Apagão em SP: Enel tem participação do governo da Itália e cortou funcionários; veja raio x


Blecaute que deixou 2,1 milhões sem luz retomou a discussão sobre a possibilidade de caducidade da concessão; empresa diz que toma medidas para a modernização da rede

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

De origem italiana, a Enel se vê ameaçada diante de uma manifestação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a possibilidade de pedir a caducidade da concessão que a empresa possui para distribuir energia em São Paulo. A ameaça ocorre em meio a mais um apagão, que deixou 2,1 milhões de clientes sem luz na sexta-feira, 11.

O blecaute ocorre justamente no momento em que a empresa vinha apostando em uma estratégia de anunciar investimentos bilionários na tentativa de melhorar a sua imagem no País. Em novembro de 2023, milhões de clientes de São Paulo também ficaram no escuro. A crise levou até a troca do presidente da companhia no Brasil.

Restaurante às escuras em Pinheiros, na zona oeste; tempestade em São Paulo deixou milhões sem energia elétrica. Foto: Werther Santana/Estadão
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Na crise de agora, todos os lados políticos se levantaram contra a companhia, pressionando pelo fim da concessão do contrato da Enel. A empresa se transformou em alvo do prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MBD), e do seu oponente, Guilherme Boulos (PSOL). As críticas também vieram do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A principal queixa é porque a Enel, ao longo dos últimos anos, reduziu o quadro de funcionários e, mais recentemente, cortou investimentos. Assim, não estaria conseguindo prestar um serviço minimamente aceitável.

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No terceiro trimestre de 2023, antes do primeiro apagão, a Enel São Paulo tinha 15.366 empregados, sendo 11.503 terceirizados e 3.863 próprios. O número representou uma queda em relação ao mesmo período do ano anterior, quando eram 17.475 - sendo 13.034 terceirizados e 4.441 próprios. No seu balanço consolidado de 2023, a empresa reportou 15.721 trabalhadores. Como comparação, em 2020 eram quase 27 mil.

“A empresa reforça que não reduziu a força de trabalho que atua em campo e tem aumentado o seu quadro de eletricistas próprios. A redução no quadro pessoal no período não trouxe impactos às atividades operacionais da distribuidora”, informou a companhia em nota.

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Efeito global

Especialistas dizem que a redução de custos vem de uma tendência global da empresa, num movimento que buscou remunerar melhor os acionistas.

Fundada em 1962, a Enel nasceu como uma estatal com o objetivo de unificar os serviços de geração, transmissão e distribuição de eletricidade da Itália. A empresa se transformou numa das maiores do mundo - está presente em 29 países - e o governo italiano tinha, por meio do Ministério de Economia e Finanças, 23,6% de participação na holding até o fim do ano passado.

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“Ela foi a Eletrobrás da Itália. E, no processo de liberalização, foi perdendo a participação do Estado no controle acionário dela”, afirma Nivalde de Castro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel).

E, de fato, esse processo de redução do papel do Estado se confirmou. Em 2023, a maior parte do capital da Enel estava distribuída entre os investidores institucionais (58,6%). Os de varejo possuíam 17,6%.

“E acionista do mercado financeiro quer dividendo. Essa política acabou batendo no Brasil. A empresa busca vender ativos e faz uma gestão de reduzir custos”, explica Nivalde. “Mas isso foi até o ano passado. Quando assumiu, o novo governo decidiu apitar mais no controle dessa empresa.”

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Em 2022, a Itália viu chegar ao poder a primeira-ministra Giorgia Meloni, uma líder ultradireitista. “E aí mudou essa estratégia de dividendo trimestral para o investimento de longo prazo”, diz Nivalde.

Desconfiança brasileira

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No Brasil, a Enel São Paulo também reduziu os investimentos. Em 2023, eles somaram R$ 1,6 bilhão e recuaram 16,1% na comparação com 2022.

Neste ano, porém, os números mostram uma melhora - até agora. No segundo trimestre, os investimentos em concessão somaram R$ 542,5 milhões, um crescimento de 34,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior. No semestre, alcançaram R$ 915,146 milhões, uma alta de 5% em relação a 2023 (R$ 871,930 milhões).

