Bolsonarismo quer transformar formatura de sargentos da PM em comício de Tarcísio


Deputados alinhados ao presidente criaram polêmica sobre suposta escolha de candidato de Bolsonaro ao governo paulista como paraninfo de turma de sargentos da polícia

Por Marcelo Godoy

Caro leitor,

As formaturas de militares, que deviam congregar amigos, familiares, instrutores e professores e os futuros graduados e oficiais das polícias estaduais e das Forças Armadas, foram transformadas em eventos políticos desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder. O espetáculo do presidente e de seus ministros generais desfilando pela esplanada da Academia Militar das Agulhas Negras se repete ano a ano, com direito a discurso do capitão e almoço com os cadetes. Ali, Bolsonaro se comporta como o homem que tem os votos para manter o estamento militar no poder.

Bolsonarismo disputa o voto dos policiais militares para manter as cadeiras da bancada da bala Foto: EPITACIO PESSOA/ESTADÃO - 30/11/2012
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O exemplo induz o cadete não mais a sonhar em ser um especialista em guerra cibernética ou estudar como dissuadir forças hostis para garantir a soberania do País. Bolsonaro e os salários pagos acima do teto do funcionalismo para seus ministros-generais substituem o ideal da servidão silenciosa no militar e do cumprimento dos sacrifícios da carreira pela miragem das sinecuras, dos salários de marajás e do exercício de funções civis, a despeito de o País ter constituído uma burocracia estável e profissional, desde a criação do Departamento de Administração do Serviço Público, há mais de 80 anos. Torna-se fluida a divisão entre Poder Militar e Poder Civil, com o prejuízo do controle do primeiro e do exercício do segundo.

O modelo que busca transformar cada formatura de cadetes, sargentos ou soldados em evento político seria para os críticos de Jair Bolsonaro parte de sua estratégia de cooptação dos militares para sua base eleitoral, radicalizando os homens que têm o direito de portar armas para a defesa do País e a garantia da segurança da sociedade. O bolsonarismo trabalha em um terreno fértil, principalmente, entre os praças das Polícias Militares, conforme demonstrou pesquisa do Fórum Nacional de Segurança Pública em setembro de 2021. Ao todo, 30% deles interagem com ambientes do bolsonarismo radical e outros 21% com ambientes bolsonaristas. 

Foi justamente aí que o bolsonarismo preparou sua mais nova polêmica. Todo ano, quando se aproxima a formatura dos sargentos na Escola Superior de Sargentos da PM paulista, os alunos têm o direito, por meio do voto, de indicar um possível paraninfo da turma. O comandante da escola, o coronel Temístocles Telmo Ferreira Araújo alertou aos alunos que deviam escolher alguém que fosse relacionado à história da polícia, pois no passado já venceram votações na escola a atriz Paolla Oliveira e o Comandante Hamilton, o piloto de helicópteros que trabalhou na Bandeirantes, no STB e na Record. 

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Mas os alunos não ouviram o conselho do coronel e apontaram o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e o pai de um formando com 101 anos de idade como os paraninfos da turma. O comando reagiu. Acrescentou à lista dois nomes de militares ligados à escola. Outra decisão foi fazer a formatura na Escola e não no Sambódromo, no Anhembi. O coronel explicou em uma mensagem a colegas que a possibilidade de fazer a formatura no Anhembi – o que havia sido suspenso desde 2020, em razão da covid-19 – foi novamente afastada por causa da variante Ômicron, do Sars-CoV-2.

De posse dessas duas informações, a bancada da bala bolsonarista passou a acusar o governador João Doria (PSDB) de cancelar a formatura em razão da escolha de Tarcísio como paraninfo e do falecido senador Major Olímpio como patrono. Em mensagem postada na internet, o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) acusou Doria e defendeu Tarcísio. Foi seguido por outros bolsonaristas. Até um "debate" sobre o caso foi programado pelo coronel e seus apoiadores em defesa da liberdade dos formandos de escolher os paraninfos e para que o evento fosse feito no Sambódromo. "Doria, ninguém gosta de você!", dizia o deputado, o mesmo que convocou PMs a participarem do comício de Bolsonaro em São Paulo, em 7 de setembro de 2021, onde uma das palavras de ordem era “eu autorizo”,referência à defesa de um golpe de Estado.

