O suíço John Graz (1891-1980) chegou ao Brasil em 1920 e, amigo dos modernistas brasileiros, participou de imediato, pelas mãos de Oswald de Andrade, da Semana de Arte Moderna de 22. "Quando veio para cá, Graz já tinha dentro dele o estudo de todos os ismos das vanguardas europeias, então, foi uma espécie de antropofagia ao revés que ele realizou por aqui", diz Sérgio Pizoli, curador da exposição O Brasil de John Graz, que será inaugurada hoje na Caixa Cultural em sua sede na Praça da Sé. A mostra, com 180 obras (90% delas inéditas) - desenhos e apenas uma tela -, apresenta justamente a vivência do artista no País em que ele chegou e do qual não quis mais sair: a partir da formação rígida em Genebra e na Alemanha, Graz assimilou no Brasil uma vibração de cores e deixou transparecer uma delicadeza dos traços, características que perpassam toda sua produção.Apesar de sua participação na Semana de Arte Moderna de 22 ser sempre lembrada quando se trata de sua trajetória no Brasil, é curioso que Graz mesmo nunca se prendeu ao fato. "Ele detestava quando alguém perguntava sobre o tema; "aquilo já foi", dizia", afirma a francesa Annie Graz, que se casou com o artista em São Paulo em 1974 e fundou em 2005 o Instituto John Graz para a divulgação e preservação da obra do suíço. Nesse sentido, a exposição entrelaça a versatilidade de criações do artista, que não apenas era pintor e desenhista, mas formado arquiteto e decorador tinha, entre as décadas de 1930 e 1950, escritório de arquitetura de interiores com sua mulher na época, a artista Regina Gomide (irmã do pintor Antonio Gomide), no qual desempenhou trabalhos de destaque para a alta burguesia paulistana. "Não se pode falar de Graz sem tratar do design, ele era um criador integral, completo", diz Pizoli, que se debruçou sobre um universo de cerca de 3 mil obras pertencentes ao instituto (doadas por Annie) para fazer a seleção de obras da mostra.John Graz tinha pela pintura seu maior apreço, mas era "exímio" na técnica do desenho a guache. "Ele gostava mesmo de pintar, mas fazia os trabalhos de decoração para ganhar a vida", afirma Annie. Seus projetos de criações para os interiores das residências - afrescos, móveis, luminárias, murais, etc. - ganham, como se pode ver na exposição, o status de obras de arte. "É uma pena que tenha ficado calcado na decoração. Quisemos mostrar que seus trabalhos nessa área estão no rastro de sua arte", diz Pizoli. Conhecedor da obra de Graz há tempos e curador do instituto, ele conta que, infelizmente, muitos dos murais e relevos que o artista realizou vieram abaixo com as demolições dos casarões paulistanos.A última retrospectiva realizada sobre a obra de John Graz ocorreu em 1996 no Masp, mas centrava-se na produção pictórica do artista. O interessante dessa atual exposição na Caixa Cultural, que dá destaque para os desenhos - na grande maioria guaches, mas há também aquarelas, obras feitas com esferográfica e a grafite - é que as vertentes de produção do artista não ficam separadas, se comunicando naturalmente. O traço de espécimes botânicas, por exemplo, podem entrar tanto numa pintura quanto no projeto de um mural para uma sala. É um passeio intimista que se faz pela produção figurativa de Graz - curiosamente, ele considerava seus desenhos apenas estudos, mas era extremamente cuidadoso ao fazê-los. "Seduzido e sedutor, John Graz leva-nos a rever a fatura do desenho em si", completa Pizoli.A mostra reúne obras de todas as décadas de sua produção no Brasil. Revela as várias temáticas que o atraíam, como cenas em que representa índios, mulheres, imigrantes, animais, aves, plantas, festas e crianças, por exemplo. "Quando viajávamos, ele sempre tinha um caderno às mãos para desenhar e ainda fotografava tudo, anotava cores e lugares", conta Annie. A exposição também apresenta cadernos de Graz - alguns deles fac-similados para o público manusear. ServiçoO Brasil de John Graz. Caixa Cultural. Praça da Sé, 111, 3321-4400. 9 h/21 h (fecha 2.ª). Grátis. Até 28/2. Abertura hoje, 11 h, para convidados