Governo Bolsonaro e Congresso entre tapas e beijos


Atrito virou briga pública e pancadaria foi intensa - episódio ameaçou sepultar de vez as chances de a reforma da Previdência ser aprovada

Por Marcelo de Moraes

Caro leitor,

Antes de o governo de Jair Bolsonaro completar seus primeiros 100 dias, não faltam incertezas sobre a possibilidade real de serem aprovados os projetos necessários para a recuperação econômica do País.

Uma das razões dessa dificuldade está no relacionamento complicadíssimo entre o presidente e seus ministros com o comando do Congresso, especialmente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

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Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia Foto: Ernensto Rodrigues/Estadão

O deputado é defensor ardoroso da aprovação da reforma, mas se queixa da falta de ajuda do Planalto nessa missão. Pior: reclama que o presidente, além de não ajudar a trazer votos para a reforma da Previdência, ainda deixa correr solto ataques nas redes sociais feitos contra ele e a outros parlamentares por sites e perfis bolsonaristas. O atrito virou briga pública, com direito a troca de desaforos, que ameaçou sepultar de vez as chances de a reforma ser aprovada.

E a pancadaria foi intensa. Começou com a ameaça de Maia, insatisfeito, largar a articulação política, criticando a falta de empenho do presidente em pedir votos para a reforma. Você pode ler aqui e nessa outra conversa que eu tive com ele.

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Maia aumentou o tom e deu uma entrevista ao Estado fortíssima, afirmando que o governo era um “deserto de ideias”, recebendo, em troca, uma traulitada do presidente, dizendo que alguns políticos não queriam “largar a velha política”, insinuando que as queixas de Maia eram porque o governo se recusava a aderir ao toma lá, dá cá. Veja aqui.

Estava na cara que um arranca-rabo desse tipo entre o presidente do País e o presidente da Câmara deixaria um rastro negativo. Na newsletter do BR18, expliquei como essas divergências criaram um clima de pessimismo no mercado, derrubando a Bolsa e fazendo o preço do dólar disparar. Você pode ler aqui.

E a colunista Eliane Cantanhêde também resumiu bem a perplexidade de todos com a insistência demonstrada pelo presidente em irritar Maia afirmando que ele passava por problemas pessoais, numa referência à prisão do ex-ministro Moreira Franco, que é padrasto da mulher do presidente da Câmara. A coluna de Eliane está aqui. Ela também fala sobre isso nesse podcast.

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Na verdade, a briga serviu também para escancarar o desconforto geral com a percepção que o governo e o próprio presidente estavam perdidos, sem conseguir conduzir o País adequadamente. Não se tratava apenas dos problemas com o Congresso. Em outras áreas do governo, a confusão também era evidente, como no caso do Ministério da Educação. Lá, brigas internas e decisões absurdas, como o fim da avaliação da alfabetização das crianças, mostravam que o clima de bagunça estava generalizado.

Nesse importante editorial, fica claro como o clima de desordem impediu que os três primeiros meses de governo pudessem ser proveitosos para o País. E, nesse outro, é possível ver como as ações do presidente tem causado até constrangimentos.

O fato é que o governo não caminhará para nenhum lugar sem a participação do Congresso, que tem poder de fogo para aprovar, barrar ou alterar as propostas. A Câmara deu uma prova disso ao aprovar numa votação relâmpago uma proposta de emenda constitucional que faz com que o orçamento se torne impositivo, engessando a capacidade de o governo utilizar seus recursos a partir de 2020, desde que o Senado vote da mesma maneira.

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A proposta era de 2015, estava esquecida na bacia das almas da Câmara e foi recuperada apenas para dar uma demonstração de força dos deputados. Mesmo sendo uma alteração na Constituição, teve seus dois turnos aprovados na mesma noite e com ampla maioria de votos. Ou seja, os parlamentares mostraram que podem aprovar tudo o que quiserem se tiverem uma articulação política consistente. Você pode ler mais sobre essa votação aqui.

Foi com essa certeza que o próprio Bolsonaro resolveu fazer um gesto na direção de Maia, afirmando que se houve problemas com o deputado, tinham sido como “chuvas de verão”. Ou seja, algo intenso, mas de pouca duração. E, durante uma entrevista para José Luiz Datena, pediu paz e chegou a mandar beijos para os parlamentares.

O problema é que Maia e outros líderes do Congresso já não acreditam mais que o presidente queira, de fato, manter uma boa relação com eles. A impressão geral no Congresso é que, apesar dos acenos de paz, o presidente prefere jogar para a galera das redes sociais, carimbando os parlamentares como representantes da “velha política”. Por causa disso, e de olho na tentativa de salvar a reforma da Previdência e outros pontos da agenda econômica, Maia decidiu se alinhar com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para acertar uma linha de ação comum. Guedes passaria a ser o principal interlocutor do Congresso em assuntos da reforma. Se Bolsonaro ajudar, tanto melhor. Mas o plano – que já provocou reação positiva do mercado – é que essa aliança entre Maia e Guedes seja levada adiante e possa deixar para trás o clima de tapas e beijos que tomou conta do Congresso.

