Militares começam a articular candidaturas para eleições municipais


Sucesso da empreitada pode dar a dimensão da capilarização e popularidade do bolsonarismo

Por Marcelo Godoy

Caro leitor,

Oficiais e praças estão se articulando. Querem aprofundar a presença da classe na política. O objetivo agora é lançar candidaturas às eleições 2020. O sucesso dessa empreitada pode dar a dimensão da capilarização do movimento, iniciado em 2018 e coordenado então pelo general e deputado federal Roberto Sebastião Peternelli (PSL-SP).

O exemplo de Brasília pode levar muito militar das Forças Armadas e das PMs a preencher a ficha de filiação partidária e a concorrer às prefeituras e às câmaras municipais. A votação deles deve aferir a popularidade e capacidade de mobilização do bolsonarismo, caso o movimento não consiga registrar seu partido a tempo de concorrer ao pleito.

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O presidente eleito Jair Bolsonaro, durante evento formatura de batalhão de paraquedistas, em novembro Foto: Fernando Souza/AFP

Esse movimento, entretanto, começa a sofrer críticas de militares da reserva que veem aí um aumento dos riscos à democracia, em razão da partidarização de instituições que devem servir ao Estado e não a governos. Em outras palavras: qual a isenção de quem deve vigiar o pleito para evitar crimes eleitorais, quando seus membros são candidatos de um grupo político que recebe do governo benesses, cargos e salários? Enfim, quem vai fiscalizar o fiscal?

Marco da volta dos militares à política foi a manifestação do general Villas Bôas, então comandante do Exército, pelo Twitter, em 2018, contra a concessão de habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação do comandante teve efeito avassalador. Dezenas de oficiais seguiram o chefe e abriram contas na mesma rede social. E passaram a fazer postagens de caráter político-partidário – quase todas em apoio a Bolsonaro.

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Ninguém foi punido. A panfletagem tuiteira dos homens da ativa deixou um rastro público de ruptura da isenção e da neutralidade partidária de integrantes da instituição. Em um mundo em que as correntes de WhatsApp mobilizam mais do que as reuniões do Clube Militar, o impacto da ação de Villas Bôas não pode ser desprezado. “A palavra convence; o exemplo arrasta”, afirma um coronel crítico da partidarização dos colegas.

A ação do comandante não ficou só no Twitter. Os principais candidatos à Presidência passaram a ter um general para assessorá-los em suas campanhas. Só o petista Fernando Haddad não recebeu ninguém, mostrando que a política dos militares era sobretudo antipetista. Além da libertação de Lula, eles se opunham a mudanças na Lei de Anistia.

A campanha eleitoral entrou no Alto Comando do Exército. Quando o candidato in pectore dos generais – Bolsonaro – foi esfaqueado, em Juiz de Fora, houve quem chegasse a questionar a legitimidade da eleição. Ao mesmo tempo, oficiais da reserva se preparavam para a batalha das urnas. Mais de uma centena se candidatara – a maioria pelo DEM e pelo PSL.

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No fim, elegeram seis deputados federais, entre eles Peternelli, que se diplomou usando a farda de general, mas, no Congresso, adotou o terno e a gravata. Ele pretende agora voltar ao combate. E reunir e promover candidaturas militares nas eleições deste ano. Em Manaus – ele conta –, o empresário e major do Exército Romero Reis, que deixou o PSL e entrou no Novo, deve disputar a prefeitura. Peternelli tenta ainda convencer outros militares.

Em 2018, não teve sucesso com os generais Sergio Etchgoyen, Santos Cruz, Adhemar da Costa Machado Filho e Manoel Morata, que, neste mês, recusou novo convite. A diferença em 2020 é que, além do bolsonarismo, outras forças políticas disputam esses candidatos. O governador de São Paulo, João Doria, por exemplo, convidou publicamente Santos Cruz a entrar no PSDB.

O movimento pode reeditar um passado em que civis usavam os militares para resolver suas pendências? Ou se testemunhará o surgimento de divisões nas Forças Armadas, como as de 1945 a 1977? Setores do bolsonarismo se esforçam para partidarizar os militares. Enfrentam a resistência de quem conhece a história, ou se lembra das razões que levaram Bolsonaro a sair do Exército ou se decepcionou com o governo. Entre os últimos está o general Santos Cruz.

