Dois Bolsonaros emergem no auge da crise, mas nenhum joga xadrez


Um deles recua algumas casas no jogo quando a popularidade cai, mas o outro, logo em seguida, desfaz tudo o que o primeiro fez e avança no estilo beligerante

Por Vera Rosa

Caro leitor,

Nem os militares do governo conseguem “enquadrar” Jair Bolsonaro. Nos bastidores do Congresso e do Supremo Tribunal Federal a impressão é cada vez mais frequente: dois Bolsonaros parecem habitar o Palácio do Planalto. Um deles recua algumas casas no jogo quando a popularidade cai, mas o outro, logo em seguida, desfaz tudo o que o primeiro fez e avança no estilo beligerante.

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O presidente Jair Bolsonaro durante pronunciamento na terça-feira, 31, e visitando lojas de cidades satélites de Brasília, domingo, 29 Foto: Montagem

A condução da crise do coronavírus deixou evidente essa característica. Em conversas reservadas, aliados do presidente dizem que ele se sente “perseguido”, desconfia da equipe e emite sinais trocados porque trabalha com a lógica das redes sociais

Um dos amigos de Bolsonaro o define como um lutador de boxe solitário, em um ringue, onde a maioria da plateia sempre quis que ele fosse a nocaute. “Foram 28 anos assim. Agora, querem que ele passe a ser um jogador de xadrez, que mova as peças lentamente. Mas isso é contra a natureza dele”, resumiu o interlocutor, da ala militar do governo.

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Os últimos movimentos de Bolsonaro, porém, fazem parte de um cálculo político. Em mais de uma ocasião, ele defendeu o fim do isolamento social e a abertura do comércio e das escolas, desautorizando o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que prega a quarentena para evitar o contágio.

No último domingo, um dia depois da tensa reunião no Palácio do Alvorada em que Mandetta pediu ao chefe um esforço em prol da união com Estados e municípios para enfrentar a doença, Bolsonaro visitou lojas de cidades satélites de Brasília, conversou com vendedores de rua e posou para selfies. Não gostou nada de ter ouvido de Mandetta a pergunta desafiadora: “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas?” 

Em mais um capítulo da guerra contra governadores, especialmente os de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio, Wilson Witzel (PSC), o presidente também disse, naquele domingo, que poderia editar um decreto para liberar o retorno dos trabalhadores às atividades. Mas nada fez nessa direção. Nesta terça-feira, 31, uma semana depois do pronunciamento em que classificou o coronavírus como “uma gripezinha”, ele baixou o tom, sintonizou o discurso com o de Mandetta e da maioria de sua equipe e até parecia outro presidente. 

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Para essa nova atuação, Bolsonaro ouviu generais de dentro e de fora do Planalto e consultou outros interlocutores, como o ex-presidente Michel Temer. Diante dos apelos, pregou um pacto nacional de enfrentamento à pandemia e pela preservação da vida e dos empregos. Mas, já nesta quarta, 1.º, menos de doze horas após ter aparecido na TV na versão mais light, Bolsonaro voltou a ser Bolsonaro e criticou medidas de isolamento adotadas por governadores.

“Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos..”, escreveu o presidente, ao compartilhar nas redes sociais um vídeo em que um homem reclama de desabastecimento no Ceasa de Belo Horizonte. “São fatos e realidades que devem ser mostradas. Depois da destruição, não interessa mostrar culpados”, prosseguiu Bolsonaro. Detalhe: o conteúdo do vídeo era falso e o presidente teve de apagá-lo.

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Na prática, Bolsonaro faz um jogo de “morde e assopra” porque, se tudo der errado e a economia do Brasil desandar, seu governo acaba antes da hora. E, nesse cenário, ele jogará, sim, a culpa, na conta dos governadores.

Na avaliação de um aliado que frequenta o Alvorada, o presidente tem a virtude de “ouvir” conselhos. O problema é que ele se consulta muito mais com o chamado “gabinete do ódio”, comandado por Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Filho “zero dois”, o vereador tem até uma sala no terceiro andar do Planalto, a poucos metros do pai.

Para Carlos, a mídia faz um “trabalho sujo”, com o objetivo de “minar” a autoridade de Bolsonaro e atacar sua liderança. “O desenho é claro: partimos para o socialismo. Todos dependentes do Estado até para comer, grandes empresas vão embora e o pequeno investidor não existe mais”, previu Carlos, nesta quarta, 1.º, em mensagem publicada no Twitter. “Conseguem a passos largos fazer o que tentam desde antes de 1964. E tem gente preocupada com a fala do Presidente”.