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Caro leitor,

Antes de o governo de Jair Bolsonaro completar seus primeiros 100 dias, não faltam incertezas sobre a possibilidade real de serem aprovados os projetos necessários para a recuperação econômica do País.

Uma das razões dessa dificuldade está no relacionamento complicadíssimo entre o presidente e seus ministros com o comando do Congresso, especialmente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia Foto: Ernensto Rodrigues/Estadão

O deputado é defensor ardoroso da aprovação da reforma, mas se queixa da falta de ajuda do Planalto nessa missão. Pior: reclama que o presidente, além de não ajudar a trazer votos para a reforma da Previdência, ainda deixa correr solto ataques nas redes sociais feitos contra ele e a outros parlamentares por sites e perfis bolsonaristas. O atrito virou briga pública, com direito a troca de desaforos, que ameaçou sepultar de vez as chances de a reforma ser aprovada.

E a pancadaria foi intensa. Começou com a ameaça de Maia, insatisfeito, largar a articulação política, criticando a falta de empenho do presidente em pedir votos para a reforma. Você pode ler aqui e nessa outra conversa que eu tive com ele.

Maia aumentou o tom e deu uma entrevista ao Estado fortíssima, afirmando que o governo era um “deserto de ideias”, recebendo, em troca, uma traulitada do presidente, dizendo que alguns políticos não queriam “largar a velha política”, insinuando que as queixas de Maia eram porque o governo se recusava a aderir ao toma lá, dá cá. Veja aqui.

Estava na cara que um arranca-rabo desse tipo entre o presidente do País e o presidente da Câmara deixaria um rastro negativo. Na newsletter do BR18, expliquei como essas divergências criaram um clima de pessimismo no mercado, derrubando a Bolsa e fazendo o preço do dólar disparar. Você pode ler aqui.

E a colunista Eliane Cantanhêde também resumiu bem a perplexidade de todos com a insistência demonstrada pelo presidente em irritar Maia afirmando que ele passava por problemas pessoais, numa referência à prisão do ex-ministro Moreira Franco, que é padrasto da mulher do presidente da Câmara. A coluna de Eliane está aqui. Ela também fala sobre isso nesse podcast.

Na verdade, a briga serviu também para escancarar o desconforto geral com a percepção que o governo e o próprio presidente estavam perdidos, sem conseguir conduzir o País adequadamente. Não se tratava apenas dos problemas com o Congresso. Em outras áreas do governo, a confusão também era evidente, como no caso do Ministério da Educação. Lá, brigas internas e decisões absurdas, como o fim da avaliação da alfabetização das crianças, mostravam que o clima de bagunça estava generalizado.

Nesse importante editorial, fica claro como o clima de desordem impediu que os três primeiros meses de governo pudessem ser proveitosos para o País. E, nesse outro, é possível ver como as ações do presidente tem causado até constrangimentos.

O fato é que o governo não caminhará para nenhum lugar sem a participação do Congresso, que tem poder de fogo para aprovar, barrar ou alterar as propostas. A Câmara deu uma prova disso ao aprovar numa votação relâmpago uma proposta de emenda constitucional que faz com que o orçamento se torne impositivo, engessando a capacidade de o governo utilizar seus recursos a partir de 2020, desde que o Senado vote da mesma maneira.

A proposta era de 2015, estava esquecida na bacia das almas da Câmara e foi recuperada apenas para dar uma demonstração de força dos deputados. Mesmo sendo uma alteração na Constituição, teve seus dois turnos aprovados na mesma noite e com ampla maioria de votos. Ou seja, os parlamentares mostraram que podem aprovar tudo o que quiserem se tiverem uma articulação política consistente. Você pode ler mais sobre essa votação aqui.

Foi com essa certeza que o próprio Bolsonaro resolveu fazer um gesto na direção de Maia, afirmando que se houve problemas com o deputado, tinham sido como “chuvas de verão”. Ou seja, algo intenso, mas de pouca duração. E, durante uma entrevista para José Luiz Datena, pediu paz e chegou a mandar beijos para os parlamentares.

O problema é que Maia e outros líderes do Congresso já não acreditam mais que o presidente queira, de fato, manter uma boa relação com eles. A impressão geral no Congresso é que, apesar dos acenos de paz, o presidente prefere jogar para a galera das redes sociais, carimbando os parlamentares como representantes da “velha política”. Por causa disso, e de olho na tentativa de salvar a reforma da Previdência e outros pontos da agenda econômica, Maia decidiu se alinhar com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para acertar uma linha de ação comum. Guedes passaria a ser o principal interlocutor do Congresso em assuntos da reforma. Se Bolsonaro ajudar, tanto melhor. Mas o plano – que já provocou reação positiva do mercado – é que essa aliança entre Maia e Guedes seja levada adiante e possa deixar para trás o clima de tapas e beijos que tomou conta do Congresso.

