Memória, preservação e acervos

Quando o relógio do Pátio do Colégio parou


O tempo parou no Pátio do Colégio no fim do século 19. Duas fotos do local tiradas com nove anos de diferença, mostram  o relógio da antiga igreja do Bom Jesus marcando o mesmo horário: 4h30.

Por Edmundo Leite
 Foto: Estadão

1887 e 1896: ponteiros na mesma posição

O primeiro registro, feito em 1887 por Militão Augusto de Azevedo, mostra o então palácio do governo e a igrega construída pelos jesuítas que ocupavam o local em bom estado de conservação. O segundo, captado em 1896 após um desabamento do teto causado pela chuva, é de autoria desconhecida e mostra apenas a igreja em condições precárias. No canto esquerdo, é possível ver um pequeno trecho do palácio, aparentemente em boas condições.

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Os ponteiros parados do relógio podem ser mera coincidência de horário na captação das imagens. Mas podem também sugerir o início do descaso com a região. A diferença na conservação dos dois edifícios, ambos inexistentes nos dias de hoje, simbolizam uma série de acontecimentos que transformam o local que guarda a história de várias histórias. Visíveis e invisíveis.

Considerado o marco da fundação da cidade de São Paulo, que hoje comemora 458 anos, o Pátio do Colégio foi descrito,  pintado e fotografado por diferentes olhares ao longo desses anos.

Em 1585, deu a impressão ao padre jesuíta Fernão Cardim de estar "passeando numa quinta minhota". Lá encontrou um "colégio bem instalado, com oito cubículos para residência dos religiosos, uma biblioteca de quinze mil volumes, um poço de boa água (...) grande chácara com árvores frutíferas europeias e nacionais, legumes, hortaliças, e muitas flores cobrindo as cercas".

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Essa visão bucólica de onde foi fundada a cidade de São Paulo tem fim na primeira expulsão dos Jesuítas, em 1640. A partir daí o Pátio do Colégio foi testemunha de diversos conflitos entre Igreja e Estado que atravessaram  todos os períodos até seu fim, na República.

Da fundação da cidade até 1979, o que conhecemos como Pátio do Colégio, foi reformado, demolido e reconstruído diversas vezes. Foi pátio e largo. Conheceu várias técnicas de construção, desde o pau-a-pique até o concreto armado. Foi colégio e igreja dos jesuítas, palácio de governadores e secretaria de Estado. Hoje é também museu. A primeira igreja da cidade, atual capela, até já mudou de santo.

 Foto: Estadão
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Pátio, no destaque da pintura de Thomas Ender (1817)

Conheça algumas histórias do Pátio Colégio:

1553

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Cacique Tibiriça constrói uma cabana  no alto da colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú para abrigar os missionários jesuítas que chegariam no início do ano seguinte.

1554

Marco da fundação de São Paulo de Piratininga com a missa celebrada por Manuel de Paiva. A historiografia relata que também estavam presentes o padre José de Anchieta, o português João Ramalho e sua mulher, a índia Bartira, os chefes indígenas Tibiriça e Caiubí e tendo como plateia índios Guaianás e Tupiniquins.

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1556

Inauguração da igreja e do colégio, ambos de pau-a-pique e com paredes pintadas de branco provenientes da tabatinga. É a primeira igreja da cidade. A casa dos jesuítas casa tinha 95,28 m² e abrigava o seminário e a escola de "curumins".

1561

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A região do Pátio do colégio, que já abrigava residências, foi fortificada para se defender dos ataques de índios.

1611

A igreja é dedicada ao Bom Jesus.

1640

Os Jesuítas foram expulsos de São Paulo por não concordarem com a escravidão indígena. Nos 13 anos de exílio a Igreja e o Colégio foram abandonados e desmoronaram. Geraldo Dutra de Moraes, autor do livro "A Igreja e o Colégio dos Jesuítas De São Paulo", destaca que apesar de serem construídos com material frágil, a primeira construção durou  mais de um século.

1653

Com o retorno dos Jesuítas começa a ser construído um novo conjunto igreja/colégio. Dessa vez em barro apiloado e pedra. A igreja foi inspirada na Nossa Senhora da Graça de Olinda.

