Análise: Nafta e abertura política fortaleceram tráfico no México


País é cenário de onda de violência relacionada ao tráfico de cocaína.

Por Mónica Serrano

Há cerca de dois anos, a cidade de Uruapan, no Estado mexicano de Michoacán, ganhou as manchetes dos jornais do país. A razão não foram chuvas torrenciais ou o impacto de um terremoto, mas um incidente macabro acontecido em um bar chamado Sol y Sombra. De maneira um tanto inesperada, as cabeças de cinco homens decapitados foram lançadas na pista de dança do local. Até esta noite, o bar, que fica na estrada Uruapan-Pátzcuaro, no subúrbio de Bela Vista, era conhecido por oferecer serviços de dança e costumava ficar cheio. Mas o cenário mudou. Michoacán, assim como seu vizinho, Guerrero, passaram a ser então conhecidos como Estados marcados pela violência associada ao narcotráfico. Por décadas, os dois Estados estiveram na geografia do comércio de drogas ilícitas do México. Mas o pior período nos dois lugares começou com o desvio das rotas de cocaína internacionais para o território mexicano, principalmente para a costa do Oceano Pacífico. Tanto Michoacán quanto Guerrero possuem uma extensa costa ao longo do Pacífico. No limite ente os dois territórios está o porto mexicano de Lázaro Cárdenas, o mais dinâmico da costa do Pacífico mexicano. Este é um ponto de entrada e saída de mercadorias com um movimento cada vez mais intenso e que em apenas uma década saltou de um montante de 4,5 mil contêineres por ano para 197 mil. Mas é só transitar pelas estradas de ambos Estados para que o viajante encontre alguns dos símbolos do boom de uma economia ilícita cada vez mais violenta. Ao longo das estradas, próximo às entradas das cidades, há discotecas, lojas de carros usados que aparecem e desaparecem como mágica, motéis que anunciam quartos que podem ser alugados por três horas por US$ 10 ou US$ 15 e, obviamente, serviços funerários que funcionam 24h por dia. No México, assim como em outros países, o tráfico de drogas é uma das muitas atividades que formam a economia ilegal. Muitos dos produtos e serviços oferecidos são ilegais, tanto pela natureza do negócio quanto pelos métodos que são usados neste comércio. Há também uma boa dose de consentimento oficial a estas atividades. Mas o tráfico de drogas é muito mais que apenas mais um setor da economia ilícita. Na verdade, o tráfico é um sócio em muitas destas atividades e um agente multiplicador de áreas para a impunidade. A era da cocaína A história do tráfico de drogas no México passa por duas grandes etapas. O primeiro começou com a legislação que proibiu o consumo, a venda e produção de narcóticos nos EUA e sua posterior adoção pelo México, no início do século passado. A legislação nos EUA ofereceu uma janela de oportunidade para aqueles que estavam dispostos a lucrar com as vendas de álcool e narcóticos do outro lado da fronteira. O marco legal promoveu uma repentina escalada no número de turistas que cruzavam a fronteira com o México em busca destas substâncias. Em 1919, 14 mil turistas cruzaram a fronteira, no ano seguinte o número subiu para 420 mil. O crescimento criou as bases da economia ilegal no país. Da década de 1920 até final dos anos 1950, surge assim uma pequena - e relativamente pacífica - economia ilícita, organizada em volta do cultivo e tráfico de maconha e heroína. Mas, no final dos anos 1970 e início dos 1980, nasce uma nova economia ilícita organizada em volta do tráfico de cocaína. O desvio para o México de 60% do pó branco destinado aos EUA marcou o início de um outro estágio, assim como o surgimento de uma vigorosa e cada vez mais violenta economia de transporte de cocaína e de outros serviços associados a ela. Há, talvez, duas explicações mais comuns à repentina explosão do tráfico de drogas no México. A primeira é a operação militar conhecida como "Hat Tricks", com a qual Washington tentou retirar a Flórida do comércio de cocaína. O resultado foi a mudança deste comércio do Estado americano para o México. O segundo ponto é a abertura de oportunidades para o transporte de mercadorias ilícitas como resultado do Nafta, tratado de livre-comércio entre o México, EUA e Canadá, que começou a vigorar em 1994. Terra de oportunidades? No México, como em muitos outros países em desenvolvimento, a presença de mão de obra barata, a disponibilidade de terras a preços baixos e a aplicação intermitente da lei ofereceu, durante décadas, vantagens à produção e comércio de maconha e ópio. Entretanto, a participação do México - assim como a da Colômbia e da Nigéria - no circuito internacional de drogas ilícitas também é resultado de três variáveis fundamentais: a geografia, uma longa tradição de contrabando e a relativa fraqueza da autoridade central. No final da década de 1980 as áreas tradicionais de cultivo de drogas ainda estavam em uso - mas a partir daí, começou a mudar a antiga geografia do mercado e os cartéis começaram a dividir o país e a repartir seu território. Sob estas novas condições, a já reduzida capacidade do Estado de fazer com que a lei fosse cumprida ficou ainda mais cerceada. Outro fator foi a escassez de oportunidades econômicas. A pressão da crise econômica dos anos 1980 