro do espírito universitário moderno’ e de que forma uma universidade poderia se tornar uma “instituição orgânica e viva”'.

As respostas foram publicadas no jornal logo que eram recebidas sob o título A Instrucção Publica em S.Paulo. Foram 34 colunas publicadas entre os meses de junho e dezembro de 1926 (todas estão organizadas abaixo).

Estadão -14 de dezembro de 1926

 

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A partir das respostas, a conclusão a que se chegou era de um ensino totalmente desconectado. No caso das universidades, elas simplesmente formavam profissionais para exercer a profissão. A resposta do escritor Amadeu Amaral sintetiza aquela realidade.

Para ele nas universidades havia “quase exclusivo domínio dos objetivos imediatos e aparentes: o exame, a formatura, a colocação, a carreira prática ou profissional. Corresponde ainda à concepção mais comum no Brasil acerca das funções da escola; a primazia que se concede ao “saber” (entendendo-se por “saber” aquilo que um escritor estrangeiro definiu: “uma pequena enciclopédia de conhecimentos inúteis”); ao desprezo a que se relega a “cultura”, que é assimilação, conversão do aprendido em substância própria, formação do espírito, aumento de capacidade e de atividade espontânea”.

Nada mais contrário ao projeto idealizado por Azevedo e Mesquita Filho de um sistema orgânico entre todos os níveis de ensino onde a universidade teria que exercer uma ‘tríplice aliança’. Segundo Azevedo, em artigo publicado em 1954 no Estadão, a universidade deveria “elaborar ou criar a ciência, pela pesquisa, de transmiti-la, pelo ensino de alto nível, e de divulgá-la, por tôda a espécie de meios”.

Parceria

O encontro entre Mesquita Filho (1892 – 1969) e Azevedo (1894 – 1974) começou em 1922 e foi fundamental para a criação da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que completam 90 anos. Azevedo, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, já escrevia na imprensa paulistana desde 1918. Em 1922 foi convidado, também por Mesquita Filho, a escrever sobre o centenário da Independência. Aproveitando o convite, sugeriu ao diretor do jornal uma matéria sobre sobre educação física, tema que ele se dedicava juntamente com o latim. Desde 1916, ensinava literatura e língua latina na Escola Normal de São Paulo.

No ano seguinte, também a convite, entrou definitivamente para a redação do Estadão publicando todos os sábados coluna sobre crítica literária. Foi assim até 1926, quando deixou o posto para assumir o cargo de Diretor-Geral da Instrução Pública na capital federal. Lá fez uma revolução no ensino instituindo, entre outras coisas, o acesso ao magistério somente por concurso, criação de estrutura física destinada à educação e valorização da Escola Normal para reforçar o magistério.

Julio de Mesquita Filho e Armando de Sales Oliveira.  Foto: Acervo/Estadão

Universidade

Júlio de Mesquita Filho pensava no projeto das universidades desde 1925, quando publicou o livro A Crise Nacional, no qual abordava as deficiências do ensino em todos os níveis. Sugeria uma reforma total do ensino superior. Em meio às turbulências da Revolução de 1932, prisão e exílio, o jornalista fazia parte de uma comissão, formada pelo governo estadual, para preparar o projeto da futura universidade, trabalhando ao lado de Fernando de Azevedo, Raul Briquet e Lúcio Rodrigues.

Quando Armando de Salles Oliveira, seu cunhado e também diretor do Estadão, foi nomeado interventor do Estado [governador indicado], Julio de Mesquita Filho voltou a integrar a comissão para a criação da USP, ao lado de Fernando de Azevedo, Almeida Júnior, Fonseca Telles, Raul Briquet, André Dreyfus, Rocha Lima, Agelisan Bittencourt e Vicente Rao. Armando de Salles Oliveira publicou o decreto da criação da Universidade de São Paulo em 25 de janeiro de 1934.

Missão estrangeira

Escolhido coordenador da comissão de fundação da USP, Julio de Mesquita Filho, que não era professor nem funcionário do governo, encarregou o professor Teodoro Ramos de buscar jovens talentos na Europa. E assim vieram Georges Dumas, contato de Teodoro Ramos na Europa, Claude Lévi-Strauss, Fernand Paul Braudel, Roger Bastide e Pierre Monbeig, numa equipe internacional que, além de franceses, incluía alemães, italianos e portugueses. Que ainda não eram grandes nomes ao desembarcar em São Paulo.