1681

Reforma do edifício. A torre da igreja foi refeita usando alvenaria de tijolos, argamassa de cal e ostras (sambaqui).

1727

Construção da ala perpendicular.

1759

Expulsão dos Jesuítas do reino Português e confisco de todos seus bens.

1765

A partir dessa data o prédio do Colégio foi residência de governadores.

1881

O prédio perpendicular é derrubado por ordem do governador Florêncio de Abreu e o terreno anexado ao jardim do palácio.

 Foto: Estadão

Relógio marca 9h30

1885

O pátio foi ajardinado e cercado por grades de ferro

 Foto: Estadão

Ponteiros marcando 3h30

1886

A fachada do colégio é remodelada retirando as características do colégio dos Jesuítas. No local funciona o Palácio do Governo.

1891

Lei determina que "aquele local da igreja se convertesse em congresso constituinte do Estado de São Paulo" para que "no terreno sacro fosse construído um edifício de concepção moderna".

A lei do governo Jorge Tibiriça foi considerada uma profanação e teve forte reação do clero e do povo. A disputa foi parar na Justiça e  resolvida em fevereiro de 1896, quando o clero ganha o direito de manter a igreja em pé.

1896

O Estado de S.Paulo - 14/3/1896

 Foto: Estadão

Mas quem deu o veredito final foi a natureza. Em março do mesmo ano uma tempestade derruba o teto da igreja e não houve nenhum esforço para reconstruí-la. Na época houve a tese de que o desabamento teria sido um ato criminoso. Mas nada foi provado. Dois dias depois do desabamento, o engenheiro baiano Teodoro Sampaio se encarregou da demolição.

Desde a fundação de São Paulo, 342 anos depois, os Jesuítas deixam de ter presença no local de onde fundaram a cidade. Do original ficaram dois lances da torre, o alicerce de pedra ferruginosa (limonita) e as paredes de taipa de pilão com mais de 1 metro de largura que serviram de base para a nova torre do edifício do prédio da constituinte paulista.

O governador Campos Sales manda construir fonte e coreto para a banda da força pública.

1897

Decreto 429 de 15 de fevereiro de 1897 autoriza 350 contos de reis para indenizar a Cúria pela demolição da Igreja.

1925

Retirada a fonte, o gradeamento e o coreto. É inaugurado o monumento "Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo" do italiano Amadeo Zani.

 Foto: Estadão

Em 1933,  monumento de Amadeo Zani e sede da Secretaria da Educação

1953

Depois de 194 anos, os Jesuítas têm de volta a posse do terreno. A Assembleia Legislativa aprova projeto de lei doando à Sociedade Brasileira de Educação (Obras Sociais Catequéticas e Educacionais da Companhia de Jesus) a área do terreno onde existiriam os edifícios para que eles fossem reconstruídos. No prédio funcionava a Secretaria de Educação, que vai para o Largo do Arouche. O edifício é demolido.

 Foto: Estadão

Demolição do palácio do governo. Foto: A. Aguillar

 Foto: Estadão

Paredes internas do antigo colégio

1954

Lançada a pedra fundamental da obra de restauração que deveria lembrar o conjunto original. Nas comemorações dos 400 anos da cidade, foram montadas reproduções do que seriam a primeira cabana e cruz.

 Foto: Estadão

1957

As obras foram iniciadas e escavações descobriram os alicerces do prédio do século XVII que foram mantidos na construção do prédio do século XIX e que agora seriam preservados e reforçados com concreto armado para abrigar o prédio do século XX. A igreja não fora reconstruída porque o governo ainda não havia cedido a área ao lado do colégio.

1961

O prédio do Colégio, baseado no prédio do século XVII, é inaugurado como é conhecido hoje.

 Foto: Estadão

Em imagem de 1971, o colégio sem a igreja

 Foto: Estadão

Na placa, o protesto

1967

Prefeitura doa o terreno para a construção da igreja.

1976

Prefeitura de São Paulo aprova Cr$ 7 milhões para a reconstrução da igreja e criação do museu.

 Foto: Estadão

1979

Inauguração do museu e da igreja (réplica do século XVIII), agora em concreto armado e dedicada ao beato José de Anchieta.

 Foto: Estadão

2012

No aniversário da cidade, o Pátio do Colégio é palco de vários eventos da comemoração.