Antes do apagão da última sexta-feira, a empresa havia apresentado um plano de investimento e o reforço das ações para enfrentar as contingências no verão na área de concessão do Estado. O investimento prometido pela companhia é de cerca de R$ 6,2 bilhões até 2026 em São Paulo, um aumento de 43% em relação à média anual dos últimos seis anos, para intensificar manutenções preventivas e modernizar a rede elétrica.

A empresa também informou que vai contratar 1,2 mil trabalhadores até março de 2025 e se comprometeu a dobrar o número de podas preventivas, para 600 mil por ano, em parceria com a prefeitura. A Enel também anunciou investimentos bilionários no Rio de Janeiro e no Ceará. Ao todo, devem somar R$ 20 bilhões.

Mas, antes que esses investimentos fossem, de fato, realizados, a empresa se viu diante de mais uma crise com mais de 700 mil clientes sem luz, quase 48 horas depois do temporal que atingiu São Paulo na sexta-feira.

A Enel tem ressaltado que estava mais preparada para o evento deste ano em comparação ao de novembro passado, assim como tem reiterado que toma medidas para a modernização da rede. “A distribuidora está comprometida em ir além dos indicadores estabelecidos e segue com um plano estruturado para seguir a trajetória de melhoria contínua dos serviços”, apontou também em nota.

“A Enel reitera seu compromisso com a sociedade em todas as áreas em que atua e reforça que está fazendo os investimentos necessários para aumentar a qualidade dos serviços, em linha com as expectativas das autoridades e dos consumidores brasileiros”, disse a a empresa.

Como a Enel chegou em São Paulo?

Em São Paulo, a Enel passou a atuar na distribuição de energia elétrica ao adquirir a 73,38% das ações da Eletropaulo em leilão realizado na B3 em junho de 2018. A empresa pagou R$ 5,55 bilhões. No Brasil, a companhia também opera na distribuição no Ceará e Rio de Janeiro e está presente em outros Estados em geração e comercialização de energia.

Em São Paulo, a empresa é responsável pela distribuição de energia em 24 municípios, para 8 milhões de unidades.

A Enel São Paulo - antiga Eletropaulo - não tem ação na Bolsa. Todas as ações estão em posse da Enel Brasil, cujo controle é da Enel Américas, com 99,54% do capital. Por sua vez, a Enel Américas tem 82,3% das suas ações em posse da própria Enel, 8,9% com investidores institucionais, 8% com fundos de pensão chileno. Há ainda uma parte residual com outros acionistas. / COLABOROU DENISE LUNA

De origem italiana, a Enel se vê ameaçada diante de uma manifestação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a possibilidade de pedir a caducidade da concessão que a empresa possui para distribuir energia em São Paulo. A ameaça ocorre em meio a mais um apagão, que deixou 2,1 milhões de clientes sem luz na sexta-feira, 11.

O blecaute ocorre justamente no momento em que a empresa vinha apostando em uma estratégia de anunciar investimentos bilionários na tentativa de melhorar a sua imagem no País. Em novembro de 2023, milhões de clientes de São Paulo também ficaram no escuro. A crise levou até a troca do presidente da companhia no Brasil.

Restaurante às escuras em Pinheiros, na zona oeste; tempestade em São Paulo deixou milhões sem energia elétrica. Foto: Werther Santana/Estadão

Na crise de agora, todos os lados políticos se levantaram contra a companhia, pressionando pelo fim da concessão do contrato da Enel. A empresa se transformou em alvo do prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MBD), e do seu oponente, Guilherme Boulos (PSOL). As críticas também vieram do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A principal queixa é porque a Enel, ao longo dos últimos anos, reduziu o quadro de funcionários e, mais recentemente, cortou investimentos. Assim, não estaria conseguindo prestar um serviço minimamente aceitável.

No terceiro trimestre de 2023, antes do primeiro apagão, a Enel São Paulo tinha 15.366 empregados, sendo 11.503 terceirizados e 3.863 próprios. O número representou uma queda em relação ao mesmo período do ano anterior, quando eram 17.475 - sendo 13.034 terceirizados e 4.441 próprios. No seu balanço consolidado de 2023, a empresa reportou 15.721 trabalhadores. Como comparação, em 2020 eram quase 27 mil.

“A empresa reforça que não reduziu a força de trabalho que atua em campo e tem aumentado o seu quadro de eletricistas próprios. A redução no quadro pessoal no período não trouxe impactos às atividades operacionais da distribuidora”, informou a companhia em nota.

