Prisão de Queiroz em casa de Wassef leva crise ao Planalto


Operação liga politicamente a Presidência da República a negócios privados de um filho do presidente; em ocasiões passadas, situações como essa corroeram as bases do governo e o levaram à queda

Por Wilson Tosta

RIO – O ressurgimento de Fábrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) preso por ordem da Justiça, abrigado em uma casa ligada ao advogado Frederick Wassef leva a crise para dentro do gabinete de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Liga politicamente à Presidência da República a negócios privados de um filho do presidente em investigação por organização criminosa, peculato (desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro. Em ocasiões passadas – 1954, 1992 –, houve curtos-circuitos semelhantes. Neles, elementos da crônica policial se conectaram à intimidade do chefe do Executivo. Corroeram as bases do governo e o levaram à queda.

Hoje, o presidente ainda está longe disso, mas, político experiente, provavelmente percebe a rápida mudança de cenário. Até então, podia-se alegar que Queiroz era um caso do passado, ocorrido no Legislativo do Rio, sem conexão direta com o Planalto. A prisão do ex-assessor em uma casa de Wassef, advogado de Flávio e amigo da família com trânsito liberado nos palácios e acesso direto ao chefe do Executivo, transformou a investigação em caso do presente. Agora, é algo do governo Bolsonaro, está em andamento e muito próximo do mandatário.

Jair Bolsonaro ocupou-se, nas últimas semanas, com disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). Para a plateia de devotos que diariamente o espera na porta do Palácio da Alvorada, fez críticas às ações da Corte nos inquéritos sobre fake news e manifestações antidemocráticas contra as instituições. Reagiu com acusações de ilegalidade e abuso contra as liberdades. Manteve o tom exaltado mesmo em relação às prisões de extremistas que ameaçaram ministros do Supremo – caso de Sara Fernanda Giromini, em prisão temporária.

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O ex-assessor Fabrício Queirozapós ser preso na casa do advogado do senador Flávio Bolsonaro em Atibaia, no interior de SP, nesta quinta, 18 Foto: EFE/Sebastião Moreira

A captura de Queiroz sob proteção de Wassef – quando supostamente tentava atrapalhar as investigações – também muda esse ambiente inviabiliza esse discurso para o caso que envolve Flávio e lhe dá molho político. A apuração, iniciada antes das eleições presidenciais, mostrou indícios de rachadinha com os salários dos assessores de Flávio, na época deputado estadual. As suspeitas foram apontadas tecnicamente em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na Operação Furna da Onça, sobre corrupção na Casa. Nele, destacaram-se movimentações atípicas de servidores. Um deles era Queiroz, um suboficial da PM nomeado em cargo de confiança pelo parlamentar – por indicação do pai Jair.

Todo mês, em datas posteriores e próximas à do pagamento dos salários na Alerj, segundo o MP, Queiroz recebia, em sua conta, o repasse de boa parte dos vencimentos de seus colegas no gabinete de Flávio. Promotores viram na prática – que resultou em movimentação de R$ 1,2 milhão em 13 meses, incompatível com os ganhos do PM – indícios de que o dinheiro era recolhido e repassado a Flávio. Transações imobiliárias com valores estranhos ao mercado e a operação de uma franquia da rede Kopenhagen no Barra Shopping, da qual o hoje senador é sócio, reforçaram suspeitas de lavagem de dinheiro.

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Também foi detectado repasse de R$ 24 mil de Queiroz para uma conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro. Na época, ela era assessora do então deputado federal Jair Bolsonaro. O presidente disse que era pagamento de uma dívida com ele, que o então assessor fizera na conta de Michele.

Queiroz e Flávio sempre negaram irregularidades. O ex-assessor alegou ganhar dinheiro por fora, com comércio de carros usados. Depois, afirmou que, sem conhecimento de Flávio, recolhia o dinheiro dos colegas para redistribuí-lo e contratar mais gente, ampliando a rede de contatos do político. O parlamentar por muito tempo repetiu que o problema era do ex-PM, não dele. Recentemente, elogiou Queiroz em vídeo. Nesta quinta, 19, reagiu à prisão do ex-assessor com um argumento antigo: o da perseguição contra o pai.