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Diz a fábula que a natureza do escorpião é mesmo picar. Ao que tudo indica, esta é a natureza do presidente. E também de seus filhos.

Caro leitor,

Nem os militares do governo conseguem “enquadrar” Jair Bolsonaro. Nos bastidores do Congresso e do Supremo Tribunal Federal a impressão é cada vez mais frequente: dois Bolsonaros parecem habitar o Palácio do Planalto. Um deles recua algumas casas no jogo quando a popularidade cai, mas o outro, logo em seguida, desfaz tudo o que o primeiro fez e avança no estilo beligerante.

O presidente Jair Bolsonaro durante pronunciamento na terça-feira, 31, e visitando lojas de cidades satélites de Brasília, domingo, 29 Foto: Montagem

A condução da crise do coronavírus deixou evidente essa característica. Em conversas reservadas, aliados do presidente dizem que ele se sente “perseguido”, desconfia da equipe e emite sinais trocados porque trabalha com a lógica das redes sociais

Um dos amigos de Bolsonaro o define como um lutador de boxe solitário, em um ringue, onde a maioria da plateia sempre quis que ele fosse a nocaute. “Foram 28 anos assim. Agora, querem que ele passe a ser um jogador de xadrez, que mova as peças lentamente. Mas isso é contra a natureza dele”, resumiu o interlocutor, da ala militar do governo.

Os últimos movimentos de Bolsonaro, porém, fazem parte de um cálculo político. Em mais de uma ocasião, ele defendeu o fim do isolamento social e a abertura do comércio e das escolas, desautorizando o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que prega a quarentena para evitar o contágio.

No último domingo, um dia depois da tensa reunião no Palácio do Alvorada em que Mandetta pediu ao chefe um esforço em prol da união com Estados e municípios para enfrentar a doença, Bolsonaro visitou lojas de cidades satélites de Brasília, conversou com vendedores de rua e posou para selfies. Não gostou nada de ter ouvido de Mandetta a pergunta desafiadora: “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas?” 

Em mais um capítulo da guerra contra governadores, especialmente os de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio, Wilson Witzel (PSC), o presidente também disse, naquele domingo, que poderia editar um decreto para liberar o retorno dos trabalhadores às atividades. Mas nada fez nessa direção. Nesta terça-feira, 31, uma semana depois do pronunciamento em que classificou o coronavírus como “uma gripezinha”, ele baixou o tom, sintonizou o discurso com o de Mandetta e da maioria de sua equipe e até parecia outro presidente. 

Para essa nova atuação, Bolsonaro ouviu generais de dentro e de fora do Planalto e consultou outros interlocutores, como o ex-presidente Michel Temer. Diante dos apelos, pregou um pacto nacional de enfrentamento à pandemia e pela preservação da vida e dos empregos. Mas, já nesta quarta, 1.º, menos de doze horas após ter aparecido na TV na versão mais light, Bolsonaro voltou a ser Bolsonaro e criticou medidas de isolamento adotadas por governadores.

“Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos..”, escreveu o presidente, ao compartilhar nas redes sociais um vídeo em que um homem reclama de desabastecimento no Ceasa de Belo Horizonte. “São fatos e realidades que devem ser mostradas. Depois da destruição, não interessa mostrar culpados”, prosseguiu Bolsonaro. Detalhe: o conteúdo do vídeo era falso e o presidente teve de apagá-lo.

Na prática, Bolsonaro faz um jogo de “morde e assopra” porque, se tudo der errado e a economia do Brasil desandar, seu governo acaba antes da hora. E, nesse cenário, ele jogará, sim, a culpa, na conta dos governadores.

Na avaliação de um aliado que frequenta o Alvorada, o presidente tem a virtude de “ouvir” conselhos. O problema é que ele se consulta muito mais com o chamado “gabinete do ódio”, comandado por Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Filho “zero dois”, o vereador tem até uma sala no terceiro andar do Planalto, a poucos metros do pai.

Para Carlos, a mídia faz um “trabalho sujo”, com o objetivo de “minar” a autoridade de Bolsonaro e atacar sua liderança. “O desenho é claro: partimos para o socialismo. Todos dependentes do Estado até para comer, grandes empresas vão embora e o pequeno investidor não existe mais”, previu Carlos, nesta quarta, 1.º, em mensagem publicada no Twitter. “Conseguem a passos largos fazer o que tentam desde antes de 1964. E tem gente preocupada com a fala do Presidente”.

