A junta médica da família imperial


O quarteto da USP que examinou Dom Pedro I e suas duas mulheres no HC

Por Edison Veiga e Vitor Hugo Brandalise

Eles são cientistas brasileiros de primeira linha e estiveram diretamente envolvidos no trabalho - revelado com exclusividade pelo Estado no início da semana passada - de exumação de Dom Pedro I e de suas duas mulheres, Leopoldina e Amélia, que reescreveu detalhes da história do País. Mas, entre eles, os títulos de doutor, o jaleco branco e o vocabulário técnico dão lugar a piadas e a um tratamento todo especial: um é Pepino, o outro é Pasqua. Há ainda Burns e o Homem-Objeto.

Quando a historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel bateu na porta da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), anos atrás, em busca de especialistas que topassem examinar os restos mortais de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia, encontrou um quarteto empolgado e bem-humorado.

O responsável por esse clima agradável - garantia de boas risadas em meio à tensão de uma pesquisa tão complexa quanto essa - é o médico Paulo Hilário Saldiva, de 58 anos, chefe do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. Conhecido pelos colegas como Pepino, ele assume o apelido, a ponto de utilizá-lo até em seu endereço de e-mail. "Ele tem mesmo essa característica. Adora contar histórias, criar apelidos para as pessoas. Ao mesmo tempo, cria um ambiente de cordialidade e respeito", conta o médico radiologista Edson Amaro Jr., 43 anos, coordenador de neuroimagem funcional da instituição - batizado de Homem-Objeto por Saldiva. "O Pepino é um dos cientistas de maior produtividade do País e nos ensina que uma boa forma de trabalhar é construindo relações e cativando as pessoas."

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Um dos mais reconhecidos especialistas em doenças decorrentes de poluição no País, Saldiva é modesto ao explicar seu papel no trabalho de Valdirene. "Eles (os outros três) é que são os motores desse projeto e devem dar continuidade aos estudos. Sou apenas uma enzima, um catalisador."

A proposta para utilizar a tecnologia do maior complexo hospitalar do País - o Hospital das Clínicas, por onde passam 2 milhões de pacientes por ano - para analisar a família imperial foi recebida com entusiasmo pelo quarteto. E, a princípio, também com alguma incredulidade. "Imagina em um ambiente bem humorado assim, poderia ser uma pegadinha...", lembra o médico patologista Luiz Fernando Ferraz da Silva, de 35 anos, o mais novo da equipe. "Mas, logo no primeiro encontro com Valdirene, vimos que a pesquisa era séria e estava bem encaminhada. Percebemos a importância daquele momento, o privilégio de aparelhos de tomografia serem usados para adicionar dados à História do Brasil", afirma Ferraz da Silva, o Burns - apelido que faz referência à semelhança física com o vilão do seriado Os Simpsons.

Processo. Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia - os pacientes mais velhos que já passaram pelo Hospital das Clínicas - foram levados à instituição em três madrugadas diferentes - 20 de março, 20 de abril e 10 de agosto de 2012 -, sempre em total sigilo. "A partir da chegada dos personagens históricos, pelos portões de nosso Serviço de Verificação de Óbito (SVO), já sabíamos que seria um trabalho emocionante", relembra o médico Carlos Augusto Pasqualucci, de 60 anos, diretor do SVO e professor da Faculdade de Medicina - chamado pela turma de Pasqua. "Para mim, o grande momento veio ao analisar a ossada de Dona Leopoldina. Já era madrugada alta e eu estava indo embora, quando me chamaram, com um livro de história nas mãos. No livro, havia um retrato de Leopoldina, com um belo vestido. Olhei a imagem do tomógrafo e o que vi me emocionou: todos os detalhes, os ornamentos do vestido, estavam ali. Foi como unir ciência e história, algo que não acontece todo dia."

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Amaro também guarda um sentimento especial por todo o processo. "No início, admito que tinha receio de que não houvesse possibilidades técnicas para conseguirmos realizar esse trabalho", diz. "Depois, quando percebemos que seria possível, fiquei emocionado por ver tanta gente boa reunida com o mesmo propósito."

Engana-se quem pensa que o trabalho do quarteto se encerrou com a conclusão do mestrado de Valdirene. Todos os médicos ressaltam que os resultados são parciais. As imagens captadas pelos aparelhos do hospital ainda seguem sendo analisadas por eles e suas equipes. E o estudo serviu de "piloto" a projeto de "autópsias virtuais" da Faculdade de Medicina. "A ideia é tornar constantes esses tipos de exame", afirma Pasqualucci, explicando que, dessa forma, o trabalho do SVO pode se tornar menos agressivo. "E quem sabe não analisaremos outros personagens históricos?", vislumbra Saldiva.

