BNDES gasta R$ 8 bi em um ano para criar ''campeões nacionais''


Banco entra como sócio de empresas para ajudá-las a comprar concorrentes, crescer e competir no exterior

Por David Friedlander e Irany Tereza

A criação de grandes grupos empresariais brasileiros, uma das principais ambições do governo Lula na área econômica, consumiu, em apenas um ano, pelo menos R$ 8 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O dinheiro foi usado para permitir que empresas como JBS Friboi e Votorantim comprassem concorrentes. Os recursos foram injetados por meio do BNDESPar, a empresa de participações do BNDES, que entrou como sócia ou elevou participação nas compradoras - ou consolidadoras, na linguagem do banco. A conta considera apenas os aportes diretos no capital das empresas. Não entram os empréstimos concedidos a elas pelas linhas de financiamento do banco.No setor de alimentos, onde o movimento de consolidação é mais vigoroso, a participação acionária do BNDESPar saltou de R$ 1,7 bilhão para R$ 5,4 bilhões em um ano e meio. Ao todo, o banco tem hoje cerca de R$ 13 bilhões em participações de empresas de quatro dos setores que participam do processo de consolidação: petroquímica, papel e celulose, telecomunicações e alimentos. A meta é incentivar a criação de companhias capazes de competir no exterior, criando receitas, empregos e influência para o País.Dentro do governo, as tais empresas consolidadoras são chamadas de campeãs nacionais. A mais nova integrante do grupo é a Eletrobrás, a estatal federal de energia. O governo decidiu que a Eletrobrás terá tratamento diferenciado do BNDES, com o objetivo de disputar contratos também no exterior. Para não atropelar as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), o BNDES vai financiar em condições privilegiadas os fornecedores da Eletrobrás, e não a estatal diretamente. "Estamos incentivados a procurar empreendimentos em qualquer lugar do mundo", disse o vice-presidente da Eletrobrás, Sinval Gama. A estratégia é criticada por setores mais liberais, que a enxergam como uma interferência exagerada na economia. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, nega o dirigismo. Diz que o governo não escolhe quem será campeão, apenas abriga as empresas que considera eficientes e se encaixem em sua filosofia."Não vamos dizer: "Você tem de fazer isso." Não é um movimento artificialmente forçado. Todas as economias desenvolvidas têm empresas transnacionais", diz.A criação de grandes grupos é uma meta de Coutinho desde sua chegada ao BNDES. Mas a teoria só passou a ser partilhada pelo empresariado depois da crise econômica, que fragilizou a saúde financeira de várias companhias. No começo do ano, o banco liberou R$ 2,4 bilhões para que o grupo Votorantim incorporasse a Aracruz, formando a Fibria (celulose). A criação da Brasil Foods, resultado da compra da Sadia pela Perdigão, pode contar, ao final da transação, com R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão do banco.A Sadia foi engolida pela concorrente porque perdeu uma fortuna com derivativos cambiais. A Votorantim já ia comprar o controle da Aracruz, mas quase desistiu porque as duas também se enforcaram com derivativos de câmbio.Essas duas operações injetaram adrenalina nas indústrias de papel e celulose e nas de alimentos. A produção brasileira de celulose, imaginam os analistas, será dominada por dois grandes grupos: Fibria e Suzano. "A Fibria é uma grande empresa, formada a partir da fusão de outras duas", diz Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano. "Nós vamos seguir outro caminho, com a construção de duas novas fábricas e ainda uma terceira linha de produção." De acordo com ele, o grupo planeja investimentos de US$ 6 bilhões até 2018. A movimentação mais vigorosa acontece na indústria de carnes. Além da