 Foto: Estadão

Pátio do Colégio no Google Street View

Pesquisa e Texto: Carlos Eduardo EntiniSiga o Arquivo Estadão: twitter@estadaoarquivo e facebook/arquivoestadao

 Foto: Estadão

1887 e 1896: ponteiros na mesma posição

O primeiro registro, feito em 1887 por Militão Augusto de Azevedo, mostra o então palácio do governo e a igrega construída pelos jesuítas que ocupavam o local em bom estado de conservação. O segundo, captado em 1896 após um desabamento do teto causado pela chuva, é de autoria desconhecida e mostra apenas a igreja em condições precárias. No canto esquerdo, é possível ver um pequeno trecho do palácio, aparentemente em boas condições.

Os ponteiros parados do relógio podem ser mera coincidência de horário na captação das imagens. Mas podem também sugerir o início do descaso com a região. A diferença na conservação dos dois edifícios, ambos inexistentes nos dias de hoje, simbolizam uma série de acontecimentos que transformam o local que guarda a história de várias histórias. Visíveis e invisíveis.

Considerado o marco da fundação da cidade de São Paulo, que hoje comemora 458 anos, o Pátio do Colégio foi descrito,  pintado e fotografado por diferentes olhares ao longo desses anos.

Em 1585, deu a impressão ao padre jesuíta Fernão Cardim de estar "passeando numa quinta minhota". Lá encontrou um "colégio bem instalado, com oito cubículos para residência dos religiosos, uma biblioteca de quinze mil volumes, um poço de boa água (...) grande chácara com árvores frutíferas europeias e nacionais, legumes, hortaliças, e muitas flores cobrindo as cercas".

Essa visão bucólica de onde foi fundada a cidade de São Paulo tem fim na primeira expulsão dos Jesuítas, em 1640. A partir daí o Pátio do Colégio foi testemunha de diversos conflitos entre Igreja e Estado que atravessaram  todos os períodos até seu fim, na República.

Da fundação da cidade até 1979, o que conhecemos como Pátio do Colégio, foi reformado, demolido e reconstruído diversas vezes. Foi pátio e largo. Conheceu várias técnicas de construção, desde o pau-a-pique até o concreto armado. Foi colégio e igreja dos jesuítas, palácio de governadores e secretaria de Estado. Hoje é também museu. A primeira igreja da cidade, atual capela, até já mudou de santo.

 Foto: Estadão

Pátio, no destaque da pintura de Thomas Ender (1817)

Conheça algumas histórias do Pátio Colégio:

1553

Cacique Tibiriça constrói uma cabana  no alto da colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú para abrigar os missionários jesuítas que chegariam no início do ano seguinte.

1554

Marco da fundação de São Paulo de Piratininga com a missa celebrada por Manuel de Paiva. A historiografia relata que também estavam presentes o padre José de Anchieta, o português João Ramalho e sua mulher, a índia Bartira, os chefes indígenas Tibiriça e Caiubí e tendo como plateia índios Guaianás e Tupiniquins.

1556

Inauguração da igreja e do colégio, ambos de pau-a-pique e com paredes pintadas de branco provenientes da tabatinga. É a primeira igreja da cidade. A casa dos jesuítas casa tinha 95,28 m² e abrigava o seminário e a escola de "curumins".

1561

A região do Pátio do colégio, que já abrigava residências, foi fortificada para se defender dos ataques de índios.

1611

A igreja é dedicada ao Bom Jesus.

1640

Os Jesuítas foram expulsos de São Paulo por não concordarem com a escravidão indígena. Nos 13 anos de exílio a Igreja e o Colégio foram abandonados e desmoronaram. Geraldo Dutra de Moraes, autor do livro "A Igreja e o Colégio dos Jesuítas De São Paulo", destaca que apesar de serem construídos com material frágil, a primeira construção durou  mais de um século.

1653

Com o retorno dos Jesuítas começa a ser construído um novo conjunto igreja/colégio. Dessa vez em barro apiloado e pedra. A igreja foi inspirada na Nossa Senhora da Graça de Olinda.

1681

Reforma do edifício. A torre da igreja foi refeita usando alvenaria de tijolos, argamassa de cal e ostras (sambaqui).