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“Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje”, afirmou no Twitter. “A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”

Crimes

Há outros elementos inquietantes no Caso Queiroz. Quando ainda na PM, em 2003, ele foi acusado de envolvimento na morte de um homem, durante operação na Cidade de Deus, comunidade pobre na zona oeste carioca. Com ele, era investigado no processo um colega, Adriano da Nóbrega, que seria expulso da corporação em 2014. Durante o mandato de Flávio na Alerj, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça ocuparam cargos de confiança no gabinete de Flávio na Assembleia. Foi uma indicação de Queiroz, como ele mesmo admitiu.

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Mais recentemente, “Capitão Adriano”, como era conhecido, era investigado pela Operação Intocáveis da Polícia Civil e do MP do Rio. O alvo era a milícia Escritório do Crime, que domina as comunidades da Muzema e de Rio das Pedras, na zona oeste da capital. Ronnie Lessa, um dos acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, era integrante dessa milícia. Adriano era apontado como um de seus chefes. Procurado pela Policia pelas acusações de vinculação à quadrilha, fugiu para a Bahia. Lá, foi morto por policiais em Esplanada, em fevereiro de 2020.

O senador fluminense Flávio Bolsonaro Foto: Wilton Junior/Estadão

A investigação da rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj já dura cerca de dois anos. Parou algumas vezes, por determinação da Justiça a pedido da defesa de Flávio, a cargo de Wassef. Mas a apuração sempre acabou retomada. Agora, parece chegar perto de um desfecho. O avanço da apuração, ao longo dos meses, pode explicar parte da inquietação do presidente.

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Recentemente, Jair Bolsonaro repetiu uma queixa antiga, contra o que afirmou ser uma possível operação da Polícia do Rio contra seus filhos, com provas que seriam forjadas, mas nunca ocorreu. Citou-a como um dos motivos de divergência com Sérgio Moro quando este chefiava o Ministério da Justiça, porque o ex-juiz se recusou a interferir. O interesse do presidente na mudança da chefia da Polícia Federal – tanto o diretor-geral como o superintendente do Rio – estaria ligado ao interesse do presidente em investigações sobre seus filhos.

Uma das mais importantes batalhas políticas do presidente envolveu o Coaf. Bolsonaro se empenhou para tirá-lo do Ministério da Justiça e ligá-lo ao Banco Central. O órgão desde então teve atuação discreta, como parte do que parece ser uma tentativa de blindagem jurídica. O exílio de Queiroz em uma discreta casa em Atibaia só aumenta as suspeitas de que as diferentes ações teriam o mesmo objetivo.

RIO – O ressurgimento de Fábrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) preso por ordem da Justiça, abrigado em uma casa ligada ao advogado Frederick Wassef leva a crise para dentro do gabinete de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Liga politicamente à Presidência da República a negócios privados de um filho do presidente em investigação por organização criminosa, peculato (desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro. Em ocasiões passadas – 1954, 1992 –, houve curtos-circuitos semelhantes. Neles, elementos da crônica policial se conectaram à intimidade do chefe do Executivo. Corroeram as bases do governo e o levaram à queda.

Hoje, o presidente ainda está longe disso, mas, político experiente, provavelmente percebe a rápida mudança de cenário. Até então, podia-se alegar que Queiroz era um caso do passado, ocorrido no Legislativo do Rio, sem conexão direta com o Planalto. A prisão do ex-assessor em uma casa de Wassef, advogado de Flávio e amigo da família com trânsito liberado nos palácios e acesso direto ao chefe do Executivo, transformou a investigação em caso do presente. Agora, é algo do governo Bolsonaro, está em andamento e muito próximo do mandatário.

Jair Bolsonaro ocupou-se, nas últimas semanas, com disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). Para a plateia de devotos que diariamente o espera na porta do Palácio da Alvorada, fez críticas às ações da Corte nos inquéritos sobre fake news e manifestações antidemocráticas contra as instituições. Reagiu com acusações de ilegalidade e abuso contra as liberdades. Manteve o tom exaltado mesmo em relação às prisões de extremistas que ameaçaram ministros do Supremo – caso de Sara Fernanda Giromini, em prisão temporária.