Diz a fábula que a natureza do escorpião é mesmo picar. Ao que tudo indica, esta é a natureza do presidente. E também de seus filhos.

Caro leitor,

Nem os militares do governo conseguem “enquadrar” Jair Bolsonaro. Nos bastidores do Congresso e do Supremo Tribunal Federal a impressão é cada vez mais frequente: dois Bolsonaros parecem habitar o Palácio do Planalto. Um deles recua algumas casas no jogo quando a popularidade cai, mas o outro, logo em seguida, desfaz tudo o que o primeiro fez e avança no estilo beligerante.

O presidente Jair Bolsonaro durante pronunciamento na terça-feira, 31, e visitando lojas de cidades satélites de Brasília, domingo, 29 Foto: Montagem

A condução da crise do coronavírus deixou evidente essa característica. Em conversas reservadas, aliados do presidente dizem que ele se sente “perseguido”, desconfia da equipe e emite sinais trocados porque trabalha com a lógica das redes sociais

Um dos amigos de Bolsonaro o define como um lutador de boxe solitário, em um ringue, onde a maioria da plateia sempre quis que ele fosse a nocaute. “Foram 28 anos assim. Agora, querem que ele passe a ser um jogador de xadrez, que mova as peças lentamente. Mas isso é contra a natureza dele”, resumiu o interlocutor, da ala militar do governo.

Os últimos movimentos de Bolsonaro, porém, fazem parte de um cálculo político. Em mais de uma ocasião, ele defendeu o fim do isolamento social e a abertura do comércio e das escolas, desautorizando o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que prega a quarentena para evitar o contágio.

No último domingo, um dia depois da tensa reunião no Palácio do Alvorada em que Mandetta pediu ao chefe um esforço em prol da união com Estados e municípios para enfrentar a doença, Bolsonaro visitou lojas de cidades satélites de Brasília, conversou com vendedores de rua e posou para selfies. Não gostou nada de ter ouvido de Mandetta a pergunta desafiadora: “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas?” 

Em mais um capítulo da guerra contra governadores, especialmente os de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio, Wilson Witzel (PSC), o presidente também disse, naquele domingo, que poderia editar um decreto para liberar o retorno dos trabalhadores às atividades. Mas nada fez nessa direção. Nesta terça-feira, 31, uma semana depois do pronunciamento em que classificou o coronavírus como “uma gripezinha”, ele baixou o tom, sintonizou o discurso com o de Mandetta e da maioria de sua equipe e até parecia outro presidente. 

Para essa nova atuação, Bolsonaro ouviu generais de dentro e de fora do Planalto e consultou outros interlocutores, como o ex-presidente Michel Temer. Diante dos apelos, pregou um pacto nacional de enfrentamento à pandemia e pela preservação da vida e dos empregos. Mas, já nesta quarta, 1.º, menos de doze horas após ter aparecido na TV na versão mais light, Bolsonaro voltou a ser Bolsonaro e criticou medidas de isolamento adotadas por governadores.

“Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos..”, escreveu o presidente, ao compartilhar nas redes sociais um vídeo em que um homem reclama de desabastecimento no Ceasa de Belo Horizonte. “São fatos e realidades que devem ser mostradas. Depois da destruição, não interessa mostrar culpados”, prosseguiu Bolsonaro. Detalhe: o conteúdo do vídeo era falso e o presidente teve de apagá-lo.

Na prática, Bolsonaro faz um jogo de “morde e assopra” porque, se tudo der errado e a economia do Brasil desandar, seu governo acaba antes da hora. E, nesse cenário, ele jogará, sim, a culpa, na conta dos governadores.

Na avaliação de um aliado que frequenta o Alvorada, o presidente tem a virtude de “ouvir” conselhos. O problema é que ele se consulta muito mais com o chamado “gabinete do ódio”, comandado por Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Filho “zero dois”, o vereador tem até uma sala no terceiro andar do Planalto, a poucos metros do pai.

Para Carlos, a mídia faz um “trabalho sujo”, com o objetivo de “minar” a autoridade de Bolsonaro e atacar sua liderança. “O desenho é claro: partimos para o socialismo. Todos dependentes do Estado até para comer, grandes empresas vão embora e o pequeno investidor não existe mais”, previu Carlos, nesta quarta, 1.º, em mensagem publicada no Twitter. “Conseguem a passos largos fazer o que tentam desde antes de 1964. E tem gente preocupada com a fala do Presidente”.

Diz a fábula que a natureza do escorpião é mesmo picar. Ao que tudo indica, esta é a natureza do presidente. E também de seus filhos.

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