BELO HORIZONTE - Igrejas católicas da capital mineira amanheceram com funcionamento restrito no Domingo de Páscoa e sem previsão de realização de missas com a presença física de fiéis para o dia. A determinação da arquidiocese da cidade é que nenhum templo realize cerimônias que não sejam exclusivamente para transmissão on-line. A decisão da Igreja Católica em Belo Horizonte foi tomada ao mesmo tempo em que ocorre embate entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques e o prefeito da capital, Alexandre Kalil (PSD). No sábado, 3, o ministro decidiu monocraticamente pelo funcionamento de igrejas com a presença de fiéis. Kalil foi às redes sociais e afirmou que na cidade vale o seu decreto, que proíbe o funcionamento dos templos. A justificativa do prefeito foi que a decisão do Pleno do STF, que dá autonomia aos gestores locais para definir medidas de combate ao coronavírus, sustenta seu posicionamento.
Na madrugada deste domingo, porém, o ministro Kassio determinou que a Polícia Federal garantisse que Kalil cumprisse sua decisão. O ministro intimou Kalil, determinou ‘imediato cumprimento’ da liminar e ainda indicou que o prefeito deverá esclarecer, em 24 horas, as "providências tomadas, sob pena de responsabilização, inclusive no âmbito criminal". A reportagem entrou em contato com a assessoria do prefeito e aguarda retorno.
Informações de funcionários na Igreja Boa Viagem dão conta que somente uma missa seria realizada neste Domingo de Páscoa, às 11h, e apenas com transmissão pela internet. A capela São Pedro J Eymard, que fica ao lado do templo, estava aberta. Duas pessoas rezavam no local por volta das 9h. O decreto da prefeitura proíbe missas e cultos, mas orações individuais com distanciamento dentro dos templos são permitidas. A Igreja de Nossa Senhora de Lourdes operou com o mesmo sistema. Uma missa on-line foi marcada para as 10h. Uma porta lateral da igreja estava aberta nesta manhã para acesso restrito com o objetivo de orações individuais. Havia álcool em gel e divisão dos bancos para distanciamento social. Por volta das 9h, apenas uma pessoa rezava na igreja. A Igreja São José, por volta das 9h30, tinha portas laterais abertas, mas os portões externos que acessam o adro estavam todos trancados. A Igreja de São Sebastião, que chegou a anunciar a realização de missas no Domingo de Páscoa antes mesmo da decisão do ministro Kassio, recuou e ainda neste sábado anunciou que as celebrações não ocorreriam. Pelas redes sociais, anunciou uma missa on-line para as 10h.
'Quem tem bom senso não vai atrás disso', diz padre de santuário no interior de Minas
Responsável pelo Santuário de São João Batista, em Barão de Cocais, a cidade do interior de Minas Gerais que há quase dois anos vive sob o risco iminente de ruptura de uma barragem da mineradora Vale, o padre José Antonio de Oliveira afirma que sua igreja continuará fechada e que orações e missas seguirão sendo transmitidas pelo rádio e redes sociais, apesar da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques que autoriza celebrações com a presença física de fiéis. "Quem tem bom senso não vai atrás disso. O cuidado com a vida está acima de tudo. Podem permitir (a realização das missas e cultos com fieis nos templos), mas não podem obrigar", declarou o religioso.
O padre afirmou que as orações são realizadas diariamente e as missas aos fins de semana, e que nas transmissões mostra aos ouvintes que, mais importante que o culto presencial, é a manutenção da espiritualidade. "Você pode alimentar sua espiritualidade de muitas formas, não apenas com a presença num templo", aponta. O padre disse ainda não ter recebido orientações da prefeitura ou do comando da Igreja Católica no Estado para realizar celebrações com a presença física de fiéis, e lembrou trechos da Bíblia para justificar sua decisão. "Quando é perguntado a Jesus onde se deveria orar, Ele responde que o verdadeiro adorador adora em espírito e em vida, com respeito ao espírito e com a vida, e não exclusivamente em um local específico", conta o padre.