O ex-assessor Fabrício Queirozapós ser preso na casa do advogado do senador Flávio Bolsonaro em Atibaia, no interior de SP, nesta quinta, 18 Foto: EFE/Sebastião Moreira

A captura de Queiroz sob proteção de Wassef – quando supostamente tentava atrapalhar as investigações – também muda esse ambiente inviabiliza esse discurso para o caso que envolve Flávio e lhe dá molho político. A apuração, iniciada antes das eleições presidenciais, mostrou indícios de rachadinha com os salários dos assessores de Flávio, na época deputado estadual. As suspeitas foram apontadas tecnicamente em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na Operação Furna da Onça, sobre corrupção na Casa. Nele, destacaram-se movimentações atípicas de servidores. Um deles era Queiroz, um suboficial da PM nomeado em cargo de confiança pelo parlamentar – por indicação do pai Jair.

Todo mês, em datas posteriores e próximas à do pagamento dos salários na Alerj, segundo o MP, Queiroz recebia, em sua conta, o repasse de boa parte dos vencimentos de seus colegas no gabinete de Flávio. Promotores viram na prática – que resultou em movimentação de R$ 1,2 milhão em 13 meses, incompatível com os ganhos do PM – indícios de que o dinheiro era recolhido e repassado a Flávio. Transações imobiliárias com valores estranhos ao mercado e a operação de uma franquia da rede Kopenhagen no Barra Shopping, da qual o hoje senador é sócio, reforçaram suspeitas de lavagem de dinheiro.

Também foi detectado repasse de R$ 24 mil de Queiroz para uma conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro. Na época, ela era assessora do então deputado federal Jair Bolsonaro. O presidente disse que era pagamento de uma dívida com ele, que o então assessor fizera na conta de Michele.

Queiroz e Flávio sempre negaram irregularidades. O ex-assessor alegou ganhar dinheiro por fora, com comércio de carros usados. Depois, afirmou que, sem conhecimento de Flávio, recolhia o dinheiro dos colegas para redistribuí-lo e contratar mais gente, ampliando a rede de contatos do político. O parlamentar por muito tempo repetiu que o problema era do ex-PM, não dele. Recentemente, elogiou Queiroz em vídeo. Nesta quinta, 19, reagiu à prisão do ex-assessor com um argumento antigo: o da perseguição contra o pai.

“Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje”, afirmou no Twitter. “A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”

Crimes

Há outros elementos inquietantes no Caso Queiroz. Quando ainda na PM, em 2003, ele foi acusado de envolvimento na morte de um homem, durante operação na Cidade de Deus, comunidade pobre na zona oeste carioca. Com ele, era investigado no processo um colega, Adriano da Nóbrega, que seria expulso da corporação em 2014. Durante o mandato de Flávio na Alerj, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça ocuparam cargos de confiança no gabinete de Flávio na Assembleia. Foi uma indicação de Queiroz, como ele mesmo admitiu.

Mais recentemente, “Capitão Adriano”, como era conhecido, era investigado pela Operação Intocáveis da Polícia Civil e do MP do Rio. O alvo era a milícia Escritório do Crime, que domina as comunidades da Muzema e de Rio das Pedras, na zona oeste da capital. Ronnie Lessa, um dos acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, era integrante dessa milícia. Adriano era apontado como um de seus chefes. Procurado pela Policia pelas acusações de vinculação à quadrilha, fugiu para a Bahia. Lá, foi morto por policiais em Esplanada, em fevereiro de 2020.

O senador fluminense Flávio Bolsonaro Foto: Wilton Junior/Estadão

A investigação da rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj já dura cerca de dois anos. Parou algumas vezes, por determinação da Justiça a pedido da defesa de Flávio, a cargo de Wassef. Mas a apuração sempre acabou retomada. Agora, parece chegar perto de um desfecho. O avanço da apuração, ao longo dos meses, pode explicar parte da inquietação do presidente.