Efeito global

Especialistas dizem que a redução de custos vem de uma tendência global da empresa, num movimento que buscou remunerar melhor os acionistas.

Fundada em 1962, a Enel nasceu como uma estatal com o objetivo de unificar os serviços de geração, transmissão e distribuição de eletricidade da Itália. A empresa se transformou numa das maiores do mundo - está presente em 29 países - e o governo italiano tinha, por meio do Ministério de Economia e Finanças, 23,6% de participação na holding até o fim do ano passado.

“Ela foi a Eletrobrás da Itália. E, no processo de liberalização, foi perdendo a participação do Estado no controle acionário dela”, afirma Nivalde de Castro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel).

E, de fato, esse processo de redução do papel do Estado se confirmou. Em 2023, a maior parte do capital da Enel estava distribuída entre os investidores institucionais (58,6%). Os de varejo possuíam 17,6%.

“E acionista do mercado financeiro quer dividendo. Essa política acabou batendo no Brasil. A empresa busca vender ativos e faz uma gestão de reduzir custos”, explica Nivalde. “Mas isso foi até o ano passado. Quando assumiu, o novo governo decidiu apitar mais no controle dessa empresa.”

Em 2022, a Itália viu chegar ao poder a primeira-ministra Giorgia Meloni, uma líder ultradireitista. “E aí mudou essa estratégia de dividendo trimestral para o investimento de longo prazo”, diz Nivalde.

Desconfiança brasileira

No Brasil, a Enel São Paulo também reduziu os investimentos. Em 2023, eles somaram R$ 1,6 bilhão e recuaram 16,1% na comparação com 2022.

Neste ano, porém, os números mostram uma melhora - até agora. No segundo trimestre, os investimentos em concessão somaram R$ 542,5 milhões, um crescimento de 34,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior. No semestre, alcançaram R$ 915,146 milhões, uma alta de 5% em relação a 2023 (R$ 871,930 milhões).

Antes do apagão da última sexta-feira, a empresa havia apresentado um plano de investimento e o reforço das ações para enfrentar as contingências no verão na área de concessão do Estado. O investimento prometido pela companhia é de cerca de R$ 6,2 bilhões até 2026 em São Paulo, um aumento de 43% em relação à média anual dos últimos seis anos, para intensificar manutenções preventivas e modernizar a rede elétrica.

A empresa também informou que vai contratar 1,2 mil trabalhadores até março de 2025 e se comprometeu a dobrar o número de podas preventivas, para 600 mil por ano, em parceria com a prefeitura. A Enel também anunciou investimentos bilionários no Rio de Janeiro e no Ceará. Ao todo, devem somar R$ 20 bilhões.

Mas, antes que esses investimentos fossem, de fato, realizados, a empresa se viu diante de mais uma crise com mais de 700 mil clientes sem luz, quase 48 horas depois do temporal que atingiu São Paulo na sexta-feira.

A Enel tem ressaltado que estava mais preparada para o evento deste ano em comparação ao de novembro passado, assim como tem reiterado que toma medidas para a modernização da rede. “A distribuidora está comprometida em ir além dos indicadores estabelecidos e segue com um plano estruturado para seguir a trajetória de melhoria contínua dos serviços”, apontou também em nota.

“A Enel reitera seu compromisso com a sociedade em todas as áreas em que atua e reforça que está fazendo os investimentos necessários para aumentar a qualidade dos serviços, em linha com as expectativas das autoridades e dos consumidores brasileiros”, disse a a empresa.

Como a Enel chegou em São Paulo?

Em São Paulo, a Enel passou a atuar na distribuição de energia elétrica ao adquirir a 73,38% das ações da Eletropaulo em leilão realizado na B3 em junho de 2018. A empresa pagou R$ 5,55 bilhões. No Brasil, a companhia também opera na distribuição no Ceará e Rio de Janeiro e está presente em outros Estados em geração e comercialização de energia.

Em São Paulo, a empresa é responsável pela distribuição de energia em 24 municípios, para 8 milhões de unidades.

