LISBOA - A comissão independente que investiga os abusos sexuais na Igreja Católica de Portugal validou 112 testemunhos de vítimas em seu relatório final, em que é estimado um número mínimo que supera as 4,8 mil, conforme disse nesta segunda-feira, 13, o coordenador do grupo, Pedro Strecht. “Não é possível quantificar o total de crimes”, disse o psicólogo, que garantiu que a maioria das vítimas foi abusada por mais de uma vez, de acordo com as conclusões da apuração feita pela comissão sobre os casos ocorridos na Igreja Católica nos últimos 70 anos em Portugal.
Do total de denúncias recebidas, o grupo encaminhou à Justiça apenas 25, porque a maioria já prescreveu, embora esteja sendo preparada uma lista de abusadores que ainda estão na ativa. A maioria dos autores dos abusos era do sexo masculino, em um total de 96%, e padres, em torno de 70%.
Os abusos aconteceram em seminários, centros de acolhimentos, escolas ou instituições esportivas. A média de idade das vítimas era de pouco mais de 11 anos, com a maioria tendo em torno de 52 atualmente.
Os crimes ocorreram em todo o país, com maior incidência em Lisboa, Porto e Braga. A comissão cobrou ações da Justiça local e pediu acompanhamento psicológico para as vítimas e a suspensão da prescrição dos crimes, que é de 30 anos.
O grupo foi criado pela Conferência Episcopal Portuguesa no fim de 2021, sendo composta por seis especialistas, Strecht, que é psicólogo infantil, além de psiquiatras, um ex-ministro da Justiça e até um cineasta.
Reação
“Queremos que seja o início de um novo começo”, disse d. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal de Portugal (CEP), depois de assistir à apresentação da investigação sobre as quase 5 mil vítimas. “É uma situação dramática que vivemos, não é fácil ultrapassá-la”, admitiu o bispo de Leiria-Fátima.