e a fraqueza da economia criaram um grande setor da população sem empregos fixos. Nos anos 1990, a entrada em vigor do Nafta parecia abrir um novo caminho para a recuperação, mas, depois de mais de uma década, é sabido que o acordo não foi capaz de promover um crescimento econômico significativo ou aumento nos empregos. Nestas condições, o desemprego criou um grande setor informal e uma reserva de mão de obra para a economia ilícita de serviços ligados ao tráfico de cocaína. Em outras palavras, a participação da população nas atividades ilegais não só aumentou de maneira gradual, mas também se diversificou. Se em décadas anteriores o traço mais característico desta participação era a presença de camponeses em áreas de cultivo de drogas em Estados produtores - estimada em 1965 em torno de 200 e 300 mil pessoas -, na década de 1980 a economia ilícita não só incorporou novas atividades, como passou a precisar do talento e da habilidade de profissionais e empresários. Procura de profissionais A nova, animada e diversificada economia ilícita dos anos 1990 - com suas ramificações na indústria de roubo de automóveis, prostituição e tráfico de pessoas, seqüestros e outras atividades - também contava com a participação de transportadores, carregadores, secretárias, contadores, administradores, pilotos, advogados e assessores financeiros. No início do século 20, a estas profissões se juntaram vigilantes, assassinos de aluguel e exércitos particulares que hoje tomam as manchetes dos principais jornais diários do México. Mudança de cenário Há menos de quatro décadas, México e Turquia eram anunciados como histórias de sucesso entre países em desenvolvimento. Apesar de terem tomado caminhos diferentes, no início dos anos 1970, os dois países conseguiram reduzir e controlar suas economias ilegais. Segundo vários pesquisadores, este sucesso era fruto de três fatores principais. Nos dois países, a erradicação e o controle da produção de drogas foi alcançada em um contexto em que o Estado mantinha o monopólio da violência e exercia também uma sólida autoridade central aliada à relativa independência e saúde econômica. Mas o cenário no México é completamente diferente hoje. Qualquer um que ler as manchetes dos jornais dos últimos três anos pode se perguntar se o Estado tem o real monopólio da violência. A abertura política trouxe consigo o enfraquecimento do poder Executivo, que até então era uma peça-chave da autoridade do Estado. A fraca economia das últimas três décadas também não contribuiu para oferecer mais oportunidades de emprego, o que explica o fato de tantos mexicanos terem procurado trabalho na economia ilícita. Limitações, dificuldades e incertezas. O resultado é tráfico de drogas, violência e mortes. Para onde quer que se olhe, o cenário é aterrador. Mónica Serrano é professora do Centro de Estudos Internacionais do Colégio do México e pesquisadora associada do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Oxford. Ela escreve sobre política mexicana, crime internacional e relações internacionais da América Latina. Durante toda esta semana a BBC Brasil estará publicando reportagens especiais sobre o combate ao narcotráfico no México. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Há cerca de dois anos, a cidade de Uruapan, no Estado mexicano de Michoacán, ganhou as manchetes dos jornais do país. A razão não foram chuvas torrenciais ou o impacto de um terremoto, mas um incidente macabro acontecido em um bar chamado Sol y Sombra. De maneira um tanto inesperada, as cabeças de cinco homens decapitados foram lançadas na pista de dança do local. Até esta noite, o bar, que fica na estrada Uruapan-Pátzcuaro, no subúrbio de Bela Vista, era conhecido por oferecer serviços de dança e costumava ficar cheio. Mas o cenário mudou. Michoacán, assim como seu vizinho, Guerrero, passaram a ser então conhecidos como Estados marcados pela violência associada ao narcotráfico. Por décadas, os dois Estados estiveram na geografia do comércio de drogas ilícitas do México. Mas o pior período nos dois lugares começou com o desvio das rotas de cocaína internacionais para o território mexicano, principalmente para a costa do Oceano Pacífico. Tanto Michoacán quanto Guerrero possuem uma extensa costa ao longo do Pacífico. No limite ente os dois territórios está o porto mexicano de Lázaro Cárdenas, o mais dinâmico da costa do Pacífico mexicano. Este é um ponto de entrada e saída de mercadorias com um movimento cada vez mais intenso e que em apenas uma década saltou de um montante de 4,5 mil contêineres por ano para 197 mil. Mas é só transitar pelas estradas de ambos Estados para que o viajante encontre alguns dos símbolos do boom de uma economia ilícita cada vez mais violenta. Ao longo das estradas, próximo às entradas das cidades, há discotecas, lojas de carros usados que aparecem e desaparecem como mágica, motéis que anunciam quartos que podem ser alugados por três horas por US$ 10 ou US$ 15 e, obviamente, serviços funerários que funcionam 24h por dia. No México, assim como em outros países, o tráfico de drogas é uma das muitas atividades que formam a economia ilegal. Muitos dos produtos e serviços oferecidos são ilegais, tanto