A Enel São Paulo - antiga Eletropaulo - não tem ação na Bolsa. Todas as ações estão em posse da Enel Brasil, cujo controle é da Enel Américas, com 99,54% do capital. Por sua vez, a Enel Américas tem 82,3% das suas ações em posse da própria Enel, 8,9% com investidores institucionais, 8% com fundos de pensão chileno. Há ainda uma parte residual com outros acionistas. / COLABOROU DENISE LUNA

De origem italiana, a Enel se vê ameaçada diante de uma manifestação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a possibilidade de pedir a caducidade da concessão que a empresa possui para distribuir energia em São Paulo. A ameaça ocorre em meio a mais um apagão, que deixou 2,1 milhões de clientes sem luz na sexta-feira, 11.

O blecaute ocorre justamente no momento em que a empresa vinha apostando em uma estratégia de anunciar investimentos bilionários na tentativa de melhorar a sua imagem no País. Em novembro de 2023, milhões de clientes de São Paulo também ficaram no escuro. A crise levou até a troca do presidente da companhia no Brasil.

Restaurante às escuras em Pinheiros, na zona oeste; tempestade em São Paulo deixou milhões sem energia elétrica. Foto: Werther Santana/Estadão

Na crise de agora, todos os lados políticos se levantaram contra a companhia, pressionando pelo fim da concessão do contrato da Enel. A empresa se transformou em alvo do prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MBD), e do seu oponente, Guilherme Boulos (PSOL). As críticas também vieram do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A principal queixa é porque a Enel, ao longo dos últimos anos, reduziu o quadro de funcionários e, mais recentemente, cortou investimentos. Assim, não estaria conseguindo prestar um serviço minimamente aceitável.

No terceiro trimestre de 2023, antes do primeiro apagão, a Enel São Paulo tinha 15.366 empregados, sendo 11.503 terceirizados e 3.863 próprios. O número representou uma queda em relação ao mesmo período do ano anterior, quando eram 17.475 - sendo 13.034 terceirizados e 4.441 próprios. No seu balanço consolidado de 2023, a empresa reportou 15.721 trabalhadores. Como comparação, em 2020 eram quase 27 mil.

“A empresa reforça que não reduziu a força de trabalho que atua em campo e tem aumentado o seu quadro de eletricistas próprios. A redução no quadro pessoal no período não trouxe impactos às atividades operacionais da distribuidora”, informou a companhia em nota.

Efeito global

Especialistas dizem que a redução de custos vem de uma tendência global da empresa, num movimento que buscou remunerar melhor os acionistas.

Fundada em 1962, a Enel nasceu como uma estatal com o objetivo de unificar os serviços de geração, transmissão e distribuição de eletricidade da Itália. A empresa se transformou numa das maiores do mundo - está presente em 29 países - e o governo italiano tinha, por meio do Ministério de Economia e Finanças, 23,6% de participação na holding até o fim do ano passado.

“Ela foi a Eletrobrás da Itália. E, no processo de liberalização, foi perdendo a participação do Estado no controle acionário dela”, afirma Nivalde de Castro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel).

E, de fato, esse processo de redução do papel do Estado se confirmou. Em 2023, a maior parte do capital da Enel estava distribuída entre os investidores institucionais (58,6%). Os de varejo possuíam 17,6%.

“E acionista do mercado financeiro quer dividendo. Essa política acabou batendo no Brasil. A empresa busca vender ativos e faz uma gestão de reduzir custos”, explica Nivalde. “Mas isso foi até o ano passado. Quando assumiu, o novo governo decidiu apitar mais no controle dessa empresa.”

Em 2022, a Itália viu chegar ao poder a primeira-ministra Giorgia Meloni, uma líder ultradireitista. “E aí mudou essa estratégia de dividendo trimestral para o investimento de longo prazo”, diz Nivalde.

Desconfiança brasileira

No Brasil, a Enel São Paulo também reduziu os investimentos. Em 2023, eles somaram R$ 1,6 bilhão e recuaram 16,1% na comparação com 2022.

Neste ano, porém, os números mostram uma melhora - até agora. No segundo trimestre, os investimentos em concessão somaram R$ 542,5 milhões, um crescimento de 34,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior. No semestre, alcançaram R$ 915,146 milhões, uma alta de 5% em relação a 2023 (R$ 871,930 milhões).

Antes do apagão da última sexta-feira, a empresa havia apresentado um plano de investimento e o reforço das ações para enfrentar as contingências no verão na área de concessão do Estado. O investimento prometido pela companhia é de cerca de R$ 6,2 bilhões até 2026 em São Paulo, um aumento de 43% em relação à média anual dos últimos seis anos, para intensificar manutenções preventivas e modernizar a rede elétrica.