1727

Construção da ala perpendicular.

1759

Expulsão dos Jesuítas do reino Português e confisco de todos seus bens.

1765

A partir dessa data o prédio do Colégio foi residência de governadores.

1881

O prédio perpendicular é derrubado por ordem do governador Florêncio de Abreu e o terreno anexado ao jardim do palácio.

 Foto: Estadão

Relógio marca 9h30

1885

O pátio foi ajardinado e cercado por grades de ferro

 Foto: Estadão

Ponteiros marcando 3h30

1886

A fachada do colégio é remodelada retirando as características do colégio dos Jesuítas. No local funciona o Palácio do Governo.

1891

Lei determina que "aquele local da igreja se convertesse em congresso constituinte do Estado de São Paulo" para que "no terreno sacro fosse construído um edifício de concepção moderna".

A lei do governo Jorge Tibiriça foi considerada uma profanação e teve forte reação do clero e do povo. A disputa foi parar na Justiça e  resolvida em fevereiro de 1896, quando o clero ganha o direito de manter a igreja em pé.

1896

O Estado de S.Paulo - 14/3/1896

 Foto: Estadão

Mas quem deu o veredito final foi a natureza. Em março do mesmo ano uma tempestade derruba o teto da igreja e não houve nenhum esforço para reconstruí-la. Na época houve a tese de que o desabamento teria sido um ato criminoso. Mas nada foi provado. Dois dias depois do desabamento, o engenheiro baiano Teodoro Sampaio se encarregou da demolição.

Desde a fundação de São Paulo, 342 anos depois, os Jesuítas deixam de ter presença no local de onde fundaram a cidade. Do original ficaram dois lances da torre, o alicerce de pedra ferruginosa (limonita) e as paredes de taipa de pilão com mais de 1 metro de largura que serviram de base para a nova torre do edifício do prédio da constituinte paulista.

O governador Campos Sales manda construir fonte e coreto para a banda da força pública.

1897

Decreto 429 de 15 de fevereiro de 1897 autoriza 350 contos de reis para indenizar a Cúria pela demolição da Igreja.

1925

Retirada a fonte, o gradeamento e o coreto. É inaugurado o monumento "Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo" do italiano Amadeo Zani.

 Foto: Estadão

Em 1933,  monumento de Amadeo Zani e sede da Secretaria da Educação

1953

Depois de 194 anos, os Jesuítas têm de volta a posse do terreno. A Assembleia Legislativa aprova projeto de lei doando à Sociedade Brasileira de Educação (Obras Sociais Catequéticas e Educacionais da Companhia de Jesus) a área do terreno onde existiriam os edifícios para que eles fossem reconstruídos. No prédio funcionava a Secretaria de Educação, que vai para o Largo do Arouche. O edifício é demolido.

 Foto: Estadão

Demolição do palácio do governo. Foto: A. Aguillar

 Foto: Estadão

Paredes internas do antigo colégio

1954

Lançada a pedra fundamental da obra de restauração que deveria lembrar o conjunto original. Nas comemorações dos 400 anos da cidade, foram montadas reproduções do que seriam a primeira cabana e cruz.

 Foto: Estadão

1957

As obras foram iniciadas e escavações descobriram os alicerces do prédio do século XVII que foram mantidos na construção do prédio do século XIX e que agora seriam preservados e reforçados com concreto armado para abrigar o prédio do século XX. A igreja não fora reconstruída porque o governo ainda não havia cedido a área ao lado do colégio.

1961

O prédio do Colégio, baseado no prédio do século XVII, é inaugurado como é conhecido hoje.

 Foto: Estadão

Em imagem de 1971, o colégio sem a igreja

 Foto: Estadão

Na placa, o protesto

1967

Prefeitura doa o terreno para a construção da igreja.

1976

Prefeitura de São Paulo aprova Cr$ 7 milhões para a reconstrução da igreja e criação do museu.

 Foto: Estadão

1979

Inauguração do museu e da igreja (réplica do século XVIII), agora em concreto armado e dedicada ao beato José de Anchieta.

 Foto: Estadão

2012

No aniversário da cidade, o Pátio do Colégio é palco de vários eventos da comemoração.