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Seis meses de convivência com as intrigas bolsonaristas lhe bastaram. Hoje diz que o governo se afastou do combate à corrupção, critica a falta de política para a Amazônia, o extremismo ideológico, o alinhamento automático com os EUA, a contratação de militares para o INSS e a fala nazista do ex-secretário da Cultura. Mas o que seria Santos Cruz? O vice de quem deseja atrair a base de Bolsonaro ou o candidato dos militares caso a reeleição naufrague? Teria a companhia de Etchgoyen, outro crítico do governo?

Não há nada que o impeça de se candidatar. Vale, no entanto, lembrar a advertência de Gilberto Freyre em Nação e Exército: “O País onde o Exército seja a única, ou quase a única, força organizada necessita de urgente organização”. Do contrário, essa Nação correrá “o risco de se transformar em cenário de paradas ou simples campo de manobras”. Na descida aos infernos da política, os militares vão encontrar os espíritos de sua instituição? Será preciso um Tirésias para saber aonde tudo isso pode acabar. 

Caro leitor,

Oficiais e praças estão se articulando. Querem aprofundar a presença da classe na política. O objetivo agora é lançar candidaturas às eleições 2020. O sucesso dessa empreitada pode dar a dimensão da capilarização do movimento, iniciado em 2018 e coordenado então pelo general e deputado federal Roberto Sebastião Peternelli (PSL-SP).

O exemplo de Brasília pode levar muito militar das Forças Armadas e das PMs a preencher a ficha de filiação partidária e a concorrer às prefeituras e às câmaras municipais. A votação deles deve aferir a popularidade e capacidade de mobilização do bolsonarismo, caso o movimento não consiga registrar seu partido a tempo de concorrer ao pleito.

O presidente eleito Jair Bolsonaro, durante evento formatura de batalhão de paraquedistas, em novembro Foto: Fernando Souza/AFP

Esse movimento, entretanto, começa a sofrer críticas de militares da reserva que veem aí um aumento dos riscos à democracia, em razão da partidarização de instituições que devem servir ao Estado e não a governos. Em outras palavras: qual a isenção de quem deve vigiar o pleito para evitar crimes eleitorais, quando seus membros são candidatos de um grupo político que recebe do governo benesses, cargos e salários? Enfim, quem vai fiscalizar o fiscal?

Marco da volta dos militares à política foi a manifestação do general Villas Bôas, então comandante do Exército, pelo Twitter, em 2018, contra a concessão de habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação do comandante teve efeito avassalador. Dezenas de oficiais seguiram o chefe e abriram contas na mesma rede social. E passaram a fazer postagens de caráter político-partidário – quase todas em apoio a Bolsonaro.

Ninguém foi punido. A panfletagem tuiteira dos homens da ativa deixou um rastro público de ruptura da isenção e da neutralidade partidária de integrantes da instituição. Em um mundo em que as correntes de WhatsApp mobilizam mais do que as reuniões do Clube Militar, o impacto da ação de Villas Bôas não pode ser desprezado. “A palavra convence; o exemplo arrasta”, afirma um coronel crítico da partidarização dos colegas.

A ação do comandante não ficou só no Twitter. Os principais candidatos à Presidência passaram a ter um general para assessorá-los em suas campanhas. Só o petista Fernando Haddad não recebeu ninguém, mostrando que a política dos militares era sobretudo antipetista. Além da libertação de Lula, eles se opunham a mudanças na Lei de Anistia.

A campanha eleitoral entrou no Alto Comando do Exército. Quando o candidato in pectore dos generais – Bolsonaro – foi esfaqueado, em Juiz de Fora, houve quem chegasse a questionar a legitimidade da eleição. Ao mesmo tempo, oficiais da reserva se preparavam para a batalha das urnas. Mais de uma centena se candidatara – a maioria pelo DEM e pelo PSL.