A empresa também informou que vai contratar 1,2 mil trabalhadores até março de 2025 e se comprometeu a dobrar o número de podas preventivas, para 600 mil por ano, em parceria com a prefeitura. A Enel também anunciou investimentos bilionários no Rio de Janeiro e no Ceará. Ao todo, devem somar R$ 20 bilhões.

Mas, antes que esses investimentos fossem, de fato, realizados, a empresa se viu diante de mais uma crise com mais de 700 mil clientes sem luz, quase 48 horas depois do temporal que atingiu São Paulo na sexta-feira.

A Enel tem ressaltado que estava mais preparada para o evento deste ano em comparação ao de novembro passado, assim como tem reiterado que toma medidas para a modernização da rede. “A distribuidora está comprometida em ir além dos indicadores estabelecidos e segue com um plano estruturado para seguir a trajetória de melhoria contínua dos serviços”, apontou também em nota.

“A Enel reitera seu compromisso com a sociedade em todas as áreas em que atua e reforça que está fazendo os investimentos necessários para aumentar a qualidade dos serviços, em linha com as expectativas das autoridades e dos consumidores brasileiros”, disse a a empresa.

Como a Enel chegou em São Paulo?

Em São Paulo, a Enel passou a atuar na distribuição de energia elétrica ao adquirir a 73,38% das ações da Eletropaulo em leilão realizado na B3 em junho de 2018. A empresa pagou R$ 5,55 bilhões. No Brasil, a companhia também opera na distribuição no Ceará e Rio de Janeiro e está presente em outros Estados em geração e comercialização de energia.

Em São Paulo, a empresa é responsável pela distribuição de energia em 24 municípios, para 8 milhões de unidades.

A Enel São Paulo - antiga Eletropaulo - não tem ação na Bolsa. Todas as ações estão em posse da Enel Brasil, cujo controle é da Enel Américas, com 99,54% do capital. Por sua vez, a Enel Américas tem 82,3% das suas ações em posse da própria Enel, 8,9% com investidores institucionais, 8% com fundos de pensão chileno. Há ainda uma parte residual com outros acionistas. / COLABOROU DENISE LUNA

De origem italiana, a Enel se vê ameaçada diante de uma manifestação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a possibilidade de pedir a caducidade da concessão que a empresa possui para distribuir energia em São Paulo. A ameaça ocorre em meio a mais um apagão, que deixou 2,1 milhões de clientes sem luz na sexta-feira, 11.

O blecaute ocorre justamente no momento em que a empresa vinha apostando em uma estratégia de anunciar investimentos bilionários na tentativa de melhorar a sua imagem no País. Em novembro de 2023, milhões de clientes de São Paulo também ficaram no escuro. A crise levou até a troca do presidente da companhia no Brasil.

Restaurante às escuras em Pinheiros, na zona oeste; tempestade em São Paulo deixou milhões sem energia elétrica. Foto: Werther Santana/Estadão

Na crise de agora, todos os lados políticos se levantaram contra a companhia, pressionando pelo fim da concessão do contrato da Enel. A empresa se transformou em alvo do prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MBD), e do seu oponente, Guilherme Boulos (PSOL). As críticas também vieram do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A principal queixa é porque a Enel, ao longo dos últimos anos, reduziu o quadro de funcionários e, mais recentemente, cortou investimentos. Assim, não estaria conseguindo prestar um serviço minimamente aceitável.

No terceiro trimestre de 2023, antes do primeiro apagão, a Enel São Paulo tinha 15.366 empregados, sendo 11.503 terceirizados e 3.863 próprios. O número representou uma queda em relação ao mesmo período do ano anterior, quando eram 17.475 - sendo 13.034 terceirizados e 4.441 próprios. No seu balanço consolidado de 2023, a empresa reportou 15.721 trabalhadores. Como comparação, em 2020 eram quase 27 mil.

“A empresa reforça que não reduziu a força de trabalho que atua em campo e tem aumentado o seu quadro de eletricistas próprios. A redução no quadro pessoal no período não trouxe impactos às atividades operacionais da distribuidora”, informou a companhia em nota.

Efeito global

Especialistas dizem que a redução de custos vem de uma tendência global da empresa, num movimento que buscou remunerar melhor os acionistas.

