A fragmentação do setor de papel e celulose e o atual cenário econômico impactado pela crise na zona do euro poderiam levar a uma rodada de consolidação do setor, porém, o alto nível de alavancagem de grande parte das empresas limita as possibilidades. "As grandes empresas estão com níveis de alavancagem altos. Então, não estão com caixa para simplesmente fazer ofertas por empresas menores", avalia o analista Victor Penna, do BB Investimentos. O analista William Alves, da XP Investimentos, considera que a consolidação sempre é possível, mas também não vê espaço para aquisições no curto prazo. "No momento da dificuldade, é normal que (as empresas) tentem se consolidar. Mas não vejo espaço para elas saírem comprando porque estão alavancadas", afirmou. No segundo trimestre, a Fibria registrou uma relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 4,7 vezes. Já a Suzano registrou uma relação de 4,5 vezes, e a Klabin teve o melhor resultado, de 2,5 vezes. PARCERIAS Para Penna, do BB Investimentos, o cenário de crise econômica, com queda nas exportações para mercados importantes como a Europa, deixa as empresas menores mais vulneráveis a ofertas de compra, mas com o alto endividamento das grandes companhias é mais provável que ocorram parcerias, e não aquisições e fusões entre empresas. "Acredito que parcerias seriam uma opção no mercado do jeito que está." Mas para o analista, esses movimentos não devem ocorrer ainda em 2012. "Ainda neste ano a gente não deve observar medidas neste sentido, porque a entrada de novas fábricas deve mexer com o mercado. Um movimento (de parcerias) deve ocorrer mais no ano que vem." Embora não se arrisque a dar um palpite sobre quais empresas poderiam anunciar parcerias, Penna considera que essas transações deverão ocorrer de forma regional, entre companhias brasileiras e outras latino-americanas. A analista Cássia Inês Silva Pontes, da Lopes Filho, também acredita que parcerias serão a solução que as empresas do setor irão buscar no atual cenário. "Desde 2008 investimentos foram postergados e as empresas brasileiras avaliam se dá para fazer esses investimentos. Vai ser um momento de buscar parcerias... Acho que as empresas estão olhando a dinâmica do mercado para ver se há condições de seguir com projetos sozinhas ou por meio de parcerias", disse Cássia. Algumas empresas mantiveram seus projetos que já haviam sido iniciados --como a Suzano, que deverá iniciar operações na fábrica no Maranhão em 2013, e a Eldorado, que deve inaugurar sua fábrica de celulose no Mato Grosso do Sul ainda neste ano. Por outro lado, há empresas que ainda avaliam o cenário para dar prosseguimento a projetos, como é o caso da Fibria: o presidente da maior produtora mundial de celulose de eucalipto, Marcelo Castelli, descartou apresentar o projeto de expansão da unidade de Três Lagoas (MS) ao Conselho de Administração ainda neste ano, devido ao ambiente econômico. Durante evento no fim de agosto, o presidente da Fibria afirmou que a consolidação na indústria de papel e celulose é uma questão de tempo. Na mesma ocasião, o diretor comercial e de logística da Eldorado, Reginaldo Gomes, disse, na mesma linha, que um setor fragmentado é incompatível com uma indústria de capital intensivo.