No fim, elegeram seis deputados federais, entre eles Peternelli, que se diplomou usando a farda de general, mas, no Congresso, adotou o terno e a gravata. Ele pretende agora voltar ao combate. E reunir e promover candidaturas militares nas eleições deste ano. Em Manaus – ele conta –, o empresário e major do Exército Romero Reis, que deixou o PSL e entrou no Novo, deve disputar a prefeitura. Peternelli tenta ainda convencer outros militares.

Em 2018, não teve sucesso com os generais Sergio Etchgoyen, Santos Cruz, Adhemar da Costa Machado Filho e Manoel Morata, que, neste mês, recusou novo convite. A diferença em 2020 é que, além do bolsonarismo, outras forças políticas disputam esses candidatos. O governador de São Paulo, João Doria, por exemplo, convidou publicamente Santos Cruz a entrar no PSDB.

O movimento pode reeditar um passado em que civis usavam os militares para resolver suas pendências? Ou se testemunhará o surgimento de divisões nas Forças Armadas, como as de 1945 a 1977? Setores do bolsonarismo se esforçam para partidarizar os militares. Enfrentam a resistência de quem conhece a história, ou se lembra das razões que levaram Bolsonaro a sair do Exército ou se decepcionou com o governo. Entre os últimos está o general Santos Cruz.

Seis meses de convivência com as intrigas bolsonaristas lhe bastaram. Hoje diz que o governo se afastou do combate à corrupção, critica a falta de política para a Amazônia, o extremismo ideológico, o alinhamento automático com os EUA, a contratação de militares para o INSS e a fala nazista do ex-secretário da Cultura. Mas o que seria Santos Cruz? O vice de quem deseja atrair a base de Bolsonaro ou o candidato dos militares caso a reeleição naufrague? Teria a companhia de Etchgoyen, outro crítico do governo?

Não há nada que o impeça de se candidatar. Vale, no entanto, lembrar a advertência de Gilberto Freyre em Nação e Exército: “O País onde o Exército seja a única, ou quase a única, força organizada necessita de urgente organização”. Do contrário, essa Nação correrá “o risco de se transformar em cenário de paradas ou simples campo de manobras”. Na descida aos infernos da política, os militares vão encontrar os espíritos de sua instituição? Será preciso um Tirésias para saber aonde tudo isso pode acabar. 

Caro leitor,

Oficiais e praças estão se articulando. Querem aprofundar a presença da classe na política. O objetivo agora é lançar candidaturas às eleições 2020. O sucesso dessa empreitada pode dar a dimensão da capilarização do movimento, iniciado em 2018 e coordenado então pelo general e deputado federal Roberto Sebastião Peternelli (PSL-SP).

O exemplo de Brasília pode levar muito militar das Forças Armadas e das PMs a preencher a ficha de filiação partidária e a concorrer às prefeituras e às câmaras municipais. A votação deles deve aferir a popularidade e capacidade de mobilização do bolsonarismo, caso o movimento não consiga registrar seu partido a tempo de concorrer ao pleito.

O presidente eleito Jair Bolsonaro, durante evento formatura de batalhão de paraquedistas, em novembro Foto: Fernando Souza/AFP

Esse movimento, entretanto, começa a sofrer críticas de militares da reserva que veem aí um aumento dos riscos à democracia, em razão da partidarização de instituições que devem servir ao Estado e não a governos. Em outras palavras: qual a isenção de quem deve vigiar o pleito para evitar crimes eleitorais, quando seus membros são candidatos de um grupo político que recebe do governo benesses, cargos e salários? Enfim, quem vai fiscalizar o fiscal?

Marco da volta dos militares à política foi a manifestação do general Villas Bôas, então comandante do Exército, pelo Twitter, em 2018, contra a concessão de habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação do comandante teve efeito avassalador. Dezenas de oficiais seguiram o chefe e abriram contas na mesma rede social. E passaram a fazer postagens de caráter político-partidário – quase todas em apoio a Bolsonaro.

Ninguém foi punido. A panfletagem tuiteira dos homens da ativa deixou um rastro público de ruptura da isenção e da neutralidade partidária de integrantes da instituição. Em um mundo em que as correntes de WhatsApp mobilizam mais do que as reuniões do Clube Militar, o impacto da ação de Villas Bôas não pode ser desprezado. “A palavra convence; o exemplo arrasta”, afirma um coronel crítico da partidarização dos colegas.