Recentemente, Jair Bolsonaro repetiu uma queixa antiga, contra o que afirmou ser uma possível operação da Polícia do Rio contra seus filhos, com provas que seriam forjadas, mas nunca ocorreu. Citou-a como um dos motivos de divergência com Sérgio Moro quando este chefiava o Ministério da Justiça, porque o ex-juiz se recusou a interferir. O interesse do presidente na mudança da chefia da Polícia Federal – tanto o diretor-geral como o superintendente do Rio – estaria ligado ao interesse do presidente em investigações sobre seus filhos.

Uma das mais importantes batalhas políticas do presidente envolveu o Coaf. Bolsonaro se empenhou para tirá-lo do Ministério da Justiça e ligá-lo ao Banco Central. O órgão desde então teve atuação discreta, como parte do que parece ser uma tentativa de blindagem jurídica. O exílio de Queiroz em uma discreta casa em Atibaia só aumenta as suspeitas de que as diferentes ações teriam o mesmo objetivo.

RIO – O ressurgimento de Fábrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) preso por ordem da Justiça, abrigado em uma casa ligada ao advogado Frederick Wassef leva a crise para dentro do gabinete de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Liga politicamente à Presidência da República a negócios privados de um filho do presidente em investigação por organização criminosa, peculato (desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro. Em ocasiões passadas – 1954, 1992 –, houve curtos-circuitos semelhantes. Neles, elementos da crônica policial se conectaram à intimidade do chefe do Executivo. Corroeram as bases do governo e o levaram à queda.

Hoje, o presidente ainda está longe disso, mas, político experiente, provavelmente percebe a rápida mudança de cenário. Até então, podia-se alegar que Queiroz era um caso do passado, ocorrido no Legislativo do Rio, sem conexão direta com o Planalto. A prisão do ex-assessor em uma casa de Wassef, advogado de Flávio e amigo da família com trânsito liberado nos palácios e acesso direto ao chefe do Executivo, transformou a investigação em caso do presente. Agora, é algo do governo Bolsonaro, está em andamento e muito próximo do mandatário.

Jair Bolsonaro ocupou-se, nas últimas semanas, com disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). Para a plateia de devotos que diariamente o espera na porta do Palácio da Alvorada, fez críticas às ações da Corte nos inquéritos sobre fake news e manifestações antidemocráticas contra as instituições. Reagiu com acusações de ilegalidade e abuso contra as liberdades. Manteve o tom exaltado mesmo em relação às prisões de extremistas que ameaçaram ministros do Supremo – caso de Sara Fernanda Giromini, em prisão temporária.

O ex-assessor Fabrício Queirozapós ser preso na casa do advogado do senador Flávio Bolsonaro em Atibaia, no interior de SP, nesta quinta, 18 Foto: EFE/Sebastião Moreira

A captura de Queiroz sob proteção de Wassef – quando supostamente tentava atrapalhar as investigações – também muda esse ambiente inviabiliza esse discurso para o caso que envolve Flávio e lhe dá molho político. A apuração, iniciada antes das eleições presidenciais, mostrou indícios de rachadinha com os salários dos assessores de Flávio, na época deputado estadual. As suspeitas foram apontadas tecnicamente em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na Operação Furna da Onça, sobre corrupção na Casa. Nele, destacaram-se movimentações atípicas de servidores. Um deles era Queiroz, um suboficial da PM nomeado em cargo de confiança pelo parlamentar – por indicação do pai Jair.

Todo mês, em datas posteriores e próximas à do pagamento dos salários na Alerj, segundo o MP, Queiroz recebia, em sua conta, o repasse de boa parte dos vencimentos de seus colegas no gabinete de Flávio. Promotores viram na prática – que resultou em movimentação de R$ 1,2 milhão em 13 meses, incompatível com os ganhos do PM – indícios de que o dinheiro era recolhido e repassado a Flávio. Transações imobiliárias com valores estranhos ao mercado e a operação de uma franquia da rede Kopenhagen no Barra Shopping, da qual o hoje senador é sócio, reforçaram suspeitas de lavagem de dinheiro.