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Durante o fim de semana, coronéis da PM trocaram mensagens para esclarecer o caso. Foi quando Telmo, o comandante da escola, escreveu para os amigos. Sobre o cancelamento do evento no Anhembi, ele relatou: "Na quarta-feira, o comando sinalizou contrário e que deveríamos fazer a formatura nos moldes anteriores, sendo que enviei hoje novo planejamento, para formatura na escola com 100% dos alunos e com cerca de 2 convidados apenas, pois não cabe na escola." E continuou: "Quanto a paraninfo e patrono, as normas vigentes em BG tratam que a escola encaminhe 03 nomes. Desde que estou na escola, faço reunião constante com a comissão de formatura, para que não seja escolhido nomes que não tenham nada a ver com a PM."  

De acordo com Telmo, nem o paraninfo nem o patrono da turma foram escolhidos pelo comando da PM. Ele encaminhou o documento com três sugestões de nomes para cada um para o Departamento de Ensino e Cultura da PM, que devia encaminhar a lista ao Comando da PM. "Ou seja, não se escolheu o nome ainda, nem sei se o documento já aportou no QCG (Quartel do Comando Geral)." Por fim, ele concluiu: "Quanto a não fazer a formatura no Anhembi, eu e Santana alertamos que daria problema." Santana é o coronel Marcelo Miranda de Santana, diretor de ensino da PM. 

A acreditar na mensagem do coronel Telmo, o bolsonarismo teria criado uma falsa crise para indispor Doria com os sargentos da PM e seus familiares. Tudo em busca de votos em uma eleição em que a bancada de bala deve ser reduzida, caso se repitam os resultados das eleições municipais de 2020, quando o bolsonarismo sofreu com o desgaste provocado pela forma como exerce o poder no País. A identificação com o presidente foi o trunfo que levou muitos deles aos parlamentos estaduais e ao Congresso em 2018. Diante da rejeição a Bolsonaro apontada pelas pesquisas, o grupo agora vai ter muito mais dificuldade para obter os mesmos votos e manter suas cadeiras nas assembleias e em Brasília.

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Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, é cotado pelo presidente Bolsonaro para disputar o governo de São Paulo. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A Secretaria de Segurança Pública se limitou a informar que nenhuma decisão foi tomada pelo governador Doria no caso da eleição de Tarcísio como paraninfo dos futuros sargentos. Mas se a tivesse tomado, não haveria problema algum. Formatura de militar não é lugar de comício político. E muito menos de campanha antecipada de quem ambiciona entrar na política depois de servir a governos tão díspares, como os de Dilma Rousseff e o de Jair Bolsonaro. Se esse era o plano da campanha do candidato ao governo de São Paulo, ela já começa mal, emulando o presidente naquilo que de pior tem a sua relação com os militares: a cooptação do estamento por meio de privilégios e sinecuras, com a colocação de seus interesses acima daqueles da sociedade à qual devem servir e proteger. 

Caro leitor,

As formaturas de militares, que deviam congregar amigos, familiares, instrutores e professores e os futuros graduados e oficiais das polícias estaduais e das Forças Armadas, foram transformadas em eventos políticos desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder. O espetáculo do presidente e de seus ministros generais desfilando pela esplanada da Academia Militar das Agulhas Negras se repete ano a ano, com direito a discurso do capitão e almoço com os cadetes. Ali, Bolsonaro se comporta como o homem que tem os votos para manter o estamento militar no poder.

Bolsonarismo disputa o voto dos policiais militares para manter as cadeiras da bancada da bala Foto: EPITACIO PESSOA/ESTADÃO - 30/11/2012

O exemplo induz o cadete não mais a sonhar em ser um especialista em guerra cibernética ou estudar como dissuadir forças hostis para garantir a soberania do País. Bolsonaro e os salários pagos acima do teto do funcionalismo para seus ministros-generais substituem o ideal da servidão silenciosa no militar e do cumprimento dos sacrifícios da carreira pela miragem das sinecuras, dos salários de marajás e do exercício de funções civis, a despeito de o País ter constituído uma burocracia estável e profissional, desde a criação do Departamento de Administração do Serviço Público, há mais de 80 anos. Torna-se fluida a divisão entre Poder Militar e Poder Civil, com o prejuízo do controle do primeiro e do exercício do segundo.