 Foto: Estadão

Pátio do Colégio no Google Street View

Pesquisa e Texto: Carlos Eduardo EntiniSiga o Arquivo Estadão: twitter@estadaoarquivo e facebook/arquivoestadao

 Foto: Estadão

1887 e 1896: ponteiros na mesma posição

O primeiro registro, feito em 1887 por Militão Augusto de Azevedo, mostra o então palácio do governo e a igrega construída pelos jesuítas que ocupavam o local em bom estado de conservação. O segundo, captado em 1896 após um desabamento do teto causado pela chuva, é de autoria desconhecida e mostra apenas a igreja em condições precárias. No canto esquerdo, é possível ver um pequeno trecho do palácio, aparentemente em boas condições.

Os ponteiros parados do relógio podem ser mera coincidência de horário na captação das imagens. Mas podem também sugerir o início do descaso com a região. A diferença na conservação dos dois edifícios, ambos inexistentes nos dias de hoje, simbolizam uma série de acontecimentos que transformam o local que guarda a história de várias histórias. Visíveis e invisíveis.

Considerado o marco da fundação da cidade de São Paulo, que hoje comemora 458 anos, o Pátio do Colégio foi descrito,  pintado e fotografado por diferentes olhares ao longo desses anos.

Em 1585, deu a impressão ao padre jesuíta Fernão Cardim de estar "passeando numa quinta minhota". Lá encontrou um "colégio bem instalado, com oito cubículos para residência dos religiosos, uma biblioteca de quinze mil volumes, um poço de boa água (...) grande chácara com árvores frutíferas europeias e nacionais, legumes, hortaliças, e muitas flores cobrindo as cercas".

Essa visão bucólica de onde foi fundada a cidade de São Paulo tem fim na primeira expulsão dos Jesuítas, em 1640. A partir daí o Pátio do Colégio foi testemunha de diversos conflitos entre Igreja e Estado que atravessaram  todos os períodos até seu fim, na República.

Da fundação da cidade até 1979, o que conhecemos como Pátio do Colégio, foi reformado, demolido e reconstruído diversas vezes. Foi pátio e largo. Conheceu várias técnicas de construção, desde o pau-a-pique até o concreto armado. Foi colégio e igreja dos jesuítas, palácio de governadores e secretaria de Estado. Hoje é também museu. A primeira igreja da cidade, atual capela, até já mudou de santo.

 Foto: Estadão

Pátio, no destaque da pintura de Thomas Ender (1817)

Conheça algumas histórias do Pátio Colégio:

1553

Cacique Tibiriça constrói uma cabana  no alto da colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú para abrigar os missionários jesuítas que chegariam no início do ano seguinte.

1554

Marco da fundação de São Paulo de Piratininga com a missa celebrada por Manuel de Paiva. A historiografia relata que também estavam presentes o padre José de Anchieta, o português João Ramalho e sua mulher, a índia Bartira, os chefes indígenas Tibiriça e Caiubí e tendo como plateia índios Guaianás e Tupiniquins.

1556

Inauguração da igreja e do colégio, ambos de pau-a-pique e com paredes pintadas de branco provenientes da tabatinga. É a primeira igreja da cidade. A casa dos jesuítas casa tinha 95,28 m² e abrigava o seminário e a escola de "curumins".

1561

A região do Pátio do colégio, que já abrigava residências, foi fortificada para se defender dos ataques de índios.

1611

A igreja é dedicada ao Bom Jesus.

1640

Os Jesuítas foram expulsos de São Paulo por não concordarem com a escravidão indígena. Nos 13 anos de exílio a Igreja e o Colégio foram abandonados e desmoronaram. Geraldo Dutra de Moraes, autor do livro "A Igreja e o Colégio dos Jesuítas De São Paulo", destaca que apesar de serem construídos com material frágil, a primeira construção durou  mais de um século.

1653

Com o retorno dos Jesuítas começa a ser construído um novo conjunto igreja/colégio. Dessa vez em barro apiloado e pedra. A igreja foi inspirada na Nossa Senhora da Graça de Olinda.

1681

Reforma do edifício. A torre da igreja foi refeita usando alvenaria de tijolos, argamassa de cal e ostras (sambaqui).

1727

Construção da ala perpendicular.

