Assassinato no Carrefour reforça necessidade de empresas investirem no combate ao preconceito


'Está na hora de o empresário assumir posturas efetivas, que podem ter desdobramentos na sociedade também', defende historiadora

Por João Prata
Atualização:

Os recorrentes casos de agressões e assassinatos contra negros por funcionários de grandes empresas brasileiras nos últimos anos demonstram que precisa haver uma mudança estrutural na maneira em que as companhias estão agindo. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, não adianta somente punir quem cometeu o crime, mas investir em ações de combate ao preconceito.

"Está na hora de o empresário assumir posturas efetivas, que podem ter desdobramentos na sociedade também. O Carrefour, por exemplo, está na hora de falar sobre racismo em suas unidades do Brasil inteiro. Está na hora de contratar empresas de segurança que façam o trabalho sem violência. De formar funcionários para os direitos humanos. Vale também tornar a apuração e a punição procedimentos correntes e eficientes", afirmou a historiadora Diana Mendes, doutora em História Social pela USP e autora de materiais didáticos na área de Direitos Humanos, Cidadania e Diversidade.

Assassinato de João Alberto Silveira Freitas em Carrefour de Porto Alegredesencadeou protestos em capitais brasileiras Foto: Silvio Avila/AFP
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Diana trabalhou durante muitos anos com direitos humanos. Ela visitava empresas para ajudar na formação dos funcionários e a questão racial era um dos temas abordados: ensinar sobre o que é racismo e como é possível promover a igualdade, por exemplo.

"No caso do Carrefour valeria contratar pessoas ligadas ao movimento negro capazes de explicar o que é o racismo estrutural. E as pessoas que receberem essa formação terão de replicar para os outros. Explicar, por exemplo, como abordar uma pessoa no supermercado, qual é a forma não violenta?"

O sociólogo Fábio Mariano Borges, da ESPM, exemplificou a falta de preparo das empresas para lidar com racismo pela nota do Carrefour após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas na última quinta-feira. "(A nota) não passa de um mero protocolo orientado pelo departamento jurídico. Essa não é a conduta esperada pela sociedade", afirmou.

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Borges exemplificou uma possível mudança, com um episódio recente envolvendo a rede de cafeterias Starbucks, nos Estados Unidos. Após duas pessoas negras terem reclamado de mau atendimento, a empresa decidiu fechar, por uma tarde, todas as suas 8 mil lojas e realizar treinamento a respeito de como combater o racismo. "Isso é o mínimo que uma empresa deve fazer", afirma.

O caso do Carrefour preocupa ainda mais porque não foi isolado. Em agosto deste ano, funcionários de uma unidade do Carrefour no Recife (PE) cobriram com guarda-sóis e caixas de papelão o corpo de um promotor de vendas que morreu durante o trabalho. O supermercado continuou em funcionamento.

Em março do ano passado, Luis Carlos Gomes, negro, tomou uma lata de cerveja no interior da unidade do Carrefour do bairro Demarchi, em São Bernardo do Campo. Mesmo após informar que iria pagar pelo item consumido, foi perseguido e agredido por um segurança e o gerente do supermercado. Ele teve múltiplas fraturas.

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A falta de preparo, no entanto, não é exclusividade do Carrefour. Em setembro do ano passado, um jovem negro de 17 anos foi torturado após ter sido flagrado roubando uma barra de chocolate no supermercado Ricoy, na zona sul de São Paulo. A vítima relatou ter sido despida, amordaçada, amarrada e na sequência ter sido torturada com um chicote de fios elétricos trançados. A Justiça de São Paulo inocentou os ex-seguranças Davi de Oliveira Fernandes e Valdir Bispo dos Santos da acusação de tortura.

Em fevereiro do ano passado, um jovem negro de 19 anos morreu após ser asfixiado por um segurança no supermercado Extra, na unidade da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

No mês seguinte, um homem negro de 38 anos foi torturado e filmado por funcionários do supermercado Extra do Morumbi, zona sul da cidade de São Paulo. Ele tinha tentado furtar um pedaço de carne. Os seguranças o amarraram, tiraram suas calças e deram choques e vassouradas.

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"O racismo estrutural é um conceito que nos ajuda a compreender a forma como o Brasil se estruturou: a partir da violência e da exploração sobre as pessoas negras. Mesmo após o fim da escravidão, a sociedade segue com comportamentos similares. O caso do João Alberto é um exemplo dessa continuidade. O estado brasileiro precisa constranger empresas a alterar seu padrão de funcionamento. Os tributos podem ter itens associados ao combate ao racismo e à violência racial, por exemplo", diz Diana.

