Uma das principais vitrines da presidente Dilma Rousseff na área de educação, o programa Ciência sem Fronteiras quer oferecer pelo menos 75 mil bolsas para estudantes brasileiros no exterior, mas esbarra em uma deficiência dos próprios beneficiados pela iniciativa: o desconhecimento de língua inglesa. Para superar esse problema, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pretende oferecer até o fim do ano aulas gratuitas de inglês, via internet, para os candidatos já aceitos no programa.De acordo com o presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, o sistema de ensino será interativo, com exercícios a serem feitos pelos bolsistas, que usarão ferramentas de correção de pronúncia. O pregão eletrônico que vai definir a empresa responsável pela execução do serviço deve ocorrer nas próximas semanas. Em um segundo momento, deverão ser criados cursos a distância para outros idiomas.Entre as áreas prioritárias do Ciência sem Fronteiras estão engenharia, ciências exatas, ciência biomédica, tecnologia aeroespacial, bio e nanotecnologia, computação, produção agrícola sustentável, tecnologias de prevenção e mitigação de desastres naturais e indústria criativa. O governo federal espera que o setor privado banque outras 25 mil bolsas.Redes de contato. Outra preocupação das autoridades é quanto à distribuição das bolsas pelas instituições que manifestaram interesse em receber brasileiros. Na semana que vem, Guimarães deve se reunir em Nova York com cem representantes de universidades americanas.Além do Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT) e do Ministério da Educação (MEC), o Itamaraty está desempenhando um papel central no programa, por determinação de Dilma. O Planalto quer aproveitar as embaixadas brasileiras e criar redes de contato com associações e pesquisadores no sentido de consultá-los para mapear os centros de excelência estrangeiros.O objetivo é garantir que o Ciência sem Fronteiras abarque universidades de maior renome e outras instituições, menos conhecidas, que também apresentam cursos de alto nível, conferindo maior capilaridade à iniciativa. "Queremos chegar aonde estiver a excelência. Envolvendo e ouvindo a todos, são maiores as chances de que as escolhas sejam corretas", diz uma autoridade envolvida nas discussões.Vistos facilitados. O governo brasileiro vai facilitar a obtenção de vistos pelos estudantes. O Estado apurou que os americanos devem criar uma "pista expressa" para acelerar os procedimentos por aqui. Uma pesquisa do Institute of International Education e do Education USA no País apontou que 59% dos brasileiros acham difícil obter um visto para estudar nos Estados Unidos.O Brasil é o 14.º país com mais estudantes nos EUA - fica atrás de Nepal, Vietnã e Turquia. "O governo americano vê com bons olhos esse programa, pois é uma ótima oportunidade para estreitar uma relação bilateral que já é boa", diz Luiz Loureiro, diretor executivo da Fullbright Brasil, comissão de intercâmbio entre os dois países.Com o Ciência sem Fronteiras, Loureiro espera que o número de brasileiros estudando nos Estados Unidos salte dos atuais 8,8 mil para até 45 mil em 2014.Comitiva. Desde que o Planalto anunciou o Ciência sem Fronteiras, uma comitiva de reitores têm baixado em Brasília para demonstrar interesse em aumentar o número de estudantes brasileiros em seus câmpus."A universidade está empenhada em explorar novas oportunidades e vemos no Brasil uma grande oportunidade para isso. Temos interesses comuns, queremos maximizar as oportunidades em áreas de tecnologia e agricultura, por exemplo", diz o reitor James B. Milliken, da Universidade de Nebraska. O lema da instituição, aliás, casa bem com o mote do Ciência sem Fronteiras: "Desbravando novas fronteiras" (em tradução livre).Segundo Milliken, nem o rigoroso inverno americano assusta. "Os estudantes que temos gostam muito de Nebraska, apesar do frio. Eles têm vivido uma ótima experiência." Ao todo, são 50 brasileiros na universidade, do total de 3 mil estrangeiros.