1759

Expulsão dos Jesuítas do reino Português e confisco de todos seus bens.

1765

A partir dessa data o prédio do Colégio foi residência de governadores.

1881

O prédio perpendicular é derrubado por ordem do governador Florêncio de Abreu e o terreno anexado ao jardim do palácio.

 Foto: Estadão

Relógio marca 9h30

1885

O pátio foi ajardinado e cercado por grades de ferro

 Foto: Estadão

Ponteiros marcando 3h30

1886

A fachada do colégio é remodelada retirando as características do colégio dos Jesuítas. No local funciona o Palácio do Governo.

1891

Lei determina que "aquele local da igreja se convertesse em congresso constituinte do Estado de São Paulo" para que "no terreno sacro fosse construído um edifício de concepção moderna".

A lei do governo Jorge Tibiriça foi considerada uma profanação e teve forte reação do clero e do povo. A disputa foi parar na Justiça e  resolvida em fevereiro de 1896, quando o clero ganha o direito de manter a igreja em pé.

1896

O Estado de S.Paulo - 14/3/1896

 Foto: Estadão

Mas quem deu o veredito final foi a natureza. Em março do mesmo ano uma tempestade derruba o teto da igreja e não houve nenhum esforço para reconstruí-la. Na época houve a tese de que o desabamento teria sido um ato criminoso. Mas nada foi provado. Dois dias depois do desabamento, o engenheiro baiano Teodoro Sampaio se encarregou da demolição.

Desde a fundação de São Paulo, 342 anos depois, os Jesuítas deixam de ter presença no local de onde fundaram a cidade. Do original ficaram dois lances da torre, o alicerce de pedra ferruginosa (limonita) e as paredes de taipa de pilão com mais de 1 metro de largura que serviram de base para a nova torre do edifício do prédio da constituinte paulista.

O governador Campos Sales manda construir fonte e coreto para a banda da força pública.

1897

Decreto 429 de 15 de fevereiro de 1897 autoriza 350 contos de reis para indenizar a Cúria pela demolição da Igreja.

1925

Retirada a fonte, o gradeamento e o coreto. É inaugurado o monumento "Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo" do italiano Amadeo Zani.

 Foto: Estadão

Em 1933,  monumento de Amadeo Zani e sede da Secretaria da Educação

1953

Depois de 194 anos, os Jesuítas têm de volta a posse do terreno. A Assembleia Legislativa aprova projeto de lei doando à Sociedade Brasileira de Educação (Obras Sociais Catequéticas e Educacionais da Companhia de Jesus) a área do terreno onde existiriam os edifícios para que eles fossem reconstruídos. No prédio funcionava a Secretaria de Educação, que vai para o Largo do Arouche. O edifício é demolido.

 Foto: Estadão

Demolição do palácio do governo. Foto: A. Aguillar

 Foto: Estadão

Paredes internas do antigo colégio

1954

Lançada a pedra fundamental da obra de restauração que deveria lembrar o conjunto original. Nas comemorações dos 400 anos da cidade, foram montadas reproduções do que seriam a primeira cabana e cruz.

 Foto: Estadão

1957

As obras foram iniciadas e escavações descobriram os alicerces do prédio do século XVII que foram mantidos na construção do prédio do século XIX e que agora seriam preservados e reforçados com concreto armado para abrigar o prédio do século XX. A igreja não fora reconstruída porque o governo ainda não havia cedido a área ao lado do colégio.

1961

O prédio do Colégio, baseado no prédio do século XVII, é inaugurado como é conhecido hoje.

 Foto: Estadão

Em imagem de 1971, o colégio sem a igreja

 Foto: Estadão

Na placa, o protesto

1967

Prefeitura doa o terreno para a construção da igreja.

1976

Prefeitura de São Paulo aprova Cr$ 7 milhões para a reconstrução da igreja e criação do museu.

 Foto: Estadão

1979

Inauguração do museu e da igreja (réplica do século XVIII), agora em concreto armado e dedicada ao beato José de Anchieta.

 Foto: Estadão

2012

No aniversário da cidade, o Pátio do Colégio é palco de vários eventos da comemoração.