venda da Sadia para a Perdigão, outros dois gigantes brasileiros da carne processada, JBS Friboi e Marfrig, partiram nas últimas semanas para uma política agressiva de aquisição de concorrentes. A JBS anunciou, num único dia, uma associação com o frigorífico nacional Bertin e a compra da Pilgrim"s Pride, a segunda maior empresa de abate de frango dos Estados Unidos. A operação criou a maior processadora de carnes do mundo e só foi possível porque o BNDES, que já era sócio da JBS e do Bertin, terá 23% da nova companhia e vai ajudá-la a pagar a empresa americana.Embora a tarefa esteja com o BNDES, o governo tem outros instrumentos para criar campeões nacionais. No setor petroquímico, a atuação da Petrobrás permitiu que a Braskem, do grupo Odebrecht, crescesse rapidamente. Ela é a maior do Brasil e a décima do mundo.Agora, a Braskem negocia a compra da Quattor, a segunda petroquímica brasileira, e procura uma empresa para comprar nos Estados Unidos. "Para um setor como o nosso, de muita produção e margem baixa, tamanho é fundamental", afirma Bernardo Gradin, presidente da Braskem. Mas é o dinheiro do BNDES que mexe com o funcionamento da economia. O arsenal à disposição de Coutinho é o maior que um presidente do BNDES já teve. Este ano, o governo repassou R$ 100 bilhões à instituição para que ela pudesse suprir a demanda por financiamentos em meio à crise global e também para ajudar a Petrobrás. Para o ano que vem, o banco espera um aporte igual.De 20% a 25% do investimento total feito no Brasil vem do banco. Por isso, no Brasil de hoje, quando o tema é um grande negócio todo mundo pensa imediatamente no BNDES. A instituição vai virar sócia da Magnesita, maior empresa brasileira de refratários, para ajudá-la a pagar uma dívida de R$ 324 milhões com o banco americano JPMorgan. No setor de sucroalcooleiro, altamente endividado, o banco também está incentivando o processo de consolidação e discute apoio ao grupo francês Luis Dreyfus se ele adquirir o grupo usineiro Santelisa Vale.

A criação de grandes grupos empresariais brasileiros, uma das principais ambições do governo Lula na área econômica, consumiu, em apenas um ano, pelo menos R$ 8 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O dinheiro foi usado para permitir que empresas como JBS Friboi e Votorantim comprassem concorrentes. Os recursos foram injetados por meio do BNDESPar, a empresa de participações do BNDES, que entrou como sócia ou elevou participação nas compradoras - ou consolidadoras, na linguagem do banco. A conta considera apenas os aportes diretos no capital das empresas. Não entram os empréstimos concedidos a elas pelas linhas de financiamento do banco.No setor de alimentos, onde o movimento de consolidação é mais vigoroso, a participação acionária do BNDESPar saltou de R$ 1,7 bilhão para R$ 5,4 bilhões em um ano e meio. Ao todo, o banco tem hoje cerca de R$ 13 bilhões em participações de empresas de quatro dos setores que participam do processo de consolidação: petroquímica, papel e celulose, telecomunicações e alimentos. A meta é incentivar a criação de companhias capazes de competir no exterior, criando receitas, empregos e influência para o País.Dentro do governo, as tais empresas consolidadoras são chamadas de campeãs nacionais. A mais nova integrante do grupo é a Eletrobrás, a estatal federal de energia. O governo decidiu que a Eletrobrás terá tratamento diferenciado do BNDES, com o objetivo de disputar contratos também no exterior. Para não atropelar as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), o BNDES vai financiar em condições privilegiadas os fornecedores da Eletrobrás, e não a estatal diretamente. "Estamos incentivados a procurar empreendimentos em qualquer lugar do mundo", disse o vice-presidente da Eletrobrás, Sinval Gama. A estratégia é criticada por setores mais liberais, que a enxergam como uma interferência exagerada na economia. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, nega o dirigismo. Diz que o governo não escolhe quem será campeão, apenas abriga as empresas que considera eficientes e se encaixem em sua filosofia."Não vamos dizer: "Você tem de fazer isso." Não é um movimento artificialmente forçado. Todas as economias desenvolvidas têm empresas transnacionais", diz.A criação de grandes grupos é uma meta de Coutinho desde sua chegada ao BNDES. Mas a teoria só passou a ser partilhada pelo empresariado depois da crise econômica, que fragilizou a saúde financeira de várias companhias. No começo do ano, o banco liberou R$ 2,4 bilhões para que o grupo Votorantim incorporasse a Aracruz, formando a Fibria (celulose). A criação da Brasil Foods, resultado da compra da Sadia pela Perdigão, pode contar, ao final da transação, com R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão do banco.A Sadia foi engolida pela concorrente porque perdeu uma fortuna com derivativos cambiais. A Votorantim já ia comprar o controle da Aracruz, mas quase desistiu porque as duas também se enforcaram com derivativos de câmbio.Essas duas operações injetaram adrenalina nas indústrias de papel e celulose e nas de alimentos. A produção brasileira de celulose, imaginam os analistas, será dominada por dois grandes grupos: Fibria e Suzano. "A Fibria é uma grande empresa, formada a partir da fusão de outras duas", diz Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano. "Nós vamos seguir outro caminho, com a construção de duas novas fábricas e ainda uma terceira linha de produção." De acordo com ele, o grupo planeja investimentos de US$ 6 bilhões até 2018. A movimentação mais vigorosa acontece na indústria de carnes. Além da venda da Sadia para a Perdigão, outros dois gigantes brasileiros da carne processada, JBS Friboi e Marfrig, partiram nas últimas semanas para uma política agressiva de aquisição de concorrentes. A JBS anunciou, num único dia, uma associação com o frigorífico nacional Bertin e a compra da Pilgrim"s Pride, a segunda maior empresa de abate de frango dos Estados Unidos. A operação criou a maior processadora de carnes do mundo e só foi possível porque o BNDES, que já era sócio da JBS e do Bertin, terá 23% da nova companhia e vai ajudá-la a pagar a empresa americana.Embora a tarefa esteja com o BNDES, o governo tem outros instrumentos para criar campeões nacionais. No setor petroquímico, a atuação da Petrobrás permitiu que a Braskem, do grupo Odebrecht, crescesse rapidamente. Ela é a maior do Brasil e a décima do mundo.Agora, a Braskem negocia a compra da Quattor, a segunda petroquímica brasileira, e procura uma empresa para comprar nos Estados Unidos. "Para um setor como o nosso, de muita produção e margem baixa, tamanho é fundamental", afirma Bernardo Gradin, presidente da Braskem. Mas é o dinheiro do BNDES que mexe com o funcionamento da economia. O arsenal à disposição de Coutinho é o maior que um presidente do BNDES já teve. Este ano, o governo repassou R$ 100 bilhões à instituição para que ela pudesse suprir a demanda por financiamentos em meio à crise global e também para ajudar a Petrobrás. Para o ano que vem, o banco espera um aporte igual.De 20% a 25% do investimento total feito no Brasil vem do banco. Por isso, no Brasil de hoje, quando o tema é um grande negócio todo mundo pensa imediatamente no BNDES. A instituição vai virar sócia da Magnesita, maior empresa brasileira de refratários, para ajudá-la a pagar uma dívida de R$ 324 milhões com o banco americano JPMorgan. No setor de sucroalcooleiro, altamente endividado, o banco também está incentivando o processo de consolidação e discute apoio ao grupo francês Luis Dreyfus se ele adquirir o grupo usineiro Santelisa Vale.