Julio de Mesquita Filho ajudou Teodoro Ramos a escolher os professores e lhe indicou Georges Dumas, da Sorbonne, seu conhecido havia muitos anos, para coordenar a seleção. Ficou amigo dos europeus quando chegaram a São Paulo. Convidava-os a se reunir em sua casa e discutiam juntos os rumos da recém-criada universidade.

Início. Julio de Mesquita Filho (quarto, de pé, da direita para a esquerda) com parte dos docentes contratados Foto: ACERVO/ESTADÃO

O jornalista conversava principalmente com Georges Dumas, de quem ouviu o conselho de que, em vez de contratar medalhões, a USP fazia bem em trazer jovens de talento que pudessem também se beneficiar de sua experiência no Brasil. Seria o caso de Lévi-Strauss, que se tornaria um dos antropólogos mais influentes do mundo.

A ênfase na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras tinha uma justificativa: os fundadores sabiam que ali seriam formados os professores para a execução da reforma do ensino. Dessa unidade sairiam os formadores ideais para um modelo de educação exemplar.

O trabalho começaria pelo aperfeiçoamento do ensino médio. “É de capital importância para as nacionalidades a organização de um ensino secundário capaz de suscitar valores e capacidades em condições de constituir uma sólida elite dirigente”, afirmou o jornalista no discurso de paraninfo da primeira turma da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 25 de janeiro de 1937.

Júlio de Mesquita Filho voltaria a discursar como paraninfo de formandos da USP em 1945. Desta vez, substituindo Armando de Salles Oliveira, que havia morrido em maio daquele ano, fez um histórico das diretrizes que nortearam a criação da universidade. Leia a íntegra.

1937. Forma-se a primeira turma da Faculdade de Filosofia. O paraninfo é Julio de Mesquita Filho (no centro), um dos fundadores da universidade. Foto: Acervo/Estadão

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Estadão - 26 de janeiro de 1934

Decreto de criação da Universidade de São Paulo no Estadão de 26/1/1934. Foto: Acervo Estadão

Estrutura de ensino desconexa, onde as poucas universidades formavam apenas para o ofício, falta de preparação de docentes e inexistência da prática da ciência. Esse era parte do panorama da educação do Brasil em meados da década de 1920. O quadro inquietava o jornalista Julio de Mesquita Filho, o educador Fernando de Azevedo, o engenheiro Armando de Salles Oliveira e outros intelectuais. Para eles a mudança sócio-política do País só viria através da educação.

Para concretizar a mudança que idealizavam era preciso consultar professores, cientistas e escritores. Com esse espírito o jornal O Estado de S. Paulo iniciou em 1926 uma pesquisa sobre a situação da educação em São Paulo. Coube a Fernando de Azevedo, a pedido de Mesquita Filho, que o coordenasse.

“O principal problema com que lutamos, problema número 1, primacial do País, era, sem dúvida alguma, o do seu ensino superior”, advertiu Julio de Mesquita Filho, ao comentar as conclusões da série de entrevistas que o professor Fernando de Azevedo fez em 1926.

O inquérito, como era chamada a pesquisa na época, investigou todos os aspectos do ensino no estado de São Paulo, o primário, secundário, profissionalizante e superior. Para fazê-lo foi enviado um questionário para dezenas de pessoas envolvidas no ensino. Das doze perguntas, três eram sobre o ensino superior. Elas pediam opinião sobre a ‘criação de uma universidade em São Paulo, organizada dentro do espírito universitário moderno’ e de que forma uma universidade poderia se tornar uma “instituição orgânica e viva”'.

As respostas foram publicadas no jornal logo que eram recebidas sob o título A Instrucção Publica em S.Paulo. Foram 34 colunas publicadas entre os meses de junho e dezembro de 1926 (todas estão organizadas abaixo).

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Criar, transmitir, divulgar

A partir das respostas, a conclusão a que se chegou era de um ensino totalmente desconectado. No caso das universidades, elas simplesmente formavam profissionais para exercer a profissão. A resposta do escritor Amadeu Amaral sintetiza aquela realidade.

Para ele nas universidades havia “quase exclusivo domínio dos objetivos imediatos e aparentes: o exame, a formatura, a colocação, a carreira prática ou profissional. Corresponde ainda à concepção mais comum no Brasil acerca das funções da escola; a primazia que se concede ao “saber” (entendendo-se por “saber” aquilo que um escritor estrangeiro definiu: “uma pequena enciclopédia de conhecimentos inúteis”); ao desprezo a que se relega a “cultura”, que é assimilação, conversão do aprendido em substância própria, formação do espírito, aumento de capacidade e de atividade espontânea”.