Também foi detectado repasse de R$ 24 mil de Queiroz para uma conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro. Na época, ela era assessora do então deputado federal Jair Bolsonaro. O presidente disse que era pagamento de uma dívida com ele, que o então assessor fizera na conta de Michele.

Queiroz e Flávio sempre negaram irregularidades. O ex-assessor alegou ganhar dinheiro por fora, com comércio de carros usados. Depois, afirmou que, sem conhecimento de Flávio, recolhia o dinheiro dos colegas para redistribuí-lo e contratar mais gente, ampliando a rede de contatos do político. O parlamentar por muito tempo repetiu que o problema era do ex-PM, não dele. Recentemente, elogiou Queiroz em vídeo. Nesta quinta, 19, reagiu à prisão do ex-assessor com um argumento antigo: o da perseguição contra o pai.

“Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje”, afirmou no Twitter. “A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”

Crimes

Há outros elementos inquietantes no Caso Queiroz. Quando ainda na PM, em 2003, ele foi acusado de envolvimento na morte de um homem, durante operação na Cidade de Deus, comunidade pobre na zona oeste carioca. Com ele, era investigado no processo um colega, Adriano da Nóbrega, que seria expulso da corporação em 2014. Durante o mandato de Flávio na Alerj, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça ocuparam cargos de confiança no gabinete de Flávio na Assembleia. Foi uma indicação de Queiroz, como ele mesmo admitiu.

Mais recentemente, “Capitão Adriano”, como era conhecido, era investigado pela Operação Intocáveis da Polícia Civil e do MP do Rio. O alvo era a milícia Escritório do Crime, que domina as comunidades da Muzema e de Rio das Pedras, na zona oeste da capital. Ronnie Lessa, um dos acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, era integrante dessa milícia. Adriano era apontado como um de seus chefes. Procurado pela Policia pelas acusações de vinculação à quadrilha, fugiu para a Bahia. Lá, foi morto por policiais em Esplanada, em fevereiro de 2020.

O senador fluminense Flávio Bolsonaro Foto: Wilton Junior/Estadão

A investigação da rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj já dura cerca de dois anos. Parou algumas vezes, por determinação da Justiça a pedido da defesa de Flávio, a cargo de Wassef. Mas a apuração sempre acabou retomada. Agora, parece chegar perto de um desfecho. O avanço da apuração, ao longo dos meses, pode explicar parte da inquietação do presidente.

Recentemente, Jair Bolsonaro repetiu uma queixa antiga, contra o que afirmou ser uma possível operação da Polícia do Rio contra seus filhos, com provas que seriam forjadas, mas nunca ocorreu. Citou-a como um dos motivos de divergência com Sérgio Moro quando este chefiava o Ministério da Justiça, porque o ex-juiz se recusou a interferir. O interesse do presidente na mudança da chefia da Polícia Federal – tanto o diretor-geral como o superintendente do Rio – estaria ligado ao interesse do presidente em investigações sobre seus filhos.

Uma das mais importantes batalhas políticas do presidente envolveu o Coaf. Bolsonaro se empenhou para tirá-lo do Ministério da Justiça e ligá-lo ao Banco Central. O órgão desde então teve atuação discreta, como parte do que parece ser uma tentativa de blindagem jurídica. O exílio de Queiroz em uma discreta casa em Atibaia só aumenta as suspeitas de que as diferentes ações teriam o mesmo objetivo.

RIO – O ressurgimento de Fábrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) preso por ordem da Justiça, abrigado em uma casa ligada ao advogado Frederick Wassef leva a crise para dentro do gabinete de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Liga politicamente à Presidência da República a negócios privados de um filho do presidente em investigação por organização criminosa, peculato (desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro. Em ocasiões passadas – 1954, 1992 –, houve curtos-circuitos semelhantes. Neles, elementos da crônica policial se conectaram à intimidade do chefe do Executivo. Corroeram as bases do governo e o levaram à queda.