O modelo que busca transformar cada formatura de cadetes, sargentos ou soldados em evento político seria para os críticos de Jair Bolsonaro parte de sua estratégia de cooptação dos militares para sua base eleitoral, radicalizando os homens que têm o direito de portar armas para a defesa do País e a garantia da segurança da sociedade. O bolsonarismo trabalha em um terreno fértil, principalmente, entre os praças das Polícias Militares, conforme demonstrou pesquisa do Fórum Nacional de Segurança Pública em setembro de 2021. Ao todo, 30% deles interagem com ambientes do bolsonarismo radical e outros 21% com ambientes bolsonaristas. 

Foi justamente aí que o bolsonarismo preparou sua mais nova polêmica. Todo ano, quando se aproxima a formatura dos sargentos na Escola Superior de Sargentos da PM paulista, os alunos têm o direito, por meio do voto, de indicar um possível paraninfo da turma. O comandante da escola, o coronel Temístocles Telmo Ferreira Araújo alertou aos alunos que deviam escolher alguém que fosse relacionado à história da polícia, pois no passado já venceram votações na escola a atriz Paolla Oliveira e o Comandante Hamilton, o piloto de helicópteros que trabalhou na Bandeirantes, no STB e na Record. 

Mas os alunos não ouviram o conselho do coronel e apontaram o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e o pai de um formando com 101 anos de idade como os paraninfos da turma. O comando reagiu. Acrescentou à lista dois nomes de militares ligados à escola. Outra decisão foi fazer a formatura na Escola e não no Sambódromo, no Anhembi. O coronel explicou em uma mensagem a colegas que a possibilidade de fazer a formatura no Anhembi – o que havia sido suspenso desde 2020, em razão da covid-19 – foi novamente afastada por causa da variante Ômicron, do Sars-CoV-2.

De posse dessas duas informações, a bancada da bala bolsonarista passou a acusar o governador João Doria (PSDB) de cancelar a formatura em razão da escolha de Tarcísio como paraninfo e do falecido senador Major Olímpio como patrono. Em mensagem postada na internet, o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) acusou Doria e defendeu Tarcísio. Foi seguido por outros bolsonaristas. Até um "debate" sobre o caso foi programado pelo coronel e seus apoiadores em defesa da liberdade dos formandos de escolher os paraninfos e para que o evento fosse feito no Sambódromo. "Doria, ninguém gosta de você!", dizia o deputado, o mesmo que convocou PMs a participarem do comício de Bolsonaro em São Paulo, em 7 de setembro de 2021, onde uma das palavras de ordem era “eu autorizo”,referência à defesa de um golpe de Estado.

Durante o fim de semana, coronéis da PM trocaram mensagens para esclarecer o caso. Foi quando Telmo, o comandante da escola, escreveu para os amigos. Sobre o cancelamento do evento no Anhembi, ele relatou: "Na quarta-feira, o comando sinalizou contrário e que deveríamos fazer a formatura nos moldes anteriores, sendo que enviei hoje novo planejamento, para formatura na escola com 100% dos alunos e com cerca de 2 convidados apenas, pois não cabe na escola." E continuou: "Quanto a paraninfo e patrono, as normas vigentes em BG tratam que a escola encaminhe 03 nomes. Desde que estou na escola, faço reunião constante com a comissão de formatura, para que não seja escolhido nomes que não tenham nada a ver com a PM."  

De acordo com Telmo, nem o paraninfo nem o patrono da turma foram escolhidos pelo comando da PM. Ele encaminhou o documento com três sugestões de nomes para cada um para o Departamento de Ensino e Cultura da PM, que devia encaminhar a lista ao Comando da PM. "Ou seja, não se escolheu o nome ainda, nem sei se o documento já aportou no QCG (Quartel do Comando Geral)." Por fim, ele concluiu: "Quanto a não fazer a formatura no Anhembi, eu e Santana alertamos que daria problema." Santana é o coronel Marcelo Miranda de Santana, diretor de ensino da PM. 