Eles são cientistas brasileiros de primeira linha e estiveram diretamente envolvidos no trabalho - revelado com exclusividade pelo Estado no início da semana passada - de exumação de Dom Pedro I e de suas duas mulheres, Leopoldina e Amélia, que reescreveu detalhes da história do País. Mas, entre eles, os títulos de doutor, o jaleco branco e o vocabulário técnico dão lugar a piadas e a um tratamento todo especial: um é Pepino, o outro é Pasqua. Há ainda Burns e o Homem-Objeto.

Quando a historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel bateu na porta da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), anos atrás, em busca de especialistas que topassem examinar os restos mortais de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia, encontrou um quarteto empolgado e bem-humorado.

O responsável por esse clima agradável - garantia de boas risadas em meio à tensão de uma pesquisa tão complexa quanto essa - é o médico Paulo Hilário Saldiva, de 58 anos, chefe do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. Conhecido pelos colegas como Pepino, ele assume o apelido, a ponto de utilizá-lo até em seu endereço de e-mail. "Ele tem mesmo essa característica. Adora contar histórias, criar apelidos para as pessoas. Ao mesmo tempo, cria um ambiente de cordialidade e respeito", conta o médico radiologista Edson Amaro Jr., 43 anos, coordenador de neuroimagem funcional da instituição - batizado de Homem-Objeto por Saldiva. "O Pepino é um dos cientistas de maior produtividade do País e nos ensina que uma boa forma de trabalhar é construindo relações e cativando as pessoas."

Um dos mais reconhecidos especialistas em doenças decorrentes de poluição no País, Saldiva é modesto ao explicar seu papel no trabalho de Valdirene. "Eles (os outros três) é que são os motores desse projeto e devem dar continuidade aos estudos. Sou apenas uma enzima, um catalisador."

A proposta para utilizar a tecnologia do maior complexo hospitalar do País - o Hospital das Clínicas, por onde passam 2 milhões de pacientes por ano - para analisar a família imperial foi recebida com entusiasmo pelo quarteto. E, a princípio, também com alguma incredulidade. "Imagina em um ambiente bem humorado assim, poderia ser uma pegadinha...", lembra o médico patologista Luiz Fernando Ferraz da Silva, de 35 anos, o mais novo da equipe. "Mas, logo no primeiro encontro com Valdirene, vimos que a pesquisa era séria e estava bem encaminhada. Percebemos a importância daquele momento, o privilégio de aparelhos de tomografia serem usados para adicionar dados à História do Brasil", afirma Ferraz da Silva, o Burns - apelido que faz referência à semelhança física com o vilão do seriado Os Simpsons.

Processo. Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia - os pacientes mais velhos que já passaram pelo Hospital das Clínicas - foram levados à instituição em três madrugadas diferentes - 20 de março, 20 de abril e 10 de agosto de 2012 -, sempre em total sigilo. "A partir da chegada dos personagens históricos, pelos portões de nosso Serviço de Verificação de Óbito (SVO), já sabíamos que seria um trabalho emocionante", relembra o médico Carlos Augusto Pasqualucci, de 60 anos, diretor do SVO e professor da Faculdade de Medicina - chamado pela turma de Pasqua. "Para mim, o grande momento veio ao analisar a ossada de Dona Leopoldina. Já era madrugada alta e eu estava indo embora, quando me chamaram, com um livro de história nas mãos. No livro, havia um retrato de Leopoldina, com um belo vestido. Olhei a imagem do tomógrafo e o que vi me emocionou: todos os detalhes, os ornamentos do vestido, estavam ali. Foi como unir ciência e história, algo que não acontece todo dia."

Amaro também guarda um sentimento especial por todo o processo. "No início, admito que tinha receio de que não houvesse possibilidades técnicas para conseguirmos realizar esse trabalho", diz. "Depois, quando percebemos que seria possível, fiquei emocionado por ver tanta gente boa reunida com o mesmo propósito."

Engana-se quem pensa que o trabalho do quarteto se encerrou com a conclusão do mestrado de Valdirene. Todos os médicos ressaltam que os resultados são parciais. As imagens captadas pelos aparelhos do hospital ainda seguem sendo analisadas por eles e suas equipes. E o estudo serviu de "piloto" a projeto de "autópsias virtuais" da Faculdade de Medicina. "A ideia é tornar constantes esses tipos de exame", afirma Pasqualucci, explicando que, dessa forma, o trabalho do SVO pode se tornar menos agressivo. "E quem sabe não analisaremos outros personagens históricos?", vislumbra Saldiva.

