O Banco Central reduziu, pela segunda vez seguida, a previsão para o crescimento da economia brasileira neste ano, de 2,5 para 1,6 por cento, ao mesmo tempo em que piorou suas perspectivas para a inflação em 2012. Mas reforçou a ideia de que a atividade se recuperará neste segundo semestre. Segundo o Relatório Trimestral de Inflação da autoridade monetária divulgado nesta quinta-feira, o IPCA ficará em 5,2 por cento neste ano pelo cenário de referência, ante previsão anterior de 4,7 por cento, e em 4,9 por cento em 2013, abaixo das contas anteriores, de 5,0 por cento. O número para este ano se afastou ainda mais do centro da meta de inflação do governo, de 4,5 por cento pelo IPCA. O objetivo tem ainda margem de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou menos. Para 2013, o leve recuo na projeção de inflação veio, "em grande parte", devido à redução estimada nos preços das tarifas de energia elétrica. Segundo o BC, o cenário de referência leva em conta o conjunto de informações disponível até 6 de setembro passado e pressupõe o dólar a 2,05 reais e a Selic em 7,50 por cento. "No Brasil, a recuperação tem se materializado de forma gradual, mas o ritmo de atividade tende a se intensificar neste semestre e no próximo ano, com alguma assimetria entre os diversos setores", trouxe o BC pelo documento. A expectativa do BC para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano é pior do que a do próprio governo que, no Relatório de Despesas e Receitas, reduziu a previsão de crescimento neste ano para 2 por cento, ante 3 por cento anteriormente. O mercado é ainda mais pessimista, com previsão de avanço do PIB para este ano em 1,57 por cento, segundo pesquisa Focus do BC. Ao mesmo tempo, os economistas e analistas projetam a inflação de 2012 em 5,35 por cento e, de 2013, em 5,50 por cento. A autoridade monetária destacou ainda que, no âmbito da política fiscal, "iniciativas recentes apontam o balanço do setor público se deslocando de uma posição de neutralidade para ligeiramente expansionista", lembrando que o cumprimento dos superávits primários "solidifica a tendência de redução da dívida pública". O BC elevou ainda as projeções para relação entre dívida líquida do setor público e o PIB, a 35,2 por cento, ante 35 por cento neste ano, e para o déficit nominal a 1,9 por cento, contra 1,4 por cento na projeção anterior. O governo vem adotando uma série de medidas para estimular a economia, desde desonerações fiscais para diversos setores produtivos até reduções seguidas na taxa básica de juros --hoje na mínima histórica de 7,50 por cento ao ano. Recentemente, o BC reduziu ainda as alíquotas dos depósitos compulsórios, injetando na economia cerca de 30 bilhões de reais para impulsionar a oferta de crédito. O BC também informou que a chance de a inflação estourar o teto da meta oficial --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos-- é de 3 por cento em 2012 e de em torno de 13 por cento no ano que vem. "No âmbito doméstico, o Comitê entende que, desde o último Relatório (de junho), vistos em conjunto, os desenvolvimentos domésticos indicam, no horizonte relevante, um balanço de riscos neutro", trouxe o documento. As posições reforçadas pelo BC indicam que a tendência é que o Comitê de Política Monetária (Copom) decida interromper a queda da taxa Selic na próxima reunião, em outubro. "O Relatório de Inflação reforça a estabilidade da taxa de juros dado a avaliação do BC de que o cenário é neutro. Com isso, não há necessidade de mexer na taxa nem para baixo, nem para cima", avaliou o economista sênior do Banco Espírito Santo, Flávio Serrano. Segundo o economista, a possibilidade maior é que o Copom mantenha a Selic estável em 7,5 por cento ao longo de todo o primeiro semestre de 2013, "pelo menos". Nesta manhã, os juros futuros mais curtos eram operados em alta. (Reportagem adicional de Tiago Pariz)