Fundada em 1962, a Enel nasceu como uma estatal com o objetivo de unificar os serviços de geração, transmissão e distribuição de eletricidade da Itália. A empresa se transformou numa das maiores do mundo - está presente em 29 países - e o governo italiano tinha, por meio do Ministério de Economia e Finanças, 23,6% de participação na holding até o fim do ano passado.

“Ela foi a Eletrobrás da Itália. E, no processo de liberalização, foi perdendo a participação do Estado no controle acionário dela”, afirma Nivalde de Castro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel).

E, de fato, esse processo de redução do papel do Estado se confirmou. Em 2023, a maior parte do capital da Enel estava distribuída entre os investidores institucionais (58,6%). Os de varejo possuíam 17,6%.

“E acionista do mercado financeiro quer dividendo. Essa política acabou batendo no Brasil. A empresa busca vender ativos e faz uma gestão de reduzir custos”, explica Nivalde. “Mas isso foi até o ano passado. Quando assumiu, o novo governo decidiu apitar mais no controle dessa empresa.”

Em 2022, a Itália viu chegar ao poder a primeira-ministra Giorgia Meloni, uma líder ultradireitista. “E aí mudou essa estratégia de dividendo trimestral para o investimento de longo prazo”, diz Nivalde.

Desconfiança brasileira

No Brasil, a Enel São Paulo também reduziu os investimentos. Em 2023, eles somaram R$ 1,6 bilhão e recuaram 16,1% na comparação com 2022.

Neste ano, porém, os números mostram uma melhora - até agora. No segundo trimestre, os investimentos em concessão somaram R$ 542,5 milhões, um crescimento de 34,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior. No semestre, alcançaram R$ 915,146 milhões, uma alta de 5% em relação a 2023 (R$ 871,930 milhões).

Antes do apagão da última sexta-feira, a empresa havia apresentado um plano de investimento e o reforço das ações para enfrentar as contingências no verão na área de concessão do Estado. O investimento prometido pela companhia é de cerca de R$ 6,2 bilhões até 2026 em São Paulo, um aumento de 43% em relação à média anual dos últimos seis anos, para intensificar manutenções preventivas e modernizar a rede elétrica.

A empresa também informou que vai contratar 1,2 mil trabalhadores até março de 2025 e se comprometeu a dobrar o número de podas preventivas, para 600 mil por ano, em parceria com a prefeitura. A Enel também anunciou investimentos bilionários no Rio de Janeiro e no Ceará. Ao todo, devem somar R$ 20 bilhões.

Mas, antes que esses investimentos fossem, de fato, realizados, a empresa se viu diante de mais uma crise com mais de 700 mil clientes sem luz, quase 48 horas depois do temporal que atingiu São Paulo na sexta-feira.

A Enel tem ressaltado que estava mais preparada para o evento deste ano em comparação ao de novembro passado, assim como tem reiterado que toma medidas para a modernização da rede. “A distribuidora está comprometida em ir além dos indicadores estabelecidos e segue com um plano estruturado para seguir a trajetória de melhoria contínua dos serviços”, apontou também em nota.

“A Enel reitera seu compromisso com a sociedade em todas as áreas em que atua e reforça que está fazendo os investimentos necessários para aumentar a qualidade dos serviços, em linha com as expectativas das autoridades e dos consumidores brasileiros”, disse a a empresa.

Como a Enel chegou em São Paulo?

Em São Paulo, a Enel passou a atuar na distribuição de energia elétrica ao adquirir a 73,38% das ações da Eletropaulo em leilão realizado na B3 em junho de 2018. A empresa pagou R$ 5,55 bilhões. No Brasil, a companhia também opera na distribuição no Ceará e Rio de Janeiro e está presente em outros Estados em geração e comercialização de energia.

Em São Paulo, a empresa é responsável pela distribuição de energia em 24 municípios, para 8 milhões de unidades.

A Enel São Paulo - antiga Eletropaulo - não tem ação na Bolsa. Todas as ações estão em posse da Enel Brasil, cujo controle é da Enel Américas, com 99,54% do capital. Por sua vez, a Enel Américas tem 82,3% das suas ações em posse da própria Enel, 8,9% com investidores institucionais, 8% com fundos de pensão chileno. Há ainda uma parte residual com outros acionistas. / COLABOROU DENISE LUNA

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