pela natureza do negócio quanto pelos métodos que são usados neste comércio. Há também uma boa dose de consentimento oficial a estas atividades. Mas o tráfico de drogas é muito mais que apenas mais um setor da economia ilícita. Na verdade, o tráfico é um sócio em muitas destas atividades e um agente multiplicador de áreas para a impunidade. A era da cocaína A história do tráfico de drogas no México passa por duas grandes etapas. O primeiro começou com a legislação que proibiu o consumo, a venda e produção de narcóticos nos EUA e sua posterior adoção pelo México, no início do século passado. A legislação nos EUA ofereceu uma janela de oportunidade para aqueles que estavam dispostos a lucrar com as vendas de álcool e narcóticos do outro lado da fronteira. O marco legal promoveu uma repentina escalada no número de turistas que cruzavam a fronteira com o México em busca destas substâncias. Em 1919, 14 mil turistas cruzaram a fronteira, no ano seguinte o número subiu para 420 mil. O crescimento criou as bases da economia ilegal no país. Da década de 1920 até final dos anos 1950, surge assim uma pequena - e relativamente pacífica - economia ilícita, organizada em volta do cultivo e tráfico de maconha e heroína. Mas, no final dos anos 1970 e início dos 1980, nasce uma nova economia ilícita organizada em volta do tráfico de cocaína. O desvio para o México de 60% do pó branco destinado aos EUA marcou o início de um outro estágio, assim como o surgimento de uma vigorosa e cada vez mais violenta economia de transporte de cocaína e de outros serviços associados a ela. Há, talvez, duas explicações mais comuns à repentina explosão do tráfico de drogas no México. A primeira é a operação militar conhecida como "Hat Tricks", com a qual Washington tentou retirar a Flórida do comércio de cocaína. O resultado foi a mudança deste comércio do Estado americano para o México. O segundo ponto é a abertura de oportunidades para o transporte de mercadorias ilícitas como resultado do Nafta, tratado de livre-comércio entre o México, EUA e Canadá, que começou a vigorar em 1994. Terra de oportunidades? No México, como em muitos outros países em desenvolvimento, a presença de mão de obra barata, a disponibilidade de terras a preços baixos e a aplicação intermitente da lei ofereceu, durante décadas, vantagens à produção e comércio de maconha e ópio. Entretanto, a participação do México - assim como a da Colômbia e da Nigéria - no circuito internacional de drogas ilícitas também é resultado de três variáveis fundamentais: a geografia, uma longa tradição de contrabando e a relativa fraqueza da autoridade central. No final da década de 1980 as áreas tradicionais de cultivo de drogas ainda estavam em uso - mas a partir daí, começou a mudar a antiga geografia do mercado e os cartéis começaram a dividir o país e a repartir seu território. Sob estas novas condições, a já reduzida capacidade do Estado de fazer com que a lei fosse cumprida ficou ainda mais cerceada. Outro fator foi a escassez de oportunidades econômicas. A pressão da crise econômica dos anos 1980 e a fraqueza da economia criaram um grande setor da população sem empregos fixos. Nos anos 1990, a entrada em vigor do Nafta parecia abrir um novo caminho para a recuperação, mas, depois de mais de uma década, é sabido que o acordo não foi capaz de promover um crescimento econômico significativo ou aumento nos empregos. Nestas condições, o desemprego criou um grande setor informal e uma reserva de mão de obra para a economia ilícita de serviços ligados ao tráfico de cocaína. Em outras palavras, a participação da população nas atividades ilegais não só aumentou de maneira gradual, mas também se diversificou. Se em décadas anteriores o traço mais característico desta participação era a presença de camponeses em áreas de cultivo de drogas em Estados produtores - estimada em 1965 em torno de 200 e 300 mil pessoas -, na década de 1980 a economia ilícita não só incorporou novas atividades, como passou a precisar do talento e da habilidade de profissionais e empresários. Procura de profissionais A nova, animada e diversificada economia ilícita dos anos 1990 - com suas ramificações na indústria de roubo de automóveis, prostituição e tráfico de pessoas, seqüestros e outras atividades - também contava com a participação de transportadores, carregadores, secretárias, contadores, administradores, pilotos, advogados e assessores financeiros. No início do século 20, a estas profissões se juntaram vigilantes, assassinos de aluguel e exércitos particulares que hoje tomam as manchetes dos principais jornais diários do México. Mudança de cenário Há menos de quatro décadas, México e Turquia eram anunciados como histórias de sucesso entre países em desenvolvimento. Apesar de terem tomado caminhos diferentes, no início dos anos 1970, os dois países conseguiram reduzir e controlar suas economias ilegais. Segundo vários pesquisadores, este sucesso era fruto de três fatores principais. Nos dois países, a erradicação e o controle da produção de drogas foi alcançada em um contexto em que o Estado mantinha o monopólio da violência e exercia também uma sólida autoridade central aliada à relativa