Caro leitor,
Jair Messias Bolsonaro foi a Israel e citou três vezes João 8:32 - "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Seus ministros e assessores juram que foi uma viagem de caráter religioso, mas é difícil acreditar. Em Jerusalém, ele andou com o premiê Binyamin Netanyahu a tiracolo, disse que amava Israel meia dúzia de vezes, em português e hebraico, arrepiando os ruralistas que exportam para o mercado árabe, como conta Marcelo de Moraes.
Foram quatro dias convivendo com o presidente. Tempo suficiente para perceber que ele é uma pessoa fácil de ler. Quando está relaxado, mostra certa espontaneidade. Na terça-feira, 2, Bolsonaro fez um discurso a empresários. Falou após Netanyahu, que tem uma lábia de TED Talk, como mostra Roberto Macedo. Mesmo assim, o presidente não foi mal. Estava solto, colocando e tirando as mãos do bolso. Contando casos dos tempos de paraquedista, criando empatia com a platéia de ricaços e militares.
Mais tarde parecia um lorde no Bosque das Nações. Ao plantar uma oliveira próxima da que Lula plantou, em 2010, ele usou o humor para alfinetar o ex-presidente - um recurso raro. "A minha vai crescer mais que a dele", disse. Um comediante experiente deixaria o palco no ápice do stand-up. Mas faltou presença de palco.
No mesmo dia, após passar duas horas no Museu do Holocausto, Bolsonaro desceu a ladeira. Assim que terminou de assinar o livro de visitantes, a chefe do cerimonial pediu para que ele dissesse algumas palavras. Ele ficou pálido. Acuado, recorreu a João 8:32 e em seguida disse que era dele uma frase do ensaísta espanhol George Santayana.
Quando voltou ao hotel King David, discursou para brasileiros que vivem em Israel e ressuscitou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Minutos depois, defendeu a tese sustentada por seu chanceler, que acredita que o nazismo tenha sido de esquerda - elocubração contestada por historiadores, entre eles Michel Gherman, da UFRJ.
A última noite teve ainda o tom agressivo do filho Flávio, que provocou o Hamas pelo Twitter - e depois apagou a mensagem. A caminho do aeroporto, na manhã do quarto dia, Bolsonaro tentou amenizar a retórica. Jurou não querer encrenca com com os árabes e voou para Brasília.