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Antes de o governo de Jair Bolsonaro completar seus primeiros 100 dias, não faltam incertezas sobre a possibilidade real de serem aprovados os projetos necessários para a recuperação econômica do País.

Uma das razões dessa dificuldade está no relacionamento complicadíssimo entre o presidente e seus ministros com o comando do Congresso, especialmente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia Foto: Ernensto Rodrigues/Estadão

O deputado é defensor ardoroso da aprovação da reforma, mas se queixa da falta de ajuda do Planalto nessa missão. Pior: reclama que o presidente, além de não ajudar a trazer votos para a reforma da Previdência, ainda deixa correr solto ataques nas redes sociais feitos contra ele e a outros parlamentares por sites e perfis bolsonaristas. O atrito virou briga pública, com direito a troca de desaforos, que ameaçou sepultar de vez as chances de a reforma ser aprovada.

E a pancadaria foi intensa. Começou com a ameaça de Maia, insatisfeito, largar a articulação política, criticando a falta de empenho do presidente em pedir votos para a reforma. Você pode ler aqui e nessa outra conversa que eu tive com ele.

Maia aumentou o tom e deu uma entrevista ao Estado fortíssima, afirmando que o governo era um “deserto de ideias”, recebendo, em troca, uma traulitada do presidente, dizendo que alguns políticos não queriam “largar a velha política”, insinuando que as queixas de Maia eram porque o governo se recusava a aderir ao toma lá, dá cá. Veja aqui.

Estava na cara que um arranca-rabo desse tipo entre o presidente do País e o presidente da Câmara deixaria um rastro negativo. Na newsletter do BR18, expliquei como essas divergências criaram um clima de pessimismo no mercado, derrubando a Bolsa e fazendo o preço do dólar disparar. Você pode ler aqui.

E a colunista Eliane Cantanhêde também resumiu bem a perplexidade de todos com a insistência demonstrada pelo presidente em irritar Maia afirmando que ele passava por problemas pessoais, numa referência à prisão do ex-ministro Moreira Franco, que é padrasto da mulher do presidente da Câmara. A coluna de Eliane está aqui. Ela também fala sobre isso nesse podcast.

Na verdade, a briga serviu também para escancarar o desconforto geral com a percepção que o governo e o próprio presidente estavam perdidos, sem conseguir conduzir o País adequadamente. Não se tratava apenas dos problemas com o Congresso. Em outras áreas do governo, a confusão também era evidente, como no caso do Ministério da Educação. Lá, brigas internas e decisões absurdas, como o fim da avaliação da alfabetização das crianças, mostravam que o clima de bagunça estava generalizado.

Nesse importante editorial, fica claro como o clima de desordem impediu que os três primeiros meses de governo pudessem ser proveitosos para o País. E, nesse outro, é possível ver como as ações do presidente tem causado até constrangimentos.

O fato é que o governo não caminhará para nenhum lugar sem a participação do Congresso, que tem poder de fogo para aprovar, barrar ou alterar as propostas. A Câmara deu uma prova disso ao aprovar numa votação relâmpago uma proposta de emenda constitucional que faz com que o orçamento se torne impositivo, engessando a capacidade de o governo utilizar seus recursos a partir de 2020, desde que o Senado vote da mesma maneira.

A proposta era de 2015, estava esquecida na bacia das almas da Câmara e foi recuperada apenas para dar uma demonstração de força dos deputados. Mesmo sendo uma alteração na Constituição, teve seus dois turnos aprovados na mesma noite e com ampla maioria de votos. Ou seja, os parlamentares mostraram que podem aprovar tudo o que quiserem se tiverem uma articulação política consistente. Você pode ler mais sobre essa votação aqui.

Foi com essa certeza que o próprio Bolsonaro resolveu fazer um gesto na direção de Maia, afirmando que se houve problemas com o deputado, tinham sido como “chuvas de verão”. Ou seja, algo intenso, mas de pouca duração. E, durante uma entrevista para José Luiz Datena, pediu paz e chegou a mandar beijos para os parlamentares.

O problema é que Maia e outros líderes do Congresso já não acreditam mais que o presidente queira, de fato, manter uma boa relação com eles. A impressão geral no Congresso é que, apesar dos acenos de paz, o presidente prefere jogar para a galera das redes sociais, carimbando os parlamentares como representantes da “velha política”. Por causa disso, e de olho na tentativa de salvar a reforma da Previdência e outros pontos da agenda econômica, Maia decidiu se alinhar com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para acertar uma linha de ação comum. Guedes passaria a ser o principal interlocutor do Congresso em assuntos da reforma. Se Bolsonaro ajudar, tanto melhor. Mas o plano – que já provocou reação positiva do mercado – é que essa aliança entre Maia e Guedes seja levada adiante e possa deixar para trás o clima de tapas e beijos que tomou conta do Congresso.

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