independência e saúde econômica. Mas o cenário no México é completamente diferente hoje. Qualquer um que ler as manchetes dos jornais dos últimos três anos pode se perguntar se o Estado tem o real monopólio da violência. A abertura política trouxe consigo o enfraquecimento do poder Executivo, que até então era uma peça-chave da autoridade do Estado. A fraca economia das últimas três décadas também não contribuiu para oferecer mais oportunidades de emprego, o que explica o fato de tantos mexicanos terem procurado trabalho na economia ilícita. Limitações, dificuldades e incertezas. O resultado é tráfico de drogas, violência e mortes. Para onde quer que se olhe, o cenário é aterrador. Mónica Serrano é professora do Centro de Estudos Internacionais do Colégio do México e pesquisadora associada do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Oxford. Ela escreve sobre política mexicana, crime internacional e relações internacionais da América Latina. Durante toda esta semana a BBC Brasil estará publicando reportagens especiais sobre o combate ao narcotráfico no México. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Há cerca de dois anos, a cidade de Uruapan, no Estado mexicano de Michoacán, ganhou as manchetes dos jornais do país. A razão não foram chuvas torrenciais ou o impacto de um terremoto, mas um incidente macabro acontecido em um bar chamado Sol y Sombra. De maneira um tanto inesperada, as cabeças de cinco homens decapitados foram lançadas na pista de dança do local. Até esta noite, o bar, que fica na estrada Uruapan-Pátzcuaro, no subúrbio de Bela Vista, era conhecido por oferecer serviços de dança e costumava ficar cheio. Mas o cenário mudou. Michoacán, assim como seu vizinho, Guerrero, passaram a ser então conhecidos como Estados marcados pela violência associada ao narcotráfico. Por décadas, os dois Estados estiveram na geografia do comércio de drogas ilícitas do México. Mas o pior período nos dois lugares começou com o desvio das rotas de cocaína internacionais para o território mexicano, principalmente para a costa do Oceano Pacífico. Tanto Michoacán quanto Guerrero possuem uma extensa costa ao longo do Pacífico. No limite ente os dois territórios está o porto mexicano de Lázaro Cárdenas, o mais dinâmico da costa do Pacífico mexicano. Este é um ponto de entrada e saída de mercadorias com um movimento cada vez mais intenso e que em apenas uma década saltou de um montante de 4,5 mil contêineres por ano para 197 mil. Mas é só transitar pelas estradas de ambos Estados para que o viajante encontre alguns dos símbolos do boom de uma economia ilícita cada vez mais violenta. Ao longo das estradas, próximo às entradas das cidades, há discotecas, lojas de carros usados que aparecem e desaparecem como mágica, motéis que anunciam quartos que podem ser alugados por três horas por US$ 10 ou US$ 15 e, obviamente, serviços funerários que funcionam 24h por dia. No México, assim como em outros países, o tráfico de drogas é uma das muitas atividades que formam a economia ilegal. Muitos dos produtos e serviços oferecidos são ilegais, tanto pela natureza do negócio quanto pelos métodos que são usados neste comércio. Há também uma boa dose de consentimento oficial a estas atividades. Mas o tráfico de drogas é muito mais que apenas mais um setor da economia ilícita. Na verdade, o tráfico é um sócio em muitas destas atividades e um agente multiplicador de áreas para a impunidade. A era da cocaína A história do tráfico de drogas no México passa por duas grandes etapas. O primeiro começou com a legislação que proibiu o consumo, a venda e produção de narcóticos nos EUA e sua posterior adoção pelo México, no início do século passado. A legislação nos EUA ofereceu uma janela de oportunidade para aqueles que estavam dispostos a lucrar com as vendas de álcool e narcóticos do outro lado da fronteira. O marco legal promoveu uma repentina escalada no número de turistas que cruzavam a fronteira com o México em busca destas substâncias. Em 1919, 14 mil turistas cruzaram a fronteira, no ano seguinte o número subiu para 420 mil. O crescimento criou as bases da economia ilegal no país. Da década de 1920 até final dos anos 1950, surge assim uma pequena - e relativamente pacífica - economia ilícita, organizada em volta do cultivo e tráfico de maconha e heroína. Mas, no final dos anos 1970 e início dos 1980, nasce uma nova economia ilícita organizada em volta do tráfico de cocaína. O desvio para o México de 60% do pó branco destinado aos EUA marcou o início de um outro estágio, assim como o surgimento de uma vigorosa e cada vez mais violenta economia de transporte de cocaína e de outros serviços associados a ela. Há, talvez, duas explicações mais comuns à repentina explosão do tráfico de drogas no México. A primeira é a operação militar conhecida como "Hat Tricks", com a qual Washington tentou retirar a Flórida do comércio de cocaína. O resultado foi a mudança deste comércio do Estado americano para o México. O segundo ponto é a abertura de oportunidades para o transporte de mercadorias ilícitas como resultado do Nafta, tratado de livre-comércio entre o México, EUA e Canadá, que começou a vigorar em 1994. Terra de oportunidades? No