Você sabe o que é ‘sportswashing’?


Termo voltou a circular recentemente na mídia por ocasião do sorteio de chaves da Copa do Mundo de Futebol que será disputada no final deste ano no Catar.

Por André Fran
Atualização:

O termo em inglês que aparece no título dessa coluna representa uma espécie de “lavagem esportiva”. Ele foi criado por organizações de direitos humanos para explicar situações onde o esporte é usado para limpar a imagem de indivíduos, entidades ou governos mais conhecidos por seus desmandos e malfeitos. Agora que tiramos a semântica do caminho, vamos a uma análise prática. O termo voltou a circular recentemente na mídia por ocasião do sorteio de chaves da Copa do Mundo de Futebol que será disputada no final deste ano no Catar. Pois é…

As violações de direitos humanos no Catar são motivo de preocupação e denúncia por parte de organizações como a Human Rights Watch e Anistia Internacional. O país é uma monarquia absolutista com uma família real, a do xeique Tamim bin Hamad Al Thani, no comando do governo. Partidos políticos são proibidos e a recente concessão de eleições parlamentares é meramente uma formalidade para integrar um conselho sem grande autonomia. 

A lei xaria, versão radical do islamismo sunita, rege o país. Com isso, a homossexualidade é proibida e pode resultar até mesmo em pena de morte. O consumo de álcool também é proibido. As mulheres estão submetidas a uma lei de custódia, onde um responsável do sexo masculino pode decidir sobre diferentes aspectos de suas vidas. O abuso de direitos dos trabalhadores também é uma das grandes preocupações humanitárias com o Catar. Principalmente após reportagens internacionais denunciarem as milhares de mortes de imigrantes que rumaram para o reino desde o anúncio deste como sede da Copa de 2022. Pelo menos 34 dos óbitos foram diretamente relacionados às obras de preparação para o evento. 

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Messi, Mbappé e Neymar não conseguiramlevar o PSG às quartas da Liga dos Campeões. Jogadores são alvos de críticas da torcida parisiense Foto: Carl Recine/Reuters

Apesar de tímidos avanços para se mostrar um país mais progressista e inclusivo na região, como salários igualitários para mulheres no setor público ou a garantia de maior representatividade em cargos oficiais, nada como uma Copa do Mundo para ajudar a “limpar” a imagem de ditadura islâmica autoritária. Até porque o tal “sportswashing” já vem trazendo resultados para o país. A compra do PSG, um dos maiores clubes de futebol do mundo, pelo fundo soberano catari, é uma das grandes jogadas de marketing governamental do nosso tempo. Poucas menções são feitas aos abusos de direitos humanos do Catar quando o foco está em contratações do peso de Neymar ou Messi. Da mesma forma, o país espera que com a Copa as atenções se voltem para a sua estabilidade política, as alianças militares com os EUA e o Ocidente, a ajuda humanitária para a região, a qualidade de sua rede Al Jazeera (rede de notícias catari reconhecida internacionalmente mas que não ousa criticar o regime local) e os tímidos avanços em igualdade de gênero.

 O “sportswashing” pode ser um termo relativamente novo e a estratégia pode dar certo em breve para o Catar, mas ela já vem sendo usada desde tempos imemoriais. As Olimpíadas originais, na antiga Grécia, foram usadas para parar uma guerra. Esparta massacrava Atenas em um conflito que já durava anos, quando Alcebíades, um político ateniense e exímio cavaleiro decide participar dos jogos. O investimento para tal seria melhor aproveitado na guerra, mas a proposta era que sua vitória mascarasse a realidade e desse um impulso de confiança que ajudaria a superar o inimigo. Deu certo, pelo menos por alguns momentos.

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Essa com certeza foi a primeira vez que os Jogos Olímpicos foram usados para propaganda política. Mas não foi a única. A Alemanha nazista sediou as Olimpíadas de 1936 com o objetivo de usá-la como propaganda da grandiosidade e poder da ideologia de Hitler. Um estádio para cem mil pessoas foi construído, a cineasta Leni Riefenstahl foi “convidada” a produzir um documentário sobre os jogos e cartazes proibindo judeus em locais públicos foram removidos de Berlim. A Olimpíada usada como pano para limpar a imagem do nazismo perante o mundo.

Saindo das Olimpíadas e voltando a Copa do Mundo, o torneio realizado na Argentina em 1978 é emblemático. Se antes da bola rolar várias seleções ameaçavam não participar de um Campeonato realizado com uma ditadura controlando o país, com o início das partidas a parte esportiva ofuscou totalmente as atrocidades do regime militar argentino. Com direito a várias situações pra lá de questionáveis para garantir que a imagem do país dentro e fora dos gramados permanecesse irretocável.