A ação do comandante não ficou só no Twitter. Os principais candidatos à Presidência passaram a ter um general para assessorá-los em suas campanhas. Só o petista Fernando Haddad não recebeu ninguém, mostrando que a política dos militares era sobretudo antipetista. Além da libertação de Lula, eles se opunham a mudanças na Lei de Anistia.

A campanha eleitoral entrou no Alto Comando do Exército. Quando o candidato in pectore dos generais – Bolsonaro – foi esfaqueado, em Juiz de Fora, houve quem chegasse a questionar a legitimidade da eleição. Ao mesmo tempo, oficiais da reserva se preparavam para a batalha das urnas. Mais de uma centena se candidatara – a maioria pelo DEM e pelo PSL.

No fim, elegeram seis deputados federais, entre eles Peternelli, que se diplomou usando a farda de general, mas, no Congresso, adotou o terno e a gravata. Ele pretende agora voltar ao combate. E reunir e promover candidaturas militares nas eleições deste ano. Em Manaus – ele conta –, o empresário e major do Exército Romero Reis, que deixou o PSL e entrou no Novo, deve disputar a prefeitura. Peternelli tenta ainda convencer outros militares.

Em 2018, não teve sucesso com os generais Sergio Etchgoyen, Santos Cruz, Adhemar da Costa Machado Filho e Manoel Morata, que, neste mês, recusou novo convite. A diferença em 2020 é que, além do bolsonarismo, outras forças políticas disputam esses candidatos. O governador de São Paulo, João Doria, por exemplo, convidou publicamente Santos Cruz a entrar no PSDB.

O movimento pode reeditar um passado em que civis usavam os militares para resolver suas pendências? Ou se testemunhará o surgimento de divisões nas Forças Armadas, como as de 1945 a 1977? Setores do bolsonarismo se esforçam para partidarizar os militares. Enfrentam a resistência de quem conhece a história, ou se lembra das razões que levaram Bolsonaro a sair do Exército ou se decepcionou com o governo. Entre os últimos está o general Santos Cruz.

Seis meses de convivência com as intrigas bolsonaristas lhe bastaram. Hoje diz que o governo se afastou do combate à corrupção, critica a falta de política para a Amazônia, o extremismo ideológico, o alinhamento automático com os EUA, a contratação de militares para o INSS e a fala nazista do ex-secretário da Cultura. Mas o que seria Santos Cruz? O vice de quem deseja atrair a base de Bolsonaro ou o candidato dos militares caso a reeleição naufrague? Teria a companhia de Etchgoyen, outro crítico do governo?

Não há nada que o impeça de se candidatar. Vale, no entanto, lembrar a advertência de Gilberto Freyre em Nação e Exército: “O País onde o Exército seja a única, ou quase a única, força organizada necessita de urgente organização”. Do contrário, essa Nação correrá “o risco de se transformar em cenário de paradas ou simples campo de manobras”. Na descida aos infernos da política, os militares vão encontrar os espíritos de sua instituição? Será preciso um Tirésias para saber aonde tudo isso pode acabar. 

Caro leitor,

Oficiais e praças estão se articulando. Querem aprofundar a presença da classe na política. O objetivo agora é lançar candidaturas às eleições 2020. O sucesso dessa empreitada pode dar a dimensão da capilarização do movimento, iniciado em 2018 e coordenado então pelo general e deputado federal Roberto Sebastião Peternelli (PSL-SP).

O exemplo de Brasília pode levar muito militar das Forças Armadas e das PMs a preencher a ficha de filiação partidária e a concorrer às prefeituras e às câmaras municipais. A votação deles deve aferir a popularidade e capacidade de mobilização do bolsonarismo, caso o movimento não consiga registrar seu partido a tempo de concorrer ao pleito.

O presidente eleito Jair Bolsonaro, durante evento formatura de batalhão de paraquedistas, em novembro Foto: Fernando Souza/AFP

Esse movimento, entretanto, começa a sofrer críticas de militares da reserva que veem aí um aumento dos riscos à democracia, em razão da partidarização de instituições que devem servir ao Estado e não a governos. Em outras palavras: qual a isenção de quem deve vigiar o pleito para evitar crimes eleitorais, quando seus membros são candidatos de um grupo político que recebe do governo benesses, cargos e salários? Enfim, quem vai fiscalizar o fiscal?

Marco da volta dos militares à política foi a manifestação do general Villas Bôas, então comandante do Exército, pelo Twitter, em 2018, contra a concessão de habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação do comandante teve efeito avassalador. Dezenas de oficiais seguiram o chefe e abriram contas na mesma rede social. E passaram a fazer postagens de caráter político-partidário – quase todas em apoio a Bolsonaro.

Ninguém foi punido. A panfletagem tuiteira dos homens da ativa deixou um rastro público de ruptura da isenção e da neutralidade partidária de integrantes da instituição. Em um mundo em que as correntes de WhatsApp mobilizam mais do que as reuniões do Clube Militar, o impacto da ação de Villas Bôas não pode ser desprezado. “A palavra convence; o exemplo arrasta”, afirma um coronel crítico da partidarização dos colegas.

A ação do comandante não ficou só no Twitter. Os principais candidatos à Presidência passaram a ter um general para assessorá-los em suas campanhas. Só o petista Fernando Haddad não recebeu ninguém, mostrando que a política dos militares era sobretudo antipetista. Além da libertação de Lula, eles se opunham a mudanças na Lei de Anistia.

A campanha eleitoral entrou no Alto Comando do Exército. Quando o candidato in pectore dos generais – Bolsonaro – foi esfaqueado, em Juiz de Fora, houve quem chegasse a questionar a legitimidade da eleição. Ao mesmo tempo, oficiais da reserva se preparavam para a batalha das urnas. Mais de uma centena se candidatara – a maioria pelo DEM e pelo PSL.

No fim, elegeram seis deputados federais, entre eles Peternelli, que se diplomou usando a farda de general, mas, no Congresso, adotou o terno e a gravata. Ele pretende agora voltar ao combate. E reunir e promover candidaturas militares nas eleições deste ano. Em Manaus – ele conta –, o empresário e major do Exército Romero Reis, que deixou o PSL e entrou no Novo, deve disputar a prefeitura. Peternelli tenta ainda convencer outros militares.

Em 2018, não teve sucesso com os generais Sergio Etchgoyen, Santos Cruz, Adhemar da Costa Machado Filho e Manoel Morata, que, neste mês, recusou novo convite. A diferença em 2020 é que, além do bolsonarismo, outras forças políticas disputam esses candidatos. O governador de São Paulo, João Doria, por exemplo, convidou publicamente Santos Cruz a entrar no PSDB.

O movimento pode reeditar um passado em que civis usavam os militares para resolver suas pendências? Ou se testemunhará o surgimento de divisões nas Forças Armadas, como as de 1945 a 1977? Setores do bolsonarismo se esforçam para partidarizar os militares. Enfrentam a resistência de quem conhece a história, ou se lembra das razões que levaram Bolsonaro a sair do Exército ou se decepcionou com o governo. Entre os últimos está o general Santos Cruz.

Seis meses de convivência com as intrigas bolsonaristas lhe bastaram. Hoje diz que o governo se afastou do combate à corrupção, critica a falta de política para a Amazônia, o extremismo ideológico, o alinhamento automático com os EUA, a contratação de militares para o INSS e a fala nazista do ex-secretário da Cultura. Mas o que seria Santos Cruz? O vice de quem deseja atrair a base de Bolsonaro ou o candidato dos militares caso a reeleição naufrague? Teria a companhia de Etchgoyen, outro crítico do governo?

Não há nada que o impeça de se candidatar. Vale, no entanto, lembrar a advertência de Gilberto Freyre em Nação e Exército: “O País onde o Exército seja a única, ou quase a única, força organizada necessita de urgente organização”. Do contrário, essa Nação correrá “o risco de se transformar em cenário de paradas ou simples campo de manobras”. Na descida aos infernos da política, os militares vão encontrar os espíritos de sua instituição? Será preciso um Tirésias para saber aonde tudo isso pode acabar. 

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