México, como em muitos outros países em desenvolvimento, a presença de mão de obra barata, a disponibilidade de terras a preços baixos e a aplicação intermitente da lei ofereceu, durante décadas, vantagens à produção e comércio de maconha e ópio. Entretanto, a participação do México - assim como a da Colômbia e da Nigéria - no circuito internacional de drogas ilícitas também é resultado de três variáveis fundamentais: a geografia, uma longa tradição de contrabando e a relativa fraqueza da autoridade central. No final da década de 1980 as áreas tradicionais de cultivo de drogas ainda estavam em uso - mas a partir daí, começou a mudar a antiga geografia do mercado e os cartéis começaram a dividir o país e a repartir seu território. Sob estas novas condições, a já reduzida capacidade do Estado de fazer com que a lei fosse cumprida ficou ainda mais cerceada. Outro fator foi a escassez de oportunidades econômicas. A pressão da crise econômica dos anos 1980 e a fraqueza da economia criaram um grande setor da população sem empregos fixos. Nos anos 1990, a entrada em vigor do Nafta parecia abrir um novo caminho para a recuperação, mas, depois de mais de uma década, é sabido que o acordo não foi capaz de promover um crescimento econômico significativo ou aumento nos empregos. Nestas condições, o desemprego criou um grande setor informal e uma reserva de mão de obra para a economia ilícita de serviços ligados ao tráfico de cocaína. Em outras palavras, a participação da população nas atividades ilegais não só aumentou de maneira gradual, mas também se diversificou. Se em décadas anteriores o traço mais característico desta participação era a presença de camponeses em áreas de cultivo de drogas em Estados produtores - estimada em 1965 em torno de 200 e 300 mil pessoas -, na década de 1980 a economia ilícita não só incorporou novas atividades, como passou a precisar do talento e da habilidade de profissionais e empresários. Procura de profissionais A nova, animada e diversificada economia ilícita dos anos 1990 - com suas ramificações na indústria de roubo de automóveis, prostituição e tráfico de pessoas, seqüestros e outras atividades - também contava com a participação de transportadores, carregadores, secretárias, contadores, administradores, pilotos, advogados e assessores financeiros. No início do século 20, a estas profissões se juntaram vigilantes, assassinos de aluguel e exércitos particulares que hoje tomam as manchetes dos principais jornais diários do México. Mudança de cenário Há menos de quatro décadas, México e Turquia eram anunciados como histórias de sucesso entre países em desenvolvimento. Apesar de terem tomado caminhos diferentes, no início dos anos 1970, os dois países conseguiram reduzir e controlar suas economias ilegais. Segundo vários pesquisadores, este sucesso era fruto de três fatores principais. Nos dois países, a erradicação e o controle da produção de drogas foi alcançada em um contexto em que o Estado mantinha o monopólio da violência e exercia também uma sólida autoridade central aliada à relativa independência e saúde econômica. Mas o cenário no México é completamente diferente hoje. Qualquer um que ler as manchetes dos jornais dos últimos três anos pode se perguntar se o Estado tem o real monopólio da violência. A abertura política trouxe consigo o enfraquecimento do poder Executivo, que até então era uma peça-chave da autoridade do Estado. A fraca economia das últimas três décadas também não contribuiu para oferecer mais oportunidades de emprego, o que explica o fato de tantos mexicanos terem procurado trabalho na economia ilícita. Limitações, dificuldades e incertezas. O resultado é tráfico de drogas, violência e mortes. Para onde quer que se olhe, o cenário é aterrador. Mónica Serrano é professora do Centro de Estudos Internacionais do Colégio do México e pesquisadora associada do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Oxford. Ela escreve sobre política mexicana, crime internacional e relações internacionais da América Latina. Durante toda esta semana a BBC Brasil estará publicando reportagens especiais sobre o combate ao narcotráfico no México. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Há cerca de dois anos, a cidade de Uruapan, no Estado mexicano de Michoacán, ganhou as manchetes dos jornais do país. A razão não foram chuvas torrenciais ou o impacto de um terremoto, mas um incidente macabro acontecido em um bar chamado Sol y Sombra. De maneira um tanto inesperada, as cabeças de cinco homens decapitados foram lançadas na pista de dança do local. Até esta noite, o bar, que fica na estrada Uruapan-Pátzcuaro, no subúrbio de Bela Vista, era conhecido por oferecer serviços de dança e costumava ficar cheio. Mas o cenário mudou. Michoacán, assim como seu vizinho, Guerrero, passaram a ser então conhecidos como Estados marcados pela violência associada ao narcotráfico. Por décadas, os dois Estados estiveram na geografia do comércio de drogas ilícitas do México. Mas o pior período nos dois lugares começou com o desvio das rotas de cocaína internacionais para o território mexicano, principalmente para a costa do Oceano Pacífico. Tanto Michoacán quanto