Cada vez mais, o “sportswashing” vem sendo usado como método por governos interessados em limpar suas imagens. Mais recentemente, temos o caso de Baku, capital do Azerbaijão, pagando caro para receber a final da Liga da Europa de futebol em 2019. O Bahrein, ditadura com histórico de perseguir opositores e atentar contra a liberdade de expressão (não se sabe se foram esses os motivos que levaram o presidente Bolsonaro a elogiar o país), há anos recebe uma etapa da Fórmula 1 mesmo com críticas severas de organizações defensoras dos direitos humanos. Outro controverso GP é realizado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, outro país com a péssima fama de perseguir, prender e até torturar a oposição. Outro país a sediar uma prova do circuito de F1 é a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais controversas do mundo, que limita direitos das mulheres e cujo líder do país foi diretamente responsável pelo assassinato de um jornalista saudita crítico à família real. 

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Os sauditas não estão medindo esforços – e cifras - no uso do esporte para limpar sua imagem (e tome pano): já receberam etapa de motocross, do circuito de golfe, o superclássico espanhol, o Rally Dakar, evento de luta-livre e muito mais. A China, outro país com graves violações de direitos humanos, sediou Olimpíada e patrocina atletas e equipes nas ligas esportivas mais famosas do mundo, como a NBA

A Rússia foi banida de competições pela FIFA e pelo Comitê Olímpico Internacional após invadir a Ucrânia há pouco mais de um mês. Mas Vladimir Putin já tinha a guerra com a Geórgia e a anexação da Crimeia em seu currículo quando o país sediou as Olimpíadas de Inverno em 2014 e a Copa do Mundo de Futebol em 2018. O esporte é encarado como uma ferramenta tão importante para manter uma boa imagem internacional do país que o programa de doping é quase uma instituição russa (o que já resultou em penas questionáveis no âmbito esportivo).

Hoje em dia esse “sportswashing” pode ser explicado pelo “soft power”. Perdoem o anglicismo, mas é que o termo foi criado pelo cientista político americano, Joseph Nye, para definir a estratégia de alcançar objetivos através do poder da comunicação, do entretenimento e da tecnologia em vez da força militar ou econômica. É cada vez mais comum nações fazendo uso do soft power através de sua música (alguém lembrou do k-pop sul-coreano?), do cinema e, é claro, dos esportes. E nada melhor do que mega eventos esportivos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas para atrair investimentos, impulsionar o turismo e limpar a imagem de determinados governos diante de uma audiência global.

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Fica o dilema: é melhor proibir governos autoritários de sediar eventos esportivos que serão usados para melhorar suas imagens perante a comunidade internacional ou exigir que tais países melhorem seu recorde humanitário para que possam de fato receber tais competições? As organizações responsáveis por esses jogos têm o interesse social como objetivo ou estão mais preocupadas com seus fins lucrativos e ganhos políticos? E o principal: quem deveria ser o responsável por regular o uso do esporte para fins nada nobres e totalmente desconectados de seus valores originais?

O termo em inglês que aparece no título dessa coluna representa uma espécie de “lavagem esportiva”. Ele foi criado por organizações de direitos humanos para explicar situações onde o esporte é usado para limpar a imagem de indivíduos, entidades ou governos mais conhecidos por seus desmandos e malfeitos. Agora que tiramos a semântica do caminho, vamos a uma análise prática. O termo voltou a circular recentemente na mídia por ocasião do sorteio de chaves da Copa do Mundo de Futebol que será disputada no final deste ano no Catar. Pois é…

As violações de direitos humanos no Catar são motivo de preocupação e denúncia por parte de organizações como a Human Rights Watch e Anistia Internacional. O país é uma monarquia absolutista com uma família real, a do xeique Tamim bin Hamad Al Thani, no comando do governo. Partidos políticos são proibidos e a recente concessão de eleições parlamentares é meramente uma formalidade para integrar um conselho sem grande autonomia. 

A lei xaria, versão radical do islamismo sunita, rege o país. Com isso, a homossexualidade é proibida e pode resultar até mesmo em pena de morte. O consumo de álcool também é proibido. As mulheres estão submetidas a uma lei de custódia, onde um responsável do sexo masculino pode decidir sobre diferentes aspectos de suas vidas. O abuso de direitos dos trabalhadores também é uma das grandes preocupações humanitárias com o Catar. Principalmente após reportagens internacionais denunciarem as milhares de mortes de imigrantes que rumaram para o reino desde o anúncio deste como sede da Copa de 2022. Pelo menos 34 dos óbitos foram diretamente relacionados às obras de preparação para o evento. 