A criação de grandes grupos empresariais brasileiros, uma das principais ambições do governo Lula na área econômica, consumiu, em apenas um ano, pelo menos R$ 8 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O dinheiro foi usado para permitir que empresas como JBS Friboi e Votorantim comprassem concorrentes. Os recursos foram injetados por meio do BNDESPar, a empresa de participações do BNDES, que entrou como sócia ou elevou participação nas compradoras - ou consolidadoras, na linguagem do banco. A conta considera apenas os aportes diretos no capital das empresas. Não entram os empréstimos concedidos a elas pelas linhas de financiamento do banco.No setor de alimentos, onde o movimento de consolidação é mais vigoroso, a participação acionária do BNDESPar saltou de R$ 1,7 bilhão para R$ 5,4 bilhões em um ano e meio. Ao todo, o banco tem hoje cerca de R$ 13 bilhões em participações de empresas de quatro dos setores que participam do processo de consolidação: petroquímica, papel e celulose, telecomunicações e alimentos. A meta é incentivar a criação de companhias capazes de competir no exterior, criando receitas, empregos e influência para o País.Dentro do governo, as tais empresas consolidadoras são chamadas de campeãs nacionais. A mais nova integrante do grupo é a Eletrobrás, a estatal federal de energia. O governo decidiu que a Eletrobrás terá tratamento diferenciado do BNDES, com o objetivo de disputar contratos também no exterior. Para não atropelar as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), o BNDES vai financiar em condições privilegiadas os fornecedores da Eletrobrás, e não a estatal diretamente. "Estamos incentivados a procurar empreendimentos em qualquer lugar do mundo", disse o vice-presidente da Eletrobrás, Sinval Gama. A estratégia é criticada por setores mais liberais, que a enxergam como uma interferência exagerada na economia. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, nega o dirigismo. Diz que o governo não escolhe quem será campeão, apenas abriga as empresas que considera eficientes e se encaixem em sua filosofia."Não vamos dizer: "Você tem de fazer isso." Não é um movimento artificialmente forçado. Todas as economias desenvolvidas têm empresas transnacionais", diz.A criação de grandes grupos é uma meta de Coutinho desde sua chegada ao BNDES. Mas a teoria só passou a ser partilhada pelo empresariado depois da crise econômica, que fragilizou a saúde financeira de várias companhias. No começo do ano, o banco liberou R$ 2,4 bilhões para que o grupo Votorantim incorporasse a Aracruz, formando a Fibria (celulose). A criação da Brasil Foods, resultado da compra da Sadia pela Perdigão, pode contar, ao final da transação, com R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão do banco.A Sadia foi engolida pela concorrente porque perdeu uma fortuna com derivativos cambiais. A Votorantim já ia comprar o controle da Aracruz, mas quase desistiu porque as duas também se enforcaram com derivativos de câmbio.Essas duas operações injetaram adrenalina nas indústrias de papel e celulose e nas de alimentos. A produção brasileira de celulose, imaginam os analistas, será dominada por dois grandes grupos: Fibria e Suzano. "A Fibria é uma grande empresa, formada a partir da fusão de outras duas", diz Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano. "Nós vamos seguir outro caminho, com a construção de duas novas fábricas e ainda uma terceira linha de produção." De acordo com ele, o grupo planeja investimentos de US$ 6 bilhões até 2018. A movimentação mais vigorosa acontece na indústria de carnes. Além da venda da Sadia para a Perdigão, outros dois gigantes brasileiros da carne processada, JBS Friboi e Marfrig, partiram nas últimas semanas para uma política agressiva de aquisição de concorrentes. A JBS anunciou, num único dia, uma associação com o frigorífico nacional Bertin e a compra da Pilgrim"s Pride, a segunda maior empresa de abate de frango dos Estados Unidos. A operação criou a maior processadora de carnes do mundo e só foi possível porque o BNDES, que já era sócio da JBS e do Bertin, terá 23% da nova companhia e vai ajudá-la a pagar a empresa americana.Embora a tarefa esteja com o BNDES, o governo tem outros instrumentos para criar campeões nacionais. No setor petroquímico, a atuação da Petrobrás permitiu que a Braskem, do grupo Odebrecht, crescesse rapidamente. Ela é a maior do Brasil e a décima do mundo.Agora, a Braskem negocia a compra da Quattor, a segunda petroquímica brasileira, e procura uma empresa para comprar nos Estados Unidos. "Para um setor como o nosso, de muita produção e margem baixa, tamanho é fundamental", afirma Bernardo Gradin, presidente da Braskem. Mas é o dinheiro do BNDES que mexe com o funcionamento da economia. O arsenal à disposição de Coutinho é o maior que um presidente do BNDES já teve. Este ano, o governo repassou R$ 100 bilhões à instituição para que ela pudesse suprir a demanda por financiamentos em meio à crise global e também para ajudar a Petrobrás. Para o ano que vem, o banco espera um aporte igual.De 20% a 25% do investimento total feito no Brasil vem do banco. Por isso, no Brasil de hoje, quando o tema é um grande negócio todo mundo pensa imediatamente no BNDES. A instituição vai virar sócia da Magnesita, maior empresa brasileira de refratários, para ajudá-la a pagar uma dívida de R$ 324 milhões com o banco americano JPMorgan. No setor de sucroalcooleiro, altamente endividado, o banco também está incentivando o processo de consolidação e discute apoio ao grupo francês Luis Dreyfus se ele adquirir o grupo usineiro Santelisa Vale.