Guerrero possuem uma extensa costa ao longo do Pacífico. No limite ente os dois territórios está o porto mexicano de Lázaro Cárdenas, o mais dinâmico da costa do Pacífico mexicano. Este é um ponto de entrada e saída de mercadorias com um movimento cada vez mais intenso e que em apenas uma década saltou de um montante de 4,5 mil contêineres por ano para 197 mil. Mas é só transitar pelas estradas de ambos Estados para que o viajante encontre alguns dos símbolos do boom de uma economia ilícita cada vez mais violenta. Ao longo das estradas, próximo às entradas das cidades, há discotecas, lojas de carros usados que aparecem e desaparecem como mágica, motéis que anunciam quartos que podem ser alugados por três horas por US$ 10 ou US$ 15 e, obviamente, serviços funerários que funcionam 24h por dia. No México, assim como em outros países, o tráfico de drogas é uma das muitas atividades que formam a economia ilegal. Muitos dos produtos e serviços oferecidos são ilegais, tanto pela natureza do negócio quanto pelos métodos que são usados neste comércio. Há também uma boa dose de consentimento oficial a estas atividades. Mas o tráfico de drogas é muito mais que apenas mais um setor da economia ilícita. Na verdade, o tráfico é um sócio em muitas destas atividades e um agente multiplicador de áreas para a impunidade. A era da cocaína A história do tráfico de drogas no México passa por duas grandes etapas. O primeiro começou com a legislação que proibiu o consumo, a venda e produção de narcóticos nos EUA e sua posterior adoção pelo México, no início do século passado. A legislação nos EUA ofereceu uma janela de oportunidade para aqueles que estavam dispostos a lucrar com as vendas de álcool e narcóticos do outro lado da fronteira. O marco legal promoveu uma repentina escalada no número de turistas que cruzavam a fronteira com o México em busca destas substâncias. Em 1919, 14 mil turistas cruzaram a fronteira, no ano seguinte o número subiu para 420 mil. O crescimento criou as bases da economia ilegal no país. Da década de 1920 até final dos anos 1950, surge assim uma pequena - e relativamente pacífica - economia ilícita, organizada em volta do cultivo e tráfico de maconha e heroína. Mas, no final dos anos 1970 e início dos 1980, nasce uma nova economia ilícita organizada em volta do tráfico de cocaína. O desvio para o México de 60% do pó branco destinado aos EUA marcou o início de um outro estágio, assim como o surgimento de uma vigorosa e cada vez mais violenta economia de transporte de cocaína e de outros serviços associados a ela. Há, talvez, duas explicações mais comuns à repentina explosão do tráfico de drogas no México. A primeira é a operação militar conhecida como "Hat Tricks", com a qual Washington tentou retirar a Flórida do comércio de cocaína. O resultado foi a mudança deste comércio do Estado americano para o México. O segundo ponto é a abertura de oportunidades para o transporte de mercadorias ilícitas como resultado do Nafta, tratado de livre-comércio entre o México, EUA e Canadá, que começou a vigorar em 1994. Terra de oportunidades? No México, como em muitos outros países em desenvolvimento, a presença de mão de obra barata, a disponibilidade de terras a preços baixos e a aplicação intermitente da lei ofereceu, durante décadas, vantagens à produção e comércio de maconha e ópio. Entretanto, a participação do México - assim como a da Colômbia e da Nigéria - no circuito internacional de drogas ilícitas também é resultado de três variáveis fundamentais: a geografia, uma longa tradição de contrabando e a relativa fraqueza da autoridade central. No final da década de 1980 as áreas tradicionais de cultivo de drogas ainda estavam em uso - mas a partir daí, começou a mudar a antiga geografia do mercado e os cartéis começaram a dividir o país e a repartir seu território. Sob estas novas condições, a já reduzida capacidade do Estado de fazer com que a lei fosse cumprida ficou ainda mais cerceada. Outro fator foi a escassez de oportunidades econômicas. A pressão da crise econômica dos anos 1980 e a fraqueza da economia criaram um grande setor da população sem empregos fixos. Nos anos 1990, a entrada em vigor do Nafta parecia abrir um novo caminho para a recuperação, mas, depois de mais de uma década, é sabido que o acordo não foi capaz de promover um crescimento econômico significativo ou aumento nos empregos. Nestas condições, o desemprego criou um grande setor informal e uma reserva de mão de obra para a economia ilícita de serviços ligados ao tráfico de cocaína. Em outras palavras, a participação da população nas atividades ilegais não só aumentou de maneira gradual, mas também se diversificou. Se em décadas anteriores o traço mais característico desta participação era a presença de camponeses em áreas de cultivo de drogas em Estados produtores - estimada em 1965 em torno de 200 e 300 mil pessoas -, na década de 1980 a economia ilícita não só incorporou novas atividades, como passou a precisar do talento e da habilidade de profissionais e empresários. Procura de profissionais A nova, animada e diversificada economia ilícita dos anos 1990 - com suas ramificações na indústria de roubo de automóveis, prostituição