Messi, Mbappé e Neymar não conseguiramlevar o PSG às quartas da Liga dos Campeões. Jogadores são alvos de críticas da torcida parisiense Foto: Carl Recine/Reuters

Apesar de tímidos avanços para se mostrar um país mais progressista e inclusivo na região, como salários igualitários para mulheres no setor público ou a garantia de maior representatividade em cargos oficiais, nada como uma Copa do Mundo para ajudar a “limpar” a imagem de ditadura islâmica autoritária. Até porque o tal “sportswashing” já vem trazendo resultados para o país. A compra do PSG, um dos maiores clubes de futebol do mundo, pelo fundo soberano catari, é uma das grandes jogadas de marketing governamental do nosso tempo. Poucas menções são feitas aos abusos de direitos humanos do Catar quando o foco está em contratações do peso de Neymar ou Messi. Da mesma forma, o país espera que com a Copa as atenções se voltem para a sua estabilidade política, as alianças militares com os EUA e o Ocidente, a ajuda humanitária para a região, a qualidade de sua rede Al Jazeera (rede de notícias catari reconhecida internacionalmente mas que não ousa criticar o regime local) e os tímidos avanços em igualdade de gênero.

 O “sportswashing” pode ser um termo relativamente novo e a estratégia pode dar certo em breve para o Catar, mas ela já vem sendo usada desde tempos imemoriais. As Olimpíadas originais, na antiga Grécia, foram usadas para parar uma guerra. Esparta massacrava Atenas em um conflito que já durava anos, quando Alcebíades, um político ateniense e exímio cavaleiro decide participar dos jogos. O investimento para tal seria melhor aproveitado na guerra, mas a proposta era que sua vitória mascarasse a realidade e desse um impulso de confiança que ajudaria a superar o inimigo. Deu certo, pelo menos por alguns momentos.

Essa com certeza foi a primeira vez que os Jogos Olímpicos foram usados para propaganda política. Mas não foi a única. A Alemanha nazista sediou as Olimpíadas de 1936 com o objetivo de usá-la como propaganda da grandiosidade e poder da ideologia de Hitler. Um estádio para cem mil pessoas foi construído, a cineasta Leni Riefenstahl foi “convidada” a produzir um documentário sobre os jogos e cartazes proibindo judeus em locais públicos foram removidos de Berlim. A Olimpíada usada como pano para limpar a imagem do nazismo perante o mundo.

Saindo das Olimpíadas e voltando a Copa do Mundo, o torneio realizado na Argentina em 1978 é emblemático. Se antes da bola rolar várias seleções ameaçavam não participar de um Campeonato realizado com uma ditadura controlando o país, com o início das partidas a parte esportiva ofuscou totalmente as atrocidades do regime militar argentino. Com direito a várias situações pra lá de questionáveis para garantir que a imagem do país dentro e fora dos gramados permanecesse irretocável.

Cada vez mais, o “sportswashing” vem sendo usado como método por governos interessados em limpar suas imagens. Mais recentemente, temos o caso de Baku, capital do Azerbaijão, pagando caro para receber a final da Liga da Europa de futebol em 2019. O Bahrein, ditadura com histórico de perseguir opositores e atentar contra a liberdade de expressão (não se sabe se foram esses os motivos que levaram o presidente Bolsonaro a elogiar o país), há anos recebe uma etapa da Fórmula 1 mesmo com críticas severas de organizações defensoras dos direitos humanos. Outro controverso GP é realizado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, outro país com a péssima fama de perseguir, prender e até torturar a oposição. Outro país a sediar uma prova do circuito de F1 é a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais controversas do mundo, que limita direitos das mulheres e cujo líder do país foi diretamente responsável pelo assassinato de um jornalista saudita crítico à família real. 

Os sauditas não estão medindo esforços – e cifras - no uso do esporte para limpar sua imagem (e tome pano): já receberam etapa de motocross, do circuito de golfe, o superclássico espanhol, o Rally Dakar, evento de luta-livre e muito mais. A China, outro país com graves violações de direitos humanos, sediou Olimpíada e patrocina atletas e equipes nas ligas esportivas mais famosas do mundo, como a NBA

A Rússia foi banida de competições pela FIFA e pelo Comitê Olímpico Internacional após invadir a Ucrânia há pouco mais de um mês. Mas Vladimir Putin já tinha a guerra com a Geórgia e a anexação da Crimeia em seu currículo quando o país sediou as Olimpíadas de Inverno em 2014 e a Copa do Mundo de Futebol em 2018. O esporte é encarado como uma ferramenta tão importante para manter uma boa imagem internacional do país que o programa de doping é quase uma instituição russa (o que já resultou em penas questionáveis no âmbito esportivo).