Hoje, o presidente ainda está longe disso, mas, político experiente, provavelmente percebe a rápida mudança de cenário. Até então, podia-se alegar que Queiroz era um caso do passado, ocorrido no Legislativo do Rio, sem conexão direta com o Planalto. A prisão do ex-assessor em uma casa de Wassef, advogado de Flávio e amigo da família com trânsito liberado nos palácios e acesso direto ao chefe do Executivo, transformou a investigação em caso do presente. Agora, é algo do governo Bolsonaro, está em andamento e muito próximo do mandatário.

Jair Bolsonaro ocupou-se, nas últimas semanas, com disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). Para a plateia de devotos que diariamente o espera na porta do Palácio da Alvorada, fez críticas às ações da Corte nos inquéritos sobre fake news e manifestações antidemocráticas contra as instituições. Reagiu com acusações de ilegalidade e abuso contra as liberdades. Manteve o tom exaltado mesmo em relação às prisões de extremistas que ameaçaram ministros do Supremo – caso de Sara Fernanda Giromini, em prisão temporária.

O ex-assessor Fabrício Queirozapós ser preso na casa do advogado do senador Flávio Bolsonaro em Atibaia, no interior de SP, nesta quinta, 18 Foto: EFE/Sebastião Moreira

A captura de Queiroz sob proteção de Wassef – quando supostamente tentava atrapalhar as investigações – também muda esse ambiente inviabiliza esse discurso para o caso que envolve Flávio e lhe dá molho político. A apuração, iniciada antes das eleições presidenciais, mostrou indícios de rachadinha com os salários dos assessores de Flávio, na época deputado estadual. As suspeitas foram apontadas tecnicamente em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na Operação Furna da Onça, sobre corrupção na Casa. Nele, destacaram-se movimentações atípicas de servidores. Um deles era Queiroz, um suboficial da PM nomeado em cargo de confiança pelo parlamentar – por indicação do pai Jair.

Todo mês, em datas posteriores e próximas à do pagamento dos salários na Alerj, segundo o MP, Queiroz recebia, em sua conta, o repasse de boa parte dos vencimentos de seus colegas no gabinete de Flávio. Promotores viram na prática – que resultou em movimentação de R$ 1,2 milhão em 13 meses, incompatível com os ganhos do PM – indícios de que o dinheiro era recolhido e repassado a Flávio. Transações imobiliárias com valores estranhos ao mercado e a operação de uma franquia da rede Kopenhagen no Barra Shopping, da qual o hoje senador é sócio, reforçaram suspeitas de lavagem de dinheiro.

Também foi detectado repasse de R$ 24 mil de Queiroz para uma conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro. Na época, ela era assessora do então deputado federal Jair Bolsonaro. O presidente disse que era pagamento de uma dívida com ele, que o então assessor fizera na conta de Michele.

Queiroz e Flávio sempre negaram irregularidades. O ex-assessor alegou ganhar dinheiro por fora, com comércio de carros usados. Depois, afirmou que, sem conhecimento de Flávio, recolhia o dinheiro dos colegas para redistribuí-lo e contratar mais gente, ampliando a rede de contatos do político. O parlamentar por muito tempo repetiu que o problema era do ex-PM, não dele. Recentemente, elogiou Queiroz em vídeo. Nesta quinta, 19, reagiu à prisão do ex-assessor com um argumento antigo: o da perseguição contra o pai.

“Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje”, afirmou no Twitter. “A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”

Crimes

Há outros elementos inquietantes no Caso Queiroz. Quando ainda na PM, em 2003, ele foi acusado de envolvimento na morte de um homem, durante operação na Cidade de Deus, comunidade pobre na zona oeste carioca. Com ele, era investigado no processo um colega, Adriano da Nóbrega, que seria expulso da corporação em 2014. Durante o mandato de Flávio na Alerj, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça ocuparam cargos de confiança no gabinete de Flávio na Assembleia. Foi uma indicação de Queiroz, como ele mesmo admitiu.

Mais recentemente, “Capitão Adriano”, como era conhecido, era investigado pela Operação Intocáveis da Polícia Civil e do MP do Rio. O alvo era a milícia Escritório do Crime, que domina as comunidades da Muzema e de Rio das Pedras, na zona oeste da capital. Ronnie Lessa, um dos acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, era integrante dessa milícia. Adriano era apontado como um de seus chefes. Procurado pela Policia pelas acusações de vinculação à quadrilha, fugiu para a Bahia. Lá, foi morto por policiais em Esplanada, em fevereiro de 2020.