e tráfico de pessoas, seqüestros e outras atividades - também contava com a participação de transportadores, carregadores, secretárias, contadores, administradores, pilotos, advogados e assessores financeiros. No início do século 20, a estas profissões se juntaram vigilantes, assassinos de aluguel e exércitos particulares que hoje tomam as manchetes dos principais jornais diários do México. Mudança de cenário Há menos de quatro décadas, México e Turquia eram anunciados como histórias de sucesso entre países em desenvolvimento. Apesar de terem tomado caminhos diferentes, no início dos anos 1970, os dois países conseguiram reduzir e controlar suas economias ilegais. Segundo vários pesquisadores, este sucesso era fruto de três fatores principais. Nos dois países, a erradicação e o controle da produção de drogas foi alcançada em um contexto em que o Estado mantinha o monopólio da violência e exercia também uma sólida autoridade central aliada à relativa independência e saúde econômica. Mas o cenário no México é completamente diferente hoje. Qualquer um que ler as manchetes dos jornais dos últimos três anos pode se perguntar se o Estado tem o real monopólio da violência. A abertura política trouxe consigo o enfraquecimento do poder Executivo, que até então era uma peça-chave da autoridade do Estado. A fraca economia das últimas três décadas também não contribuiu para oferecer mais oportunidades de emprego, o que explica o fato de tantos mexicanos terem procurado trabalho na economia ilícita. Limitações, dificuldades e incertezas. O resultado é tráfico de drogas, violência e mortes. Para onde quer que se olhe, o cenário é aterrador. Mónica Serrano é professora do Centro de Estudos Internacionais do Colégio do México e pesquisadora associada do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Oxford. Ela escreve sobre política mexicana, crime internacional e relações internacionais da América Latina. Durante toda esta semana a BBC Brasil estará publicando reportagens especiais sobre o combate ao narcotráfico no México. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Há cerca de dois anos, a cidade de Uruapan, no Estado mexicano de Michoacán, ganhou as manchetes dos jornais do país. A razão não foram chuvas torrenciais ou o impacto de um terremoto, mas um incidente macabro acontecido em um bar chamado Sol y Sombra. De maneira um tanto inesperada, as cabeças de cinco homens decapitados foram lançadas na pista de dança do local. Até esta noite, o bar, que fica na estrada Uruapan-Pátzcuaro, no subúrbio de Bela Vista, era conhecido por oferecer serviços de dança e costumava ficar cheio. Mas o cenário mudou. Michoacán, assim como seu vizinho, Guerrero, passaram a ser então conhecidos como Estados marcados pela violência associada ao narcotráfico. Por décadas, os dois Estados estiveram na geografia do comércio de drogas ilícitas do México. Mas o pior período nos dois lugares começou com o desvio das rotas de cocaína internacionais para o território mexicano, principalmente para a costa do Oceano Pacífico. Tanto Michoacán quanto Guerrero possuem uma extensa costa ao longo do Pacífico. No limite ente os dois territórios está o porto mexicano de Lázaro Cárdenas, o mais dinâmico da costa do Pacífico mexicano. Este é um ponto de entrada e saída de mercadorias com um movimento cada vez mais intenso e que em apenas uma década saltou de um montante de 4,5 mil contêineres por ano para 197 mil. Mas é só transitar pelas estradas de ambos Estados para que o viajante encontre alguns dos símbolos do boom de uma economia ilícita cada vez mais violenta. Ao longo das estradas, próximo às entradas das cidades, há discotecas, lojas de carros usados que aparecem e desaparecem como mágica, motéis que anunciam quartos que podem ser alugados por três horas por US$ 10 ou US$ 15 e, obviamente, serviços funerários que funcionam 24h por dia. No México, assim como em outros países, o tráfico de drogas é uma das muitas atividades que formam a economia ilegal. Muitos dos produtos e serviços oferecidos são ilegais, tanto pela natureza do negócio quanto pelos métodos que são usados neste comércio. Há também uma boa dose de consentimento oficial a estas atividades. Mas o tráfico de drogas é muito mais que apenas mais um setor da economia ilícita. Na verdade, o tráfico é um sócio em muitas destas atividades e um agente multiplicador de áreas para a impunidade. A era da cocaína A história do tráfico de drogas no México passa por duas grandes etapas. O primeiro começou com a legislação que proibiu o consumo, a venda e produção de narcóticos nos EUA e sua posterior adoção pelo México, no início do século passado. A legislação nos EUA ofereceu uma janela de oportunidade para aqueles que estavam dispostos a lucrar com as vendas de álcool e narcóticos do outro lado da fronteira. O marco legal promoveu uma repentina escalada no número de turistas que cruzavam a fronteira com o México em busca destas substâncias. Em 1919, 14 mil turistas cruzaram a fronteira, no ano seguinte o número subiu para 420 mil. O crescimento criou as bases da economia ilegal no país. Da década de 1920 até final dos anos 1950, surge assim uma pequena - e relativamente