Hoje em dia esse “sportswashing” pode ser explicado pelo “soft power”. Perdoem o anglicismo, mas é que o termo foi criado pelo cientista político americano, Joseph Nye, para definir a estratégia de alcançar objetivos através do poder da comunicação, do entretenimento e da tecnologia em vez da força militar ou econômica. É cada vez mais comum nações fazendo uso do soft power através de sua música (alguém lembrou do k-pop sul-coreano?), do cinema e, é claro, dos esportes. E nada melhor do que mega eventos esportivos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas para atrair investimentos, impulsionar o turismo e limpar a imagem de determinados governos diante de uma audiência global.

Fica o dilema: é melhor proibir governos autoritários de sediar eventos esportivos que serão usados para melhorar suas imagens perante a comunidade internacional ou exigir que tais países melhorem seu recorde humanitário para que possam de fato receber tais competições? As organizações responsáveis por esses jogos têm o interesse social como objetivo ou estão mais preocupadas com seus fins lucrativos e ganhos políticos? E o principal: quem deveria ser o responsável por regular o uso do esporte para fins nada nobres e totalmente desconectados de seus valores originais?

O termo em inglês que aparece no título dessa coluna representa uma espécie de “lavagem esportiva”. Ele foi criado por organizações de direitos humanos para explicar situações onde o esporte é usado para limpar a imagem de indivíduos, entidades ou governos mais conhecidos por seus desmandos e malfeitos. Agora que tiramos a semântica do caminho, vamos a uma análise prática. O termo voltou a circular recentemente na mídia por ocasião do sorteio de chaves da Copa do Mundo de Futebol que será disputada no final deste ano no Catar. Pois é…

As violações de direitos humanos no Catar são motivo de preocupação e denúncia por parte de organizações como a Human Rights Watch e Anistia Internacional. O país é uma monarquia absolutista com uma família real, a do xeique Tamim bin Hamad Al Thani, no comando do governo. Partidos políticos são proibidos e a recente concessão de eleições parlamentares é meramente uma formalidade para integrar um conselho sem grande autonomia. 

A lei xaria, versão radical do islamismo sunita, rege o país. Com isso, a homossexualidade é proibida e pode resultar até mesmo em pena de morte. O consumo de álcool também é proibido. As mulheres estão submetidas a uma lei de custódia, onde um responsável do sexo masculino pode decidir sobre diferentes aspectos de suas vidas. O abuso de direitos dos trabalhadores também é uma das grandes preocupações humanitárias com o Catar. Principalmente após reportagens internacionais denunciarem as milhares de mortes de imigrantes que rumaram para o reino desde o anúncio deste como sede da Copa de 2022. Pelo menos 34 dos óbitos foram diretamente relacionados às obras de preparação para o evento. 

Messi, Mbappé e Neymar não conseguiramlevar o PSG às quartas da Liga dos Campeões. Jogadores são alvos de críticas da torcida parisiense Foto: Carl Recine/Reuters

Apesar de tímidos avanços para se mostrar um país mais progressista e inclusivo na região, como salários igualitários para mulheres no setor público ou a garantia de maior representatividade em cargos oficiais, nada como uma Copa do Mundo para ajudar a “limpar” a imagem de ditadura islâmica autoritária. Até porque o tal “sportswashing” já vem trazendo resultados para o país. A compra do PSG, um dos maiores clubes de futebol do mundo, pelo fundo soberano catari, é uma das grandes jogadas de marketing governamental do nosso tempo. Poucas menções são feitas aos abusos de direitos humanos do Catar quando o foco está em contratações do peso de Neymar ou Messi. Da mesma forma, o país espera que com a Copa as atenções se voltem para a sua estabilidade política, as alianças militares com os EUA e o Ocidente, a ajuda humanitária para a região, a qualidade de sua rede Al Jazeera (rede de notícias catari reconhecida internacionalmente mas que não ousa criticar o regime local) e os tímidos avanços em igualdade de gênero.

 O “sportswashing” pode ser um termo relativamente novo e a estratégia pode dar certo em breve para o Catar, mas ela já vem sendo usada desde tempos imemoriais. As Olimpíadas originais, na antiga Grécia, foram usadas para parar uma guerra. Esparta massacrava Atenas em um conflito que já durava anos, quando Alcebíades, um político ateniense e exímio cavaleiro decide participar dos jogos. O investimento para tal seria melhor aproveitado na guerra, mas a proposta era que sua vitória mascarasse a realidade e desse um impulso de confiança que ajudaria a superar o inimigo. Deu certo, pelo menos por alguns momentos.