Nada mais contrário ao projeto idealizado por Azevedo e Mesquita Filho de um sistema orgânico entre todos os níveis de ensino onde a universidade teria que exercer uma ‘tríplice aliança’. Segundo Azevedo, em artigo publicado em 1954 no Estadão, a universidade deveria “elaborar ou criar a ciência, pela pesquisa, de transmiti-la, pelo ensino de alto nível, e de divulgá-la, por tôda a espécie de meios”.

Parceria

O encontro entre Mesquita Filho (1892 – 1969) e Azevedo (1894 – 1974) começou em 1922 e foi fundamental para a criação da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que completam 90 anos. Azevedo, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, já escrevia na imprensa paulistana desde 1918. Em 1922 foi convidado, também por Mesquita Filho, a escrever sobre o centenário da Independência. Aproveitando o convite, sugeriu ao diretor do jornal uma matéria sobre sobre educação física, tema que ele se dedicava juntamente com o latim. Desde 1916, ensinava literatura e língua latina na Escola Normal de São Paulo.

No ano seguinte, também a convite, entrou definitivamente para a redação do Estadão publicando todos os sábados coluna sobre crítica literária. Foi assim até 1926, quando deixou o posto para assumir o cargo de Diretor-Geral da Instrução Pública na capital federal. Lá fez uma revolução no ensino instituindo, entre outras coisas, o acesso ao magistério somente por concurso, criação de estrutura física destinada à educação e valorização da Escola Normal para reforçar o magistério.

Julio de Mesquita Filho e Armando de Sales Oliveira.  Foto: Acervo/Estadão

Universidade

Júlio de Mesquita Filho pensava no projeto das universidades desde 1925, quando publicou o livro A Crise Nacional, no qual abordava as deficiências do ensino em todos os níveis. Sugeria uma reforma total do ensino superior. Em meio às turbulências da Revolução de 1932, prisão e exílio, o jornalista fazia parte de uma comissão, formada pelo governo estadual, para preparar o projeto da futura universidade, trabalhando ao lado de Fernando de Azevedo, Raul Briquet e Lúcio Rodrigues.

Quando Armando de Salles Oliveira, seu cunhado e também diretor do Estadão, foi nomeado interventor do Estado [governador indicado], Julio de Mesquita Filho voltou a integrar a comissão para a criação da USP, ao lado de Fernando de Azevedo, Almeida Júnior, Fonseca Telles, Raul Briquet, André Dreyfus, Rocha Lima, Agelisan Bittencourt e Vicente Rao. Armando de Salles Oliveira publicou o decreto da criação da Universidade de São Paulo em 25 de janeiro de 1934.

Missão estrangeira

Escolhido coordenador da comissão de fundação da USP, Julio de Mesquita Filho, que não era professor nem funcionário do governo, encarregou o professor Teodoro Ramos de buscar jovens talentos na Europa. E assim vieram Georges Dumas, contato de Teodoro Ramos na Europa, Claude Lévi-Strauss, Fernand Paul Braudel, Roger Bastide e Pierre Monbeig, numa equipe internacional que, além de franceses, incluía alemães, italianos e portugueses. Que ainda não eram grandes nomes ao desembarcar em São Paulo.

Julio de Mesquita Filho ajudou Teodoro Ramos a escolher os professores e lhe indicou Georges Dumas, da Sorbonne, seu conhecido havia muitos anos, para coordenar a seleção. Ficou amigo dos europeus quando chegaram a São Paulo. Convidava-os a se reunir em sua casa e discutiam juntos os rumos da recém-criada universidade.

Início. Julio de Mesquita Filho (quarto, de pé, da direita para a esquerda) com parte dos docentes contratados Foto: ACERVO/ESTADÃO

O jornalista conversava principalmente com Georges Dumas, de quem ouviu o conselho de que, em vez de contratar medalhões, a USP fazia bem em trazer jovens de talento que pudessem também se beneficiar de sua experiência no Brasil. Seria o caso de Lévi-Strauss, que se tornaria um dos antropólogos mais influentes do mundo.