 Foto: Estadão

Pátio do Colégio no Google Street View

Pesquisa e Texto: Carlos Eduardo EntiniSiga o Arquivo Estadão: twitter@estadaoarquivo e facebook/arquivoestadao

 Foto: Estadão

1887 e 1896: ponteiros na mesma posição

O primeiro registro, feito em 1887 por Militão Augusto de Azevedo, mostra o então palácio do governo e a igrega construída pelos jesuítas que ocupavam o local em bom estado de conservação. O segundo, captado em 1896 após um desabamento do teto causado pela chuva, é de autoria desconhecida e mostra apenas a igreja em condições precárias. No canto esquerdo, é possível ver um pequeno trecho do palácio, aparentemente em boas condições.

Os ponteiros parados do relógio podem ser mera coincidência de horário na captação das imagens. Mas podem também sugerir o início do descaso com a região. A diferença na conservação dos dois edifícios, ambos inexistentes nos dias de hoje, simbolizam uma série de acontecimentos que transformam o local que guarda a história de várias histórias. Visíveis e invisíveis.

Considerado o marco da fundação da cidade de São Paulo, que hoje comemora 458 anos, o Pátio do Colégio foi descrito,  pintado e fotografado por diferentes olhares ao longo desses anos.

Em 1585, deu a impressão ao padre jesuíta Fernão Cardim de estar "passeando numa quinta minhota". Lá encontrou um "colégio bem instalado, com oito cubículos para residência dos religiosos, uma biblioteca de quinze mil volumes, um poço de boa água (...) grande chácara com árvores frutíferas europeias e nacionais, legumes, hortaliças, e muitas flores cobrindo as cercas".

Essa visão bucólica de onde foi fundada a cidade de São Paulo tem fim na primeira expulsão dos Jesuítas, em 1640. A partir daí o Pátio do Colégio foi testemunha de diversos conflitos entre Igreja e Estado que atravessaram  todos os períodos até seu fim, na República.

Da fundação da cidade até 1979, o que conhecemos como Pátio do Colégio, foi reformado, demolido e reconstruído diversas vezes. Foi pátio e largo. Conheceu várias técnicas de construção, desde o pau-a-pique até o concreto armado. Foi colégio e igreja dos jesuítas, palácio de governadores e secretaria de Estado. Hoje é também museu. A primeira igreja da cidade, atual capela, até já mudou de santo.

 Foto: Estadão

Pátio, no destaque da pintura de Thomas Ender (1817)

Conheça algumas histórias do Pátio Colégio:

1553

Cacique Tibiriça constrói uma cabana  no alto da colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú para abrigar os missionários jesuítas que chegariam no início do ano seguinte.

1554

Marco da fundação de São Paulo de Piratininga com a missa celebrada por Manuel de Paiva. A historiografia relata que também estavam presentes o padre José de Anchieta, o português João Ramalho e sua mulher, a índia Bartira, os chefes indígenas Tibiriça e Caiubí e tendo como plateia índios Guaianás e Tupiniquins.

1556

Inauguração da igreja e do colégio, ambos de pau-a-pique e com paredes pintadas de branco provenientes da tabatinga. É a primeira igreja da cidade. A casa dos jesuítas casa tinha 95,28 m² e abrigava o seminário e a escola de "curumins".

1561

A região do Pátio do colégio, que já abrigava residências, foi fortificada para se defender dos ataques de índios.

1611

A igreja é dedicada ao Bom Jesus.

1640

Os Jesuítas foram expulsos de São Paulo por não concordarem com a escravidão indígena. Nos 13 anos de exílio a Igreja e o Colégio foram abandonados e desmoronaram. Geraldo Dutra de Moraes, autor do livro "A Igreja e o Colégio dos Jesuítas De São Paulo", destaca que apesar de serem construídos com material frágil, a primeira construção durou  mais de um século.

1653

Com o retorno dos Jesuítas começa a ser construído um novo conjunto igreja/colégio. Dessa vez em barro apiloado e pedra. A igreja foi inspirada na Nossa Senhora da Graça de Olinda.

1681

Reforma do edifício. A torre da igreja foi refeita usando alvenaria de tijolos, argamassa de cal e ostras (sambaqui).

1727

Construção da ala perpendicular.

1759

Expulsão dos Jesuítas do reino Português e confisco de todos seus bens.