Essa com certeza foi a primeira vez que os Jogos Olímpicos foram usados para propaganda política. Mas não foi a única. A Alemanha nazista sediou as Olimpíadas de 1936 com o objetivo de usá-la como propaganda da grandiosidade e poder da ideologia de Hitler. Um estádio para cem mil pessoas foi construído, a cineasta Leni Riefenstahl foi “convidada” a produzir um documentário sobre os jogos e cartazes proibindo judeus em locais públicos foram removidos de Berlim. A Olimpíada usada como pano para limpar a imagem do nazismo perante o mundo.

Saindo das Olimpíadas e voltando a Copa do Mundo, o torneio realizado na Argentina em 1978 é emblemático. Se antes da bola rolar várias seleções ameaçavam não participar de um Campeonato realizado com uma ditadura controlando o país, com o início das partidas a parte esportiva ofuscou totalmente as atrocidades do regime militar argentino. Com direito a várias situações pra lá de questionáveis para garantir que a imagem do país dentro e fora dos gramados permanecesse irretocável.

Cada vez mais, o “sportswashing” vem sendo usado como método por governos interessados em limpar suas imagens. Mais recentemente, temos o caso de Baku, capital do Azerbaijão, pagando caro para receber a final da Liga da Europa de futebol em 2019. O Bahrein, ditadura com histórico de perseguir opositores e atentar contra a liberdade de expressão (não se sabe se foram esses os motivos que levaram o presidente Bolsonaro a elogiar o país), há anos recebe uma etapa da Fórmula 1 mesmo com críticas severas de organizações defensoras dos direitos humanos. Outro controverso GP é realizado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, outro país com a péssima fama de perseguir, prender e até torturar a oposição. Outro país a sediar uma prova do circuito de F1 é a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais controversas do mundo, que limita direitos das mulheres e cujo líder do país foi diretamente responsável pelo assassinato de um jornalista saudita crítico à família real. 

Os sauditas não estão medindo esforços – e cifras - no uso do esporte para limpar sua imagem (e tome pano): já receberam etapa de motocross, do circuito de golfe, o superclássico espanhol, o Rally Dakar, evento de luta-livre e muito mais. A China, outro país com graves violações de direitos humanos, sediou Olimpíada e patrocina atletas e equipes nas ligas esportivas mais famosas do mundo, como a NBA

A Rússia foi banida de competições pela FIFA e pelo Comitê Olímpico Internacional após invadir a Ucrânia há pouco mais de um mês. Mas Vladimir Putin já tinha a guerra com a Geórgia e a anexação da Crimeia em seu currículo quando o país sediou as Olimpíadas de Inverno em 2014 e a Copa do Mundo de Futebol em 2018. O esporte é encarado como uma ferramenta tão importante para manter uma boa imagem internacional do país que o programa de doping é quase uma instituição russa (o que já resultou em penas questionáveis no âmbito esportivo).

Hoje em dia esse “sportswashing” pode ser explicado pelo “soft power”. Perdoem o anglicismo, mas é que o termo foi criado pelo cientista político americano, Joseph Nye, para definir a estratégia de alcançar objetivos através do poder da comunicação, do entretenimento e da tecnologia em vez da força militar ou econômica. É cada vez mais comum nações fazendo uso do soft power através de sua música (alguém lembrou do k-pop sul-coreano?), do cinema e, é claro, dos esportes. E nada melhor do que mega eventos esportivos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas para atrair investimentos, impulsionar o turismo e limpar a imagem de determinados governos diante de uma audiência global.

Fica o dilema: é melhor proibir governos autoritários de sediar eventos esportivos que serão usados para melhorar suas imagens perante a comunidade internacional ou exigir que tais países melhorem seu recorde humanitário para que possam de fato receber tais competições? As organizações responsáveis por esses jogos têm o interesse social como objetivo ou estão mais preocupadas com seus fins lucrativos e ganhos políticos? E o principal: quem deveria ser o responsável por regular o uso do esporte para fins nada nobres e totalmente desconectados de seus valores originais?

O termo em inglês que aparece no título dessa coluna representa uma espécie de “lavagem esportiva”. Ele foi criado por organizações de direitos humanos para explicar situações onde o esporte é usado para limpar a imagem de indivíduos, entidades ou governos mais conhecidos por seus desmandos e malfeitos. Agora que tiramos a semântica do caminho, vamos a uma análise prática. O termo voltou a circular recentemente na mídia por ocasião do sorteio de chaves da Copa do Mundo de Futebol que será disputada no final deste ano no Catar. Pois é…

As violações de direitos humanos no Catar são motivo de preocupação e denúncia por parte de organizações como a Human Rights Watch e Anistia Internacional. O país é uma monarquia absolutista com uma família real, a do xeique Tamim bin Hamad Al Thani, no comando do governo. Partidos políticos são proibidos e a recente concessão de eleições parlamentares é meramente uma formalidade para integrar um conselho sem grande autonomia. 