Eles são cientistas brasileiros de primeira linha e estiveram diretamente envolvidos no trabalho - revelado com exclusividade pelo Estado no início da semana passada - de exumação de Dom Pedro I e de suas duas mulheres, Leopoldina e Amélia, que reescreveu detalhes da história do País. Mas, entre eles, os títulos de doutor, o jaleco branco e o vocabulário técnico dão lugar a piadas e a um tratamento todo especial: um é Pepino, o outro é Pasqua. Há ainda Burns e o Homem-Objeto.

Quando a historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel bateu na porta da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), anos atrás, em busca de especialistas que topassem examinar os restos mortais de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia, encontrou um quarteto empolgado e bem-humorado.

O responsável por esse clima agradável - garantia de boas risadas em meio à tensão de uma pesquisa tão complexa quanto essa - é o médico Paulo Hilário Saldiva, de 58 anos, chefe do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. Conhecido pelos colegas como Pepino, ele assume o apelido, a ponto de utilizá-lo até em seu endereço de e-mail. "Ele tem mesmo essa característica. Adora contar histórias, criar apelidos para as pessoas. Ao mesmo tempo, cria um ambiente de cordialidade e respeito", conta o médico radiologista Edson Amaro Jr., 43 anos, coordenador de neuroimagem funcional da instituição - batizado de Homem-Objeto por Saldiva. "O Pepino é um dos cientistas de maior produtividade do País e nos ensina que uma boa forma de trabalhar é construindo relações e cativando as pessoas."

Um dos mais reconhecidos especialistas em doenças decorrentes de poluição no País, Saldiva é modesto ao explicar seu papel no trabalho de Valdirene. "Eles (os outros três) é que são os motores desse projeto e devem dar continuidade aos estudos. Sou apenas uma enzima, um catalisador."

A proposta para utilizar a tecnologia do maior complexo hospitalar do País - o Hospital das Clínicas, por onde passam 2 milhões de pacientes por ano - para analisar a família imperial foi recebida com entusiasmo pelo quarteto. E, a princípio, também com alguma incredulidade. "Imagina em um ambiente bem humorado assim, poderia ser uma pegadinha...", lembra o médico patologista Luiz Fernando Ferraz da Silva, de 35 anos, o mais novo da equipe. "Mas, logo no primeiro encontro com Valdirene, vimos que a pesquisa era séria e estava bem encaminhada. Percebemos a importância daquele momento, o privilégio de aparelhos de tomografia serem usados para adicionar dados à História do Brasil", afirma Ferraz da Silva, o Burns - apelido que faz referência à semelhança física com o vilão do seriado Os Simpsons.

Processo. Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia - os pacientes mais velhos que já passaram pelo Hospital das Clínicas - foram levados à instituição em três madrugadas diferentes - 20 de março, 20 de abril e 10 de agosto de 2012 -, sempre em total sigilo. "A partir da chegada dos personagens históricos, pelos portões de nosso Serviço de Verificação de Óbito (SVO), já sabíamos que seria um trabalho emocionante", relembra o médico Carlos Augusto Pasqualucci, de 60 anos, diretor do SVO e professor da Faculdade de Medicina - chamado pela turma de Pasqua. "Para mim, o grande momento veio ao analisar a ossada de Dona Leopoldina. Já era madrugada alta e eu estava indo embora, quando me chamaram, com um livro de história nas mãos. No livro, havia um retrato de Leopoldina, com um belo vestido. Olhei a imagem do tomógrafo e o que vi me emocionou: todos os detalhes, os ornamentos do vestido, estavam ali. Foi como unir ciência e história, algo que não acontece todo dia."

Amaro também guarda um sentimento especial por todo o processo. "No início, admito que tinha receio de que não houvesse possibilidades técnicas para conseguirmos realizar esse trabalho", diz. "Depois, quando percebemos que seria possível, fiquei emocionado por ver tanta gente boa reunida com o mesmo propósito."

Engana-se quem pensa que o trabalho do quarteto se encerrou com a conclusão do mestrado de Valdirene. Todos os médicos ressaltam que os resultados são parciais. As imagens captadas pelos aparelhos do hospital ainda seguem sendo analisadas por eles e suas equipes. E o estudo serviu de "piloto" a projeto de "autópsias virtuais" da Faculdade de Medicina. "A ideia é tornar constantes esses tipos de exame", afirma Pasqualucci, explicando que, dessa forma, o trabalho do SVO pode se tornar menos agressivo. "E quem sabe não analisaremos outros personagens históricos?", vislumbra Saldiva.