A acreditar na mensagem do coronel Telmo, o bolsonarismo teria criado uma falsa crise para indispor Doria com os sargentos da PM e seus familiares. Tudo em busca de votos em uma eleição em que a bancada de bala deve ser reduzida, caso se repitam os resultados das eleições municipais de 2020, quando o bolsonarismo sofreu com o desgaste provocado pela forma como exerce o poder no País. A identificação com o presidente foi o trunfo que levou muitos deles aos parlamentos estaduais e ao Congresso em 2018. Diante da rejeição a Bolsonaro apontada pelas pesquisas, o grupo agora vai ter muito mais dificuldade para obter os mesmos votos e manter suas cadeiras nas assembleias e em Brasília.

Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, é cotado pelo presidente Bolsonaro para disputar o governo de São Paulo. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A Secretaria de Segurança Pública se limitou a informar que nenhuma decisão foi tomada pelo governador Doria no caso da eleição de Tarcísio como paraninfo dos futuros sargentos. Mas se a tivesse tomado, não haveria problema algum. Formatura de militar não é lugar de comício político. E muito menos de campanha antecipada de quem ambiciona entrar na política depois de servir a governos tão díspares, como os de Dilma Rousseff e o de Jair Bolsonaro. Se esse era o plano da campanha do candidato ao governo de São Paulo, ela já começa mal, emulando o presidente naquilo que de pior tem a sua relação com os militares: a cooptação do estamento por meio de privilégios e sinecuras, com a colocação de seus interesses acima daqueles da sociedade à qual devem servir e proteger. 

Caro leitor,

As formaturas de militares, que deviam congregar amigos, familiares, instrutores e professores e os futuros graduados e oficiais das polícias estaduais e das Forças Armadas, foram transformadas em eventos políticos desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder. O espetáculo do presidente e de seus ministros generais desfilando pela esplanada da Academia Militar das Agulhas Negras se repete ano a ano, com direito a discurso do capitão e almoço com os cadetes. Ali, Bolsonaro se comporta como o homem que tem os votos para manter o estamento militar no poder.

Bolsonarismo disputa o voto dos policiais militares para manter as cadeiras da bancada da bala Foto: EPITACIO PESSOA/ESTADÃO - 30/11/2012

O exemplo induz o cadete não mais a sonhar em ser um especialista em guerra cibernética ou estudar como dissuadir forças hostis para garantir a soberania do País. Bolsonaro e os salários pagos acima do teto do funcionalismo para seus ministros-generais substituem o ideal da servidão silenciosa no militar e do cumprimento dos sacrifícios da carreira pela miragem das sinecuras, dos salários de marajás e do exercício de funções civis, a despeito de o País ter constituído uma burocracia estável e profissional, desde a criação do Departamento de Administração do Serviço Público, há mais de 80 anos. Torna-se fluida a divisão entre Poder Militar e Poder Civil, com o prejuízo do controle do primeiro e do exercício do segundo.

O modelo que busca transformar cada formatura de cadetes, sargentos ou soldados em evento político seria para os críticos de Jair Bolsonaro parte de sua estratégia de cooptação dos militares para sua base eleitoral, radicalizando os homens que têm o direito de portar armas para a defesa do País e a garantia da segurança da sociedade. O bolsonarismo trabalha em um terreno fértil, principalmente, entre os praças das Polícias Militares, conforme demonstrou pesquisa do Fórum Nacional de Segurança Pública em setembro de 2021. Ao todo, 30% deles interagem com ambientes do bolsonarismo radical e outros 21% com ambientes bolsonaristas. 

Foi justamente aí que o bolsonarismo preparou sua mais nova polêmica. Todo ano, quando se aproxima a formatura dos sargentos na Escola Superior de Sargentos da PM paulista, os alunos têm o direito, por meio do voto, de indicar um possível paraninfo da turma. O comandante da escola, o coronel Temístocles Telmo Ferreira Araújo alertou aos alunos que deviam escolher alguém que fosse relacionado à história da polícia, pois no passado já venceram votações na escola a atriz Paolla Oliveira e o Comandante Hamilton, o piloto de helicópteros que trabalhou na Bandeirantes, no STB e na Record. 