A lei xaria, versão radical do islamismo sunita, rege o país. Com isso, a homossexualidade é proibida e pode resultar até mesmo em pena de morte. O consumo de álcool também é proibido. As mulheres estão submetidas a uma lei de custódia, onde um responsável do sexo masculino pode decidir sobre diferentes aspectos de suas vidas. O abuso de direitos dos trabalhadores também é uma das grandes preocupações humanitárias com o Catar. Principalmente após reportagens internacionais denunciarem as milhares de mortes de imigrantes que rumaram para o reino desde o anúncio deste como sede da Copa de 2022. Pelo menos 34 dos óbitos foram diretamente relacionados às obras de preparação para o evento. 

Messi, Mbappé e Neymar não conseguiramlevar o PSG às quartas da Liga dos Campeões. Jogadores são alvos de críticas da torcida parisiense Foto: Carl Recine/Reuters

Apesar de tímidos avanços para se mostrar um país mais progressista e inclusivo na região, como salários igualitários para mulheres no setor público ou a garantia de maior representatividade em cargos oficiais, nada como uma Copa do Mundo para ajudar a “limpar” a imagem de ditadura islâmica autoritária. Até porque o tal “sportswashing” já vem trazendo resultados para o país. A compra do PSG, um dos maiores clubes de futebol do mundo, pelo fundo soberano catari, é uma das grandes jogadas de marketing governamental do nosso tempo. Poucas menções são feitas aos abusos de direitos humanos do Catar quando o foco está em contratações do peso de Neymar ou Messi. Da mesma forma, o país espera que com a Copa as atenções se voltem para a sua estabilidade política, as alianças militares com os EUA e o Ocidente, a ajuda humanitária para a região, a qualidade de sua rede Al Jazeera (rede de notícias catari reconhecida internacionalmente mas que não ousa criticar o regime local) e os tímidos avanços em igualdade de gênero.

 O “sportswashing” pode ser um termo relativamente novo e a estratégia pode dar certo em breve para o Catar, mas ela já vem sendo usada desde tempos imemoriais. As Olimpíadas originais, na antiga Grécia, foram usadas para parar uma guerra. Esparta massacrava Atenas em um conflito que já durava anos, quando Alcebíades, um político ateniense e exímio cavaleiro decide participar dos jogos. O investimento para tal seria melhor aproveitado na guerra, mas a proposta era que sua vitória mascarasse a realidade e desse um impulso de confiança que ajudaria a superar o inimigo. Deu certo, pelo menos por alguns momentos.

Essa com certeza foi a primeira vez que os Jogos Olímpicos foram usados para propaganda política. Mas não foi a única. A Alemanha nazista sediou as Olimpíadas de 1936 com o objetivo de usá-la como propaganda da grandiosidade e poder da ideologia de Hitler. Um estádio para cem mil pessoas foi construído, a cineasta Leni Riefenstahl foi “convidada” a produzir um documentário sobre os jogos e cartazes proibindo judeus em locais públicos foram removidos de Berlim. A Olimpíada usada como pano para limpar a imagem do nazismo perante o mundo.

Saindo das Olimpíadas e voltando a Copa do Mundo, o torneio realizado na Argentina em 1978 é emblemático. Se antes da bola rolar várias seleções ameaçavam não participar de um Campeonato realizado com uma ditadura controlando o país, com o início das partidas a parte esportiva ofuscou totalmente as atrocidades do regime militar argentino. Com direito a várias situações pra lá de questionáveis para garantir que a imagem do país dentro e fora dos gramados permanecesse irretocável.

Cada vez mais, o “sportswashing” vem sendo usado como método por governos interessados em limpar suas imagens. Mais recentemente, temos o caso de Baku, capital do Azerbaijão, pagando caro para receber a final da Liga da Europa de futebol em 2019. O Bahrein, ditadura com histórico de perseguir opositores e atentar contra a liberdade de expressão (não se sabe se foram esses os motivos que levaram o presidente Bolsonaro a elogiar o país), há anos recebe uma etapa da Fórmula 1 mesmo com críticas severas de organizações defensoras dos direitos humanos. Outro controverso GP é realizado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, outro país com a péssima fama de perseguir, prender e até torturar a oposição. Outro país a sediar uma prova do circuito de F1 é a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais controversas do mundo, que limita direitos das mulheres e cujo líder do país foi diretamente responsável pelo assassinato de um jornalista saudita crítico à família real. 