Eles são cientistas brasileiros de primeira linha e estiveram diretamente envolvidos no trabalho - revelado com exclusividade pelo Estado no início da semana passada - de exumação de Dom Pedro I e de suas duas mulheres, Leopoldina e Amélia, que reescreveu detalhes da história do País. Mas, entre eles, os títulos de doutor, o jaleco branco e o vocabulário técnico dão lugar a piadas e a um tratamento todo especial: um é Pepino, o outro é Pasqua. Há ainda Burns e o Homem-Objeto.

Quando a historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel bateu na porta da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), anos atrás, em busca de especialistas que topassem examinar os restos mortais de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia, encontrou um quarteto empolgado e bem-humorado.

O responsável por esse clima agradável - garantia de boas risadas em meio à tensão de uma pesquisa tão complexa quanto essa - é o médico Paulo Hilário Saldiva, de 58 anos, chefe do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. Conhecido pelos colegas como Pepino, ele assume o apelido, a ponto de utilizá-lo até em seu endereço de e-mail. "Ele tem mesmo essa característica. Adora contar histórias, criar apelidos para as pessoas. Ao mesmo tempo, cria um ambiente de cordialidade e respeito", conta o médico radiologista Edson Amaro Jr., 43 anos, coordenador de neuroimagem funcional da instituição - batizado de Homem-Objeto por Saldiva. "O Pepino é um dos cientistas de maior produtividade do País e nos ensina que uma boa forma de trabalhar é construindo relações e cativando as pessoas."

Um dos mais reconhecidos especialistas em doenças decorrentes de poluição no País, Saldiva é modesto ao explicar seu papel no trabalho de Valdirene. "Eles (os outros três) é que são os motores desse projeto e devem dar continuidade aos estudos. Sou apenas uma enzima, um catalisador."

A proposta para utilizar a tecnologia do maior complexo hospitalar do País - o Hospital das Clínicas, por onde passam 2 milhões de pacientes por ano - para analisar a família imperial foi recebida com entusiasmo pelo quarteto. E, a princípio, também com alguma incredulidade. "Imagina em um ambiente bem humorado assim, poderia ser uma pegadinha...", lembra o médico patologista Luiz Fernando Ferraz da Silva, de 35 anos, o mais novo da equipe. "Mas, logo no primeiro encontro com Valdirene, vimos que a pesquisa era séria e estava bem encaminhada. Percebemos a importância daquele momento, o privilégio de aparelhos de tomografia serem usados para adicionar dados à História do Brasil", afirma Ferraz da Silva, o Burns - apelido que faz referência à semelhança física com o vilão do seriado Os Simpsons.

Processo. Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia - os pacientes mais velhos que já passaram pelo Hospital das Clínicas - foram levados à instituição em três madrugadas diferentes - 20 de março, 20 de abril e 10 de agosto de 2012 -, sempre em total sigilo. "A partir da chegada dos personagens históricos, pelos portões de nosso Serviço de Verificação de Óbito (SVO), já sabíamos que seria um trabalho emocionante", relembra o médico Carlos Augusto Pasqualucci, de 60 anos, diretor do SVO e professor da Faculdade de Medicina - chamado pela turma de Pasqua. "Para mim, o grande momento veio ao analisar a ossada de Dona Leopoldina. Já era madrugada alta e eu estava indo embora, quando me chamaram, com um livro de história nas mãos. No livro, havia um retrato de Leopoldina, com um belo vestido. Olhei a imagem do tomógrafo e o que vi me emocionou: todos os detalhes, os ornamentos do vestido, estavam ali. Foi como unir ciência e história, algo que não acontece todo dia."

Amaro também guarda um sentimento especial por todo o processo. "No início, admito que tinha receio de que não houvesse possibilidades técnicas para conseguirmos realizar esse trabalho", diz. "Depois, quando percebemos que seria possível, fiquei emocionado por ver tanta gente boa reunida com o mesmo propósito."

Engana-se quem pensa que o trabalho do quarteto se encerrou com a conclusão do mestrado de Valdirene. Todos os médicos ressaltam que os resultados são parciais. As imagens captadas pelos aparelhos do hospital ainda seguem sendo analisadas por eles e suas equipes. E o estudo serviu de "piloto" a projeto de "autópsias virtuais" da Faculdade de Medicina. "A ideia é tornar constantes esses tipos de exame", afirma Pasqualucci, explicando que, dessa forma, o trabalho do SVO pode se tornar menos agressivo. "E quem sabe não analisaremos outros personagens históricos?", vislumbra Saldiva.