1765

A partir dessa data o prédio do Colégio foi residência de governadores.

1881

O prédio perpendicular é derrubado por ordem do governador Florêncio de Abreu e o terreno anexado ao jardim do palácio.

 Foto: Estadão

Relógio marca 9h30

1885

O pátio foi ajardinado e cercado por grades de ferro

 Foto: Estadão

Ponteiros marcando 3h30

1886

A fachada do colégio é remodelada retirando as características do colégio dos Jesuítas. No local funciona o Palácio do Governo.

1891

Lei determina que "aquele local da igreja se convertesse em congresso constituinte do Estado de São Paulo" para que "no terreno sacro fosse construído um edifício de concepção moderna".

A lei do governo Jorge Tibiriça foi considerada uma profanação e teve forte reação do clero e do povo. A disputa foi parar na Justiça e  resolvida em fevereiro de 1896, quando o clero ganha o direito de manter a igreja em pé.

1896

O Estado de S.Paulo - 14/3/1896

 Foto: Estadão

Mas quem deu o veredito final foi a natureza. Em março do mesmo ano uma tempestade derruba o teto da igreja e não houve nenhum esforço para reconstruí-la. Na época houve a tese de que o desabamento teria sido um ato criminoso. Mas nada foi provado. Dois dias depois do desabamento, o engenheiro baiano Teodoro Sampaio se encarregou da demolição.

Desde a fundação de São Paulo, 342 anos depois, os Jesuítas deixam de ter presença no local de onde fundaram a cidade. Do original ficaram dois lances da torre, o alicerce de pedra ferruginosa (limonita) e as paredes de taipa de pilão com mais de 1 metro de largura que serviram de base para a nova torre do edifício do prédio da constituinte paulista.

O governador Campos Sales manda construir fonte e coreto para a banda da força pública.

1897

Decreto 429 de 15 de fevereiro de 1897 autoriza 350 contos de reis para indenizar a Cúria pela demolição da Igreja.

1925

Retirada a fonte, o gradeamento e o coreto. É inaugurado o monumento "Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo" do italiano Amadeo Zani.

 Foto: Estadão

Em 1933,  monumento de Amadeo Zani e sede da Secretaria da Educação

1953

Depois de 194 anos, os Jesuítas têm de volta a posse do terreno. A Assembleia Legislativa aprova projeto de lei doando à Sociedade Brasileira de Educação (Obras Sociais Catequéticas e Educacionais da Companhia de Jesus) a área do terreno onde existiriam os edifícios para que eles fossem reconstruídos. No prédio funcionava a Secretaria de Educação, que vai para o Largo do Arouche. O edifício é demolido.

 Foto: Estadão

Demolição do palácio do governo. Foto: A. Aguillar

 Foto: Estadão

Paredes internas do antigo colégio

1954

Lançada a pedra fundamental da obra de restauração que deveria lembrar o conjunto original. Nas comemorações dos 400 anos da cidade, foram montadas reproduções do que seriam a primeira cabana e cruz.

 Foto: Estadão

1957

As obras foram iniciadas e escavações descobriram os alicerces do prédio do século XVII que foram mantidos na construção do prédio do século XIX e que agora seriam preservados e reforçados com concreto armado para abrigar o prédio do século XX. A igreja não fora reconstruída porque o governo ainda não havia cedido a área ao lado do colégio.

1961

O prédio do Colégio, baseado no prédio do século XVII, é inaugurado como é conhecido hoje.

 Foto: Estadão

Em imagem de 1971, o colégio sem a igreja

 Foto: Estadão

Na placa, o protesto

1967

Prefeitura doa o terreno para a construção da igreja.

1976

Prefeitura de São Paulo aprova Cr$ 7 milhões para a reconstrução da igreja e criação do museu.

 Foto: Estadão

1979

Inauguração do museu e da igreja (réplica do século XVIII), agora em concreto armado e dedicada ao beato José de Anchieta.

 Foto: Estadão

2012

No aniversário da cidade, o Pátio do Colégio é palco de vários eventos da comemoração.

 Foto: Estadão

Pátio do Colégio no Google Street View

Pesquisa e Texto: Carlos Eduardo EntiniSiga o Arquivo Estadão: twitter@estadaoarquivo e facebook/arquivoestadao

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