O Brasil tem mais templos ou outros tipos de estabelecimentos religiosos do que a soma de instituições de ensino e unidades de saúde. É o que mostra levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta sexta-feira, 2, com base em dados do Censo 2022.
De acordo com a análise dos números, o País possuía 579,8 mil estabelecimentos religiosos em 2022, enquanto havia 264,4 mil de ensino e 247,5 mil de saúde. No Amazonas e em Rondônia, a proporção de estabelecimentos religiosos é o dobro da soma dos de ensino e saúde.
TOTAL DE ESTABELECIMENTOS
- Saúde: 247.510
- Ensino: 264.445
- Religiosos: 579.798
ESTABELECIMENTOS POR ESTADO
- Rondônia: 1.893 de ensino, 1.927 de saúde e 7.670 religiosos
- Acre: 1.881 de ensino, 769 de saúde e 4.600 religiosos
- Amazonas: 7.052 de ensino, 2.738 de saúde e 19.134 religiosos
- Roraima: 1.055 de ensino, 839 de saúde e 2.150 religiosos
- Pará: 14.150 ensino, 6.406 de saúde e 37.758 religiosos
- Amapá: 1.112 de ensino, 796 de saúde e 3.178 religiosos
- Tocantins: 2.351 de ensino, 1.865 de saúde e 5.151 religiosos
- Maranhão: 14.444 de ensino, 6.280 de saúde e 25.374 religiosos
- Piauí: 7.410 de ensino, 4.521 de saúde e 10.107 religiosos
- Ceará: 13.850 de ensino, 8.388 de saúde e 24.556 religiosos
- Rio Grande do Norte: 5.010 de ensino, 3.885 de saúde e 8.823 religiosos
- Paraíba: 7.065 de ensino, 5.914 de de saúde e 13.536 religiosos
- Pernambuco: 13.373 de ensino, 9.477 de saúde e 24.931 religiosos
- Alagoas: 4.923 de ensino, 3.284 de saúde e 8.736 religiosos
- Sergipe: 3.095 de ensino, 2.199 de saúde e 6.494 religiosos
- Bahia: 28.315 de ensino, 16.347 de saúde e 52.939 religiosos
- Minas Gerais: 24.184 de ensino, 32.966 de saúde e 59.281 religiosos
- Espírito Santo: 4.561 de ensino, 4.672 de saúde e 15.694 religiosos
- Rio de Janeiro: 16.499 de ensino, 15.402 de saúde e 55.222 religiosos
- São Paulo: 40.746 de ensino, 56.993 de saúde e 83.938 religiosos
- Paraná: 12.397 de ensino, 16.498 de saúde e 25.152 religiosos
- Santa Catarina: 8.400 de ensino, 10.447 de saúde e 16.181 religiosos
- Rio Grande do Sul: 13.695 de ensino, 16.467 de saúde e 26.300 religiosos
- Mato Grosso do Sul: 2.648 de ensino, 3.709 de saúde e 8.156 religiosos
- Mato Grosso: 4.284 de ensino, 4.570 de saúde e 10.329 religiosos
- Goiás: 7.337 de ensino, 7.872 de saúde e 18.970 religiosos
- Distrito Federal: 2.175 de ensino, 2.279 de saúde e 5.429 religiosos
São Paulo, Piauí e os três Estados da região Sul, por sua vez, são as únicas unidades da federação cuja soma entre os estabelecimentos de ensino e de saúde superam os religiosos.
O levantamento foi feito a partir das coordenadas geográficas das espécies de endereços do Censo 2022, e que agora integram o Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos do IBGE.
Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, o alto número de estabelecimentos religiosos surpreende de certa forma se for comparado a estudos recentes, mas condiz com um fenômeno pelo qual o Brasil passa há muito tempo: o da transição religiosa.
“Na época da monarquia, no primeiro censo, você tinha mais de 99% de católicos. Havia um pouquinho de evangélicos vindos da Europa,. Isso veio diminuindo ao longo das décadas, e agora os católicos estão em torno de 50%, e diminuindo ainda mais, enquanto os evangélicos são pouco mais de 30%”, diz José Eustáquio. “O Estado do Rio de Janeiro já estava à frente nessa transição religiosa, e há alta concentração disso na região metropolitana, que é muito povoada.”
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Pesquisa do cientista político Victor Araújo, associado ao Centro de Estudos da Metrópole (CEM), desenhou o mapa dessa transição religiosa no Brasil. Só em 2019, foram abertas 6.356 igrejas evangélicas no País, média de 17 novos templos por dia.
O estudo rastreou, no País, de 109,5 mil igrejas evangélicas de diversas denominações, ante cerca de 20 mil em 2015. O predomínio é das pentecostais. Entre os motivos para o boom, está o enfraquecimento do catolicismo, que perdeu alcance com a formação das periferias urbanas após o êxodo rural.
José Eustáquio Diniz Alves ressalta, contudo, que os dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira são mais amplos - e por isso que os números de estabelecimentos religiosos são bem maiores. “Tem uma questão metodológica importante. Essas pesquisas anteriores consideraram os templos religiosos registrados, com CNPJ, enquanto a do IBGE pega todos os estabelecimentos religiosos, independentemente de ter CNPJ ou não. Não é necessariamente um templo. A Igreja Universal, por exemplo, pode ter uma casinha numa favela, num bairro pobre, para distribuir alimentos, e ele é considerado um estabelecimento religioso. Vale também o contrário, a Igreja do Evangelho Quadrangular ter uma creche, e ela ser considerada um estabelecimento de ensino”, explica.
Por causa disso, o demógrafo diz que é preciso esperar novos estudos para que não se tirem conclusões precipitadas. “Esses dados são muito importantes, mas não dá pra tirar muita conclusão deles porque faltam muitos outros dados para se analisar”, considera.
Para a pastora e teóloga Romi Bencke, secretária geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), o aumento de templos no Brasil em menos de dez anos corrobora outros dados que mostram que as igrejas, em especial as neopentecostais, constituem o principal espaço de socialização da maioria dos brasileiros. “O crescimento do número de igrejas indica que boa parte da população brasileira organiza sua vida pública em torno das igrejas, o que explica a crescente força política de algumas delas”, disse.
A líder religiosa lembrou que no Brasil é fácil abrir igrejas, o que é muito diferente quando se fala em escolas e postos de saúde, que dependem fortemente de investimento público. “Vale a pergunta pelo impacto cultural e social deste cenário. Oxalá o País invista mais em educação e saúde pública para elevar o seu índice de desenvolvimento humano, que tem como principais indicadores a saúde e a educação”, afirmou.
Brasil tem 90,6 milhões de domicílios particulares
Segundo o IBGE, o Brasil possuía 90,6 milhões de domicílios particulares e 104,5 mil de domicílios coletivos. Havia ainda 4,05 milhões de estabelecimentos agropecuários e 11,7 milhões com outras finalidades - como lojas, por exemplo. Em alguns casos, o mesmo endereço apresentava duas finalidades, podendo abrigar uma moradia e um estabelecimento comercial - nesse caso, necessariamente em cômodos/ambientes diferentes.
O Censo 2022 foi divulgado em junho do ano passado, e apontou que o País ultrapassou a marca de 203 milhões de habitantes. Apesar disso, o levantamento registrou o menor ritmo de crescimento de todo o período de análise, que data do fim do século 19.
Comparado à pesquisa anterior, de 2010, o Brasil teve taxa média de crescimento anual da população de 0,52% - a primeira abaixo de 1% e a menor registrada desde o primeiro levantamento feito no País, em 1872. / COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA