Bolsonaro em partido militar cria novo risco para Forças Armadas


Filiação do presidente à legenda pode consolidar na população a imagem de adesão dessas carreiras de Estado a um projeto político

Por Marcelo Godoy

Caro leitor,

Por mais que os generais afirmem que este não é um governo militar e muito menos do Exército, o presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus auxiliares parecem querer explorar a popularidade das Forças Armadas e associá-las ao inquilino do Planalto. A possível troca do PSL pelo Partido Militar Brasileiro seria mais um lance dessa estratégica.

Desde 2014, a criação do partido militar era um projeto do deputado capitão Augusto (PL-SP), que contava com o apoio do então comandante da PM de São Paulo, coronel Benedito Roberto Meira. No começo de 2015, eles sonhavam em ter entre os filiados da agremiação o então deputado Jair Bolsonaro. Quem resistia era o capitão, agora presidente.

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Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Dida Sampaio/ Estadão

Augusto é aquele deputado que se notabilizou por ir fardado às sessões da Câmara. Fez lobby para as PMs serem incluídas no projeto de reforma da previdência dos militares das Forças Armadas. Era a forma de obter para os pares a manutenção de um privilégio: a integralidade dos salários para aposentados e a paridade, ou seja, os mesmos aumentos da ativa. Hoje, os inativos já representam cerca de 50% dos gastos com pessoal da Segurança Pública Estadual.

Com o apoio de Augusto, além de se associar aos militares das Forças Armadas, Bolsonaro parece avançar em outra freguesia: a dos policiais. E, assim, esses instrumentos de Estado vão sendo pouco a pouco identificados com um governo e com uma pessoa, que deu a si mesmo a missão de salvar o Brasil. Nem que para isso seu filho Eduardo pense em editar um novo AI-5.

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A associação da imagem de militares e de policiais a um partido e a um governo tem antecedentes: a principal liderança dos quartéis, o general Villas Bôas, decidiu assessorar Bolsonaro e, mesmo na reserva, manteve o uso da patente e da farda em seu Twitter. Faz o mesmo o seu chefe, o general Augusto Heleno, que também se identifica como general nas redes sociais.

Depois de uma entrevista em que não condenou as palavras de Eduardo sobre o Ato Institucional, Heleno disse que o “AI-5 era coisa do passado”. Mas é no passado justamente que o bolsonarismo vai buscar seus valores, suas guerras e seus inimigos imaginários. Heleno passou a adotar práticas semelhantes à dos filhos do presidente. Mandou Fernando Henrique Cardoso calar a boa... A falta de civilidade parece ser uma obrigação nas hostes bolsonaristas.

E assim, de tradutor de Bolsonaro, o general Heleno vai também traduzindo em público os pensamentos de Eduardo e de Carlos. Se assim não fosse, por que permanece em um governo cujo filho do presidente acha natural deixar as instituições em frangalhos? Um general que o conhece bem deu a seguinte explicação à coluna: “Heleno se vê como o pai de Bolsonaro”.

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Temos aí uma grande família que permanece unida. Em um governo que já demitiu mais generais do que Corinthians e São Paulo se livraram de técnicos em um ano, é digno de nota o fato de, apesar dos achincalhes da milícia bolsonarista da internet, nenhum general até agora ter pedido demissão em razão dos agravos aos colegas defenestrados. Ou em razão dos ataques às instituições e à democracia que, reiteradamente, partem da família Bolsonaro.

Generais da ativa tentam se dissociar do bolsonarismo sempre que podem em suas conversas. Os moderados e distantes do Palácio dizem ter olhos apenas para as casernas. No entanto, alguns de seus colegas se associam irremediavelmente ao governo.  Ainda que não percebam. E pior: são poucos os que, mesmo na reserva, como o general Paulo Chagas, fazem a ressalva de que os erros do passado não podem servir de desculpa para o atual governo.

É conhecido o brocado militar que diz: quando a política entra por uma porta no quartel, a disciplina sai pela outra. A perspectiva de Bolsonaro se unir ao partido militar pode consolidar para a população a imagem da adesão dessas carreiras de Estado a um projeto de poder. Seria a reedição do partido fardado? A neutralidade e o apartidarismo das Forças Armadas seriam comprometidos? Generais e coronéis conhecem essa história. E sabem as consequências. Não só para o País, mas também para suas instituições.

Caro leitor,

Por mais que os generais afirmem que este não é um governo militar e muito menos do Exército, o presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus auxiliares parecem querer explorar a popularidade das Forças Armadas e associá-las ao inquilino do Planalto. A possível troca do PSL pelo Partido Militar Brasileiro seria mais um lance dessa estratégica.

Desde 2014, a criação do partido militar era um projeto do deputado capitão Augusto (PL-SP), que contava com o apoio do então comandante da PM de São Paulo, coronel Benedito Roberto Meira. No começo de 2015, eles sonhavam em ter entre os filiados da agremiação o então deputado Jair Bolsonaro. Quem resistia era o capitão, agora presidente.

Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Dida Sampaio/ Estadão

Augusto é aquele deputado que se notabilizou por ir fardado às sessões da Câmara. Fez lobby para as PMs serem incluídas no projeto de reforma da previdência dos militares das Forças Armadas. Era a forma de obter para os pares a manutenção de um privilégio: a integralidade dos salários para aposentados e a paridade, ou seja, os mesmos aumentos da ativa. Hoje, os inativos já representam cerca de 50% dos gastos com pessoal da Segurança Pública Estadual.

Com o apoio de Augusto, além de se associar aos militares das Forças Armadas, Bolsonaro parece avançar em outra freguesia: a dos policiais. E, assim, esses instrumentos de Estado vão sendo pouco a pouco identificados com um governo e com uma pessoa, que deu a si mesmo a missão de salvar o Brasil. Nem que para isso seu filho Eduardo pense em editar um novo AI-5.

A associação da imagem de militares e de policiais a um partido e a um governo tem antecedentes: a principal liderança dos quartéis, o general Villas Bôas, decidiu assessorar Bolsonaro e, mesmo na reserva, manteve o uso da patente e da farda em seu Twitter. Faz o mesmo o seu chefe, o general Augusto Heleno, que também se identifica como general nas redes sociais.

Depois de uma entrevista em que não condenou as palavras de Eduardo sobre o Ato Institucional, Heleno disse que o “AI-5 era coisa do passado”. Mas é no passado justamente que o bolsonarismo vai buscar seus valores, suas guerras e seus inimigos imaginários. Heleno passou a adotar práticas semelhantes à dos filhos do presidente. Mandou Fernando Henrique Cardoso calar a boa... A falta de civilidade parece ser uma obrigação nas hostes bolsonaristas.

E assim, de tradutor de Bolsonaro, o general Heleno vai também traduzindo em público os pensamentos de Eduardo e de Carlos. Se assim não fosse, por que permanece em um governo cujo filho do presidente acha natural deixar as instituições em frangalhos? Um general que o conhece bem deu a seguinte explicação à coluna: “Heleno se vê como o pai de Bolsonaro”.

Temos aí uma grande família que permanece unida. Em um governo que já demitiu mais generais do que Corinthians e São Paulo se livraram de técnicos em um ano, é digno de nota o fato de, apesar dos achincalhes da milícia bolsonarista da internet, nenhum general até agora ter pedido demissão em razão dos agravos aos colegas defenestrados. Ou em razão dos ataques às instituições e à democracia que, reiteradamente, partem da família Bolsonaro.

Generais da ativa tentam se dissociar do bolsonarismo sempre que podem em suas conversas. Os moderados e distantes do Palácio dizem ter olhos apenas para as casernas. No entanto, alguns de seus colegas se associam irremediavelmente ao governo.  Ainda que não percebam. E pior: são poucos os que, mesmo na reserva, como o general Paulo Chagas, fazem a ressalva de que os erros do passado não podem servir de desculpa para o atual governo.

É conhecido o brocado militar que diz: quando a política entra por uma porta no quartel, a disciplina sai pela outra. A perspectiva de Bolsonaro se unir ao partido militar pode consolidar para a população a imagem da adesão dessas carreiras de Estado a um projeto de poder. Seria a reedição do partido fardado? A neutralidade e o apartidarismo das Forças Armadas seriam comprometidos? Generais e coronéis conhecem essa história. E sabem as consequências. Não só para o País, mas também para suas instituições.

Caro leitor,

Por mais que os generais afirmem que este não é um governo militar e muito menos do Exército, o presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus auxiliares parecem querer explorar a popularidade das Forças Armadas e associá-las ao inquilino do Planalto. A possível troca do PSL pelo Partido Militar Brasileiro seria mais um lance dessa estratégica.

Desde 2014, a criação do partido militar era um projeto do deputado capitão Augusto (PL-SP), que contava com o apoio do então comandante da PM de São Paulo, coronel Benedito Roberto Meira. No começo de 2015, eles sonhavam em ter entre os filiados da agremiação o então deputado Jair Bolsonaro. Quem resistia era o capitão, agora presidente.

Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Dida Sampaio/ Estadão

Augusto é aquele deputado que se notabilizou por ir fardado às sessões da Câmara. Fez lobby para as PMs serem incluídas no projeto de reforma da previdência dos militares das Forças Armadas. Era a forma de obter para os pares a manutenção de um privilégio: a integralidade dos salários para aposentados e a paridade, ou seja, os mesmos aumentos da ativa. Hoje, os inativos já representam cerca de 50% dos gastos com pessoal da Segurança Pública Estadual.

Com o apoio de Augusto, além de se associar aos militares das Forças Armadas, Bolsonaro parece avançar em outra freguesia: a dos policiais. E, assim, esses instrumentos de Estado vão sendo pouco a pouco identificados com um governo e com uma pessoa, que deu a si mesmo a missão de salvar o Brasil. Nem que para isso seu filho Eduardo pense em editar um novo AI-5.

A associação da imagem de militares e de policiais a um partido e a um governo tem antecedentes: a principal liderança dos quartéis, o general Villas Bôas, decidiu assessorar Bolsonaro e, mesmo na reserva, manteve o uso da patente e da farda em seu Twitter. Faz o mesmo o seu chefe, o general Augusto Heleno, que também se identifica como general nas redes sociais.

Depois de uma entrevista em que não condenou as palavras de Eduardo sobre o Ato Institucional, Heleno disse que o “AI-5 era coisa do passado”. Mas é no passado justamente que o bolsonarismo vai buscar seus valores, suas guerras e seus inimigos imaginários. Heleno passou a adotar práticas semelhantes à dos filhos do presidente. Mandou Fernando Henrique Cardoso calar a boa... A falta de civilidade parece ser uma obrigação nas hostes bolsonaristas.

E assim, de tradutor de Bolsonaro, o general Heleno vai também traduzindo em público os pensamentos de Eduardo e de Carlos. Se assim não fosse, por que permanece em um governo cujo filho do presidente acha natural deixar as instituições em frangalhos? Um general que o conhece bem deu a seguinte explicação à coluna: “Heleno se vê como o pai de Bolsonaro”.

Temos aí uma grande família que permanece unida. Em um governo que já demitiu mais generais do que Corinthians e São Paulo se livraram de técnicos em um ano, é digno de nota o fato de, apesar dos achincalhes da milícia bolsonarista da internet, nenhum general até agora ter pedido demissão em razão dos agravos aos colegas defenestrados. Ou em razão dos ataques às instituições e à democracia que, reiteradamente, partem da família Bolsonaro.

Generais da ativa tentam se dissociar do bolsonarismo sempre que podem em suas conversas. Os moderados e distantes do Palácio dizem ter olhos apenas para as casernas. No entanto, alguns de seus colegas se associam irremediavelmente ao governo.  Ainda que não percebam. E pior: são poucos os que, mesmo na reserva, como o general Paulo Chagas, fazem a ressalva de que os erros do passado não podem servir de desculpa para o atual governo.

É conhecido o brocado militar que diz: quando a política entra por uma porta no quartel, a disciplina sai pela outra. A perspectiva de Bolsonaro se unir ao partido militar pode consolidar para a população a imagem da adesão dessas carreiras de Estado a um projeto de poder. Seria a reedição do partido fardado? A neutralidade e o apartidarismo das Forças Armadas seriam comprometidos? Generais e coronéis conhecem essa história. E sabem as consequências. Não só para o País, mas também para suas instituições.

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