Os sauditas não estão medindo esforços – e cifras - no uso do esporte para limpar sua imagem (e tome pano): já receberam etapa de motocross, do circuito de golfe, o superclássico espanhol, o Rally Dakar, evento de luta-livre e muito mais. A China, outro país com graves violações de direitos humanos, sediou Olimpíada e patrocina atletas e equipes nas ligas esportivas mais famosas do mundo, como a NBA

A Rússia foi banida de competições pela FIFA e pelo Comitê Olímpico Internacional após invadir a Ucrânia há pouco mais de um mês. Mas Vladimir Putin já tinha a guerra com a Geórgia e a anexação da Crimeia em seu currículo quando o país sediou as Olimpíadas de Inverno em 2014 e a Copa do Mundo de Futebol em 2018. O esporte é encarado como uma ferramenta tão importante para manter uma boa imagem internacional do país que o programa de doping é quase uma instituição russa (o que já resultou em penas questionáveis no âmbito esportivo).

Hoje em dia esse “sportswashing” pode ser explicado pelo “soft power”. Perdoem o anglicismo, mas é que o termo foi criado pelo cientista político americano, Joseph Nye, para definir a estratégia de alcançar objetivos através do poder da comunicação, do entretenimento e da tecnologia em vez da força militar ou econômica. É cada vez mais comum nações fazendo uso do soft power através de sua música (alguém lembrou do k-pop sul-coreano?), do cinema e, é claro, dos esportes. E nada melhor do que mega eventos esportivos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas para atrair investimentos, impulsionar o turismo e limpar a imagem de determinados governos diante de uma audiência global.

Fica o dilema: é melhor proibir governos autoritários de sediar eventos esportivos que serão usados para melhorar suas imagens perante a comunidade internacional ou exigir que tais países melhorem seu recorde humanitário para que possam de fato receber tais competições? As organizações responsáveis por esses jogos têm o interesse social como objetivo ou estão mais preocupadas com seus fins lucrativos e ganhos políticos? E o principal: quem deveria ser o responsável por regular o uso do esporte para fins nada nobres e totalmente desconectados de seus valores originais?

O termo em inglês que aparece no título dessa coluna representa uma espécie de “lavagem esportiva”. Ele foi criado por organizações de direitos humanos para explicar situações onde o esporte é usado para limpar a imagem de indivíduos, entidades ou governos mais conhecidos por seus desmandos e malfeitos. Agora que tiramos a semântica do caminho, vamos a uma análise prática. O termo voltou a circular recentemente na mídia por ocasião do sorteio de chaves da Copa do Mundo de Futebol que será disputada no final deste ano no Catar. Pois é…

As violações de direitos humanos no Catar são motivo de preocupação e denúncia por parte de organizações como a Human Rights Watch e Anistia Internacional. O país é uma monarquia absolutista com uma família real, a do xeique Tamim bin Hamad Al Thani, no comando do governo. Partidos políticos são proibidos e a recente concessão de eleições parlamentares é meramente uma formalidade para integrar um conselho sem grande autonomia. 

A lei xaria, versão radical do islamismo sunita, rege o país. Com isso, a homossexualidade é proibida e pode resultar até mesmo em pena de morte. O consumo de álcool também é proibido. As mulheres estão submetidas a uma lei de custódia, onde um responsável do sexo masculino pode decidir sobre diferentes aspectos de suas vidas. O abuso de direitos dos trabalhadores também é uma das grandes preocupações humanitárias com o Catar. Principalmente após reportagens internacionais denunciarem as milhares de mortes de imigrantes que rumaram para o reino desde o anúncio deste como sede da Copa de 2022. Pelo menos 34 dos óbitos foram diretamente relacionados às obras de preparação para o evento. 

Messi, Mbappé e Neymar não conseguiramlevar o PSG às quartas da Liga dos Campeões. Jogadores são alvos de críticas da torcida parisiense Foto: Carl Recine/Reuters

Apesar de tímidos avanços para se mostrar um país mais progressista e inclusivo na região, como salários igualitários para mulheres no setor público ou a garantia de maior representatividade em cargos oficiais, nada como uma Copa do Mundo para ajudar a “limpar” a imagem de ditadura islâmica autoritária. Até porque o tal “sportswashing” já vem trazendo resultados para o país. A compra do PSG, um dos maiores clubes de futebol do mundo, pelo fundo soberano catari, é uma das grandes jogadas de marketing governamental do nosso tempo. Poucas menções são feitas aos abusos de direitos humanos do Catar quando o foco está em contratações do peso de Neymar ou Messi. Da mesma forma, o país espera que com a Copa as atenções se voltem para a sua estabilidade política, as alianças militares com os EUA e o Ocidente, a ajuda humanitária para a região, a qualidade de sua rede Al Jazeera (rede de notícias catari reconhecida internacionalmente mas que não ousa criticar o regime local) e os tímidos avanços em igualdade de gênero.

