Eram 6h30 da manhã desta quarta-feira quando as filas de check-in já começavam a crescer nos balcões de todas as empresas aéreas no Aeroporto de Congonhas, na zona Sul da capital. A maioria dos passageiros pertence ao montante que ficou impedido de viajar desde as 19h de terça-feira, por causa do cancelamentos dos vôos após duas panes no sistema de comunicação via rádio do Cindacta-1, em Brasília. Apesar do sistema de comunicação já estar em ordem, a tendência é de que a confusão volte a se formar em Congonhas por causa do acúmulo formado por estes passageiros que deveriam ter embarcado e tiveram seus vôos remarcados para a manhã desta quarta. No aeroporto internacional Antonio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, a madrugada foi muito parecida com a de Congonhas. Passageiros que não foram para os hotéis dormiram nas cadeiras e no chão do saguão do aeroporto. A irritação entre a maior parte dos passageiros ocorre por conta da falta e desencontro de informações. A exemplo de Congonhas, no Tom Jobim também já havia acúmulo de passageiros nas filas de check-in. As situação no Aeroporto Santos Dumont, também no Rio, e no internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos, era mais tranqüila. Quadro bastante diferente da noite de terça-feira, quando uma pane nos equipamentos de rádio que fazem a comunicação entre o Cindacta-1, de Brasília, e os aviões monitorados por esse setor provocou o maior apagão no tráfego aéreo do País, obrigando a suspensão de todos os vôos controlados por Brasília por mais de seis horas, afetando principalmente São Paulo e Minas. Sabotagem e atrasos generalizados Houve suspeita de sabotagem, mas a Polícia Federal foi acionada e descartou a possibilidade. Essa é a primeira vez, desde que o Cindacta foi criado, há mais de 20 anos, que ocorre uma pane com essa dimensão. ?Nunca houve um dia como este na aviação civil brasileira?, disse o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. Congonhas foi um dos mais afetados. ?É o caos do caos?, desabafou outro dos diretores da Anac, Leur Lomanto, após reunião com representantes do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea). De acordo com o comandante do Cindacta-1, coronel Carlos Aquino, ocorreram duas panes no sistema ao longo do dia. A primeira, parcial, entre 9h e 10h, quando apenas 13 das 20 freqüências de rádio que fazem as comunicações estavam funcionando. A segunda pane foi à tarde, entre 13h e 16h, quando, depois de três horas totalmente paralisadas, as operações foram retomadas. Segundo o coronel, nesse período as 20 freqüências do controle ficaram inoperantes, impossibilitando as comunicações entre o centro de controle aéreo de Brasília e todos os aviões que seriam monitorados por Brasília, o que levou à suspensão dos pousos e decolagens. A Anac divulgou que houve 350 atrasos em vôos só entre meia-noite e as 17 horas. A crise provocou uma reunião de emergência, convocada no fim da noite no Palácio do Planalto, com a participação do alto escalão da Aeronáutica e do ministro da Defesa, Waldir Pires. De acordo com a Anac, apenas a ponte aérea Rio-São Paulo, cujo controle de vôo não está subordinado ao Cindacta-1, e vôos regionais da Região Sul não sofreram prejuízos com a pane. Mas a ponte aérea teve de estender o horário de funcionamento para a madrugada, em virtude da dificuldade de operação em Congonhas. Os vôos para Brasília, por exemplo, só foram liberados à meia-noite. Lula manda comprar aparelho extra O presidente Luiz Inácio da Lula determinou que um equipamento semelhante ao existente no Cindacta-1, em Brasília, que controla a maior parte do espaço aéreo do País, seja comprado para ser instalado no aeroporto de São Paulo para que, quando houver uma nova falha o sistema de reserva seja acionado para substituir o principal. A decisão do presidente foi comunicada em uma reunião de emergência para a qual ele convocou os ministros da Defesa, Waldir Pires, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Milton Zuanazzi. Ao sair da reunião, Pires e Bueno atribuíram os problemas registrados no Cindacta-1 a panes no sistema de comunicação, descartando a possibilidade de sabotagem no sistema.