A criação de grandes grupos empresariais brasileiros, uma das principais ambições do governo Lula na área econômica, consumiu, em apenas um ano, pelo menos R$ 8 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O dinheiro foi usado para permitir que empresas como JBS Friboi e Votorantim comprassem concorrentes. Os recursos foram injetados por meio do BNDESPar, a empresa de participações do BNDES, que entrou como sócia ou elevou participação nas compradoras - ou consolidadoras, na linguagem do banco. A conta considera apenas os aportes diretos no capital das empresas. Não entram os empréstimos concedidos a elas pelas linhas de financiamento do banco.No setor de alimentos, onde o movimento de consolidação é mais vigoroso, a participação acionária do BNDESPar saltou de R$ 1,7 bilhão para R$ 5,4 bilhões em um ano e meio. Ao todo, o banco tem hoje cerca de R$ 13 bilhões em participações de empresas de quatro dos setores que participam do processo de consolidação: petroquímica, papel e celulose, telecomunicações e alimentos. A meta é incentivar a criação de companhias capazes de competir no exterior, criando receitas, empregos e influência para o País.Dentro do governo, as tais empresas consolidadoras são chamadas de campeãs nacionais. A mais nova integrante do grupo é a Eletrobrás, a estatal federal de energia. O governo decidiu que a Eletrobrás terá tratamento diferenciado do BNDES, com o objetivo de disputar contratos também no exterior. Para não atropelar as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), o BNDES vai financiar em condições privilegiadas os fornecedores da Eletrobrás, e não a estatal diretamente. "Estamos incentivados a procurar empreendimentos em qualquer lugar do mundo", disse o vice-presidente da Eletrobrás, Sinval Gama. A estratégia é criticada por setores mais liberais, que a enxergam como uma interferência exagerada na economia. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, nega o dirigismo. Diz que o governo não escolhe quem será campeão, apenas abriga as empresas que considera eficientes e se encaixem em sua filosofia."Não vamos dizer: "Você tem de fazer isso." Não é um movimento artificialmente forçado. Todas as economias desenvolvidas têm empresas transnacionais", diz.A criação de grandes grupos é uma meta de Coutinho desde sua chegada ao BNDES. Mas a teoria só passou a ser partilhada pelo empresariado depois da crise econômica, que fragilizou a saúde financeira de várias companhias. No começo do ano, o banco liberou R$ 2,4 bilhões para que o grupo Votorantim incorporasse a Aracruz, formando a Fibria (celulose). A criação da Brasil Foods, resultado da compra da Sadia pela Perdigão, pode contar, ao final da transação, com R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão do banco.A Sadia foi engolida pela concorrente porque perdeu uma fortuna com derivativos cambiais. A Votorantim já ia comprar o controle da Aracruz, mas quase desistiu porque as duas também se enforcaram com derivativos de câmbio.Essas duas operações injetaram adrenalina nas indústrias de papel e celulose e nas de alimentos. A produção brasileira de celulose, imaginam os analistas, será dominada por dois grandes grupos: Fibria e Suzano. "A Fibria é uma grande empresa, formada a partir da fusão de outras duas", diz Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano. "Nós vamos seguir outro caminho, com a construção de duas novas fábricas e ainda uma terceira linha de produção." De acordo com ele, o grupo planeja investimentos de US$ 6 bilhões até 2018. A movimentação mais vigorosa acontece na indústria de carnes. Além da venda da Sadia para a Perdigão, outros dois gigantes brasileiros da carne processada, JBS Friboi e Marfrig, partiram nas últimas semanas para uma política