Mas os alunos não ouviram o conselho do coronel e apontaram o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e o pai de um formando com 101 anos de idade como os paraninfos da turma. O comando reagiu. Acrescentou à lista dois nomes de militares ligados à escola. Outra decisão foi fazer a formatura na Escola e não no Sambódromo, no Anhembi. O coronel explicou em uma mensagem a colegas que a possibilidade de fazer a formatura no Anhembi – o que havia sido suspenso desde 2020, em razão da covid-19 – foi novamente afastada por causa da variante Ômicron, do Sars-CoV-2.

De posse dessas duas informações, a bancada da bala bolsonarista passou a acusar o governador João Doria (PSDB) de cancelar a formatura em razão da escolha de Tarcísio como paraninfo e do falecido senador Major Olímpio como patrono. Em mensagem postada na internet, o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) acusou Doria e defendeu Tarcísio. Foi seguido por outros bolsonaristas. Até um "debate" sobre o caso foi programado pelo coronel e seus apoiadores em defesa da liberdade dos formandos de escolher os paraninfos e para que o evento fosse feito no Sambódromo. "Doria, ninguém gosta de você!", dizia o deputado, o mesmo que convocou PMs a participarem do comício de Bolsonaro em São Paulo, em 7 de setembro de 2021, onde uma das palavras de ordem era “eu autorizo”,referência à defesa de um golpe de Estado.

Durante o fim de semana, coronéis da PM trocaram mensagens para esclarecer o caso. Foi quando Telmo, o comandante da escola, escreveu para os amigos. Sobre o cancelamento do evento no Anhembi, ele relatou: "Na quarta-feira, o comando sinalizou contrário e que deveríamos fazer a formatura nos moldes anteriores, sendo que enviei hoje novo planejamento, para formatura na escola com 100% dos alunos e com cerca de 2 convidados apenas, pois não cabe na escola." E continuou: "Quanto a paraninfo e patrono, as normas vigentes em BG tratam que a escola encaminhe 03 nomes. Desde que estou na escola, faço reunião constante com a comissão de formatura, para que não seja escolhido nomes que não tenham nada a ver com a PM."  

De acordo com Telmo, nem o paraninfo nem o patrono da turma foram escolhidos pelo comando da PM. Ele encaminhou o documento com três sugestões de nomes para cada um para o Departamento de Ensino e Cultura da PM, que devia encaminhar a lista ao Comando da PM. "Ou seja, não se escolheu o nome ainda, nem sei se o documento já aportou no QCG (Quartel do Comando Geral)." Por fim, ele concluiu: "Quanto a não fazer a formatura no Anhembi, eu e Santana alertamos que daria problema." Santana é o coronel Marcelo Miranda de Santana, diretor de ensino da PM. 

A acreditar na mensagem do coronel Telmo, o bolsonarismo teria criado uma falsa crise para indispor Doria com os sargentos da PM e seus familiares. Tudo em busca de votos em uma eleição em que a bancada de bala deve ser reduzida, caso se repitam os resultados das eleições municipais de 2020, quando o bolsonarismo sofreu com o desgaste provocado pela forma como exerce o poder no País. A identificação com o presidente foi o trunfo que levou muitos deles aos parlamentos estaduais e ao Congresso em 2018. Diante da rejeição a Bolsonaro apontada pelas pesquisas, o grupo agora vai ter muito mais dificuldade para obter os mesmos votos e manter suas cadeiras nas assembleias e em Brasília.

Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, é cotado pelo presidente Bolsonaro para disputar o governo de São Paulo. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A Secretaria de Segurança Pública se limitou a informar que nenhuma decisão foi tomada pelo governador Doria no caso da eleição de Tarcísio como paraninfo dos futuros sargentos. Mas se a tivesse tomado, não haveria problema algum. Formatura de militar não é lugar de comício político. E muito menos de campanha antecipada de quem ambiciona entrar na política depois de servir a governos tão díspares, como os de Dilma Rousseff e o de Jair Bolsonaro. Se esse era o plano da campanha do candidato ao governo de São Paulo, ela já começa mal, emulando o presidente naquilo que de pior tem a sua relação com os militares: a cooptação do estamento por meio de privilégios e sinecuras, com a colocação de seus interesses acima daqueles da sociedade à qual devem servir e proteger. 

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