A ênfase na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras tinha uma justificativa: os fundadores sabiam que ali seriam formados os professores para a execução da reforma do ensino. Dessa unidade sairiam os formadores ideais para um modelo de educação exemplar.

O trabalho começaria pelo aperfeiçoamento do ensino médio. “É de capital importância para as nacionalidades a organização de um ensino secundário capaz de suscitar valores e capacidades em condições de constituir uma sólida elite dirigente”, afirmou o jornalista no discurso de paraninfo da primeira turma da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 25 de janeiro de 1937.

Júlio de Mesquita Filho voltaria a discursar como paraninfo de formandos da USP em 1945. Desta vez, substituindo Armando de Salles Oliveira, que havia morrido em maio daquele ano, fez um histórico das diretrizes que nortearam a criação da universidade. Leia a íntegra.

1937. Forma-se a primeira turma da Faculdade de Filosofia. O paraninfo é Julio de Mesquita Filho (no centro), um dos fundadores da universidade. Foto: Acervo/Estadão

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Decreto de criação da Universidade de São Paulo no Estadão de 26/1/1934. Foto: Acervo Estadão

Estrutura de ensino desconexa, onde as poucas universidades formavam apenas para o ofício, falta de preparação de docentes e inexistência da prática da ciência. Esse era parte do panorama da educação do Brasil em meados da década de 1920. O quadro inquietava o jornalista Julio de Mesquita Filho, o educador Fernando de Azevedo, o engenheiro Armando de Salles Oliveira e outros intelectuais. Para eles a mudança sócio-política do País só viria através da educação.

Para concretizar a mudança que idealizavam era preciso consultar professores, cientistas e escritores. Com esse espírito o jornal O Estado de S. Paulo iniciou em 1926 uma pesquisa sobre a situação da educação em São Paulo. Coube a Fernando de Azevedo, a pedido de Mesquita Filho, que o coordenasse.

“O principal problema com que lutamos, problema número 1, primacial do País, era, sem dúvida alguma, o do seu ensino superior”, advertiu Julio de Mesquita Filho, ao comentar as conclusões da série de entrevistas que o professor Fernando de Azevedo fez em 1926.

O inquérito, como era chamada a pesquisa na época, investigou todos os aspectos do ensino no estado de São Paulo, o primário, secundário, profissionalizante e superior. Para fazê-lo foi enviado um questionário para dezenas de pessoas envolvidas no ensino. Das doze perguntas, três eram sobre o ensino superior. Elas pediam opinião sobre a ‘criação de uma universidade em São Paulo, organizada dentro do espírito universitário moderno’ e de que forma uma universidade poderia se tornar uma “instituição orgânica e viva”'.

As respostas foram publicadas no jornal logo que eram recebidas sob o título A Instrucção Publica em S.Paulo. Foram 34 colunas publicadas entre os meses de junho e dezembro de 1926 (todas estão organizadas abaixo).

Estadão -14 de dezembro de 1926

 

Criar, transmitir, divulgar

A partir das respostas, a conclusão a que se chegou era de um ensino totalmente desconectado. No caso das universidades, elas simplesmente formavam profissionais para exercer a profissão. A resposta do escritor Amadeu Amaral sintetiza aquela realidade.

Para ele nas universidades havia “quase exclusivo domínio dos objetivos imediatos e aparentes: o exame, a formatura, a colocação, a carreira prática ou profissional. Corresponde ainda à concepção mais comum no Brasil acerca das funções da escola; a primazia que se concede ao “saber” (entendendo-se por “saber” aquilo que um escritor estrangeiro definiu: “uma pequena enciclopédia de conhecimentos inúteis”); ao desprezo a que se relega a “cultura”, que é assimilação, conversão do aprendido em substância própria, formação do espírito, aumento de capacidade e de atividade espontânea”.

Nada mais contrário ao projeto idealizado por Azevedo e Mesquita Filho de um sistema orgânico entre todos os níveis de ensino onde a universidade teria que exercer uma ‘tríplice aliança’. Segundo Azevedo, em artigo publicado em 1954 no Estadão, a universidade deveria “elaborar ou criar a ciência, pela pesquisa, de transmiti-la, pelo ensino de alto nível, e de divulgá-la, por tôda a espécie de meios”.