O senador fluminense Flávio Bolsonaro Foto: Wilton Junior/Estadão

A investigação da rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj já dura cerca de dois anos. Parou algumas vezes, por determinação da Justiça a pedido da defesa de Flávio, a cargo de Wassef. Mas a apuração sempre acabou retomada. Agora, parece chegar perto de um desfecho. O avanço da apuração, ao longo dos meses, pode explicar parte da inquietação do presidente.

Recentemente, Jair Bolsonaro repetiu uma queixa antiga, contra o que afirmou ser uma possível operação da Polícia do Rio contra seus filhos, com provas que seriam forjadas, mas nunca ocorreu. Citou-a como um dos motivos de divergência com Sérgio Moro quando este chefiava o Ministério da Justiça, porque o ex-juiz se recusou a interferir. O interesse do presidente na mudança da chefia da Polícia Federal – tanto o diretor-geral como o superintendente do Rio – estaria ligado ao interesse do presidente em investigações sobre seus filhos.

Uma das mais importantes batalhas políticas do presidente envolveu o Coaf. Bolsonaro se empenhou para tirá-lo do Ministério da Justiça e ligá-lo ao Banco Central. O órgão desde então teve atuação discreta, como parte do que parece ser uma tentativa de blindagem jurídica. O exílio de Queiroz em uma discreta casa em Atibaia só aumenta as suspeitas de que as diferentes ações teriam o mesmo objetivo.

RIO – O ressurgimento de Fábrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) preso por ordem da Justiça, abrigado em uma casa ligada ao advogado Frederick Wassef leva a crise para dentro do gabinete de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Liga politicamente à Presidência da República a negócios privados de um filho do presidente em investigação por organização criminosa, peculato (desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro. Em ocasiões passadas – 1954, 1992 –, houve curtos-circuitos semelhantes. Neles, elementos da crônica policial se conectaram à intimidade do chefe do Executivo. Corroeram as bases do governo e o levaram à queda.

Hoje, o presidente ainda está longe disso, mas, político experiente, provavelmente percebe a rápida mudança de cenário. Até então, podia-se alegar que Queiroz era um caso do passado, ocorrido no Legislativo do Rio, sem conexão direta com o Planalto. A prisão do ex-assessor em uma casa de Wassef, advogado de Flávio e amigo da família com trânsito liberado nos palácios e acesso direto ao chefe do Executivo, transformou a investigação em caso do presente. Agora, é algo do governo Bolsonaro, está em andamento e muito próximo do mandatário.

Jair Bolsonaro ocupou-se, nas últimas semanas, com disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). Para a plateia de devotos que diariamente o espera na porta do Palácio da Alvorada, fez críticas às ações da Corte nos inquéritos sobre fake news e manifestações antidemocráticas contra as instituições. Reagiu com acusações de ilegalidade e abuso contra as liberdades. Manteve o tom exaltado mesmo em relação às prisões de extremistas que ameaçaram ministros do Supremo – caso de Sara Fernanda Giromini, em prisão temporária.

O ex-assessor Fabrício Queirozapós ser preso na casa do advogado do senador Flávio Bolsonaro em Atibaia, no interior de SP, nesta quinta, 18 Foto: EFE/Sebastião Moreira

A captura de Queiroz sob proteção de Wassef – quando supostamente tentava atrapalhar as investigações – também muda esse ambiente inviabiliza esse discurso para o caso que envolve Flávio e lhe dá molho político. A apuração, iniciada antes das eleições presidenciais, mostrou indícios de rachadinha com os salários dos assessores de Flávio, na época deputado estadual. As suspeitas foram apontadas tecnicamente em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na Operação Furna da Onça, sobre corrupção na Casa. Nele, destacaram-se movimentações atípicas de servidores. Um deles era Queiroz, um suboficial da PM nomeado em cargo de confiança pelo parlamentar – por indicação do pai Jair.