agressiva de aquisição de concorrentes. A JBS anunciou, num único dia, uma associação com o frigorífico nacional Bertin e a compra da Pilgrim"s Pride, a segunda maior empresa de abate de frango dos Estados Unidos. A operação criou a maior processadora de carnes do mundo e só foi possível porque o BNDES, que já era sócio da JBS e do Bertin, terá 23% da nova companhia e vai ajudá-la a pagar a empresa americana.Embora a tarefa esteja com o BNDES, o governo tem outros instrumentos para criar campeões nacionais. No setor petroquímico, a atuação da Petrobrás permitiu que a Braskem, do grupo Odebrecht, crescesse rapidamente. Ela é a maior do Brasil e a décima do mundo.Agora, a Braskem negocia a compra da Quattor, a segunda petroquímica brasileira, e procura uma empresa para comprar nos Estados Unidos. "Para um setor como o nosso, de muita produção e margem baixa, tamanho é fundamental", afirma Bernardo Gradin, presidente da Braskem. Mas é o dinheiro do BNDES que mexe com o funcionamento da economia. O arsenal à disposição de Coutinho é o maior que um presidente do BNDES já teve. Este ano, o governo repassou R$ 100 bilhões à instituição para que ela pudesse suprir a demanda por financiamentos em meio à crise global e também para ajudar a Petrobrás. Para o ano que vem, o banco espera um aporte igual.De 20% a 25% do investimento total feito no Brasil vem do banco. Por isso, no Brasil de hoje, quando o tema é um grande negócio todo mundo pensa imediatamente no BNDES. A instituição vai virar sócia da Magnesita, maior empresa brasileira de refratários, para ajudá-la a pagar uma dívida de R$ 324 milhões com o banco americano JPMorgan. No setor de sucroalcooleiro, altamente endividado, o banco também está incentivando o processo de consolidação e discute apoio ao grupo francês Luis Dreyfus se ele adquirir o grupo usineiro Santelisa Vale.

A criação de grandes grupos empresariais brasileiros, uma das principais ambições do governo Lula na área econômica, consumiu, em apenas um ano, pelo menos R$ 8 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O dinheiro foi usado para permitir que empresas como JBS Friboi e Votorantim comprassem concorrentes. Os recursos foram injetados por meio do BNDESPar, a empresa de participações do BNDES, que entrou como sócia ou elevou participação nas compradoras - ou consolidadoras, na linguagem do banco. A conta considera apenas os aportes diretos no capital das empresas. Não entram os empréstimos concedidos a elas pelas linhas de financiamento do banco.No setor de alimentos, onde o movimento de consolidação é mais vigoroso, a participação acionária do BNDESPar saltou de R$ 1,7 bilhão para R$ 5,4 bilhões em um ano e meio. Ao todo, o banco tem hoje cerca de R$ 13 bilhões em participações de empresas de quatro dos setores que participam do processo de consolidação: petroquímica, papel e celulose, telecomunicações e alimentos. A meta é incentivar a criação de companhias capazes de competir no exterior, criando receitas, empregos e influência para o País.Dentro do governo, as tais empresas consolidadoras são chamadas de campeãs nacionais. A mais nova integrante do grupo é a Eletrobrás, a estatal federal de energia. O governo decidiu que a Eletrobrás terá tratamento diferenciado do BNDES, com o objetivo de disputar contratos também no exterior. Para não atropelar as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), o BNDES vai financiar em condições privilegiadas os fornecedores da Eletrobrás, e não a estatal diretamente. "Estamos incentivados a procurar empreendimentos em qualquer lugar do mundo", disse o vice-presidente da Eletrobrás, Sinval Gama. A estratégia é criticada por setores mais liberais, que a enxergam como uma interferência exagerada na economia. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, nega o dirigismo. Diz que o governo não escolhe quem será campeão, apenas abriga as empresas que considera eficientes e se encaixem em sua filosofia."Não vamos dizer: "Você tem de fazer isso." Não é um movimento artificialmente forçado. Todas as economias desenvolvidas têm empresas transnacionais", diz.A criação de grandes grupos é uma meta de Coutinho desde sua chegada ao BNDES. Mas a teoria só passou a ser partilhada pelo empresariado depois da crise econômica, que fragilizou a saúde financeira de várias companhias. No começo do ano, o banco liberou R$ 2,4 bilhões para que o grupo Votorantim incorporasse a Aracruz, formando a Fibria (celulose). A criação da Brasil Foods, resultado da compra da Sadia pela Perdigão, pode contar, ao final da transação, com R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão do banco.A Sadia foi engolida pela concorrente porque perdeu uma fortuna com derivativos cambiais. A Votorantim já ia comprar o controle da Aracruz, mas quase desistiu porque as duas também se enforcaram com derivativos de câmbio.Essas duas operações injetaram adrenalina nas indústrias de papel e celulose e nas de alimentos. A produção brasileira de celulose, imaginam os analistas, será dominada por dois grandes grupos: Fibria e Suzano. "A Fibria é uma grande empresa, formada a partir da fusão de outras duas", diz Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano. "Nós vamos seguir outro caminho, com a construção de duas novas fábricas e ainda uma terceira linha de produção." De acordo com ele, o grupo planeja investimentos de US$ 6 bilhões até 2018. A movimentação mais vigorosa acontece na indústria de carnes. Além da venda da Sadia para a Perdigão, outros dois gigantes brasileiros da carne processada, JBS Friboi e Marfrig, partiram nas últimas semanas para uma política agressiva de aquisição de concorrentes. A JBS anunciou, num único dia, uma associação com o frigorífico nacional Bertin e a compra da Pilgrim"s Pride, a segunda maior empresa de abate de frango dos Estados Unidos. A operação criou a maior processadora de carnes do mundo e só foi possível porque o BNDES, que já era sócio da JBS e do Bertin, terá 23% da nova companhia e vai ajudá-la a pagar a empresa americana.Embora a tarefa esteja com o BNDES, o governo tem outros instrumentos para criar campeões nacionais. No setor petroquímico, a atuação da Petrobrás permitiu que a Braskem, do grupo Odebrecht, crescesse rapidamente. Ela é a maior do Brasil e a décima do mundo.Agora, a Braskem negocia a compra da Quattor, a segunda petroquímica brasileira, e procura uma empresa para comprar nos Estados Unidos. "Para um setor como o nosso, de muita produção e margem baixa, tamanho é fundamental", afirma Bernardo Gradin, presidente da Braskem. Mas é o dinheiro do BNDES que mexe com o funcionamento da economia. O arsenal à disposição de Coutinho é o maior que um presidente do BNDES já teve. Este ano, o governo repassou R$ 100 bilhões à instituição para que ela pudesse suprir a demanda por financiamentos em meio à crise global e também para ajudar a Petrobrás. Para o ano que vem, o banco espera um aporte igual.De 20% a 25% do investimento total feito no Brasil vem do banco. Por isso, no Brasil de hoje, quando o tema é um grande negócio todo mundo pensa imediatamente no BNDES. A instituição vai virar sócia da Magnesita, maior empresa brasileira de refratários, para ajudá-la a pagar uma dívida de R$ 324 milhões com o banco americano JPMorgan. No setor de sucroalcooleiro, altamente endividado, o banco também está incentivando o processo de consolidação e discute apoio ao grupo francês Luis Dreyfus se ele adquirir o grupo usineiro Santelisa Vale.

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