Parceria

O encontro entre Mesquita Filho (1892 – 1969) e Azevedo (1894 – 1974) começou em 1922 e foi fundamental para a criação da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que completam 90 anos. Azevedo, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, já escrevia na imprensa paulistana desde 1918. Em 1922 foi convidado, também por Mesquita Filho, a escrever sobre o centenário da Independência. Aproveitando o convite, sugeriu ao diretor do jornal uma matéria sobre sobre educação física, tema que ele se dedicava juntamente com o latim. Desde 1916, ensinava literatura e língua latina na Escola Normal de São Paulo.

No ano seguinte, também a convite, entrou definitivamente para a redação do Estadão publicando todos os sábados coluna sobre crítica literária. Foi assim até 1926, quando deixou o posto para assumir o cargo de Diretor-Geral da Instrução Pública na capital federal. Lá fez uma revolução no ensino instituindo, entre outras coisas, o acesso ao magistério somente por concurso, criação de estrutura física destinada à educação e valorização da Escola Normal para reforçar o magistério.

Julio de Mesquita Filho e Armando de Sales Oliveira.  Foto: Acervo/Estadão

Universidade

Júlio de Mesquita Filho pensava no projeto das universidades desde 1925, quando publicou o livro A Crise Nacional, no qual abordava as deficiências do ensino em todos os níveis. Sugeria uma reforma total do ensino superior. Em meio às turbulências da Revolução de 1932, prisão e exílio, o jornalista fazia parte de uma comissão, formada pelo governo estadual, para preparar o projeto da futura universidade, trabalhando ao lado de Fernando de Azevedo, Raul Briquet e Lúcio Rodrigues.

Quando Armando de Salles Oliveira, seu cunhado e também diretor do Estadão, foi nomeado interventor do Estado [governador indicado], Julio de Mesquita Filho voltou a integrar a comissão para a criação da USP, ao lado de Fernando de Azevedo, Almeida Júnior, Fonseca Telles, Raul Briquet, André Dreyfus, Rocha Lima, Agelisan Bittencourt e Vicente Rao. Armando de Salles Oliveira publicou o decreto da criação da Universidade de São Paulo em 25 de janeiro de 1934.

Missão estrangeira

Escolhido coordenador da comissão de fundação da USP, Julio de Mesquita Filho, que não era professor nem funcionário do governo, encarregou o professor Teodoro Ramos de buscar jovens talentos na Europa. E assim vieram Georges Dumas, contato de Teodoro Ramos na Europa, Claude Lévi-Strauss, Fernand Paul Braudel, Roger Bastide e Pierre Monbeig, numa equipe internacional que, além de franceses, incluía alemães, italianos e portugueses. Que ainda não eram grandes nomes ao desembarcar em São Paulo.

Julio de Mesquita Filho ajudou Teodoro Ramos a escolher os professores e lhe indicou Georges Dumas, da Sorbonne, seu conhecido havia muitos anos, para coordenar a seleção. Ficou amigo dos europeus quando chegaram a São Paulo. Convidava-os a se reunir em sua casa e discutiam juntos os rumos da recém-criada universidade.

Início. Julio de Mesquita Filho (quarto, de pé, da direita para a esquerda) com parte dos docentes contratados Foto: ACERVO/ESTADÃO

O jornalista conversava principalmente com Georges Dumas, de quem ouviu o conselho de que, em vez de contratar medalhões, a USP fazia bem em trazer jovens de talento que pudessem também se beneficiar de sua experiência no Brasil. Seria o caso de Lévi-Strauss, que se tornaria um dos antropólogos mais influentes do mundo.

A ênfase na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras tinha uma justificativa: os fundadores sabiam que ali seriam formados os professores para a execução da reforma do ensino. Dessa unidade sairiam os formadores ideais para um modelo de educação exemplar.

O trabalho começaria pelo aperfeiçoamento do ensino médio. “É de capital importância para as nacionalidades a organização de um ensino secundário capaz de suscitar valores e capacidades em condições de constituir uma sólida elite dirigente”, afirmou o jornalista no discurso de paraninfo da primeira turma da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 25 de janeiro de 1937.

Júlio de Mesquita Filho voltaria a discursar como paraninfo de formandos da USP em 1945. Desta vez, substituindo Armando de Salles Oliveira, que havia morrido em maio daquele ano, fez um histórico das diretrizes que nortearam a criação da universidade. Leia a íntegra.

1937. Forma-se a primeira turma da Faculdade de Filosofia. O paraninfo é Julio de Mesquita Filho (no centro), um dos fundadores da universidade. Foto: Acervo/Estadão

O inquérito “A instrucção publica em S. Paulo”

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