Os recorrentes casos de agressões e assassinatos contra negros por funcionários de grandes empresas brasileiras nos últimos anos demonstram que precisa haver uma mudança estrutural na maneira em que as companhias estão agindo. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, não adianta somente punir quem cometeu o crime, mas investir em ações de combate ao preconceito.

"Está na hora de o empresário assumir posturas efetivas, que podem ter desdobramentos na sociedade também. O Carrefour, por exemplo, está na hora de falar sobre racismo em suas unidades do Brasil inteiro. Está na hora de contratar empresas de segurança que façam o trabalho sem violência. De formar funcionários para os direitos humanos. Vale também tornar a apuração e a punição procedimentos correntes e eficientes", afirmou a historiadora Diana Mendes, doutora em História Social pela USP e autora de materiais didáticos na área de Direitos Humanos, Cidadania e Diversidade.

Assassinato de João Alberto Silveira Freitas em Carrefour de Porto Alegredesencadeou protestos em capitais brasileiras Foto: Silvio Avila/AFP

Diana trabalhou durante muitos anos com direitos humanos. Ela visitava empresas para ajudar na formação dos funcionários e a questão racial era um dos temas abordados: ensinar sobre o que é racismo e como é possível promover a igualdade, por exemplo.

"No caso do Carrefour valeria contratar pessoas ligadas ao movimento negro capazes de explicar o que é o racismo estrutural. E as pessoas que receberem essa formação terão de replicar para os outros. Explicar, por exemplo, como abordar uma pessoa no supermercado, qual é a forma não violenta?"

O sociólogo Fábio Mariano Borges, da ESPM, exemplificou a falta de preparo das empresas para lidar com racismo pela nota do Carrefour após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas na última quinta-feira. "(A nota) não passa de um mero protocolo orientado pelo departamento jurídico. Essa não é a conduta esperada pela sociedade", afirmou.

Borges exemplificou uma possível mudança, com um episódio recente envolvendo a rede de cafeterias Starbucks, nos Estados Unidos. Após duas pessoas negras terem reclamado de mau atendimento, a empresa decidiu fechar, por uma tarde, todas as suas 8 mil lojas e realizar treinamento a respeito de como combater o racismo. "Isso é o mínimo que uma empresa deve fazer", afirma.

O caso do Carrefour preocupa ainda mais porque não foi isolado. Em agosto deste ano, funcionários de uma unidade do Carrefour no Recife (PE) cobriram com guarda-sóis e caixas de papelão o corpo de um promotor de vendas que morreu durante o trabalho. O supermercado continuou em funcionamento.

Em março do ano passado, Luis Carlos Gomes, negro, tomou uma lata de cerveja no interior da unidade do Carrefour do bairro Demarchi, em São Bernardo do Campo. Mesmo após informar que iria pagar pelo item consumido, foi perseguido e agredido por um segurança e o gerente do supermercado. Ele teve múltiplas fraturas.

A falta de preparo, no entanto, não é exclusividade do Carrefour. Em setembro do ano passado, um jovem negro de 17 anos foi torturado após ter sido flagrado roubando uma barra de chocolate no supermercado Ricoy, na zona sul de São Paulo. A vítima relatou ter sido despida, amordaçada, amarrada e na sequência ter sido torturada com um chicote de fios elétricos trançados. A Justiça de São Paulo inocentou os ex-seguranças Davi de Oliveira Fernandes e Valdir Bispo dos Santos da acusação de tortura.

Em fevereiro do ano passado, um jovem negro de 19 anos morreu após ser asfixiado por um segurança no supermercado Extra, na unidade da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

No mês seguinte, um homem negro de 38 anos foi torturado e filmado por funcionários do supermercado Extra do Morumbi, zona sul da cidade de São Paulo. Ele tinha tentado furtar um pedaço de carne. Os seguranças o amarraram, tiraram suas calças e deram choques e vassouradas.

"O racismo estrutural é um conceito que nos ajuda a compreender a forma como o Brasil se estruturou: a partir da violência e da exploração sobre as pessoas negras. Mesmo após o fim da escravidão, a sociedade segue com comportamentos similares. O caso do João Alberto é um exemplo dessa continuidade. O estado brasileiro precisa constranger empresas a alterar seu padrão de funcionamento. Os tributos podem ter itens associados ao combate ao racismo e à violência racial, por exemplo", diz Diana.