pacífica - economia ilícita, organizada em volta do cultivo e tráfico de maconha e heroína. Mas, no final dos anos 1970 e início dos 1980, nasce uma nova economia ilícita organizada em volta do tráfico de cocaína. O desvio para o México de 60% do pó branco destinado aos EUA marcou o início de um outro estágio, assim como o surgimento de uma vigorosa e cada vez mais violenta economia de transporte de cocaína e de outros serviços associados a ela. Há, talvez, duas explicações mais comuns à repentina explosão do tráfico de drogas no México. A primeira é a operação militar conhecida como "Hat Tricks", com a qual Washington tentou retirar a Flórida do comércio de cocaína. O resultado foi a mudança deste comércio do Estado americano para o México. O segundo ponto é a abertura de oportunidades para o transporte de mercadorias ilícitas como resultado do Nafta, tratado de livre-comércio entre o México, EUA e Canadá, que começou a vigorar em 1994. Terra de oportunidades? No México, como em muitos outros países em desenvolvimento, a presença de mão de obra barata, a disponibilidade de terras a preços baixos e a aplicação intermitente da lei ofereceu, durante décadas, vantagens à produção e comércio de maconha e ópio. Entretanto, a participação do México - assim como a da Colômbia e da Nigéria - no circuito internacional de drogas ilícitas também é resultado de três variáveis fundamentais: a geografia, uma longa tradição de contrabando e a relativa fraqueza da autoridade central. No final da década de 1980 as áreas tradicionais de cultivo de drogas ainda estavam em uso - mas a partir daí, começou a mudar a antiga geografia do mercado e os cartéis começaram a dividir o país e a repartir seu território. Sob estas novas condições, a já reduzida capacidade do Estado de fazer com que a lei fosse cumprida ficou ainda mais cerceada. Outro fator foi a escassez de oportunidades econômicas. A pressão da crise econômica dos anos 1980 e a fraqueza da economia criaram um grande setor da população sem empregos fixos. Nos anos 1990, a entrada em vigor do Nafta parecia abrir um novo caminho para a recuperação, mas, depois de mais de uma década, é sabido que o acordo não foi capaz de promover um crescimento econômico significativo ou aumento nos empregos. Nestas condições, o desemprego criou um grande setor informal e uma reserva de mão de obra para a economia ilícita de serviços ligados ao tráfico de cocaína. Em outras palavras, a participação da população nas atividades ilegais não só aumentou de maneira gradual, mas também se diversificou. Se em décadas anteriores o traço mais característico desta participação era a presença de camponeses em áreas de cultivo de drogas em Estados produtores - estimada em 1965 em torno de 200 e 300 mil pessoas -, na década de 1980 a economia ilícita não só incorporou novas atividades, como passou a precisar do talento e da habilidade de profissionais e empresários. Procura de profissionais A nova, animada e diversificada economia ilícita dos anos 1990 - com suas ramificações na indústria de roubo de automóveis, prostituição e tráfico de pessoas, seqüestros e outras atividades - também contava com a participação de transportadores, carregadores, secretárias, contadores, administradores, pilotos, advogados e assessores financeiros. No início do século 20, a estas profissões se juntaram vigilantes, assassinos de aluguel e exércitos particulares que hoje tomam as manchetes dos principais jornais diários do México. Mudança de cenário Há menos de quatro décadas, México e Turquia eram anunciados como histórias de sucesso entre países em desenvolvimento. Apesar de terem tomado caminhos diferentes, no início dos anos 1970, os dois países conseguiram reduzir e controlar suas economias ilegais. Segundo vários pesquisadores, este sucesso era fruto de três fatores principais. Nos dois países, a erradicação e o controle da produção de drogas foi alcançada em um contexto em que o Estado mantinha o monopólio da violência e exercia também uma sólida autoridade central aliada à relativa independência e saúde econômica. Mas o cenário no México é completamente diferente hoje. Qualquer um que ler as manchetes dos jornais dos últimos três anos pode se perguntar se o Estado tem o real monopólio da violência. A abertura política trouxe consigo o enfraquecimento do poder Executivo, que até então era uma peça-chave da autoridade do Estado. A fraca economia das últimas três décadas também não contribuiu para oferecer mais oportunidades de emprego, o que explica o fato de tantos mexicanos terem procurado trabalho na economia ilícita. Limitações, dificuldades e incertezas. O resultado é tráfico de drogas, violência e mortes. Para onde quer que se olhe, o cenário é aterrador. Mónica Serrano é professora do Centro de Estudos Internacionais do Colégio do México e pesquisadora associada do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Oxford. Ela escreve sobre política mexicana, crime internacional e relações internacionais da América Latina. Durante toda esta semana a BBC Brasil estará publicando reportagens especiais sobre o combate ao narcotráfico no México. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.