O corpo do jornalista, escritor e cartunista Millôr Fernandes, morto na terça-feira aos 88 anos, foi cremado às 15 horas de ontem no crematório da Santa Casa, no cemitério São Francisco Xavier, no Caju, zona portuária do Rio. A cerimônia foi restrita a amigos e familiares, que não informaram o destino das cinzas. Antes, vários artistas foram ao velório para se despedir de Millôr. Debilitado desde fevereiro de 2011, quando sofreu um acidente vascular cerebral, o escritor morreu em decorrência da falência múltipla dos órgãos. "Se juntar os grandes frasistas europeus e bater em um liquidificador, não dá meio copo de um Millôr", reverenciou o jornalista Ruy Castro. "Não havia um dia em que uma frase sua não iluminasse o que estivesse acontecendo de obscuro no Brasil e no mundo." Marcelo Madureira, um dos criadores do programa Casseta & Planeta Urgente, da TV Globo, disse que "a geração que fez O Pasquim não era de humoristas, era de pensadores com bom humor. Não vejo ninguém com estofo perto dele". Seu colega Hubert ressaltou que Millôr "foi o sujeito que mais e melhor exerceu a liberdade de expressão". "Ele ensinou que o humor pode ser uma forma de ataque, mas nunca deve ser usado para humilhar ninguém", disse Ivan Fernandes, filho de Millôr, que deixou também uma filha, Paula, e neto, Gabriel, e a mulher, Wanda. "É como perder Pelé, Garrincha e (o baterista) Wilson das Neves de uma só vez", comparou o cineasta Walter Salles. A jornalista Cora Rónai, que teve um relacionamento de 30 anos com o escritor, revelou o lado conquistador de Millôr. "Era um sedutor nato. Quando o conheci, havia um consórcio de mulheres atrás dele. Era impossível conhecê-lo e não se apaixonar", disse. A atriz Marília Pêra lembrou o lado humano do cartunista e a ajuda que recebeu durante a ditadura militar. "Ele me apoiou publicamente quando isso era politicamente incorreto. Ele não tinha time de futebol, religião ou partido político, era um homem livre."