Eles são cientistas brasileiros de primeira linha e estiveram diretamente envolvidos no trabalho - revelado com exclusividade pelo Estado no início da semana passada - de exumação de Dom Pedro I e de suas duas mulheres, Leopoldina e Amélia, que reescreveu detalhes da história do País. Mas, entre eles, os títulos de doutor, o jaleco branco e o vocabulário técnico dão lugar a piadas e a um tratamento todo especial: um é Pepino, o outro é Pasqua. Há ainda Burns e o Homem-Objeto.

Quando a historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel bateu na porta da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), anos atrás, em busca de especialistas que topassem examinar os restos mortais de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia, encontrou um quarteto empolgado e bem-humorado.

O responsável por esse clima agradável - garantia de boas risadas em meio à tensão de uma pesquisa tão complexa quanto essa - é o médico Paulo Hilário Saldiva, de 58 anos, chefe do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. Conhecido pelos colegas como Pepino, ele assume o apelido, a ponto de utilizá-lo até em seu endereço de e-mail. "Ele tem mesmo essa característica. Adora contar histórias, criar apelidos para as pessoas. Ao mesmo tempo, cria um ambiente de cordialidade e respeito", conta o médico radiologista Edson Amaro Jr., 43 anos, coordenador de neuroimagem funcional da instituição - batizado de Homem-Objeto por Saldiva. "O Pepino é um dos cientistas de maior produtividade do País e nos ensina que uma boa forma de trabalhar é construindo relações e cativando as pessoas."

Um dos mais reconhecidos especialistas em doenças decorrentes de poluição no País, Saldiva é modesto ao explicar seu papel no trabalho de Valdirene. "Eles (os outros três) é que são os motores desse projeto e devem dar continuidade aos estudos. Sou apenas uma enzima, um catalisador."

A proposta para utilizar a tecnologia do maior complexo hospitalar do País - o Hospital das Clínicas, por onde passam 2 milhões de pacientes por ano - para analisar a família imperial foi recebida com entusiasmo pelo quarteto. E, a princípio, também com alguma incredulidade. "Imagina em um ambiente bem humorado assim, poderia ser uma pegadinha...", lembra o médico patologista Luiz Fernando Ferraz da Silva, de 35 anos, o mais novo da equipe. "Mas, logo no primeiro encontro com Valdirene, vimos que a pesquisa era séria e estava bem encaminhada. Percebemos a importância daquele momento, o privilégio de aparelhos de tomografia serem usados para adicionar dados à História do Brasil", afirma Ferraz da Silva, o Burns - apelido que faz referência à semelhança física com o vilão do seriado Os Simpsons.

Processo. Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia - os pacientes mais velhos que já passaram pelo Hospital das Clínicas - foram levados à instituição em três madrugadas diferentes - 20 de março, 20 de abril e 10 de agosto de 2012 -, sempre em total sigilo. "A partir da chegada dos personagens históricos, pelos portões de nosso Serviço de Verificação de Óbito (SVO), já sabíamos que seria um trabalho emocionante", relembra o médico Carlos Augusto Pasqualucci, de 60 anos, diretor do SVO e professor da Faculdade de Medicina - chamado pela turma de Pasqua. "Para mim, o grande momento veio ao analisar a ossada de Dona Leopoldina. Já era madrugada alta e eu estava indo embora, quando me chamaram, com um livro de história nas mãos. No livro, havia um retrato de Leopoldina, com um belo vestido. Olhei a imagem do tomógrafo e o que vi me emocionou: todos os detalhes, os ornamentos do vestido, estavam ali. Foi como unir ciência e história, algo que não acontece todo dia."

Amaro também guarda um sentimento especial por todo o processo. "No início, admito que tinha receio de que não houvesse possibilidades técnicas para conseguirmos realizar esse trabalho", diz. "Depois, quando percebemos que seria possível, fiquei emocionado por ver tanta gente boa reunida com o mesmo propósito."

Engana-se quem pensa que o trabalho do quarteto se encerrou com a conclusão do mestrado de Valdirene. Todos os médicos ressaltam que os resultados são parciais. As imagens captadas pelos aparelhos do hospital ainda seguem sendo analisadas por eles e suas equipes. E o estudo serviu de "piloto" a projeto de "autópsias virtuais" da Faculdade de Medicina. "A ideia é tornar constantes esses tipos de exame", afirma Pasqualucci, explicando que, dessa forma, o trabalho do SVO pode se tornar menos agressivo. "E quem sabe não analisaremos outros personagens históricos?", vislumbra Saldiva.

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