Todo mês, em datas posteriores e próximas à do pagamento dos salários na Alerj, segundo o MP, Queiroz recebia, em sua conta, o repasse de boa parte dos vencimentos de seus colegas no gabinete de Flávio. Promotores viram na prática – que resultou em movimentação de R$ 1,2 milhão em 13 meses, incompatível com os ganhos do PM – indícios de que o dinheiro era recolhido e repassado a Flávio. Transações imobiliárias com valores estranhos ao mercado e a operação de uma franquia da rede Kopenhagen no Barra Shopping, da qual o hoje senador é sócio, reforçaram suspeitas de lavagem de dinheiro.

Também foi detectado repasse de R$ 24 mil de Queiroz para uma conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro. Na época, ela era assessora do então deputado federal Jair Bolsonaro. O presidente disse que era pagamento de uma dívida com ele, que o então assessor fizera na conta de Michele.

Queiroz e Flávio sempre negaram irregularidades. O ex-assessor alegou ganhar dinheiro por fora, com comércio de carros usados. Depois, afirmou que, sem conhecimento de Flávio, recolhia o dinheiro dos colegas para redistribuí-lo e contratar mais gente, ampliando a rede de contatos do político. O parlamentar por muito tempo repetiu que o problema era do ex-PM, não dele. Recentemente, elogiou Queiroz em vídeo. Nesta quinta, 19, reagiu à prisão do ex-assessor com um argumento antigo: o da perseguição contra o pai.

“Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje”, afirmou no Twitter. “A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”

Crimes

Há outros elementos inquietantes no Caso Queiroz. Quando ainda na PM, em 2003, ele foi acusado de envolvimento na morte de um homem, durante operação na Cidade de Deus, comunidade pobre na zona oeste carioca. Com ele, era investigado no processo um colega, Adriano da Nóbrega, que seria expulso da corporação em 2014. Durante o mandato de Flávio na Alerj, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça ocuparam cargos de confiança no gabinete de Flávio na Assembleia. Foi uma indicação de Queiroz, como ele mesmo admitiu.

Mais recentemente, “Capitão Adriano”, como era conhecido, era investigado pela Operação Intocáveis da Polícia Civil e do MP do Rio. O alvo era a milícia Escritório do Crime, que domina as comunidades da Muzema e de Rio das Pedras, na zona oeste da capital. Ronnie Lessa, um dos acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, era integrante dessa milícia. Adriano era apontado como um de seus chefes. Procurado pela Policia pelas acusações de vinculação à quadrilha, fugiu para a Bahia. Lá, foi morto por policiais em Esplanada, em fevereiro de 2020.

O senador fluminense Flávio Bolsonaro Foto: Wilton Junior/Estadão

A investigação da rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj já dura cerca de dois anos. Parou algumas vezes, por determinação da Justiça a pedido da defesa de Flávio, a cargo de Wassef. Mas a apuração sempre acabou retomada. Agora, parece chegar perto de um desfecho. O avanço da apuração, ao longo dos meses, pode explicar parte da inquietação do presidente.

Recentemente, Jair Bolsonaro repetiu uma queixa antiga, contra o que afirmou ser uma possível operação da Polícia do Rio contra seus filhos, com provas que seriam forjadas, mas nunca ocorreu. Citou-a como um dos motivos de divergência com Sérgio Moro quando este chefiava o Ministério da Justiça, porque o ex-juiz se recusou a interferir. O interesse do presidente na mudança da chefia da Polícia Federal – tanto o diretor-geral como o superintendente do Rio – estaria ligado ao interesse do presidente em investigações sobre seus filhos.

Uma das mais importantes batalhas políticas do presidente envolveu o Coaf. Bolsonaro se empenhou para tirá-lo do Ministério da Justiça e ligá-lo ao Banco Central. O órgão desde então teve atuação discreta, como parte do que parece ser uma tentativa de blindagem jurídica. O exílio de Queiroz em uma discreta casa em Atibaia só aumenta as suspeitas de que as diferentes ações teriam o mesmo objetivo.

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