Os recorrentes casos de agressões e assassinatos contra negros por funcionários de grandes empresas brasileiras nos últimos anos demonstram que precisa haver uma mudança estrutural na maneira em que as companhias estão agindo. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, não adianta somente punir quem cometeu o crime, mas investir em ações de combate ao preconceito.

"Está na hora de o empresário assumir posturas efetivas, que podem ter desdobramentos na sociedade também. O Carrefour, por exemplo, está na hora de falar sobre racismo em suas unidades do Brasil inteiro. Está na hora de contratar empresas de segurança que façam o trabalho sem violência. De formar funcionários para os direitos humanos. Vale também tornar a apuração e a punição procedimentos correntes e eficientes", afirmou a historiadora Diana Mendes, doutora em História Social pela USP e autora de materiais didáticos na área de Direitos Humanos, Cidadania e Diversidade.

Assassinato de João Alberto Silveira Freitas em Carrefour de Porto Alegredesencadeou protestos em capitais brasileiras Foto: Silvio Avila/AFP

Diana trabalhou durante muitos anos com direitos humanos. Ela visitava empresas para ajudar na formação dos funcionários e a questão racial era um dos temas abordados: ensinar sobre o que é racismo e como é possível promover a igualdade, por exemplo.

"No caso do Carrefour valeria contratar pessoas ligadas ao movimento negro capazes de explicar o que é o racismo estrutural. E as pessoas que receberem essa formação terão de replicar para os outros. Explicar, por exemplo, como abordar uma pessoa no supermercado, qual é a forma não violenta?"

O sociólogo Fábio Mariano Borges, da ESPM, exemplificou a falta de preparo das empresas para lidar com racismo pela nota do Carrefour após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas na última quinta-feira. "(A nota) não passa de um mero protocolo orientado pelo departamento jurídico. Essa não é a conduta esperada pela sociedade", afirmou.

Borges exemplificou uma possível mudança, com um episódio recente envolvendo a rede de cafeterias Starbucks, nos Estados Unidos. Após duas pessoas negras terem reclamado de mau atendimento, a empresa decidiu fechar, por uma tarde, todas as suas 8 mil lojas e realizar treinamento a respeito de como combater o racismo. "Isso é o mínimo que uma empresa deve fazer", afirma.

O caso do Carrefour preocupa ainda mais porque não foi isolado. Em agosto deste ano, funcionários de uma unidade do Carrefour no Recife (PE) cobriram com guarda-sóis e caixas de papelão o corpo de um promotor de vendas que morreu durante o trabalho. O supermercado continuou em funcionamento.

Em março do ano passado, Luis Carlos Gomes, negro, tomou uma lata de cerveja no interior da unidade do Carrefour do bairro Demarchi, em São Bernardo do Campo. Mesmo após informar que iria pagar pelo item consumido, foi perseguido e agredido por um segurança e o gerente do supermercado. Ele teve múltiplas fraturas.

A falta de preparo, no entanto, não é exclusividade do Carrefour. Em setembro do ano passado, um jovem negro de 17 anos foi torturado após ter sido flagrado roubando uma barra de chocolate no supermercado Ricoy, na zona sul de São Paulo. A vítima relatou ter sido despida, amordaçada, amarrada e na sequência ter sido torturada com um chicote de fios elétricos trançados. A Justiça de São Paulo inocentou os ex-seguranças Davi de Oliveira Fernandes e Valdir Bispo dos Santos da acusação de tortura.

Em fevereiro do ano passado, um jovem negro de 19 anos morreu após ser asfixiado por um segurança no supermercado Extra, na unidade da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

No mês seguinte, um homem negro de 38 anos foi torturado e filmado por funcionários do supermercado Extra do Morumbi, zona sul da cidade de São Paulo. Ele tinha tentado furtar um pedaço de carne. Os seguranças o amarraram, tiraram suas calças e deram choques e vassouradas.

"O racismo estrutural é um conceito que nos ajuda a compreender a forma como o Brasil se estruturou: a partir da violência e da exploração sobre as pessoas negras. Mesmo após o fim da escravidão, a sociedade segue com comportamentos similares. O caso do João Alberto é um exemplo dessa continuidade. O estado brasileiro precisa constranger empresas a alterar seu padrão de funcionamento. Os tributos podem ter itens associados ao combate ao racismo e à violência racial, por exemplo", diz Diana.

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