 O “sportswashing” pode ser um termo relativamente novo e a estratégia pode dar certo em breve para o Catar, mas ela já vem sendo usada desde tempos imemoriais. As Olimpíadas originais, na antiga Grécia, foram usadas para parar uma guerra. Esparta massacrava Atenas em um conflito que já durava anos, quando Alcebíades, um político ateniense e exímio cavaleiro decide participar dos jogos. O investimento para tal seria melhor aproveitado na guerra, mas a proposta era que sua vitória mascarasse a realidade e desse um impulso de confiança que ajudaria a superar o inimigo. Deu certo, pelo menos por alguns momentos.

Essa com certeza foi a primeira vez que os Jogos Olímpicos foram usados para propaganda política. Mas não foi a única. A Alemanha nazista sediou as Olimpíadas de 1936 com o objetivo de usá-la como propaganda da grandiosidade e poder da ideologia de Hitler. Um estádio para cem mil pessoas foi construído, a cineasta Leni Riefenstahl foi “convidada” a produzir um documentário sobre os jogos e cartazes proibindo judeus em locais públicos foram removidos de Berlim. A Olimpíada usada como pano para limpar a imagem do nazismo perante o mundo.

Saindo das Olimpíadas e voltando a Copa do Mundo, o torneio realizado na Argentina em 1978 é emblemático. Se antes da bola rolar várias seleções ameaçavam não participar de um Campeonato realizado com uma ditadura controlando o país, com o início das partidas a parte esportiva ofuscou totalmente as atrocidades do regime militar argentino. Com direito a várias situações pra lá de questionáveis para garantir que a imagem do país dentro e fora dos gramados permanecesse irretocável.

Cada vez mais, o “sportswashing” vem sendo usado como método por governos interessados em limpar suas imagens. Mais recentemente, temos o caso de Baku, capital do Azerbaijão, pagando caro para receber a final da Liga da Europa de futebol em 2019. O Bahrein, ditadura com histórico de perseguir opositores e atentar contra a liberdade de expressão (não se sabe se foram esses os motivos que levaram o presidente Bolsonaro a elogiar o país), há anos recebe uma etapa da Fórmula 1 mesmo com críticas severas de organizações defensoras dos direitos humanos. Outro controverso GP é realizado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, outro país com a péssima fama de perseguir, prender e até torturar a oposição. Outro país a sediar uma prova do circuito de F1 é a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais controversas do mundo, que limita direitos das mulheres e cujo líder do país foi diretamente responsável pelo assassinato de um jornalista saudita crítico à família real. 

Os sauditas não estão medindo esforços – e cifras - no uso do esporte para limpar sua imagem (e tome pano): já receberam etapa de motocross, do circuito de golfe, o superclássico espanhol, o Rally Dakar, evento de luta-livre e muito mais. A China, outro país com graves violações de direitos humanos, sediou Olimpíada e patrocina atletas e equipes nas ligas esportivas mais famosas do mundo, como a NBA

A Rússia foi banida de competições pela FIFA e pelo Comitê Olímpico Internacional após invadir a Ucrânia há pouco mais de um mês. Mas Vladimir Putin já tinha a guerra com a Geórgia e a anexação da Crimeia em seu currículo quando o país sediou as Olimpíadas de Inverno em 2014 e a Copa do Mundo de Futebol em 2018. O esporte é encarado como uma ferramenta tão importante para manter uma boa imagem internacional do país que o programa de doping é quase uma instituição russa (o que já resultou em penas questionáveis no âmbito esportivo).

Hoje em dia esse “sportswashing” pode ser explicado pelo “soft power”. Perdoem o anglicismo, mas é que o termo foi criado pelo cientista político americano, Joseph Nye, para definir a estratégia de alcançar objetivos através do poder da comunicação, do entretenimento e da tecnologia em vez da força militar ou econômica. É cada vez mais comum nações fazendo uso do soft power através de sua música (alguém lembrou do k-pop sul-coreano?), do cinema e, é claro, dos esportes. E nada melhor do que mega eventos esportivos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas para atrair investimentos, impulsionar o turismo e limpar a imagem de determinados governos diante de uma audiência global.

Fica o dilema: é melhor proibir governos autoritários de sediar eventos esportivos que serão usados para melhorar suas imagens perante a comunidade internacional ou exigir que tais países melhorem seu recorde humanitário para que possam de fato receber tais competições? As organizações responsáveis por esses jogos têm o interesse social como objetivo ou estão mais preocupadas com seus fins lucrativos e ganhos políticos? E o principal: quem deveria ser o responsável por regular o uso do esporte para fins nada nobres e totalmente desconectados de seus valores originais?

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